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Pelada

TORNEIO DE PELADA

por Itiro Tanabe


É no faustoso campo do Mello Tenis Clube, o Gigante da Leopoldina, tradicionalíssimo clube da Zona Norte carioca, que acontecem dois dos mais disputados campeonatos de futebol soçaite do Rio de Janeiro, nas categorias veteranos, que corresponde atletas até 47 anos e máster, acima desta idade. Ambos contam hoje com a participação de oito equipes, outrora 12, em três turnos, onde o campeão é conhecido após quadrangular com os quatro melhores colocados.

Em meio enorme contingente de adultos, que assim que a bola rola viram crianças, notam-se ex-profissionais como Zé Mário, Ederlei, Aurélio, Wanderley, Índio, entre outros.

No último sábado (14) foram conhecidos os campeões do 2º turno: Manguaça venceu o Renascerá pelo placar de 4×3 e levou a taça da categoria máster. Já na veterano jogaram Renascer x Renascerá, com a vitória do primeiro pelo placar de 4×1. O 3º turno começará no próximo final de semana e promete disputas tão acirradas quanto foram nos turnos anteriores. Ninguém entra em campo apenas por diversão.


Figura muito admirada, botafoguense fanático daqueles que vai à todos os jogos, com seu tradicional bordão de saudação à torcida rubro-negra, Ricardo Miranda, vulgo Papai Noel, dada sua cabeleira branca e sua igualmente barba branca, é um dos mais antigos e figura carimbada em todas as edições. Facilmente identificado na foto. E outro que não poderia deixar de ser mencionado: Luizinho, cuja habilidade com a bola pode ser notada, mesmo no auge dos seus 70 anos. Na foto, deitado com sua amiga, a bola.

Na batuta dos torneios, Thiago de Lemos, em que pese a juventude, carrega nos ombros responsabilidades gigantescas, tanto na vice-presidência do clube, como na organização dos torneios.

Museu da Pelada: Entre a vice-presidência e a condução dos torneios, qual missão lhe é mais difícil?

Thiago: Uma está diretamente ligada a outra. Ambas missões são árduas e igualmente prazerosas. Não chega ser uma missão, porém uma tarefa não muito fácil, conseguir agregar equipes para ocorrência das competições, a condução destes, para que ao final do evento, todos sintam-se felizes por ter participado.

Museu da Pelada: É de supor o desejo do engrandecimento dos campeonatos, trazendo novas equipes dos mais distintos lugares. É um plano da sua gerência?

Thiago: Mais que um plano é uma realidade. Nesse ano trouxemos quatro times de locais diferentes. E outros mais sempre serão bem-vindos. A dinâmica é grande. Uns vão pelos mais diversos motivos, outros retornam depois de anos de ausência. Fato é que estamos sempre agregando e socializando.

Museu da Pelada: Como serão os campeonatos de 2019? Pode-se esperar mudanças substanciosas?

Thiago: Muito ainda está em estudo. Tal como criar a categoria amador, que agrupará jovens entre 18 anos e 25 anos. De certo, trazer mais equipes para a categoria máster, devendo chegar a 10 quiçá 12, mesmo objetivo para a de veteranos. Quanto ao regulamento, a forma atual é de agrado geral, portanto pouco será revisado.

 

Então amigo leitor, se você deseja disputar um campeonato digno da sua equipe, ou se você busca um time para participar, entre em contato com o Thiago no clube da Leopoldina e comece a se organizar desde já.

BOÊMIOS DA VILA F.C.

por Marton Olympio


Hoje teve Boêmios, lá no campo do Sampaio e como sempre acontece, aquele sol glorioso abriu ali sobre o bairro, deixando todo mundo bem aquecidinho. Aquele preparo de sempre: tornozeleira, caneleira, tensor pro joelho (que hoje deu uma apitada bonita), o gel de silicone pra suportar o peso no calcanhar e tudo aquilo que ajuda a dor ser menor. Ainda sentia as dores da pelada de quinta, mas, mesmo com elas, fui pra lá tentar não atrapalhar a equipe.

