por Luis Filipe Chateaubriand
O incrível time do Flamengo de 1981 vinha sendo formado desde 1978, época em que o antológico gol de Rondinelli deu o título carioca ao rubro-negro.
Era, já em 1981, um time fortíssimo, encorpado, quase pronto. Só que faltava o ponta esquerda.
Júlio César, o lendário Uri Geller, havia ido jogar na Argentina, depois de levar muitas botinadas de zagueiros limitados e violentos.
Baroninho, o ponta esquerda que veio do Palmeiras, chutava forte, mas não ajudava na marcação e não oferecia opções táticas.
Adílio, gênio da bola, jogava bem por ali, mas preferia atuar como meia direita, onde rendia mais.
Mas eis que Paulo Cesar Carpegiani, o craque recém aposentado – primeiro, auxiliar do técnico Dino Sani, depois, o próprio técnico da equipe – descobriu a solução no próprio elenco.
Lico, que havia chegado do Joinville de Santa Catarina no ano anterior, era um meia / atacante versátil, insinuante, dinâmico, capaz de jogar em vários setores ofensivos de uma equipe.
Com sua versatilidade, ganhou a vaga na ponta esquerda, no lugar de Baroninho.
Atuava muito bem por aquele setor, mas não somente por ali. Revezava com Tita, indo para a direita e o outro, para a esquerda. Revezava com Adílio, indo para a meia e o outro, para a esquerda. E revezava até com Zico, metendo bolas para este, e recebendo bolas deste, quando, nas palavras de Armando Nogueira, o “arco e flecha” recuava.
A entrada de Lico no time deixou atordoadas as defesas adversárias, pois a movimentação dos rubro negros deixava zagueiros, laterais e volantes oponentes sem saber quem acompanhar, quem marcar.
A verdade é uma só: A entrada de Lico na formação titular arrumou o time, seja taticamente, seja em talento, seja até em consistência defensiva, pois, ao contrário de Baroninho, também ajudava na marcação.
Não é à toa, portanto, que, em livro que escreveu sobre sua vida, Zico, ao se referir a Lico, o lista entre os cinco maiores jogadores da história do Flamengo. Afinal, ele arrumou aquele time, foi a chamada cereja do bolo.
Pelo brilhante trabalho que Lico desenvolveu em 1981 e na primeira metade de 1982, não seria absurdo Lico jogar pela Seleção Brasileira a Copa do Mundo daquele ano. Telê Santana, no entanto, preferiu Éder, um ponta esquerda muito habilidoso, mas nulo taticamente, ao contrário de Lico.
Uma coisa é certa: a amarelinha cairia bem no catarinense que moldou a última versão do melhor time de futebol que este escriba viu jogar!
Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.