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TEMPOS SOMBRIOS

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Ter 72 anos traz vantagens e desvantagens. Um dos pontos negativos é não conseguir mais jogar bola e um dos positivos é ter visto e participado do melhor futebol do mundo. Com essa vasta experiência posso fazer comparações de forma segura, mas muita gente fica chateada quando expresso minha opinião sobre o declínio do futebol.

Outro dia um apresentador comediante, desses bobos da corte que imitam melhor do que opinam, ironizava o ponto de vista da turma da velha guarda. Não tenho culpa se ele tem como herói o Neymar e nunca se deu ao trabalho de pesquisar sobre nossas verdadeiras lendas.

Falo isso, porque, infelizmente, assisti, Brasil x Argentina pela Copa América de futebol de salão. Não sei se essa é a pior geração da história, mas está entre elas. E o que mais me surpreendeu é saber que Ferrão, nosso pivô, já foi eleito o melhor do mundo. O Brasil perdeu nos pênaltis e o técnico da Argentina percebendo que nossa seleção não oferecia qualquer perigo colocou gol linha para tentar resolver no tempo normal. Pode parecer um detalhe, mas não é.

O Brasil não tinha nenhum coelho na cartola, nenhum jogador que pudesse resolver, improvisar, driblar, encantar o torcedor, como em outros tempos. Perder jogando é uma coisa, mas perder acuado é vergonhoso. O Brasil não vence mais nem no futebol de praia. Hoje baseamos nosso futebol em força e tática. Não criamos mais talentos, artistas. E se criamos não os encontramos em nossas seleções.

Também vi o português Abel Ferreira, do Palmeiras, dando entrevista, ensinando aos brasileiros como se deve jogar. Os portugueses viraram as grandes estrelas internacionais, mesmo nunca tendo vencido nada de relevante. Ganharam uma Eurocopa aos trancos e barrancos, estão na repescagem para a Copa do Mundo e dependem de CR7 pra tudo!

Pelo menos Senegal venceu o Egito e conquistou de forma inédita o título da Copa Africana. E dessa vez não era um técnico alemão, italiano, mas o senegalês Aliou Cissé. Torci demais! Um técnico negro no topo!

Também vi um belíssimo gol em um estádio suburbano, o do vascaíno Gabriel Pec contra o Madureira, uma matada no peito e o petardo no ângulo, um gol que parecia ter se libertado das amarras, um grito de socorro, um clamor, um pedido….não nos engessem, não enterrem nossa essência.

Preparados para a pérola da semana? Ouvi que “o time estava acoplado no sincronismo para ser mais propositivo, direcionando os atacantes agudos para chaparem a cara da bola”.

TRISTEZA, POR FAVOR, FIQUE DO LADO DE FORA

por Zé Roberto Padilha


Dizem que apenas Deus, e o resultado da Mega-Sena, um titulo alcançado aos 45 minutos do segundo tempo, podem decidir, quem nesta terra dos homens que amam o futebol, e perseguem a sorte, alcançará a felicidade.

Mas naquele domingo, 16 de julho de 1950, ele estaria nas mãos de um simpático e ardiloso mineiro. Seu Chico, radialista da Rádio Pequeri, era quem decidiria se sua gente explodiria de alegria, ou sucumbiria junto a todo país na mais completa dor do holocausto. Digo, perdão, Maracanaço.

No começo da década de 50, nem todos tinham rádio portátil em Pequeri, pequeno distrito de Bicas, zona da mata mineira, que só seria emancipado dois anos depois, localizado a 300 km de Belo Horizonte.

Os que tinham em suas casas, e ouviam a Voz do Brasil, Gerônimo, o Herói do Sertão, Emilinha e Marlene disputando o cetro de melhor voz pela Rádio Nacional, permaneceram desligados. Todos foram convocados para a praça principal para acompanhar pelas cornetas, fixadas aos postes, a final entre Brasil X Uruguai.

Era seu Chico quem comandava o microfone e ele estava inspirado. Era a bola sair pela lateral que ele fazia graça, baixava o volume que vinha da Radio Globo e anunciava um patrocinador.