Para a minha surpresa eu ia começar jogando. E lá fui eu. Dois zagueiros me esperavam. Um, visivelmente mais velho e mais lento e outro jovem, esguio e veloz. Lógico que escolhi jogar pelo lado do primeiro deixando para meu amigo Marquinho, companheiro no ataque, o desenrolo com o outro beque.

Os dois, anos mais novos, com certeza iriam se entender. O jogo estava ótimo. Daqueles jogos bacanas, limpos, gostoso de ver e jogar. Divertido. E com alternativas bacana de ataque, defesa, tudo aberto e como diz a gíria: jogo jogado. E foi durante um desses embates lá na frente, trocando tintas com a zaga, que uma frase me fez lembrar uma história que me contaram essa semana.


Um time de escritores peladeiros foi enfrentar o time do Chico Buarque, o famoso Politeama. E num dos momentos do jogo, alguém deu uma chegada no Chico. Note bem que chegada não tem a ver com agressão ou tampouco fere a ética da pelada. É só uma forma de testar a resistência do corpo do adversário. Se é falta ou não, vai do juiz, do campo ou do grito. Depende muito. E, após o choque, de um jogador mais novo e robusto, Chico foi ao chão.

Climão na hora. Alguns protestos e o rapaz sem graça, ajuda o Chico a levantar e pergunta:

– O senhor tá bem?

Ao que Chico, educadamente responde com “a frase”:

– Senhor é o caralho! – E seguiu o jogo.

Hoje, em um momento de troca de marcação, aguardava a bola cruzada dentro da área, naquele movimento de empurra empurra tipico de espera da batida da falta. Eis que ouço uma frase:

– Eu tô com o magrinho… Marca o coroa! – e o zagueiro colou em mim.


Eu era o coroa. Essa frase tá mais latejante em meu corpo que meu joelho inchado e coberto de gelo. Coroa. Queria ter reagido tão rápido quanto o Chico Buarque, um verdadeiro, sem trocadilhos, craque com as palavras.

Ps.: É maravilhoso jogar no Boêmios. Obrigado a todos os envolvidos. Ah sim, ganhamos de 2 x 0. Chupa, novinho

SKANK QUE SE CUIDE

por Sergio Pugliese


O que falar sobre Henrique Joriam (o de calça jeans na foto)? Ex-comissário de bordo, ele é inquieto, adrenalina pura!!! Passou a vida pelos ares, conheceu o mundo todo, poliglota, fotógrafo, bom centroavante, sócio do Brothers Hostel, albergue-bar bacana de Botafogo, escritor, guia turístico, empresário e agora vocalista da banda Farani, composta por ele, Mario Vitor e Philipe Joriam. O trabalho do grupo é bem legal e se levarem a sério podem fazer frente a bandas consagradas. Nos enviaram a letra de Pelada Terça-Feira, e como hoje é aniversário do Henrique, resolvemos dividir com vocês!

 PELADA TERÇA-FEIRA
Henrique Joriam, Yuri Nasser e Philipe  Joriam
 
 
Redonda no peito, no pé a chuteira.
Pelada sagrada na terça-feira.
Na beira do mar, no sol de rachar.
Onde rolar ela está satisfeita.
Dada a saída, bola pra frente.
É o jogo da vida, da vida d’agente.
 
Da linha de fundo
Para o zagueiro.
Cobrou lateral.
Até o artilheiro.
Carrinho na bola.
Ele entrou de sola.
 
Empurra pra lá e pra cá.
“Qual é!”, de cá e de lá.
3 passos para traz.
Por cobertura chutouuuuuuuu…………
 
É o gol (gol)
Atirou, entrou.
É o gol (gol)
Atirou, entrou.
É o gol (gol)
Atirou, entrou.
É o gol (gol)
Atirou, entrou.
 
Quadra de grama, asfalto ou poeira.
Seja o que for, tô de bobeira.
Par ou ímpar, campo ou bola?
É dez ou dois, tem time de fora.
Dada a saída, bola pra frente.
É o jogo da vida, da vida d’agente.
 
Do tiro de meta.
Pra cabeçada.
Matada no peito.
O drible da vaca.
Passe de letra.
Pro ala direita.
 
Respeito com o adversário.
Não existe peladeiro otário.
Dado um toque pro lado
De bate pronto chutouuuuuuu (gol…gol…gol…gol…)………..
 
