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VOZES DA BOLA: ENTREVISTA ROBERTO DINAMITE


Muitas vezes, fazer sucesso no futebol é uma questão de sorte. São milhares de atletas em busca de reconhecimento de seu talento. Em muitos casos, eles não têm a oportunidade de provar suas qualidades nas ‘peneiras’, os famosos testes promovidos por escolinhas de clubes, e acabam se tornando os ‘craques que nunca foram’. 

Esse não é o caso de Carlos Roberto de Oliveira, o Roberto Dinamite, que saiu da Baixada Fluminense, aos 15 anos, para navegar por ‘mares navegados’. 

Moleque, ainda frequentando as aulas de catecismo, Roberto trocou um ‘santo’, o São Bento, time amador de Duque de Caxias, onde costumava fazer os adversários pagarem seus pecados em forma de muitos gol sofridos, por outro, São Januário, símbolo e padroeiro do Vasco da Gama, que completou 122 anos recentemente.  

‘Marinheiro de primeira viagem’, Roberto não sabia que ali começava uma jornada de 21 anos por mares nunca navegados, onde assumiu como capitão o leme da ‘nau vascaína’, e lá, viveu muitos momentos de glória, mas também teve que sobreviver a naufrágios. 

Recordista em ‘número de viagens envergando a farda vascaína’ (1.110 partidas disputadas pelo mesmo clube); maior artilheiro da ‘Colina’, com 708 tentos marcados (752 no total, contando os 44 marcados por outros ‘navios piratas’); principal artilheiro de São Januário (184 gols); maior marcador de gols na história do Campeonato Brasileiro (190 gols), o ‘timoneiro’ Roberto Dinamite ‘ancorou’ na redação do ‘Museu da Pelada’ para dar seu testemunho para a série ‘Vozes da Bola’. 

Terra à Vista, Almirante!         

Por Marcos Vinicius Cabral 

Como começou sua relação com o Vasco? Você veio da Baixada, onde jogava no São Bento, de Duque de Caxias, não é?

É. Mas, antes, é bom contar que tive uma infância muito difícil. Com 7 anos fiz uma cirurgia e com 12 tive que fazer outra por um problema na perna esquerda, já atuando na escolinha do São Bento. Mas, graças a Deus consegui superar tudo isso, me tornar um atleta e, sem sombra de dúvidas, um bom jogador de futebol.

É verdade que seu pai e seu irmão jogaram mais bola que você?

É verdade. As pessoas lá de Caxias, até hoje dizem que meu pai e meu irmão, jogaram mais do que eu. No entanto, eu fui profissional e eles não, mas foram pessoas importantes que me incentivaram e sempre estiveram do meu lado. Mas é isso, é a vida e que eles jogaram muito, eu sei, meu pai era goleiro e meu irmão era ponta e depois passou a ser goleiro também. Então, como eu era goleador, não teria como não dar certo.

De onde vem o apelido Dinamite?


Vem do meu primeiro jogo no Maracanã, com 17 anos, com a camisa do Vasco, no time principal, no Brasileiro de 1971. Entrei no segundo tempo da partida, contra o Internacional, no Campeonato Brasileiro e fiz um gol num chute forte de fora da área. Desse gol surgiu o apelido Dinamite. No dia seguinte o Jornal dos Sports colocou na primeira página: ‘O garoto Dinamite explode no Maracanã’. Isso foi criado pelo jornalista Eliomário Valente e foi importante naquele momento, no início da minha carreira.

Em 1973, você enfrentou o Santos de Pelé no Maracanã e fez um belo gol de voleio, sendo inclusive elogiado pelo ‘Rei’ ainda em campo. Você imaginava que aquele garoto de Duque de Caxias chegaria tão longe?

Ter recebido o elogio de Pelé foi motivo de orgulho. Mas depois tiveram outros jogos importantes, outras conquistas, como o Brasileiro de 74, onde o Vasco se tornou o primeiro carioca a ganhar o título da competição. Sem falar que fui o artilheiro. Mais à frente conquistamos os títulos cariocas de 82, 87 e 88, além da marca de artilheiro das competições. É realmente uma coisa fabulosa.

Quem foi sua referência no futebol?

Quando era criança, com 12, 13 anos, vi Garrincha e Pelé jogarem. Acho que foram referências para todos, cada um dentro do seu universo, Garrincha mais descontraído, com seu jeitão de povão e tal; e Pelé, além do grande talento, tinha uma outra linha, muito profissional, de se dedicar em tudo. No Vasco conheci os grandes Ademir, Barbosa, e acho que é por aí. A gente tem a referência, a gente vai olhando e para buscar lá na frente tem que sempre olhar para trás.

Num jogo contra o Botafogo, em 76, estavam na tribuna do Maracanã, Henry Kissinger, secretário de Estado dos Estados Unidos à época, e Mário Henrique Simonsen, ministro da Fazenda. Você entregou a camisa do jogo para ele?

