Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Geral

ATÉ A PÉ NÓS IREMOS… MESMA QUE SEJA ATÉ TÓQUIO

por Luis Filipe Chateaubriand


Em 1983, o Grêmio, campeão da América do Sul, decidia o Mundial de Clubes (ou Copa Intercontinental, como muitos preferem), contra o Hamburgo, campeão europeu.

Naquele 11 de Dezembro de 1983, o Tricolor Gaúcho jogou com: Mazaropi, Paulo Roberto, Baideck, De Leon e Paulo Cesar Magalhães; China, Oswaldo (Bonamigo) e Mário Sérgio; Renato, Tarcísio e Paulo Cesar Caju.

No primeiro tempo, o jogo teve poucas oportunidades de gol, embora muito disputado. O Grêmio teve mais volume de jogo. Renato era muito bem marcado por Schroder, mas, ainda assim, incomodava barbaridade a defesa alemã.

No único lance de real perigo do primeiro tempo, Paulo Cesar Caju recebe a bola ainda na defesa, mas próximo à lua de meio campo, aciona Renato, na intermediária de ataque, pela direita.


Renato avança com a bola com grande vigor pela direita, adentra a grande área, corta Schroder pela direita, corta Schroder pela esquerda, corta de novo Schroder pela direita e chuta rasteiro entre a trave e o goleiro alemão. Um golaço! Eram 37 minutos do primeiro tempo.

Grêmio 1 x 0.

O segundo tempo começa com amplo domínio gremista e, inclusive, um pênalti em Renato, logo nos minutos iniciais, não é assinalado. Contudo, a partir da metade da etapa, o Hamburgo equilibra as ações.

Os últimos dez minutos do segundo tempo são de sufoco alemão. Renato, com cãibras, está fora de campo. Schroder, seu marcador implacável, se vê livre para atacar, vai à área e empata o jogo, aos 40 minutos do segundo tempo.

O jogo está 1 x 1.

Vem a prorrogação. E, logo no início desta, Caio cruza a bola da intermediária esquerda, Tarcísio cabeceia no meio da grande área, Renato domina a bola com o pé direito do lado direito da área, corta o zagueiro e direciona a bola para seu lado esquerdo e, com o pé esquerdo, estufa novamente as redes alemãs. São três minutos do primeiro tempo da prorrogação.

Grêmio 2 x 1.

Daí em diante, o Hamburgo pressiona, mas os gremistas resistem. O Tricolor Gaúcho é campeão mundial pela primeira vez.


Mazaropi teve grande atuação, fazendo ótimas defesas em momentos cruciais. 

Mário Sérgio teve atuação de gala, com inteligência tática e toques e lançamentos divinos. 

Mas Renato acabou com o jogo.

Certa vez, Renato foi entrevistado por Zico. Foi indagado sobre sua atuação naquele jogo. Respondeu assim: “Joguei pouco: ataquei, defendi e fiz dois gols”. 

Pano rápido!

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.

O FUTEBOL NO ESTÁDIO, NA TV E MEIOS ESCRITOS NÃO É PARA POBRES

por Paulo Escobar


Corote Molotov

O futebol de décadas pra cá no que diz respeito para quem é feito me incomoda profundamente. E me incomoda muito mais por conta de onde vejo a sociedade. Há 19 anos trabalhando e lutando com a população de rua é dali que enxergo as coisas, lá também vivemos e respiramos o futebol, onde temos um time de várzea com moradores de rua, o Corote Molotov (fazendo propaganda temos uma página no Facebook).

Não é novidade que a partir do momento que entramos na era dos lucros extremos, o futebol tem se tornado a cada dia mais inacessível às pessoas mais pobres. E por todos os meios se torna um produto que pode ser presenciado apenas por alguns.