Nem quando o Uruguai empatou a partida ele esmoreceu. E avisava, interrompendo seguidamente Waldir Amaral e Jorge Curi, onde a maioria das rádios pelo Brasil pegavam caronas: “O empate é nosso, minha gente. Brasil, zil,zil…”

E quando Gighia, aos 34 minutos do segundo tempo desempatou, Chico foi mais rápido do que o porta-voz do Apocalipse. E desligou o botão. E gritou, em nome dos ambulantes, que precisavam vender, da sua gente, tão esquecida, “Acabou! Somos campeões mundiais!”

Se o árbitro sempre dava minutos a mais, porque não posso antecipar alguns e evitar um trauma coletivo? No seu fundo musical certamente se ouvia: “Tristeza, por favor vá embora…”

Dizem, os mais antigos por lá, que a festa vazou a madrugada enquanto todos os 5 mil municípios pelo país ardiam em dor. E Pequeri, em Minas Gerais, foi, por 12 horas, a única cidade a comemorar o primeiro título mundial do futebol.

Quando acordaram e souberam do ocorrido, perdoaram o Chico. Que estava corrido. Para todos eles, foi um sonho vivido, uma festa não interrompida, um pesadelo superado, mesmo porque toda ressaca é ruim com qualquer resultado.

Nada que um Melhoral, quem se lembra, não resolvesse dia seguinte. Mesmo porque a tristeza, a verdade, a realidade nua e Gighia estava a caminho, pelas ondas médias da Rádio Globo, para recolocar a tristeza no seu devido placar.

DA PROFECIA DE BRANDÃO, EIS BASÍLIO E, ENFIM, UM TÍTULO

Não há Libertadores, Mundial de Clubes ou Brasileirão que supere em emoção aquele título de campeão paulista de 1977. Para o corintiano, aquela conquista é a mais emblemática, a mais próxima da essência corintiana, que se traduz em duas palavras: alma e superação. E o herói naquela noite histórica no Morumbi foi Basílio, o aniversariante do dia. Conheça um pouco da trajetória deste grande ídolo alvinegro.

por André Felipe de Lima


“Oswaldo Brandão era espírita, kardecista. Ele disse para mim: ‘Esta noite eu tive um sonho. Na mensagem, Neguinho, disseram que você vai fazer o gol’.”

A profecia do velho Brandão foi precisa. O Timão acabou com um jejum de campeonatos paulistas que durava desde 1954, e Basílio entrou para história com o gol que assinalou contra a meta do goleiro Carlos, da Ponte Preta, no dia 13 de outubro de 1977. Final: 1 a 0, e uma das maiores festas que São Paulo já presenciou.

“Na hora, foi correr para o canto do campo, fazer uma oração e esperar pelos abraços dos companheiros. Deus tinha me escolhido. Podia ter sido Vaguinho, naquele primeiro chute, podia ter sido Wladimir, na cabeçada, mas tinha que ser eu porque Deus me tinha escolhido. Deus é uma pessoa estranha e que gosta de fazer as coisas sempre na hora certa. Deixando que eu fizesse o gol, ele estava me dando chance de responder a algumas pessoas que criticavam minha presença no time do Corinthians, dizendo que eu nunca fiz o necessário para justificar minha contratação e também de acabar de lavar a pequena mágoa que eu ainda guardava do clube”, confessara Basílio ao repórter José Maria de Aquino.

João Roberto Basílio nasceu na Casa Verde, bairro da Zona Norte de São Paulo, no dia 4 de fevereiro de 1949. O início, contudo, foi como centroavante do Cruz da Esperança, um time de peladeiros do bairro onde nasceu e foi criado. Gente da Portuguesa de Desportos que andava pelas bandas da Casa Verde viu Basílio e gostou do que viu. Ainda adolescente, Ipojucã, ídolo histórico do Vasco, percebeu que o garoto era bom de bola e o ensinou muito do que Basílio mostraria anos depois nos gramados. O gol de 77, inclusive, garantiu Basílio ter sido inspirado nos ensinamentos de Ipojucã, como narrou ao repórter Paulo Escobar, em entrevista (https://www.museudapelada.com/basilio) o Museu da Pelada. “Foi um atacante alto, mas com domínio e qualidade com a bola.”

Em 1964, o futuro “neguinho” do Brandão já estava no Canindé. Lá conviveu com craques da estirpe de Leivinha e Ivair. Contentava-se com a reserva, o que era plenamente plausível. Levou um tempinho para ser titular, o que aconteceu somente em 1969, quando Leivinha debandou para o Parque Antarctica para escrever uma bela história de gols infindáveis no Palmeiras.

“Meu pai era marceneiro e a gente tinha que se virar para sustentar a casa. Comecei a trabalhar numa loja, mas não durei um mês. Como eu queria continuar treinando nos infantis da Portuguesa, o dono da loja sentiu que não ia dar certo e eu fui embora. Mas passei direto dos infantis e juvenis para os profissionais, e comecei a ganhar dinheiro, bem na hora certa.”

Basílio aprendeu tudo direitinho com os seus mestres. Ainda garoto, foi campeão pela Lusa da Taça São Paulo e do Campeonato Paulista, ambos os torneios disputados em 1973. Aliás, a final do Paulistão daquele ano foi, no mínimo, surreal. A Portuguesa teve que dividir o título com o Santos, tudo por causa de um equívoco do árbitro Armando Marques (1930–2014), que, durante a decisão por pênaltis entre os dois times errou a contagem de cobranças do time da Vila Belmiro e declarou o Santos campeão. Os jogadores da Portuguesa deixaram o gramado e os cartolas do Canindé trataram de botar a boca no trombone. A Federação reconheceu a falha do árbitro e dividiu o título entre os dois clubes.

Antes das conquistas de 1973, mesmo não sendo um jogador com estilo refinado, ou seja, no genuíno significado do termo, um craque, Basílio despertou o interesse do Corinthians em 1972. Mas ainda não era a hora de pisar no Parque São Jorge, o que só aconteceu, por incrível que pareça, na madrugada do dia 4 de março 1975, uma quarta-feira, após uma manobra ágil do presidente corintiano Vicente Matheus, superando a oferta dos cartolas santistas, que também queriam ver Basílio na Vila Belmiro.

Enfim, o Corinthians tentaria fazer de Basílio um substituto à altura do ex-ídolo Roberto Rivellino que, dias antes, se transferira para o Fluminense, seduzido pela oferta do dirigente tricolor Francisco Horta. Missão, no mínimo, incômoda para Basílio, que, mal a tinta do contrato havia secado, já estava escalado pelo então técnico Sylvio Pirillo (ex-ídolo do Internacional de Porto Alegre, Flamengo e Botafogo). O jogo foi contra o Fluminense, de Rivellino e Carlos Alberto Torres, no Pacaembu. O Timão saiu de campo derrotado por 2 a 1, mas a forra viria em 1976, com juros e correção monetária, na semifinal do Campeonato Brasileiro de 1976, quando a torcida corintiana invadiu o Rio de Janeiro e tomou conta da metade do estádio do Maracanã para ver a “Máquina” das Laranjeiras tombar diante de Basílio e a trupe alvinegra. Um jogo que marcou uma das maiores invasões de torcida de outro Estado ao Rio de Janeiro. A Zona Sul da cidade estava vestida de preto e branco. E este cronista, menino na época, estava na Rua Paula Freitas, em Copacabana, e se recorda bem da festa dos torcedores que, entre merecidos goles de cerveja na birosca da esquina, brindavam à inesquecível façanha. Uma epopeia da qual Basílio foi protagonista. Aliás, o meia é o que Nélson Rodrigues definiria como um indefectível predestinado. O cara não falhava nunca e tampouco a santa intuição de Oswaldo Brandão.

O redentor – Logo que foi contratado pelo Corinthians em 1975, o jogador concedeu uma entrevista ao jornalista João Bosco, de “A Gazeta Esportiva”, em que disse que “a sua luta na Portuguesa foi sempre obter um título para enterrar definitivamente o tabu que persistia desde 1936”. Vaticínio cumprido.


“Agora vim para cá (Corinthians) na mesma situação. Tenho certeza de que nossa luta não será inglória. Vamos acabar com esse negócio de fila. (…). Tenham certeza, torcedores corintianos, de que vamos lutar por isso. Será minha gratidão pela maneira com que fui recebido aqui. Quero ser campeão.”

Missão de gente como Basílio é, geralmente, árdua, penosa. Tudo sempre conspira na contramão. O que não falta na História são exemplos iguais ao dele.