Nesse jogo eu fiz dois gols. Estávamos perdendo por 1 a 0, e fiz o primeiro aos 39 minutos e o segundo aos 44, num  gol de lençol sobre o Osmar, que foi muito bonito. Nesse jogo o Mário Henrique Simonsen estava na tribuna de honra com o Henry Kissinger, e nós, capitães do Vasco e do Botafogo, entregamos as camisas usadas nos primeiros 45 minutos para eles. Isso abrilhantou a vitória, e o gol é considerado um dos mais bonitos do Maracanã.

Você jogou a Copa de 1978, e na de 1982 foi reserva. Acha que poderia ter tido mais oportunidades na Seleção?

Em 78 fiquei no banco nos dois primeiros jogos, no terceiro entrei como titular, fiz o gol contra a Áustria que classificou o Brasil e dali, fiquei até o final da competição, inclusive sendo artilheiro da Seleção Brasileira. Pena que o Peru entregou o jogo para a Argentina, e nós, que tínhamos saldo de cinco gols acabamos fora porque eles conseguiram. Já em 82 eu fui convocado para o lugar do Careca. Perdendo um pouco a humildade, a minha presença poderia contribuir mais.

O seu ‘divórcio’ temporário com o Vasco e a ida para o Barcelona em 1979 até hoje são motivos de discussão entre os torcedores cruzmaltinos. Mas, regressar ao Maracanã sob desconfiança, depois de um ‘flerte’ com o Flamengo e  marcar logo cinco gols na vitória de 5 a 1 do Vasco contra o Corinthians em 1980, foi o ápice?

Foi muito bom. Voltar ao Brasil depois de uma passagem curta no Barcelona e marcar cinco gols contra a equipe do Corinthians, para mim foi motivo de muito orgulho e satisfação. O Timão tinha uma grande equipe e foi uma tarde maravilhosa. Essa é a lembrança que eu tenho. E para coroar a jornada, a torcida do Flamengo torcendo pelo Corinthians, pois eles haviam feito a preliminar contra o Bangu. Então, teve sabor em dose dupla.

Em como foi essa história de você voltar do Barcelona para jogar no Flamengo?

Realmente o Flamengo foi até Barcelona para tentar me contratar. Acabei voltando para o Vasco, numa decisão minha de querer voltar para o Brasil e voltar a vestir a camisa do meu clube de coração. E foi importante, muito importante, mas houve sim esse interesse rubro negro, mas acabei voltando para o Vasco.

Como é ser ídolo de um clube como o Vasco da Gama e ser respeitado por adversários e torcedores de outros times?

Os gols, claro, que para mim, foram importantes na minha carreira. Mas a relação de respeito com as pessoas, desde as categorias de base até o profissional, dos meus adversários, que hoje são meus amigos, sempre foi importante. Então, o que eu pude ver dentro do futebol é que você pode ser um grande adversário, mas pode criar amizades também. Foi o que fiz ao longo da minha carreira e essas foram as grandes conquistas de amizade, respeito e carinho de todos. Isso é muito bom!

Até hoje, não teve Pelé, Zico, Romário, Edmundo, Renato Gaúcho, Túlio, ninguém. O maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro segue sendo Roberto Dinamite, com 190 gols. Acha que um dia esse recorde vai ser batido?

Ser o maior artilheiro do Campeonato Brasileiro é decorrência de ter jogado um número bom de campeonatos, mas também pela qualidade de saber fazer gols. Minha técnica como centroavante ajudou, e só tenho a agradecer. Já tem algum tempo, eu parei de jogar em 92 para 93, e até hoje o recorde não foi batido. Espero e torço para que isso possa motivar essa nova geração. Aliás, o único jogador em evidência é o Fred, que é o mais próximo e está a 40, 50 gols de mim. Para mim, essa marca é muito significativa. Ser o maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro é um orgulho.


Ao lado de Pelé e Rogério Ceni, você jogou mais de mil partidas pelo Vasco (são 1.110 na verdade). Que retrospectiva você faz da sua carreira no clube?

É verdade. Sou um privilegiado, pois lá atrás não tinha ideia de que me tornaria um jogador de futebol, em razão das contusões que tive. Hoje é oficial. Eu, Pelé e Rogério Ceni somos os únicos jogadores no mundo que mais vezes vestiram as camisas de um mesmo clube. Joguei 1.110 partidas com a camisa do Vasco da Gama e para mim é motivo de muito orgulho. Jogar no Vasco, ser seu maior artilheiro e ser um dos ídolos de sua história é um orgulho muito grande.

Qual foi o melhor treinador com quem você trabalhou?

Eu tive grandes treinadores, e meu primeiro grande treinador foi seu Célio de Souza, ainda no juvenil. Mas citar um apenas é difícil. Travaglini do jeito dele; Orlando Fantoni, Joel, Lopes… Foram vários e cada um com sua característica. E sou grato a todos eles.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao Coronavírus?

Com muita preocupação. Não se sabe como se pega, você tem que usar máscara. É uma série de coisas e todo mundo está sujeito a isso. Já tive isso, mas graças a Deus, foi bem brando. Então, temos que ficar atentos a tudo que está em volta, porque infelizmente é uma coisa nova que pouca gente sabe. E isso é algo que está aí e vai durar por muito tempo. O que eu posso dizer para vocês é isso: “Se cuidem, se preservem, usem máscara, álcool gel, mas acima de tudo, tentem na medida do possível, ter o menor contato com outras pessoas e principalmente as que você não conhece!”.

