Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

MARADONA, O CALÍGRAFO DA BOLA

27 / novembro / 2020

por Marcos Vinicius Cabral


“Não acredito, meu Deus!”, foi o que disse às 13h15 da tarde desta quarta-feira (25/11), quando parei o carro embaixo de uma amendoeira bem próxima da barraquinha de seu Antônio e do mercado em que segundos antes havia deixado minha esposa e sua mãe.

À sombra da árvore enquanto esperava por elas, peguei o celular para ver as mensagens que chegavam a todo instante no WhatsApp.

Fui checando uma a uma e infelizmente era verdade: Maradona não conseguiu driblar a morte.

Com o celular ainda nas mãos, impactado, olhei para o céu, fechei meus olhos, encostei minha cabeça na porta do carro e comecei a pensar em Diego Armando Maradona Franco.

– Está passando mal? – perguntou o dono do caldo de cana mais saboroso de São Gonçalo.

– Não, estou pensando em Maradona! – respondi com os olhos fechados e suspeito que a essa hora ele já tenha entendido minha resposta mesmo dizendo um “Eu, hein!” como se eu fosse louco.

Mas se ele não entendeu nada naquele momento, imagine nós, amantes do futebol, com a notícia da morte do maior nome do futebol argentino de todos os tempos?

Mas permaneci ali por dez minutos no máximo e coloquei o meu hipocampo para funcionar.

Ali, no silêncio fúnebre, refleti sobre as vidas humanas perdidas na ‘Guerra das Malvinas’, em que a Argentina tentou e não conseguiu recuperar parte territorial dos arquipélagos da Inglaterra. 

Resultado: 640 argentinos fecharam os olhos em definitivo e 255 ingleses foram carregados em seus caixões por seus familiares.

Nessa viagem de poucos minutos, deu tempo de pensar naquele 22 de junho de 1986 – quatro anos após o fim do confronto bélico entre os países.

Dessa vez, para o bem da humanidade, não haveriam armas, helicópteros, explosivos ou aviões militares, mas sim um Estádio Azteca abarrotado de gente, que assistia 22 homens vestidos com suas fardas de seus países e uma bola que serviria para vencer a batalha campestre: o gol!


O fato é que ‘La revancha de los Dioses’ ocorrida há 34 anos, foi vencida pelos sul-americanos, que fizeram justiça com os próprios pés, uma mão divina e um ‘Dios’ dentro de campo: Maradona, eterno como aquele jogo que é, segundo o jornalista Paulo Vinícius Coelho em seu livro ‘Os 50 maiores jogos das Copas do Mundo’, o 11º mais importante de todas as edições de Copas do Mundo.

Já o gol de Maradona aos 36 minutos do segundo tempo, o mais bonito de todos os novecentos jogos nas vinte e uma edições de Copas do Mundo.

Nessa viagem insólita, pensei na fraca Argentina de Carlos Bilardo, que venceu no Estádio Delle Alpi, em Turim, a equipe brasileira por 1 a 0, num lance majestoso de um camisa 10 de 1,65m de altura que em um rompante iluminado – como fez o norte-americano Thomas Edison (1847-1931) ao criar a lâmpada para o mundo – colocou o atacante Caniggia para marcar o único gol da partida.

Mesmo sendo melhor nos 90 minutos da partida, terminava ali, a jornada brasileira logo nas oitavas de final, naquele 24 de junho de 1990.

Nessa viagem intrínseca, lembrei dos jogos transmitidos pela Bandeirantes, dos títulos do Napoli em 1986/87 e 1989/90, e de tantos e tantos jogos narrados por Luciano do Valle (1947-2014), Silvio Luiz e Jota Júnior e comentários de Elia Júnior, Juarez Soares (1941-2019).

Nessa viagem inimaginável ao passado, lembrei do gol que marcaria época não apenas pela beleza do lance, mas também pela comemoração: raivosa, aos berros, na direção das câmeras, em plena Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 1994.

Maradona queria provar, ali, que estava inteiro para o futebol, que, aos 33 anos, poderia conduzir sua seleção a mais um título mundial e que os meses em que permanecera suspenso por consumo de cocaína eram coisa do passado.

Golaço contra a Grécia e presente de grego na suspensão imposta pela Federação Internacional de Futebol (FIFA).

Nessa viagem ao túnel do tempo, lembrei das vezes em que discuti com amigos, como o jornalista Helvio Lessa, o repórter fotográfico Kiko Charret e o diagramador Jorge Quintanilha, sobre quem foi melhor: Maradona ou Pelé, quando começou a polêmica envolvendo os dois camisas 10 do futebol mundial no século XX.


Eles eram Maradona, eu Pelé.

Mas o ‘Pibe de Oro’ foi verso, reverso e controverso, a ponto de ter lugar cativo no coração do torcedor e um ‘Natal’ argentino comemorado em seu aniversário: 30 de outubro!

Não há um argentino na face da Terra que não idolatre seu eterno ídolo, como o jornalista Hernán Amez, que criou a Igreja Maradoniana em 1998 e tem o tetragrama sagrado D10S, que mistura a palavra em espanhol (Diós) para Deus com o D de Diego e o 10 da sua camisa.

Ainda daria tempo para pensar na vida do menino pobre que nasceu na Villa Fiorito, favela situada em Lanús, na Argentina, nos excessos com o tabaco, bebidas e drogas, assim como a difícil relação com a imprensa.

Sim, daria, mas o som da porta do carro sendo aberta pela minha esposa e sua mãe, me despertou.

– Vamos embora, meu bem, que estamos atrasados para o almoço! – disse minha adorável esposa, me preservando de pensamentos tão ruins de quem fez tão bem para o futebol.

Maradona merece reverências, já o cidadão Diego Armando Maradona Franco, respeito.

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *