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VALE A PENA COLONIZAR DE NOVO

por Zé Roberto Padilha

Desde que Jorge Jesus abriu a porteira, técnicos portugueses começaram a desembarcar no país. Como fez Pedro Álvares Cabral, que abriu nosso Brasil ao conhecimento e exploração do mundo.

Bruno Lage não veio em naus. Veio de avião e está voltando na barca. E sem jogar ou ter o trabalho de montar sua equipe. Já a encontrou pronta, líder do campeonato com milhares de pontos à frente do segundo colocado.

Ficou pouco tempo. Não está carregando, como seus ancestrais, o pau-brasil, borracha, café ou pedras preciosas. Leva de volta a nova riqueza do país. Ela não foi cultivada com trabalho braçal, mas por amor da sua gente ao futebol.

Nossa nova riqueza chama-se Multa Rescisória.

Não dá no cerrado. Não cresce nas planícies. Muito menos nas serras gaúchas. A Multa Rescisória está pronta para ser levada depois que milhares de apaixonados se tornam socios-torcedores.

Daí o dinheiro ganha corpo, cresce diante do amor inconteste ao seu clube de coração.

E na primeira crise, basta colocar um Tiquinho no banco, que ela cai na conta. E faz de um desconhecido português, e sua tripulação, os novos milionários.

O MENINO NA MURETA

por Claudio Lovato Filho

O time está mal na foto. Despencou na tabela. Pode ser que ainda hoje assuma a lanterna. Mas o menino está lá. Na arquibancada. Com a camisa do clube. A camisa preferida. A mais nova.

O time está jogando mal de novo. Um esforço máximo para segurar o zero a zero. Superação total. E o menino ali, firme, gritando.

“Vai, vai!”

Ele não desiste do time. Sua convicção. Seu sentimento.

O pai está sentado um pouco mais atrás. Olha para o filho tanto quanto olha para o campo. O pai acha que o time vai ser rebaixado. Fica irritado com os seguidos erros na defesa, no meio e no ataque (em todos os setores, em todos os fundamentos). Quando olha para o filho, contudo, o pessimismo perde força. O mau humor arrefece. A irritação se dilui. E ele, o pai, chega até mesmo a sorrir. E até (até!) a acreditar que… De repente… Quem sabe…

“Vai, vai!”, o menino grita.

Então o centroavante do time do pai e do menino, o time de amarelo e preto, manda um chute atravessado, lá do bico da grande área, que passa tirando lasca do travessão. O menino olha para trás, para o pai, e diz: “Viu? Viu???” E o pai balança a cabeça para cima e para baixo e diz: “Vi”.

Há outros meninos ali, mas só ele está com o peito encostado na mureta, com os braços passando por cima da borda.

Termina o primeiro tempo. O pai chama o vendedor de picolé. Compra dois.

“Tamo jogando melhor que eles”, o menino diz. O pai concorda, sem muita sinceridade: “É”.

Faz calor. O sol castiga sem dó nem piedade. Não tem vento, não tem sequer uma brisa. Os bumbos da organizada voltam a fazer barulho. O menino termina o picolé e volta para o seu posto, abraçado à mureta. O pai diz: “Vira a aba do boné pra frente”. O menino obedece, mas não por muito tempo. Aba pra trás.

Os minutos passam, o calor continua, os times voltam. Aplausos, poucos. “Vamo, suas ferida!”, alguém grita. O pai ri. O menino não gosta – nem do que o torcedor disse nem da risada do pai. O pai percebe isso e tira o riso do rosto.

O apito do árbitro. O segundo tempo começa do mesmo jeito como terminou o primeiro. Então um contra-ataque do time adversário. Uma troca de passes rápida entre dois jogadores. O drible no goleiro. A bola morrendo no fundo do gol. Vaias.
O time da casa perdendo. Agora é lanterna. Mais vaias.

O menino olha para o pai, mas não diz nada. O pai olha para o menino e também não diz nada.

O jogo prossegue. A partir disso, um tremendo perde-ganha nas duas intermediárias. Os goleiros só assistem ao jogo. Um calor infernal. Algumas nuvens escuras se aproximam.

