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INAUGURAÇÃO DO ESTÁDIO MUNICIPAL DE BRASÍLIA

por Valdir Appel


Minha baixa na Polícia do Exército coincidiu com o término do período de testes que eu realizei no Vasco da Gama. Além de aprovar a minha contratação, o técnico Zezé Moreira também me integrou ao elenco que viajou para Brasília e Belo Horizonte, onde o Vasco realizou dois amistosos. Respectivamente contra Flamengo e Atlético Mineiro.

Desta forma, saí da caserna num dia e embarquei no outro rumo a capital federal como reserva do goleiro Amauri. Cabeça praticamente raspada, apenas um tufo louro no cocuruto, uma mala, paletó e uma gravata emprestada, eu destoava do restante dos jogadores impecáveis nos seus ternos pretos. Os MIBs de então. Vascaínos e rubro-negros viajaram juntos no mesmo avião para inaugurar o Estádio Municipal de Brasília.

O clássico carioca jogado em outras cidades despertava enorme interesse dos torcedores. A exemplo do que acontecia costumeiramente no Maracanã, o espaço nas arquibancadas era literalmente dividido ao meio. Foi um jogo emocionante onde o nosso centroavante Célio fez a diferença, marcando dois gols, garantindo a vitória por 2 a 1 sobre o arquirrival.

Almir descontou para o Flamengo. Zezé Moreira, entusiamado com a apresentação do time, mandou o tesoureiro pagar o meu bicho integral. Mesmo porque eu fui o único dos reservas a não ser utilizado. O prêmio representava muito mais do que o salário que eu ganhava até então.

(13 de maio de 1966) 

VIDA E OBRA DE ZÉ ROBERTO PADILHA

por Flavio Brasa


Nascido em Três Rios em 1952, desde pequeno seu brinquedo favorito era a bola, disputada a tapa na Árvore de Natal com seus outros dois irmãos menores, Flavio e Mauro.

Após se consagrar no futebol local – o América -, se sagra campeão em 1968 na categoria juvenil. No jogo de entrega de faixas contra os aspirantes do Fluminense, também campeão de 1968 no Rio, foi prontamente chamado para integrar o elenco do infanto juvenil da equipe tricolor (técnico Pinheiro) ao lado de Nielsen, Zé Maria, Abel Braga, Marinho, Silvinho, Té e grandes jogadores que seguiram suas carreiras.

Zé Roberto começa sua carreira no Flu, ganhando campeonato infanto em 69, Juvenil em 70, sendo chamado para compor a primeira seleção Olímpica que iria tentar a classificação para os jogos de 1972 em Munique.

Mais um título: campeão pré-olímpico em Cannes. Infelizmente, às vésperas da ida aos jogos, sofre sua primeira de muitas contusões ao longo de sua longa e gloriosa carreira, no tornozelo, que iria persegui-lo eternamente…

Já integrado ao elenco dos profissionais em 1971, se torna reserva de Lula e daí para uma série de títulos: Carioca de 71 (reserva de Lula), 73 (revezando com Lula) e 1975 (titular absoluto da primeira Máquina Tricolor). Em 1976, Francisco Horta promove um troca-troca que mudaria a história do futebol carioca, indo Toninho Baiano, Roberto goleiro e Zé Roberto para o Fla e o Flu recebendo Dirceu, Doval e Rodrigues Neto, o que fez o Vasco ser campeão em disputa de pênaltis contra o Flamengo (Zico perdeu e Luiz Gustavo marcou). Uma vergonha.

Com a ascensão meteórica de Júlio César, que vinha voando dos juniores ao lado de Leandro, Tita, Andrade e Adílio, Zé Roberto é vendido ao Santa Cruz em 1977 e lá se sagra campeão em 1978, após longa batalha pela posição com Pio do Palmeiras.

Política no Santa Cruz FC: leitor assíduo do Pasquim e MDB ferrenho por conta de seu ídolo Ulisses Guimarães, se vê ameaçado pela diretoria do Santa Cruz, onde todos eram coronéis a favor da ditadura (só existiam a Democracia Corinthiana e o Afonsinho na militancia) e teve prisão decretada por pichação de vestiários e discursos ao elenco sobre democracia, obrigando seu pai e um advogado irem até Recife para resolver a situação.

Fica afastado e viaja para o Leste europeu como intérprete do Santa Cruz, uma provocação da diretoria para que ele conhecesse o que era o comunismo e socialismo… Se filia ao PT. Volta da excursão e é vendido ao Itabuna, onde se sagra campeão. O Marília compra seu passe e lá foi Zé Roberto tentar mais um título, mas se machucou, sendo vendido ao Americano e, por fim, encerrou a carreira no Bonsucesso.

