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FOLHETIM VASCAÍNO

por Rubens Lemos

É, sim, de folhetim de Nelson Rodrigues, o fantasma cronista, dramaturgo e pornográfico, a relação entre o Vasco e a sua torcida. O Vasco não é uma massa sendo guiada pelos jogadores. É um time que é empurrado pelo sentimento ilimitado, cego e vibrante de um povo, de uma patuleia que apanha para amar mais e sem estabelecer qualquer condição básica de autoestima.

Roteiro Rodriguiano: me acovardei como o Asdrúbal alucinado pela Dircinha que passa a vida a humilhá-lo e ele a decantá-la de joelhos feridos pela falta de vergonha e a adoração alucinada.

Consegui assistir aos dez primeiros minutos porque agi como Flodoval, o canalha do escritório, que destila veneno sobre a esposa de Cândido, pelo nome se tem ideia da brandura do bovino marido, enquanto a fustiga pelas costas, dizendo ser ele, o crápula fundamental, o verdadeiro homem de sua vida.

Postei mensagens pessimistas como o escriturário Ladeira, alucinado pela Iarinha que corresponde o sentimento, mas não aceita o sexo sob lençóis infectos de hospedaria. Quer o corpo a corpo em um hotel, por miserável que seja tomada pela mania insofismável de pureza e higiene. Hotel que Ladeira jamais poderá pagar, ora carambolas, com o mísero ordenado de escriturário Letra D.

Fugi da raia e fiquei acompanhando tudo pelo site do globoesporte.com, suando frio como nas febres que aterrorizavam Adelaide, suspeita de gravidez subversiva produzida pelo cafajeste do Aderbal, carteiro sorrateiro que lhe enviava mensagens anônimas e picantes. E sorria, cínico, sabendo que ela sabia ser ele o galanteador.

É fato. Puro, elástico feito a baba do último bêbado do Arco da Lapa. Saiu da última farinha cadavérica de Nelson Rodrigues, que de tricolor passou a vascaíno por 95 minutos, a manutenção do Vasco na Série B do Campeonato Brasileiro. “Todos os minutos contêm milagres”, saiu o grito da lápide do gênio maldito da cultura brasileira. Consta que o vigilante do Cemitério São João Batista, Rio de Janeiro, correu assombrado, patético, ululante.

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 39

por Eduardo Lamas Neiva

A homenagem a Pelé é muito aplaudida pelo público presente ao bar Além da Imaginação. Após uma breve dispersada, Idiota da Objetividade começa a contar como o Santos conquistou o bicampeonato mundial de clubes.

Idiota da Objetividade: – No dia 11 de outubro de 1962, o Santos, que havia sido campeão da Taça Libertadores da América ao vencer o Peñarol do Uruguai, por 3 a 0, enfrentou o Benfica, no Estádio da Luz, em Lisboa, depois de ter vencido por 3 a 2, no Maracanã, na primeira partida da final do Mundial Interclubes. Diante de 80 mil presentes, o Santos sagrou-se campeão com a vitória de 5 a 2, com três gols de Pelé, um de Coutinho e outro de Pepe. Só nos cinco minutos finais, o time português descontou com Eusébio e Santana.

João Sem Medo: – Isso foi apenas quatro meses depois que o Brasil conquistou o bicampeonato mundial no Chile!

Ceguinho Torcedor: – E Pelé, que na Copa do Chile praticamente não jogou, pôde demonstrar mais uma vez o gênio que era.

Garçom: – Vamos, então, aproveitar pra ouvir outra música em homenagem ao Rei?

O “sim” forte e alto ecoa novamente no Além da Imaginação.

Garçom: – Jair Rodrigues, por favor, venha ao nosso palco!

Jair Rodrigues atende o pedido com o sorriso largo que todos se habituaram a ver. E é muito aplaudido.

Jair Rodrigues: – Muito obrigado, minha gente! Vamos aqui fazer uma dupla homenagem, ao Rei do Futebol e ao Rei do Baião. A música, de Durval Vieira e Reginaldo Santos, se chama “Rei Pelé, Rei Luís”. Vamos lá, rapaziada!

