Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Pelé do Nordeste

PELÉ DO NORDESTE

por André Mendonça


Infelizmente os craques do passado não têm o reconhecimento merecido, principalmente os das regiões Norte e Nordeste. Por isso, o Museu da Pelada não mede esforços para ir atrás deles e reverenciá-los, seja aonde for. Após muitas tentativas, conseguimos falar com Simão Teles Bacelar, o Sima, maior artilheiro do Nordeste. Com 11 títulos estaduais no currículo, tendo sido o maior goleador em dez oportunidades, o “Pelé do Nordeste” se surpreendeu com o telefonema do Rio de Janeiro.

– Rapaz, mas você está falando de longe, hein! Vou ser breve para você não gastar muito! – disse o humilde Sima, sem saber que nenhum dinheiro pagaria uma resenha com um dos maiores atacantes que o Brasil já produziu na década de 60.

Em uma época de ouro do futebol brasileiro, onde craques como Dirceu Lopes, Ademir da Guia e Eduzinho eram preteridos da seleção brasileira, surgia no Piauí um menino veloz com uma facilidade extraordinária de balançar a rede adversária.

– Sempre me destaquei nas peladas em Teresina. O Coquinho, meu irmão mais velho, jogava também, mas não vingou. Meu pai me via chutando bola e falava para todo mundo que eu daria certo como jogador, mas eu era muito magrinho e ninguém acreditava nele.


Logo nos primeiros anos como profissional pelo River, foi tetracampeão do Piauí (1966, 1967, 1968 e 1969) e artilheiro em quatro oportunidades (1968, 1969, 1970 e 1971), comprovando a intuição do paizão Raimundo. O sucesso despertou o interesse de outros clubes do Nordeste e Sima teve passagens curtas por Moto Clube e Bahia.

O desempenho não foi extraordinário como nos tempos de River, mas foi suficiente para receber uma oferta generosa do Tiradentes, do Piauí, em 1973. Se alguém duvidava da capacidade do artilheiro, o craque tratou de calar os críticos com um belo cartão de visita: bicampeão estadual (1974 e 1975) e artilheiro em ambos.

– Fiz uns golzinhos importantes no Bahia, inclusive no Ba-Vi, mas no Piauí joguei demais! O Rivellino me disse que se eu tivesse nascido um pouco mais para o Sul, teria jogado uma Copa do Mundo.

Buscando maior projeção nacional, após sua sexta “dobradinha” – campeão e artilheiro – no Campeonato Piauiense, Sima se transferiu para o Rio Negro, de Manaus, em 76, em busca de novos desafios. A mudança fez bem à carreira do artilheiro, que continuou balançando a rede sem moderação, mas com um pouco mais de visibilidade.


Nessa época, a idade começava a pesar para Dirceu Lopes e o Cruzeiro estava desesperado em busca de um substituto para o seu maior ídolo. Era a oportunidade que Sima tanto esperava.

– Até hoje o Dirceu me pergunta o que aconteceu. Ele diz que todos já estavam me esperando lá em Minas, mas eu não apareci. A negociação não deu certo. Acho que o clube dificultou a minha liberação, mas isso faz parte da vida – lamentou.

De acordo com ele, naquela época as negociações eram mais complicadas porque não havia empresário e os dirigentes se resolviam entre eles.

– O que eu mais ouvia do presidente era que se eu fosse vendido a torcida mataria ele – lembrou Sima, dando uma gargalhada em seguida.

Desapontado, mas com a mesma fome de gols, o atacante retornou para o clube de formação, o River, em 77, e brincou de jogar bola. Naquele ano, conseguiu a proeza de ser o maior artilheiro do Brasil, marcando 33 gols. Além disso, se destacou no Campeonato Brasileiro balançando a rede contra Botafogo, no Maracanã, Inter, no Beira-Rio, São Paulo, no Morumbi, e Vasco, em São Januário, causando um alvoroço para sua convocação à Copa do Mundo de 78, o que acabou não ocorrendo.


River-PI campeão piauiense em 1977

Apesar de ter sido apelidado de Pelé do Nordeste, com méritos, o artilheiro manteve a mesma humildade de sempre e revelou o segredo para marcar tantos gols:

– Nunca pensei que chegaria a esse nível, mas eu me dedicava demais e acabou acontecendo. É muito gratificante. Os treinadores falavam que não existia jogador mais dedicado do que eu. Costumava chegar uma hora mais cedo no treino e saía uma hora depois de todo mundo.

Hoje, aos 69 anos, o artilheiro revelou que ainda joga peladas e dá trabalho para os adversários.

– Jogo de vez em quando com os coronéis no campo do quartel da polícia e, se eles derem mole, ainda faço meus golzinhos. Futebol não se esquece!

No fim da resenha, ainda teve coragem de agradecer a ligação. Que saudade dos nossos ídolos!