Sua carreira como técnico: monta em Xerém, a pedido de Roberto Alvarenga, o CT do Flu e ganha o primeiro título de juniores depois de 17 anos. Treina o América Três Rios e consegue chegar a 1ª divisão do Cariocão, fato inédito para a sua cidade e depois treina o Entrerriense com igual êxito…

Lança um trabalho técnico-tático no auditório do MIS e é aplaudido de pé por técnicos e jornalistas: o 5×1 invertido.

Jornalista e escritor, Zé Roberto já está em seu 8º livro.

Foram quase 20 anos de estrada, de dedicação e a sua luta contra o corpo, visto que corria, acima do limite para a época, a distância de 4 km por jogo, só perdendo para o Dirceuzinho. 

Atualmente, Zé Roberto, 68 anos, mora em sua cidade natal, onde é Presidente do diretório do PT, comanda há 40 anos o Blocos “Unidos da Barão”, tendo passado por 15 anos em cargos de secretarias de todos os partidos da prefeitura local, mesmo sendo PT, pois sua imagem vale mais do que os partidos que lá aportam…

Epílogo (por Flavio Brasa)

Sua história de vida é um exemplo de que nada está perdido, para um jovem que pretende ser alguém na vida.

Basta ter ideais e lutar!!!

O GRANDE SONHO DA PORTUGUESA DO RIO

por Paulo-Roberto Andel


No fim de semana, a Portuguesa disparou uma sonora goleada sobre o Bangu pelo placar de 5 a 1, com direito a golaços no Estádio Luso-Brasileiro. Não foi fácil, mas aconteceu e foi bonito.

Mais do que isso, a Portuguesa está em terceiro lugar na classificação geral da Taça Guanabara, a duas rodadas do final da competição.

É possível dizer que só um desastre nuclear tira a Lusa da disputa das semifinais do Campeonato Carioca deste ano. É uma posição histórica para o clube, rumo aos seus 97 anos de vida.

Como está o torcedor da Portuguesa agora?

Olhando para a tabela e rindo, olhando e sonhando. Lembrando do passado já distante.

No próximo domingo a luz enfrenta o Flamengo. É um adversário de céus e infernos

Há muito tempo atrás, o Flamengo disparou uma goleada terrível na Portuguesa no Maracanã. Em compensação, a Lusa deu o troco com duas vitórias antológicas nos anos de 1982 e 1985. No de 1982, foi tão pesado que, no fim, o Flamengo perdeu até o título.

Os corações da Ilha do governador estão incensados como nunca neste momento. Tudo é sonho e fantasia, como um breve alívio do caos que todos temos vivido. Olhar a tabela e sorrir.

Já pensou se a Portuguesa é campeã carioca? Quem sabe?

Já pensou a Portuguesa ocupando as manchetes dos jornais, dos noticiários, das mesas esportivas? Superando grandes equipes do futebol carioca reconhecidos nacional e internacionalmente.

Há também o Volta Redonda, um adversário de bastante respeito, que já disputou decisão de título estadual.

É praticamente certa a presença do Flamengo, e com grande possibilidade do Fluminense. A Portuguesa vai brigar pelo título com a dupla Fla-Flu, autora do maior clássico do mundo.

É fácil desdenhar do Campeonato Carioca quando você torce para uma grande equipe que já conquistou muitos títulos, que já esteve muitas finais. Diferente de quando você torce para uma equipe modesta, querida, respeitável, que se transformou no símbolo de um bairro e que faz campanhas dignas há muitos anos, mas que sonha com esse título na primeira divisão desde 1953.

A querida Portuguesa que nasceu no coração do Rio, que depois foi parar no Andaraí, que rodou a cidade até sentar praça na Ilha do Governador para sempre e se tornar um símbolo da região, uma bandeira do belo bairro.

Quantos craques não passaram por lá e sonharam com esse momento de agora? Os mais antigos podem lembrar de Joe e Perinho. O goleiro Antoninho. Lua. Otávio de Moraes e Carlyle também. Neca e Toneca.

Zózimo, craque bicampeão mundial pela Seleção Brasileira, vestiu a camisa da Portuguesa. Garrincha, imortal, em alguns amistosos. Vavá encerrou a carreira no clube. E dá para falar de outras feras que marcaram época: Denoni, Mário Breves, Itamar, o saudoso Luizinho das Arábias, o zagueirão – e treinador – Sérgio Cosme, o goleirão Jorge Lourenço.

