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O VENDEDOR DE LIMÕES QUE AJUDOU NA CONSTRUÇÃO DO “FENÔMENO”

12 / abril / 2019

por Marcos Vinicius Cabral


O pôr do sol era mágico e revitalizante para os frequentadores da Feira da Cacuia, forte comércio popular na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio de Janeiro.

Entre milhares de barracas, a de seu João Pé (apelido de José Ferreira Nunes 1949-1994) e do ajudante Boca chamava a atenção dos frequentadores: o perspicaz Clayton Divina Nunes, aos 9 anos de idade vendia limões com grande desenvoltura.

– Eu ficava feliz aos domingos em levantar às 4h da manhã da cama para às 5h sair com meu pai de São Gonçalo, chegar às 7h na feira para vender limões e ajudar minha mãe nas despesas de casa – diz aos 42 anos o auxiliar administrativo do HEAT (Hospital Estadual Alberto Torres), no Colubandê.

E completa:

– Meu pai foi tudo na minha vida. Até hoje, eu e meus irmãos, sentimos sua falta – conta visivelmente emocionado ao Museu da Pelada.

Se em casa era responsável, na rua era um irresponsável moleque bom de bola e que encantava a todos com a habilidade, rapidez e quantidade de gols marcados nos tradicionais golzinhos de praia, disputados no chão áspero e cheios de pedras na Rua Silvio Vale no Gradim.

O sangue estancado com a dor nos dedos do pés machucados pelas topadas que dava nas peladas de rua não lhe impediria de ir em 1987 com o ponta-direita Marcelo e o ponta-esquerda Wallace Sol tentar a sorte no Batalhão da Polícia Militar em Neves, onde funcionava a escolinha do Vasco da Gama, comandada por seu Tião.


– Treinamos juntos e depois seguimos destinos diferentes. Ele se profissionalizou, atuou em grandes clubes e eu segui a carreira militar – conta Wallace Marins da Silva de 43 anos.

Dois anos depois, em 1989, levado pelo irmão mais velho Anderson, que era lateral-esquerdo juvenil do São Cristóvão de Futebol e Regatas chegaria para ser testado no mirim do clube.

Treinou bem e com a camisa 8 às costas, virou Catê (não por mera coincidência mas por ser muito parecido fisicamente e futebolisticamente com o ex- atacante são paulino falecido em 2011) e passou num teste com mais de 80 meninos jogando de meia-direita.

– Era um garoto de 12 anos que driblava as dificuldades se deslocando de São Gonçalo para São Cristóvão quase que diariamente, sendo sempre um dos primeiros a chegar ao clube e mesmo após o término das atividades, permanecia, pois “fominha”, era necessário ser retirado ou expulso – elogia Flávio Vieira Moraes de 51 anos, seu primeiro treinador.

No São Cri Cri, ficou de 89 a 93, sendo bicampeão da Copa Mané Garrincha (1991/1992), eleito o craque da competição jogando ao lado de um certo Ronaldo, artilheiro da competição, com quem formou dupla até 1993.


– O nosso time era muito bom e dei muitos passes para “Mônica” fazer gols – conta às gargalhadas ao explicar que por ser dentuço o Ronaldo era chamado pelo famoso personagem do cartunista Maurício de Souza.

E confidencia:

– Conversávamos muito sobre um dia a gente se enfrentar no Maracanã. Eu pelo Fluminense e ele pelo Flamengo – lembra.

Casados pela bola no irregular gramado de Figueira de Melo em 1989, formando assim um par perfeito até o divórcio em 1993, quando entraram em litígio com o clube.

Enquanto “Mônica” passaria a se chamar Ronaldo no Cruzeiro e viraria “Fenômeno” anos mais tarde, Catê seria Clayton “Grilo” no Grêmio até a aposentadoria em 2005, em decorrência de problemas no joelho.

– Devo muito ao Eduardo, por ter me levado para o Grêmio. Queria pode dizer um muito obrigado e que foi o maior lateral-esquerdo que vi jogar – diz do ídolo tricolor que hoje trabalha nas categorias de base do Friburguense.

Nômade no futebol profissional e amador, ganhou títulos expressivos no Avante, Ponte Preta e no Estrela Azul, sempre se destacando e sendo respeitado na cidade de 128 anos de existência.


Escreveu seu nome na história gonçalense como um dos Gigantes com G maiúsculo no futebol de várzea e carrega até hoje a alcunha de ter sido o primeiro parceiro do “Fenômeno”.

Nada mal, convenhamos, mas ser “Fenômeno” é manter o COT (Centro de Oportunidade ao Talento), projeto social fundado em 2006 e que sobrevive às custas da venda de camisas e doações.

– O intuito sempre foi tirar as crianças das ruas e mostrar o caminho a ser seguido. E o COT é esse caminho – diz esperançoso.

Atualmente, o COT conta com 150 crianças e adolescentes que saídos das ruas buscam nos treinos aos sábados das 7h às 11h no Campo do Cruzeiro, situado na Avenida Porto da Pedra s/n° – Porto Novo, São Gonçalo, uma oportunidade para mudar de vida.

Mais informações pelo Whatsapp: (021) 97034-2076 e na página no Facebook.

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