É o gol (gol) 
Atirou, entrou. 
É o gol (gol) 
Atirou, entrou. 
É o gol (gol) 
Atirou entrou. 
É o gol (gol) 
Atirou, entrou. 
E o jogo, acabou

A SEGUNDA PELE

por Sergio Pugliese


A professora vascaína do Externato Coração Eucarístico, no Flamengo, curiosa em saber os times de coração de seus pimpolhos iniciou uma enquete: “Vascão!!!”, gritou o risonho, “Fred!!!”, animou-se o tricolor bochechudo, “Mengoooo!!!”, caprichou o comprido, “Loco Abreu!!!”, acenou o botafoguense, “Ajax!!!!”, bateu no peito Diego Parente, de 4 anos. A “tia” enrugou a testa e pediu mais detalhes.

– É o melhor time do mundo – resumiu. 

A pueril marrinha era apenas reflexo da assumida marrona do paizão Victor Parente, de 41 anos, pioneiro do Ajax do Aterro, time fundado em 1988 por amigos do Colégio Santa Úrsula em homenagem ao esquadrão holandês. De cara, ganharam o Campeonato do Aterro, na fase pós Jornal dos Sports. Participaram de 106 torneios, ganharam 50, jogaram 1.500 vezes, venceram 1.085, empataram 179 e “foram prejudicados” em 236. Marcaram 7.815 gols e sofreram 4.204.

– Quase todos irregulares – afirmou o goleiraço Fábio Guimarães, o Mamão, há 20 anos defendendo as cores do azul e vermelho. 


Acir retoca a tatuagem de Mamão. No fundo, os irmãos Alex e Victor ao lado de Simão exibindo o seu escudo tatuado no braço.

O arquivo ambulante do grupo é Alex Parente, de 33 anos, irmão de Victor. Ele também tem sido o responsável pela renovação do time, mas quem continua fazendo comida boa é a rapaziada da panela velha. O vascaíno Victor é o artilheiro e marcou 1.428 gols nesses 24 anos de estrada, “quase todos merecedores de estátua”. Não, eles não são marrentos! A frase “O melhor time do mundo”, estampada no verso da camisa, é apenas uma lição de humildade. Eles não têm qualquer culpa por não encontrarem adversários a altura e não perderem há 18 meses!! Só após muita insistência revelaram cinco grandes rivais: Ellite, do talentoso PH, Ark, dos geniais irmãos Duda e Lelê, Geração 2000, de Dudu, Leo, Aureliano Bigode e Reyes de Sá Viana do Castelo, hoje camisa 13 da equipe A Pelada Como Ela É, Bussanha, do Roberto, e Juventude do Aterro, do craque Fábio. Sobre esse último, a lembrança da memorável final, em junho de 2011, às 22h, no campo 4, pela final do Campeonato da Liga do Aterro: 4×4 e vitória de 3×1 nos pênaltis.

– Foi um dia especial em nossa história – comentou Luiz Sabino, o Simão, autor de um dos gols e outro panela velha do grupo, há 21 anos no Ajax. 


Os outros foram marcados por Rafael, Luís Perna e Antônio Jr. Nos pênaltis, Perna, mais um, Batista e Rodrigo He Man liquidaram a fatura. A comemoração na barraca do Gaúcho, no próprio campo, varou a madrugada, mas para Simão partida marcante mesmo foi contra o Dínamo. O primeiro tempo terminou 4×0 para os rivais. No início do segundo fizeram outro, mas o jogo terminou 6×5 para o Ajax, com cinco gols de quem? Claro, do próprio! Como costuma dizer Seu Walter, craque dos saudosos Vasquinho de Olaria e Cruzeiro do Sul, de Petrópolis, “quem não tem dinheiro, conta história”. Ricardo Gaspar, Marcelinho, Vitinho, Claytinho, Batista Lambreta, Eduardo Parada, Diego Camargo, Luís Augusto, Miguel, Breno e Marcos Marreco se divertem! E tem mais, hein!

– Disputamos um campeonato em que a fase final foi no Maracanã e ganhamos quatro jogos lá – contou, orgulhoso, Alex, observado pela mulher Michelle, grávida.