E feras fora do campo, como Firmino, que trabalhou por muitos anos no clube e nos deixou em janeiro passado, antes da hora. Ele merecia estar aqui.


A Portuguesa tem histórias a valer e tem feito um campeonato fantástico neste 2021. Venceu o Fluminense no Maracanã e o Vasco em São Januário. Empatou com o Botafogo, jogando com dez homens em campo por todo o segundo tempo, e poderia ter vencido. Agora vai encarar o Flamengo, poderoso multicampeão. Que venha: dia desses, até o Real Madrid acenou com um amistoso.

Por enquanto, estar entre os quatro do Rio é um sonho, mas próximo demais da realidade. A Portuguesa estará entre os quatro semifinalistas do Campeonato Carioca de 2021. E o que virá daí? Só Deus sabe? Pode ser.

Agora, venha o que vier, a camisa rubro-verde está com a alma lavada. Num dos anos mais difíceis da humanidade, num Rio de Janeiro destroçado, a Portuguesa tem marcado presença com belas vitórias e golaços. Você já viu no YouTube o gol do Cafu? E o do Robert por cobertura? O chutaço do Chay no ângulo? E o do Mauro Silva no cantinho?

Pouca gente pode ter visto, mas são gols que lembram aqueles velhos tempos de um futebol inesquecível nesta Cidade Maravilhosa.

Pouca gente está sabendo, porque a televisão mais esconde do que mostra, enquanto os jornais mais escondem do que publicam, mas a Portuguesa dos Ventos Uivantes tem feito partidas muito bonitas e merece a posição que ocupa atualmente.

Confirmada a sonhada e merecida classificação para as semifinais do Carioca, o sonho vai continuar. Uma coisa é certa: de Neca a Firmino, de Mário Breves a Chay, o esforço da Portuguesa não é em vão.

@pauloandel

BOB 67

por Rubens Lemos


Foto: Ronaldo Theobald

Ensaiava sair no tapa algumas vezes quando algum chato flamenguista xingava Roberto Dinamite na escola. Brigas tolas, de menino, em intervalo discutindo a rodada de domingo na chatice de uma segunda-feira. Flamenguista não fica satisfeito apenas em torcer pelo seu time. Gosta de tripudiar, humilhar, debochar do derrotado e nos anos 1980, o Vasco apanhava muito mais do que batia.

O Vasco era Roberto Dinamite, meu ídolo, o cara que ilustrava meu caderno socando o ar em vitórias sofridas. Quando o conheci, no antigo Hotel Ducal, onde ficou hospedada a seleção brasileira na única vez em que jogou em Natal, 26 de janeiro de 1982 (3×1 na Alemanha Oriental), tremi da cabeça ao dedão do pé ao receber seu autógrafo e um sorriso comovente pelo cinzento de uma tristeza cativante.

Fiquei abalado quando o (maior) técnico Telê Santana excluiu Roberto Dinamite da lista dos 22 convocados para a Copa do Mundo de 1982. Uma tremenda perseguição. Roberto Dinamite fez gol e jogou muito bem, afinado com Zico ao ser convocado pela primeira vez por Telê para um amistoso contra os búlgaros em Porto Alegre: 3×0. Zico e Roberto Dinamite, juntos, nunca perderam um jogo pela seleção.

Barrado pelo pavoroso grandalhão Serginho Chulapa, à época no São Paulo, perdeu a vaga de reserva para o jovem Careca, do Guarani, habilidoso, ágil e adequado ao estilo de toque de bola da constelação que brincava com a bola.

Careca se machucou já nos primeiros treinos em Cascais, Portugal, onde o Brasil se preparava, e Telê foi obrigado a convocar Roberto Dinamite sem sequer colocá-lo no banco de reservas em nenhuma das cinco partidas.

Enquanto Zico, Sócrates, Falcão, Leandro, Júnior e Éder encantavam o planeta bailando em variação de ritmos, do samba ao jazz, Chulapa, destoando da sinfônica, ganhava uma reputação infame: o melhor zagueiro-central da Copa perdida para a Itália. Telê Santana conseguia ser maravilhoso e teimoso.

Roberto Dinamite segurou o Vasco sozinho no tempo de cartolas avarentos. De timecos. Aos 20 anos, comandou o improvável título brasileiro de 1974 superando o Santos de Pelé, o Cruzeiro de Dirceu Lopes e o Internacional de Figueroa e Falcão.