Por pouco Basílio não seguiu outro rumo: a Vila Belmiro. Mas o destino era mesmo o Parque São Jorge. Jogar no Corinthians já é um desafio do tamanho de um bonde. Ainda mais quando se é contratado para substituir Rivellino, estreando justamente contra o Fluminense, para onde o Garoto do Parque se transferiu. O jogo, realizado no Pacaembu, no dia 6 de março de 1975, terminou 2 a 1 para o time carioca, com um gol do ex-craque corintiano.

Mas logo no primeiro ano de Timão, um susto. Basílio sofre parada respiratória durante um jogo contra o América FC, de São José do Rio Preto. Viriam, contudo, outras intempéries.

Em 1975, fratura no perônio, durante um jogo contra o Remo, do Pará, deixou Basílio em segundo plano no Timão. Iniciou a temporada de 1977 na reserva. Do banco, viu o time estrear no Campeonato Paulista que o consagraria na final contra a Ponte Preta. O pé-direito, motivo de seu ocaso, foi também motivo de glória. “Muitas vezes, ele reclamou desse rótulo de jogador de uma partida só, achando-se injustiçado. Mas, no fundo, ele sabe que, por esse feito, sua caricatura estará para sempre tatuada na pele alvinegra”, escreveu Bruno Chazan.

“Quando vi a bola pulando e se oferecendo para meu pé-direito, pensei rápido ‘É agora ou nunca! Vou entrar rasgando, que ele (o goleiro Carlos) não pega’. Vi a bola estufando e foi uma loucura. Até hoje ainda sinto a bola tocar no meu pé. Jamais vou esquecer aquele dia”. As duas camisas daquela final e um pedaço da rede que balançou com o seu gol estão devidamente guardados por Basílio.


O querido “Neguinho” do Brandão ainda fez parte do time que anunciou Sócrates como o maior ídolo do Corinthians em todos os tempos e que seria campeão paulista em 1979. Basílio vestiu a camisão do Timão em 253 jogos, marcou 29 gols e ainda se deu ao luxo de fazer um contra. Mas ninguém se lembra disso. E nem é preciso.

A epopeia no Corinthians chegou, contudo, ao fim. Uma operação de menisco e consequente queda de rendimento em campo. Em 1981, foi emprestado para o CA Juventus, após chatear-se com a diretoria, que não o aproveitava no time e tampouco lhe dava o passe livre. E olha que nesse ínterim, entre o Parque São Jorge e a Mooca, recusou em 1980 uma proposta do norte-americano Fort Lauderdale Strikers. Preferiu ficar ao lado da mãe, que faleceu em 1984. Ambicionou o passe-livre, mas os cartolas do Corinthians não lhe deram ouvidos. Em 1983, uma rápida passagem pelo Nacional AC e, em 84, o final da carreira no EC Taubaté.

O ex-ídolo não fugiu à regra. Como a maioria dos jogadores, não conseguiu deixar os gramados. Foi convidado para ser técnico dos times de base do Corinthians em 1983. Em muitas ocasiões, foi treinador interino do time principal até 1992. Nas idas e vindas, que duraram quase dez anos, dirigiu o Timão em mais de 100 partidas.

SANTO EDEMA MUSCULAR

por Zé Roberto Padilha


Melhor do que todas as contratações realizadas este ano, a permanência no elenco de uma das maiores revelações de Xerém, Gabriel Teixeira, foi a grande notícia que nós, tricolores, poderíamos receber neste começo de temporada.

Camisa 10 do elenco Sub-20 que encantou o país, há dois anos, seria um absurdo deixar escapar o que de melhor aquela notável fabrica de talentos, erguida na Baixada Fluminense, tem revelado.

Depois de chegar aos Emirados, de ter sido aprovado no exame do Al Wasl, a Fifa, que se mete em tudo e agora tem um Centro Medico também, detectou o edema e vetou sua contratação.

Posso afirmar que nosso melhor momento, ano passado, foi quando Gabriel Teixeira ocupou o lado esquerdo do ataque e Caio Paulista o direito. E com o Luiz Henrique vindo de trás costurando, Fred voltou a ser o melhor pivô do país. E fomos passando de fases e apresentando, neste breve período, um grande futebol.


Depois esse menino machucou, Nenê foi para o Vasco, trocaram o treinador em plena competição, e aí…

Seja bem-vindo, Gabriel. Quem foi formado nas divisões de base, como fomos, carrega aquele sentimento raro de gratidão, amor ao clube que nos formou e orgulho de defender aquela camisa.