Nos estádios há tempos se encarece mais o acesso, os ingressos, dependendo do jogo, você amigo pobre não terá como presenciar mesmo, valores absurdos e se o time está indo bem costumam ficar mais caros. Quando o time está mal os ingressos se barateiam, aí se recorre ao povão para levar o incentivo deles quando se faz necessário, em tempos de boas campanha se encarece de novo e o público de teatro que volta ao “espetáculo”.


Poucos times pensam em setores populares nos estádios, e na construção das malditas arenas (que vieram padronizar e tirar as particularidades de cada estádio) os setores populares foram demolidos e não foram restaurados, mas sim extintos. Temos uma população de maioria pobre, em um país de sucessivos maus governos e que a cada dia que passa aumentam pobres, mas os dirigentes e entidades parecem fingir demência diante de tais realidades.

Há uma criminalização dos pobres e suas torcidas nos estádios, engrossando assim que lugar do pobre é fora das arenas. Quando há brigas são os primeiros alvos a exemplo das organizadas que são sempre os motivos de desconfiança nas confusões. Essa generalização é conveniente para encarecer e querer mostrar que o público do ingresso caro é o “civilizado” e o público do ingresso popular são os “bárbaros”. Essa falsa generalização também joga a serviço da exclusão.

E não só estádios são os que excluem, os meios de comunicação na sua versão televisiva e escrita também. Na parte televisiva, a TV fechada e os Premiere são inacessíveis a muita gente, e às vezes é somente lá que você consegue acompanhar seus times.


Os programas esportivos muitas vezes ficam centralizados somente naquele tatiquês chato e que se faz de uma maneira que poucos entendem. Somente aos chamados “intelectuais” do futebol, não se dosa ou não se tem preocupação se aquilo que tá sendo dito é acessível a quem assiste, pois o problema sempre vai ser atribuído àqueles que não entendem e não àqueles que não fazem traduzíveis.

Ou então muitos programas da TV aberta e fechada que são verdadeiras chatices, quando não se tem pauta se recorre a verdadeira idiotização, isso quando não se utilizam horas para falar dos times ricos e os times com menos recursos ocupam menos tempo.

As crônicas esportivas muitas vezes partem de uma visão longínqua da realidade da população, com uma linguagem insuportável e distante do dia a dia do povo pobre que vive e sofre o futebol. Quem escreve tem a preocupação se o Seu João ou Dona Maria vão entender o que é escrito? Há uma preocupação de nós críticos a este futebol que exclui os mais pobres, se é acessível aquilo que escrevemos a estas pessoas que são milhões ou escrevemos para nosso gueto também?

Nos ditos meios alternativos muitas vezes usam um linguajar acadêmico, que usam falas de forma estranha para a maior parte da população, pensamos se essas nossas ideias mesmo críticas são acessíveis? Nos fazemos traduzir às pessoas que não tiveram os mesmos acessos que muitos destes “intelectuais da Bola”? Muitos não têm nem a preocupação de pelos menos explicar aquilo que falam, mais parecem fazer programas para sua bolha de amigos e não para o restante da população.


Na várzea a colocação de grama sintética em muitos campos tem encarecido os valores de muitos times mais pobres, campos de R$ 1500 por mês para alguns times jogarem aqui em São Paulo mostram a exclusão chegando na várzea também. Além de caro é um risco para a saúde o sintético, já que em tempos de calor, as temperaturas se elevam mais ainda, a borracha esquenta e torna insuportável o jogo, mas como só se pensa no lucro e na exclusão de quem não tem dinheiro, isso pouco importa.

Então meu amigo pobre, a cada dia que passa o futebol é menos pensado para você, dirigentes e entidades não te querem dentro dos estádios. Na televisão você também não está nos planos, e nos meios escritos mesmo aqueles que criticamos muitas vezes não nos tornamos próximos na linguagem e nossos pensamentos muitas vezes são para nossas bolhas, isso também é um meio de te excluir dos meios escritos.

A cabeça costuma pensar onde os pés pisam, e isso mostra muitas vezes onde estão os pés daqueles que pensam, organizam e articulam o futebol.