Melhor pular a parte em que o craque aproveitou uma soneca da amada e foi jogar bola em plena lua de mel. Bem, o que importa é que ela está grávida! Ah, também teve o jogão contra a banda Iron Maiden, em 2001. O baixista Steve Harris marcou três, mas levou uma sacola cheia para a Inglaterra: 13 gols. Certamente pagou por excesso de bagagem. Volta e meia o Ajax também joga contra peladeiros argentinos, numa espécie de intercâmbio. Doze a zero foi o menor cartão de boas vindas. Uma história rica dessas, claro, foi gravada em DVD e exibida em sessão prive, no Artplex, de Botafogo. 

– Um espaço cult porque somos cults – explicou Victor, que gaba-se por ter convencido o radialista José Carlos de Araújo a gravar num estúdio um de seus gols.

Na site do time o número de acessos já atingiu a marca de meio milhão, mas eles não têm limites e querem muito mais. Na verdade, essa marra é amor. Um amor avassalador! Na semana passada, marcamos com eles num salão de beleza, no Flamengo. Iam retocar as tatuagens com o escudo do Ajax desenhadas por Acir. Estavam no estúdio, Alex, Victor, Mamão e Simão, mas Marco Aurélio, Daniel, Otair e Neto também rasgaram a pele com a marca dessa incontrolável paixão, que passam adiante na escolinha da Tavares Bastos, um belo trabalho social. O líder do grupo, Victor Parente, já enfrentou seis cirurgias no joelho, mas continua correndo atrás da bola, provocando os rivais com divertidos desafios. Agora, finaliza um livro, sonho antigo que pode até não superar Paulo Coelho na lista dos mais vendidos, mas contará a fantástica história de amigos de infância que cresceram obcecados por vitórias, ganharam fama no Aterro do Flamengo e hoje formam o maior time do mundo.

 

PELADA QUENTE

por Ricardo Dias


Jogando, sou uma mistura de Messi, Garrincha e Ronaldo Fenômeno: como Messi, uso mal a perna direita; como Garrincha, uso mal a esquerda; como o Fenômeno, não sei cabecear. Mas sou grande, impressiono, nem que seja pelo deslocamento de ar ou pelas leis da gravitação universal.

Desde uma certa idade curto uma pelada. Circunstâncias fora de meu controle me afastaram dos campos (ou ruas, ou becos, ou onde se estivesse chutando uma bola) por muitos anos, até que, já com uns 40 e algo, voltei a pisar um gramado. Artificial, mas era verde, pelo menos. Um bando de velhos como eu, não seria um problema. Mas, preocupantemente, havia uns garotos, também. Deixa as crianças, vamos jogar.

A primeira bola! O coração batendo mais forte – pela emoção e pela corridinha – e veio ela em minha direção, linda, rolando. Pensei: Vou dominá-la, tocar levemente com o lado externo do pé e lançar para aquele careca que está… Quando olhei para baixo de novo, cadê a bola? Minha estreia nos campos (vide coluna anterior aqui no Museu) se repetia na velhice: um infeliz de um moleque veio voando e, no meio de meu raciocínio elaborado, já estava do outro lado do campo. Não gostei. Na bola seguinte, a mesma coisa, e ele ainda se deu ao luxo de fazer um rodopio à minha volta. Parecia até desenho animado.

Avisei a um cidadão que estava do meu lado, com toda a serenidade:

– Vou dar um pau nesse moleque!

– Dá mesmo!

Com essa aprovação, já fiquei mais leve. Se ele tivesse me driblado, me feito de bobo na bola, o diabo, eu respeitaria. Mas ele só tinha um mérito: pulmão. Então, merecia. Avisei da vez seguinte, em que lhe tomei a bola:

– Respeito, moleque!

