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Bochini

10 / junho / 2018

o ídolo de deus

 texto: Diego Esteves | tradução: Guillermo Planel | edição: Daniel Planel

Será que Deus tem ídolo? O lá de cima não sei dizer, mas o cá de baixo, o deus argentino, tem: “Eu aprendi com o senhor a sentá-los de bunda. Eu tocando na bola, o senhor somente com o movimento do corpo. Vou dizer no mundo inteiro que o meu ídolo chama-se Ricardo Bochini. O senhor me ensinou a querer a bola sem importar o time nem a camiseta, me ensinou a pedir a bola e isso, para nós que estamos num nível superior, nós entendemos“. O autor da mensagem? Diego Armando Maradona. O destinatário? Seu ídolo, Ricardo Bochini, ex camisa 10 do Independiente, clube onde atuou em seus 19 anos de carreira, entre 1975 e 1991.

Hoje em dia seria impossível que um jogador da classe do “Bocha” (“Careca”) não fosse contratado por um clube da Europa. Mas foi justamente isso, o fato de ter entregado a sua vida esportiva completa a um só clube, o que o tornou um ídolo para a torcida própria mas também para as rivais. Por seu time, marcou 107 gols em 740 jogos oficiais. Não era um artilheiro propriamente dito, mas tinha a categoria e a personalidade que o fazia aparecer na hora certa. Como na conquista da Taça Intercontinental de 1973 sobre a Juventus da Itália, quando fechou a vitória por 1 a 0 para o clube do subúrbio fabril de Avellaneda. No ano seguinte, marcou um na decisão da Taça Libertadores contra o São Paulo. Mas o predileto dele e dos torcedores do “Rojo” foi na final fora de casa contra Talleres de Córdoba, a quatro minutos do fim da partida e com oito jogadores em campo.

Embora tenha disputado 28 jogos pela seleção argentina, não marcou nenhum gol pela “celeste y blanca”. Façanhas como o “quase gol” desde o meio de campo contra a Alemanha na estréia do Franz Beckenbauer como técnico não foram suficientes para leva-lo à Copa do Mundo em sua melhor performance. Na Copa de 1974 ainda era jovem; na de 1978, na Argentina, o técnico César Luis Menotti dispensou Bochini por pressão dos militares e já em 1982, na Espanha, surgiu Diego Maradona, dono indiscutível da camisa 10 por mais de uma década. Mas como sempre acontece no futebol, “El Bocha” teria revanche.   

O destino quis ou, melhor dito, “deus” quis que aluno e professor se reunissem na Copa do México, em 1986. “Quero o Bochini no Mundial“, pediu o próprio Maradona para o técnico argentino, Carlos Salvador Bilardo. E pedido de Deus não se nega. Foi assim que na semifinal da Argentina campeã contra a Bélgica, “El Diez” cumpriu o seu sonho de criança: jogar com o ídolo. A seleção “albiceleste” vencia por 2 a 0 e faltando seis minutos para o fim do jogo, Bilardo chamou ao “Maestro”, que ficou à beira do gramado para entrar no lugar de Jorge Burruchaga. “Quando vi que entraria o Bochini, me pareceu que tocava o céu com as mãos, por isso o primeiro que fiz foi fazer uma tabela com ele. Nesse momento senti que estava fazendo ‘um-dois’ com Deus“, relembrou Maradona. Foram 156 segundos com a bola rodando, sempre no chão como faz quem entende.

O Museu da Pelada entrevistou o ídolo do Maradona no campo de treinamento do Independiente, em Villa Dominico, a uns 20 minutos do centro da cidade. Bochini compara Pelé, Maradona e Messi, dá uma dica para o Neymar ser o melhor do mundo e surpreende ao incluir dois brasileiros no seu “time dos sonhos”.

 

 

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