AMÉRICA-RJ 1974

por Marcelo Mendez

Havia um charme intrínseco no Rio de Janeiro dos anos 70.


No que pese o chumbo da ditadura militar em sua fase mais tenebrosa, a contracultura oferecia afrescos como o Pier de Ipanema, lotado de todos os surfistas do mundo, peladas de praia com dezenas de jogadores de cada lado, hippies experimentando todas as ondas do mundo, as dunas da Gal, os coletivos de Poesia como o Nuvem Cigana, os 40 graus da Cidade mais linda do mundo.

No futebol, tudo era mágico.

O concreto do Maraca começava a ver seus grandes times sendo formados. O de hoje, aqui em Esquadrões do Futebol Brasileiro, foi formado para ser campeão da charmosíssima Taça Guanabara em 1974. Vamos para a Tijuca, caros; Hoje é dia de celebrar um timaço:

O América de 1974.

UM PRÍNCIPE COMO TÉCNICO


O Campeonato Carioca daquele ano era bom. 

Além dos grandes, times como Olaria, Madureira, Bonsucesso, tinham boas equipes e começaram a Taça Guanabara muito bem. Por outro lado, vinha o Diabo, com seu time bem formado e um príncipe no banco.

Danilo Alvim…

Lendário, Monstruoso, Gigantesco, Cracasso de bola do Expresso da Vitória do Vasco da Gama, como técnico, responsável pelo único título da história do futebol Boliviano. O Príncipe Danilo, como era chamado, chegou no América para trabalhar naquele ano formando uma equipe de sonhos.

Com auxilio do Sul do Brasil, trouxe jogadores como Alex, Bráulio, menino de ouro do Inter, aliado ao matador Luisinho, ao rápido e técnico Flecha, ao cerebral Ivo, vindo também do sul. Dois laterais firmes, como Orlando Lelé e Álvaro e a zaga forte com Alex e Geraldo, e o bom goleiro Rogério. Pronto.

Era o equilíbrio perfeito para um time que voou na Guanabara. O América só perdeu uma partida, para o Flamengo, teve mais um empate contra o Botafogo e depois jantou todo mundo. Meteu 4×1 no Vasco, Passeou em cima do Fluminense, Bonsucesso, São Cristovão, deu baile de bola em todo mundo e se credenciou para a final. O adversário, o Fluminense.

Era a hora da glória…

DIA DE PINTAR O MARACA DE VERMELHO!

No dia 22 de setembro de 1974, 98 mil pessoas foram até o Maracanã para ver a final entre América x Fluminense.

Na arquibancada, botafoguenses, flamenguistas e vascaínos se juntaram aos torcedores do América para empurrar o Diabo pra cima do Flu e deu muito certo; Aos 12 do primeiro tempo, numa batida de falta seca, no canto do goleiro Felix, Orlando Lelé faz 1×0 em favor do América e esse placar se manteve até o final.

Com o Maracanã em festa, o América volta a comemorar um título, como havia feito em 1960 e coloca para história aquela geração talentosa que formou um time que jamais será esquecido por seus apaixonados torcedores:

Rogério; Orlando, Alex, Geraldo e Álvaro; Ivo e Bráulio; Flecha, Luisinho, Edu (Renato) e Gilson Nunes, jogadores do técnico Danilo Alvim, são os homenageados dessa coluna hoje.

Esquadrões do Futebol Brasileiro tem a honra de tê-los por aqui, Americanos.

O CÚMULO DA IRRESPONSABILIDADE

Luis Filipe Chateaubriand 


Devido a uma situação absolutamente prosaica, o futebol carioca passou, ontem, por uma das maiores vergonhas de sua história. 

Tanto Vasco da Gama como Fluminense queriam disputar o clássico decisivo da Taça Guanabara com suas torcidas acomodadas no setor sul do Maracanã. 

Como não houve acordo entre os clubes, uma medida judicial determinou que a decisão acontecesse sem público, com portões fechados. 