“Mas são uns pereba mesmo!”, diz alguém lá em cima. O menino se volta e olha de cara feia.

Segue o perde-ganha, o bate-rebate, o rame-rame. Então, um passe errado do volante adversário. A bola interceptada por um volante do time da casa. Um passe em diagonal para o centroavante, cria da base. Ele parte para cima do zagueiro. Um corte seco em direção à linha de fundo. Pisa na bola quando ela está em cima da linha. Nova acelerada, agora invadindo a área. De novo pé em cima da bola. A travada e o outro zagueiro passa lotado. A tentativa de enquadramento do corpo. O chute engatilhado. Ainda sem ângulo. Vai assim mesmo. Um foguete. Bola no alto. O goleiro apenas levanta um braço – impotente, protocolar. Um a um.

O menino salta e grita. Não cabe em si. Pula e pula. Mais um pouco cairia no fosso. O pai está de pé. De boca aberta. Não acredita no que viu. O pai desce dois degraus e se aproxima do filho, que olha para ele e diz: “Viu? Viu???” E o pai responde: “Vi!” “Eu não te falei? Eu não te falei?”, o menino diz. “Falou”, o pai diz. “Falou”. O coração do menino parece uma britadeira. O do pai, um bate-estaca.

O jogo termina. O time escapou da lanterna. Até quando, ninguém sabe. E neste momento não importa. O menino e o pai vão saindo do estádio. Cumprimentam conhecidos. Cumprimentam também desconhecidos. O menino tem o peito estufado, e, de tempos em tempos, passa a mão sobre o distintivo.

O pai tem a mão no ombro do menino. O menino tem uma tarde para jamais esquecer. Lembrará disso tudo para sempre: a emoção da partida, o gol (aquele gol!), a mão do pai no seu ombro, o lento caminhar deles até a rua. E do quanto sempre acreditou.

Caminham em silêncio. Estão felizes.

Nada mais precisa ser dito.

OSVALDO, A LIGAÇÃO EXPRESSA DO IMORTAL

por Reinaldo Sá

O clássico camisa 8 do Grêmio ganhou a confiança do técnico Valdir Espinosa ainda na Libertadores. Foi beneficiado, claro, com a contusão de Bonamigo, segundo volante do tricolor dos pampas, e com as saídas de Tita para o Flamengo e Vilson Tadei para o Coritiba. Mas ele não deixou a oportunidade escapar! Sua entrada foi fundamental, pois com muita obediência tática deu mais liberdade para a criação de Mario Sérgio e Paulo César Caju no meio de campo, e os avanços, pelo lado direito, do lateral Paulo Roberto e do jovem ídolo, o ponta atrevido Renato Portaluppi. Sua marcação implacável ao lado de China freou o Hamburgo. Mas Osvaldo não se limitava a marcar e desde sua época de Ponte Preta, ao lado do mestre Dicá, já notava-se sua técnica refinada. Sua contratação foi um pedido do então treinador Ênio Andrade, um ano antes. Treinou muito para quando o momento chegasse estivesse na ponta dos cascos! Valeu a pena! Hoje Osvaldo consta como um dos gigantes dessa conquista inesquecível!

AS ACADEMIAS

por Elso Venâncio, o repórter Elso

Ao longo de sua História, o Palmeiras teve três Academias de Futebol. Foram grandes esquadrões, tanto nos anos 60 e 70 como nos 90. O responsável pelo termo ‘Academia’ foi Ademir da Guia, ‘O Divino’, maior ídolo do clube. Ele era o maestro de uma equipe que conquistou os Estaduais de 1963 e 1966, que, somado ao título de 1959, impediu o Santos, de Pelé, de gritar ‘campeão’ por doze anos seguidos.

Dudu, que é tio do treinador Dorival Júnior, formava o meio de campo com Ademir em duas Academias e também outras vezes, na seleção brasileira.

A poderosa primeira ‘Academia’ chegou a vestir a camisa amarela, representando o Brasil, contra o Uruguai, em 1965, na disputa da Taça Inconfidência, durante a inauguração do Estádio Magalhães Pinto, o Mineirão. O time base era Valdir de Moraes, Djalma Santos, Djalma Dias, Valdemar Carabina e Ferrari; Dudu e Ademir da Guia; Júlio Botelho, Servílio, Tupãzinho e Rinaldo. O argentino Filpo Nuñez era o treinador.