Fora que você joga muita bola e seria um desperdício, para o futebol brasileiro, ver sua categoria ser exibida onde todo o talento emana dos petrodólares e por seus imensuráveis valores serão adquiridos.

ZEZÉ, UM PONTA-ESQUERDA COMPLETO

por Paulo-Roberto Andel


Em fins dos anos 1970, o Fluminense vivia um momento distinto: depois de atravessar o período de 1969 a 1976 como protagonista do futebol carioca e brasileiro, o Tricolor chegou a um período de vacas magras, passando as temporadas de 1977 a 1979 sem títulos e grandes destaques. Desfeita a fabulosa Máquina, o Flu passou a apostar em jogadores mais baratos ou mesmo veteranos sem oportunidades em outras equipes, sem muita preocupação da gestão à época, pouco afeita ao futebol – isso num clube que carrega o esporte em seu próprio nome.

Entretanto, alguns jovens jogadores revelados na base tricolor já começavam a despontar, e futuramente dariam enorme alegria à torcida. Um deles é pouco falado e merece valorização à altura de seu grande futebol: o ponta-esquerda Zezé.

Antônio José Gouvêa estreou pelo Fluminense em 1975 num amistoso em Petrópolis. Já estava acostumado a uma grande concorrência de feras tricolores desde a base, disputando vaga com Gilson Gênio (destaque do próprio Flu e do Bahia), Silvinho (que brilharia no America e no Vasco) e Mário (campeão pelo Flu e depois jogando por America, Vasco e Bangu). Precisou esperar até 1977, quando o treinador Pinheiro efetivou seu pupilo no time titular.

Apesar do Fluminense não brilhar naquele período, o futebol vistoso e ofensivo de Zezé logo chamou a atenção de Cláudio Coutinho, então treinador da Seleção Brasileira, que o levou para a Copa América de 1979. No Flu, o ponta seguia cumprindo grandes atuações e marcando vários gols. Além de seu talento como driblador nato, Zezé era especialista em chutes cruzados da esquerda e um bom cobrador de pênaltis. Só não gostava de marcar e, cá entre nós, tinha razão: seu talento não era para ser desperdiçado como marcador de laterais.

Em 1980, veio a redenção. Já “veterano” no Fluminense aos 23 anos, Zezé foi um dos grandes destaques do time campeão de 1980, praticamente todo feito em casa, desbancando o forte time do Vasco (com Guina, Paulinho, Roberto, Wilsinho, Pintinho e Paulo Cezar Lima) e superando o poderoso Flamengo (campeão brasileiro e que seria também mundial no ano seguinte). Ao lado de Robertinho e Cláudio Adão, o ponta-esquerda formou um ataque veloz e mortífero, todo com jogadores que passaram pela Seleção. Pelo Fluminense, marcou mais de 80 gols como profissional, e isso jogando ao lado de outros excelentes finalizadores.

Ao deixar o Fluminense, Zezé foi para o Guarani de Campinas, onde reencontrou outro velho conhecido das Laranjeiras: o goleiro Wendell. O Bugre fez ótima campanha no Brasileirão, chegando às semifinais, mas depois aconteceu um problema para o atacante: exames apontaram problemas cardiológicos sérios. Mesmo assim, Zezé acabou se transferindo para o Flamengo, não se firmou e a partir de então passou por várias equipes de menor investimento. Já o Fluminense perdeu sua referência de ponta-esquerda, mas logo a reabilitaria com a ascensão de duas outras feras dos anos 1980: Tato e Paulinho.

Zezé desencarnou jovem, aos 51 anos, em Recreio, sua cidade natal em Minas Gerais. Sofreu um ataque cardíaco em sua caminhada matinal. É o único titular tricolor de 1980 que já faleceu. Pouco desfrutou da era das redes sociais e não teve a oportunidade das lives, que hoje tanto ajudam a reavivar belas memórias do nosso futebol.

Ao menos restou a memória dos meninos tricolores daquele tempo, que trazem consigo a lembrança de um grande atacante, fundamental para reabilitar a imagem do Fluminense depois do pós-Máquina. Hoje cinquentões, ele ainda se lembram de cruzamentos e gols do arisco Zezé.

@pauloandel