O jogo assim começou, mas outra medida judicial determinou a abertura dos portões – prejudicando o Fluminense, pois só havia torcedores vascaínos no entorno do estádio. 

O Vasco da Gama argumentava para que sua torcida ficasse no setor sul, que isso era uma tradição desde 1950. 

O Fluminense argumentava para que sua torcida ficasse no setor sul, que o acordo com o consórcio que administra o Maracanã previa isso. 

Como sempre, faltou diálogo para resolver o impasse. 

Era fácil resolver o dilema: o Vasco da Gama, mandante do jogo, comunicaria ao Fluminense sua intenção de ter a sua torcida no setor sul. Com a negativa do Fluminense, decidiria ou por acomodar sua torcida no setor norte, ou por realizar o jogo no Estádio Nílton Santos ou em São Januário. 

Se houvesse, portanto, diálogo entre as partes, a situação patética não se sucederia. Mas, ao optarem por muito barulho por nada, dirigentes irresponsáveis e inflexíveis criaram um papelão poucas vezes visto no futebol brasileiro.  

É pena, pois a sensação que se passa é que futebol não é ambiente para gente séria, o que é ofensivo a todos nós que amamos este esporte fascinante.

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.

UM PAI ALÉM DE UMA GRANDE PAIXÃO

por Zé Roberto Padilha


Em 1995 era treinador do Entrerriense FC, que disputava o Campeonato Carioca da primeira divisão. Com extrema ousadia, por se classificar entre os oito finalistas, e doses de imprudência, por enfrentar os grandes clubes no centenário do Flamengo, e do título nacional do Botafogo, acabávamos de cumprir nosso último compromisso em Bangu após apanhar bastante. E voltamos para casa escutando no rádio a final da competição entre Flamengo x Fluminense.

Minhas filhas, então com 13 e 15 anos, já rubro-negras por sua bisavó, a Rutinha, ser mais convincente que as camisas tricolores que lhes dei de presente, estavam no banco traseiro quando alcançamos o trevo da Ponta das Garças, na entrada da cidade. Faltavam três minutos e o empate era do Flamengo. E as duas pediram para passar pela Chopperia que de lá sairia a maior das carreatas. A carreata do título do centenário.


Em meio a travessia da ponte o Ailton chamou o Charles, o Guerreiro, para dançar, e o Renato colocou de barriga a bola para o fundo das redes. Uma tristeza jamais sentida no interior de um Passat mudou o roteiro daquela chegada e elas pediram para ficar em casa. Naquela noite, em que faltei pela primeira vez à carreata tricolor, descobri que era muito mais pai que torcedor do Fluminense.

E, ontem, foi a vez do Bruno sair de casa em busca de um empate. No futebol, diz a lenda, jogar por ele é como sair com uma mulher que você desconhece e ela se apresentar de mini saia, decote ousado e salto alto. Você sabe apenas que vai sair, se vai voltar com ela pra casa só os noventa minutos, às vezes prorrogação, pênalti, uma falha do Arrascaeta…

Bruno também ganhou a camisa recusada pelas irmãs, mas no nosso jogo de despedida, então com 13 anos, em que veio a Três Rios o Máster do Flamengo, não resistiu ao concerto oferecido por Zico, Adílio, Junior, Andrade, Claudio Adão e Julio Cesar. E foi com as meninas para o meio da massa.


Saiu, ontem, de casa com o empate nas mãos e ele escorregou aos 47 minutos do segundo tempo. E nunca ninguém entrou em nossa casa com a cabeça tão baixa daquele jeito. Triste por ele, redescobri, mal dormindo também, que continuo muito mais pai que tricolor.

Quanto ao Guilherme, o nosso caçula, que a Tia Vera convenceu a ser Botafogo e fez por encalhar de vez a camisa original tricolor, dormiu muito bem, obrigado. Tem coisas que só acontecem aos que torcem pelo Botafogo.