Ademir, o craque carioca que o Palmeiras tirou do Bangu, era filho de outra lenda, Domingos da Guia, um dos maiores zagueiros do nosso futebol em todos os tempos. O defensor desfilou talento por vários clubes, dentre eles Flamengo, Corinthians, Vasco e Boca Juniors, além de ter disputado a Copa do Mundo de 1938.

A segunda Academia começou a se destacar ao conquistar dois títulos de expressão, o bicampeonato brasileiro de 1972/1973. A equipe era formada por Leão, Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha, César Maluco e Nei. Como técnico, Oswaldo Brandão.

Evaristo de Macedo lembra o carinho dos europeus com seus ídolos:

“Aqui, no Brasil, as pessoas nos esquecem.”

Primeiro jogador brasileiro a se destacar tanto no Barcelona como no Real Madrid, Evaristo regularmente vai à Espanha, onde é homenageado pelos gigantes rivais. No Brasil, encontros entre esses cracaços que fizeram história são raros.

A terceira Academia conquistou um punhado de títulos. Três Campeonatos Paulistas: 1993, 1994 e 1996. A Copa do Brasil de 1998 e, por fim, a Taça Libertadores de 1999. O time base da primeira equipe, a de 1993, era Velloso, Mazinho, Antônio Carlos, Cléber e Roberto Carlos; Flávio Conceição, Amaral, Rivaldo (Edilson) e Zinho; Edmundo e Evair. Todos comandados por Vanderlei Luxemburgo, que depois teve às mãos – não só ele como também Felipão – jogadores como Marcos, Arce, Junior Baiano, Junior, Djalminha, Alex, Oséias, Faustino Asprilla e Paulo Nunes, entre outros.

Foi a ‘Era Parmalat’, onde Edmundo despontou como o maior jogador brasileiro. Um fora de série, tanto que foi negociado, em 1995, com o Flamengo por seis milhões de reais, num período em que a moeda brasileira competia de igual para igual com o dólar. A contratação do ‘Animal’, apelido dado pelo ‘Garotinho’ Osmar Santos, narrador da Rádio Globo de São Paulo, foi um pedido de Romário, eleito o melhor jogador do mundo após a conquista do tetracampeonato que a seleção trouxe no ano anterior, ao derrotar a Itália de Baggio nos Estados Unidos.

Com egos inflados, os dois acabaram se desentendendo durante uma excursão à China. O relacionamento ruim fora de campo acabou prejudicando o badalado ‘Ataque dos Sonhos’: Romário, Sávio e Edmundo – também chamado de ‘Melhor Ataque do Mundo’.

Há quem defenda a ideia de que o português Abel Ferreira formou a Quarta Academia. O Palmeiras atual, mesmo tendo conquistado duas Libertadores e três paulistas, além de outros títulos, não tem craques do mesmo gabarito daquelas Academias. E muito menos um ÍDOLO DIVINO para chamar de seu.

GANSO MERECIA MAIS RESPEITO

por Zé Roberto Padilha

O Fluminense merecia perder de mais. 3 x 0 para o Cuiabá foi até pouco diante dos erros cometidos e levou até um olé na Arena Pantanalrr, fruto de erros de escalação, lapsos de logística.

Tudo pode ser perdoado, até o maldito time misto, aquele com reservas infiltrados que nunca jogam bem porque nunca treinaram juntos, em razão da decisão de quarta-feira, contra o Internacional. Menos o que fizeram com o Ganso.

Já que não foi aproveitado, mesmo diante da péssima atuação da equipe, por que viajou, mudou roupa e se submeteu a um calor insuportável que fazia em Cuiabá?

Será que se ficasse no Rio, descansando, fazendo um trabalho físico de manutenção, não cansaria menos?

Hoje, fizeram tudo para atrapalhar todo o bom ambiente até então vivido e buscado para ir a Porto Alegre decidir uma vaga na final.

Conseguiram.