Sob aplausos, Jair Rodrigues agradece e, quando ia voltar à sua mesa, Zé Ary e os músicos pedem que ele aguarde um pouco. Ceguinho Torcedor retoma a pelota.

Ceguinho Torcedor: – Mil novecentos e sessenta e dois foi um ano glorioso para o futebol brasileiro. Na Europa só chamavam os jogadores do Santos de gênios, gênios. Técnicos ingleses, italianos, a imprensa portuguesa, todos se esbaldaram de elogios ao time brasileiro.

João Sem Medo: – Foi glorioso para o Botafogo também, que conquistou o bicampeonato carioca em cima do Flamengo.

Ceguinho Torcedor: – É verdade, com um show de Garrincha, deu de 3 a 0 no Flamengo, que jogava pelo empate.

Garçom: – Depois daquele jogo, o Gerson resolveu sair do Flamengo, né?

João Sem Medo: – Foi escalado de ponta-esquerda e ficou tentando ajudar o Jordan a marcar o “imarcável” Garrincha, que fez dois gols. O outro Vanderlei jogou contra a própria rede após chute do Mané.

Garçom: – Na década de 60, Botafogo e Santos eram os melhores times do Brasil e formaram a base da seleção.

João Sem Medo: – Isso mesmo. Mané, venha aqui, por favor. Quero lhe dar mais um abraço. Enquanto isso, o Zé Ary vai convocar outra música.

Garçom: – É verdade, seu João. Vamos agora homenagear os nossos dois maiores gênios da bola e todos os que sonharam e ainda sonham ser um craque da bola, novamente com o grande Jair Rodrigues.

Jair Rodrigues: – Bom, rapaziada, Mané, muito prazer revê-lo aqui. Vamos rolar a bola, então, com “Pelés e Manés”, de Chico Xavier, que não é o  médium mineiro, mas o compositor cearense.

Ao fim da apresentação de Jair Rodrigues, a emoção tomou conta de todos no bar. Garrincha subiu ao palco para abraçar o cantor e todos aplaudiram de pé. Os aplausos foram bem demorados e muitos dos presentes se dirigiram a Jair e Garrincha para cumprimentá-los.

Fim do capítulo 39

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Um gol desse não se perde!

OBRIGADO, CENTROAVANTE!

por Claudio Lovato Filho

Entregaste o teu melhor. E o teu melhor é sempre no mínimo genial. Que maravilha foi ver tua entrega em campo. Tua dedicação dentro e fora dele. Teu profissionalismo. Teu compromisso. Tua humildade. Teu prazer quase igual em fazer gols (foram 29 com o manto azul, preto e branco) e em dar passes (17 lindas assistências) para que teus companheiros colocassem a bola no fundo da rede.

Obrigado, centroavante, por nos proporcionar tantas alegrias. Trouxeste momentos de alento e colocaste sorrisos no rosto de todos nós – crianças, adolescentes, adultos e integrantes da velha-guarda; daqueles que estão de bem com a vida e daqueles que vivem tempos de tormentas individuais ou familiares; daqueles que amam o futebol incondicionalmente e daqueles que podiam estar meio desiludidos com ele (e isso incluiu, com frequência, torcedores de outros clubes do país, admiradores da tua arte que souberam desfrutar da tua presença entre nós).

Obrigado, centroavante, por inspirar os mais jovens, exemplo que és. Obrigado por apoiar os veteranos, tão consciente que és das dificuldades da carreira de jogador de futebol – dificuldades que muitos desconhecem, mas que, apesar disso, julgam-se professores no assunto.

Obrigado, centroavante, por honrar a camisa azul, preta e branca em cada segundo que a vestiste nas 54 partidas que disputaste, recorde na tua carreira em uma mesma temporada, e isso aos 36 anos, 37 em 24 de janeiro. Vice-artilheiro do Campeonato Brasileiro, com 17 gols – decisivos para nos colocar de volta na Libertadores e nos levar à honrosa segunda colocação na competição nacional mais difícil do futebol mundial, posição sacramentada com uma grande vitória nossa no Maracanã, contra o Fluminense, na qual fizeste dois gols.