Ele fez cara de deboche. Mas a próxima foi muito saborosa: veio quente na minha direção e deixou a bola escapar um pouco. Tomou um lençol. E ME deu um cacete!!!!!!! A canela da gente, quando a gente envelhece, dói mais. Doeu muito. Mas minha sede de vingança foi atiçada. Capengando, o que me fazia um alvo mais fácil, continuei jogando. Ele veio de novo, sem nenhuma cautela, a pureza dos inocentes. Abri a perna, oferecendo o drible humilhante, e o bobinho caiu na conversa. A bola até foi mal tocada, bateu no meu pé esquerdo, mas minha perna direita bateu na cintura dele. Voou moleque abusado para todo lado. Claro, pedi mil desculpas, ajudei a levantar, atribuí à minha falta de jeito. Mas ele sabia que mereceu. Ele e o pai dele, o cara que disse “dá mesmo!”…

Mais jovem, futebol de salão com juiz. Chamado “time contra”. Um cara não gostava de mim, assuntos relativos ao sexo oposto. Me batia o tempo todo. Eu apanhando calado, tinha uma certa culpa no cartório, me sentia devedor. Determinada hora, me deu uma rasteira, bem dada, o juiz não viu. Ao se abaixar para fingir que me ajudava a levantar, pisou beliscando a minha coxa. Uma dor horrorosa, e sem pensar arriei o calção dele que, desequilibrado pelo susto, caiu com o pinto ao vento. Me agarrei com um cara do meu time, dizendo “Me larga! Me larga!”, mas quem estava segurando era eu, estava morrendo de medo, o bandido era bem mais forte. Saí vivo graças ao pessoal do outro time que segurou o sujeito por tempo suficiente para eu me mandar, já que fui injustamente expulso.


Mas o momento de glória foi numa pelada em terra batida. O Bagre, um colega de rua (também chamado Ricardo; éramos três homônimos, o Tricolor – eu, o Bagre e o Bailarino), arranjou uma pelada de time contra. “Time contra”, já que eu usei essa expressão três vezes, era quando a gente jogava contra um time mais ou menos organizado, não era cata cata ou par ou ímpar na hora do jogo. Ele arregimentou um time na rua e fomos todos na kombi do Eduardo da vidraçaria, que por algum motivo que me escapa resolveu ir junto. Talvez tenhamos mentido sobre haver mulheres, é uma possibilidade. E fomos, para uma cidade bem próxima do Rio.

Ao chegar nos deparamos com uma praça e um enorme espaço vazio irregular, cor de areia. Era uma visão inóspita, um sol de rachar, nem uma sombrinha. De colorido apenas uma carrocinha de picolé – que, descobri depois, não tinha nenhum para vender, não sei o que o cara vendia e achei mais seguro não perguntar. Um ambiente bucólico, tipo cidade do interior, com um detalhe mais pitoresco ainda: um padre assistia ao embate. Ele se vestia de azul claro, nunca tinha visto uma batina assim, de vez em quando chegava alguém e pedia a benção. E começa a partida. Bola com Ricardo Dias, que domina e faz um passe para Caolha. Caolha mata no peito, e rola para Zé Paulista, que devolve para Ricardo Dias que, com sua enorme e proverbial categoria, faz o gol. 1 x 0 com meio minuto de jogo. Fizemos uns 3 ou 4 gols em sequência, éramos ruins mas eles eram piores. E em vista da impossibilidade de inverter o placar, eles, de jogar mal, passaram a jogar mau, com perdão do jogo de palavras.

Baixaram o cacete, e o clima foi ficando pesado. Éramos seis mais o Eduardo, que não jogava e continuava procurando as mulheres, e eles eram uns 15, e iam crescendo de tamanho: os garotos foram dando lugar a uns galalaus enormes, que não pareciam interessados em jogar… Pensei, com minha também proverbial sabedoria: Vamos apanhar que nem uns miseráveis, aqui.


Pedi um tempo para beber uma água, concederam, chamei o Eduardo e avisei: se prepara que a gente vai sair correndo, esse jogo não vai acabar! Ele ficou pálido, mas disfarçou bem, foi para a kombi assoviando com a mão no bolso. Voltei e fui avisando um a um minhas intenções: a kombi estava perto de nossa defesa, em dado momento que fôssemos bater um tiro de meta nós correríamos para dentro. Todos concordaram, menos um que não entendeu bem – aparentemente ele tinha consumido o que o sorveteiro estava vendendo. Mas foi feito. A um sinal meu, fingi que estávamos combinando uma tática, e nos agrupamos. O dito padre estava do lado, me senti mais seguro, até que ele rugiu:

– Eles vão fugir!!!!!!!!

E o Neymar pensa que apanha muito…