Três anos depois, massacrou Flamengo, Botafogo e Fluminense na épica jornada do primeiro título que assisti pela TV. O Carioca de 1977 com Mazarópi; Orlando, Abel, Geraldo e Marco Antônio; Zé Mário, Zanata e Dirceu; Wilsinho, Roberto Dinamite e Ramon. Ele batendo o pênalti final jogando o goleiro Cantarelli para um lado e a bola entrando rasteira no canto direito.

Bem mais do que admiração, Roberto Dinamite transpirava ternura, uma singeleza quixotesca. Formou duplas sensacionais com Ramon, Guina, Jorge Mendonça, César, Cláudio Adão, Elói, Arthurzinho e Romário, seu sucessor e melhor atacante de todos os tempos.

Na transição do adolescente para adulto, quando se assume o mundo sem que se combine com quem quer que seja, passei a ver o Vasco na classe superior do maestro Geovani, companheiro de Roberto Dinamite nos títulos de 1982, 1987, 1988 e 1992.

Geovani representava a beleza estonteante que sobrava no Flamengo arrasador de Andrade, Adílio, Zico e Júlio César Uri Geller, ponta-esquerda entortador de laterais. Roberto Dinamite permanecia em mim como entidade.

Meus times de futebol de botão sempre tiveram Roberto Dinamite com seu sorriso entre o triste e o tímido, destronando defesas do Flamengo com Rondinelli e Marinho, do Fluminense com Miguel e Edinho, do Botafogo com Osmar Guarnelli e Renê Pancada.

Roberto Dinamite não é o herói que já foi. Roberto Dinamite é a chama acesa e turva de um Vasco de orgulho, honras, vitórias e glórias.

Aos 67 anos, completados hoje, humaniza nossos corações arrasados pelo clube morto. Basta rever o mais belo gol do Ex-Maracanã, aquele lençol sobre Osmar do Botafogo seguido do sem-pulo no finalzinho da partida. Aquele nem Zico fez igual. É nosso. É Dinamite. Bob 67.

A MAIOR DAS EVOLUÇÕES

por Zé Roberto Padilha


Até a Copa de 1974, disputada na Alemanha, esse atleta ruim de bola, que quando tiravam par ou ímpar nas peladas ninguém queria na linha, e o mandavam para o gol, não tinha no seu clube quem os treinasse.

Mesmo usando as mãos quando 92% utilizam os pés, e usam fundamentos completamente diferentes, eles corriam na pista e se exercitavam com zagueiros, meias, atacantes…

Os goleiros mais esforçados, após os treinos, iam para a caixa de areia do atletismo, aquela do salto em distância, e pediam para a gente jogar a bola. E ficavam saltando, por conta e risco, de um lado para o outro.

Na minha época, no Fluminense, os heróis eram Félix, Roberto, Nielsen, Jairo, Paulo Sérgio, Paulo Goulart e Jorge Vitorio.

Após a Copa, Sepp Meyer, goleiro alemão e já campeão do mundo, lançou um livro. Nele revelava seu segredo: jogava tênis. Se acertava aquela bolinha minúscula, escreveu, como erraria a grandona jogada em sua direção?

Daí veio um membro da militarizada comissão técnica brasileira, Raul Carlesso, e criou uma nova profissão: treinador de goleiros. É só pegar os jogos do Gilmar, duas Copas do Mundo anteriores, do Félix, tricampeão, que vocês verão como evoluíram em todos os fundamentos.

Quando batiamos pênaltis, eles tentavam adivinhar o canto. Hoje, na véspera das partidas, assistem aos vídeos e ficam sabendo da nossa preferência.

Na profissão mais cruel do mundo, porque onde pisam mal nasce grama, e um deles, Barbosa, nada treinado, foi sacrificado e faleceu sem ser perdoado, nenhum goleiro começou jogando porque levava jeito. Pelo contrário, surgiram na rejeição à prática do seu ofício.

Mas temos que reconhecer: nada no mundo do futebol evoluiu mais do que os seus treinamentos. Se tenham dúvidas, pergunte a um jogador do Palmeiras, escalado para bater ontem, se esse novo modelo, que vem treinado de fábrica, tenta adivinhar o canto?

Antes, o batedor, diante de um boneco, perdia seu pênalti. Hoje, o goleiro, capacitado, é quem defende a cobrança.

Diego Alves se tornou uma máquina programada para pegar pênaltis. Parabéns a Raul Carlesso. Parabéns aos goleiros salvaguardas das nossas maiores paixões.