Como soubeste compreender o que nossa camiseta exige e simboliza! Fizeste tudo o que esperávamos – e mais. Te sacrificaste. Três comprimidos e uma injeção antes de cada jogo, para conseguires enfrentar a dor no teu joelho castigado por tantas batalhas e, assim, nos presentear com teu talento, com tua maestria.

Entraste para a nossa História, Pistolero. E para sempre terás nela um lugar muito especial.

Em janeiro, quando chegaste, este torcedor e modesto escriba teve um texto publicado aqui mesmo, no Museu da Pelada, intitulado “Bem-vindo, centroavante”. Escrevi: “O abraço de Ancheta e Suárez no centro do gramado da Arena simbolizou a força e a constância de um sentimento que une uma torcida e seu clube através de gerações. Isso começou em 1903 e – os deuses do futebol já asseguraram – jamais terá fim. Bem-vindo, Luisito. Estamos juntos, centroavante. Te queríamos muito entre nós e agora já és parte da nossa História”.

“Serei mais um gremista torcendo”, disseste na tua entrevista coletiva de despedida da Arena, depois do jogo contra o Vasco, que vencemos com gol teu. Mais um gremista torcendo, mais um gaúcho de coração azul, preto e branco.

Estamos juntos. Sempre estaremos. Porque agora fazemos parte da mesma História, e esse laço é eterno. Aqui, no nosso Grêmio, no meio de nós, gremistas, tu tens uma família que vigiará por ti e te desejará o melhor onde quer que estejas.

Gracias, delantero centro.

Obrigado, centroavante.

Luis Suárez. Lucho. Luisito.

CONTRA FOTOS, NÃO HÁ ARGUMENTOS

por Zé Roberto Padilha

Da série: ninguém me contou. Estava ao lado.

Vários comentaristas esportivos insistem em atribuir a Ronaldinho Gaúcho a jogada de olhar para um lado e tocar a bola para o outro enganando o adversário.

Ele até a promoveu mundialmente, no Barcelona.

Mas em 1975, quando Ronaldinho era um bebê, esse rapaz da foto, conhecido como Roberto Rivelino, já a havia criado. Mario Sérgio estava também no treino. E a adotou também com igual maestria.

Contra fotos e datas não há argumentos.

O ÚLTIMO CAPÍTULO

por Marcos Eduardo Neves

Que inveja do torcedor do Vasco… Enquanto os flamenguistas sentem vergonha de terminar o Brasileiro em quarto lugar, os cruzmaltinos certamente vão varar a noite nos bares para mostrar uma verdade que aprendemos desde crianças:

“O importante é competir”.

Bato palmas para isso. Após ser quarto colocado na Série B, o Vasco conseguiu alcançar a honrosa décima quinta colocação na elite. Não é todo mundo que consegue isso, não. Basta ver o Santos, que caiu pela primeira vez na História.

Fogos de artifício na entrada do caldeirão lotado de São Januário, ouvi a torcida cruz-maltina berrar a plenos pulmões:

“Vou torcer pro Vasco ser campeão!!!”

Juro que não entendi. Somariam 26 pontos caso vencesse o Bragantino? Ou, no fundo, torciam para voltar à Série B, onde o sofrimento não pode parar, mas é muito menor?

Ver um jogo do Vasco atualmente é que nem minissérie bem feita. A cada segundo tudo muda. Mães acalmando o filho que chora, avó quase infartando, decepcionada, e no fim todos mais felizes do que o campeão Palmeiras.

Para mim, a imagem que fica nessa epopeia vascaína é a do zagueiro Léo Pelé desabando ao apito final e chorando deitado no gramado. Lembrei do verdadeiro Pelé quando o Brasil venceu a Copa do Mundo em 1958. É isso: cada um com a emoção que pode ter.

Quanto aos tricolores, boa viagem para o mundo árabe. Alvinegros, que consigam passar na pré-Libertadores. Flamenguistas, que sigam dinamitando essa sórdida diretoria que fez a maior massa do país passar vexames terríveis esse ano.

Quanto aos vascaínos, comemorem muito. Porque cinco rebaixamentos só Avaí e Coritiba têm.