Defina Roberto Dinamite em uma única palavra?

Artilheiro.

Roberto e Vasco foi coisa do destino?

Acho que sim. Eu acredito muito no destino e que a gente está aí para cumprir uma etapa aqui na Terra. Meu pai e meu irmão, foram muito mais jogadores do que eu, mas não chegaram, não foram profissionais como eu, mas fizeram história no futebol amador. Então, eu acredito muito nisso, que a gente vem aqui para uma missão neste mundo e a gente tem que trabalhar isso, melhorar, evoluir, crescer, para que realmente a gente possa cumprir essa etapa. Fica aí a mensagem, de que quando se tem uma oportunidade, tem que saber aproveitá-la.

GERALDO: O TRÁGICO CESSAR DE UM ASSOVIO

por André Luiz Pereira Nunes


A geração que forneceu ao Flamengo os maiores títulos da história começou a florescer durante a década de 70. Foi justamente nesse período que o super elenco que veio a conquistar o mundo começou a ser erigido, obviamente em torno de Zico, um dos maiores craques de todos os tempos do futebol brasileiro. Naquele tempo todos depositavam as fichas no mineiro Geraldo Cleofas Dias Alves, nascido em Barão de Cocais, no interior do estado. Diziam que seria o parceiro ideal do Galinho de Quintino, de quem inclusive tinha apenas um ano a menos. O entrosamento era tal que muitos acreditavam que seria mais uma grande dupla, a exemplo de Coutinho e Pelé.

A breve, mas inesquecível carreira teve início nas divisões de base do Flamengo no fim dos anos sessenta. O craque morava nas dependências do clube, no “Morro da Viúva”. Em um belo dia, o olho clínico de Zagallo apontou para Geraldo durante um dos treinos da equipe juvenil. Percebendo que estava diante de uma promessa, o treinador não titubeou e ordenou que o garoto “assoviador” fosse logo integrado ao elenco principal. Se sagraria campeão da Taça Guanabara de 1973 e campeão estadual de 1974.

Quis infelizmente o destino que a vida, a carreira e o futuro de Geraldo acabassem prematura e repentinamente de forma trágica numa cadeira de dentista. O habilidoso e promissor camisa 8 faleceu de chinelos, calça jeans e sem camisa, aos 22 anos, em agosto de 76, após sofrer uma reação à anestesia, o chamado choque anafilático, por conta de uma simples cirurgia de extração de amígdalas recomendada pelo departamento médico do Flamengo.

A consternação abalou todo o Brasil. Semanas após o incidente foi organizada uma partida beneficente, no Maracanã, com a presença de Pelé com o fim de arrecadar fundos para a família daquele que era nome considerado certo para o Mundial da Argentina.


Convocado por Oswaldo Brandão, estreara na Seleção Brasileira na Copa América de 1975, tendo disputado 7 jogos com a camisa canarinho. Pelo Flamengo atuou em 168 jogos (94 vitórias, 40 empates, 34 derrotas), marcando 13 gols, de acordo com o almanaque de Clóvis Martins e Roberto Assaf.

Para Zico, a precoce partida do amigo e parceiro de meio-campo foi a primeira grande perda de sua vida. De acordo com a sua avaliação, o companheiro de time só pecava em um aspecto. Não gostava de finalizar. 

– Ele (Geraldo) não gostava muito de chutar para o gol. Sempre preferiu fazer as jogadas e tocar para alguém. Teve um dia que ele fez uma fileira de adversários e saiu na cara do gol. O jogo era contra o Olaria. A partida estava empatada, já nos minutos finais. Então, eu tomei a bola dele e fiz o gol! – relatou durante entrevista à série “Encontros para Sempre”, do canal pago SporTV. 

Porém foi ressaltado que possuía um talento acima da média. Uma espécie de requinte tão em falta no futebol brasileiro.

– O Geraldo jogava com a cabeça sempre em pé. Não olhava para a bola. Aliás, parecia até que tinha nojo dela. Era engraçado. Tinha muita habilidade – declara o Galinho.

Carlos Alberto Pintinho, um dos integrantes da inesquecível Máquina Tricolor, até hoje chora a sua perda. Ele ressalta que o principal motivo de ter saído do Brasil para atuar na Espanha foi o de não aceitar a morte do companheiro.

– O relacionamento que nós tínhamos era muito forte. Então, com a perda dele, eu quis ir embora – disse o ex-jogador, antes de interromper uma entrevista emocionado.

Segundo familiares e amigos, Geraldo era tranquilo e agradável com todos. Além da habilidade em campo, tinha um hábito bastante peculiar. Vivia assoviando o tempo todo, inclusive nos jogos, daí a óbvia alcunha de assoviador.


Tudo parecia normal na manhã do dia 26 de agosto de 1976. Geraldo guiou o próprio carro até a clínica Rio Cor, em Ipanema, acompanhado do amigo Serginho, então massagista do Flamengo. O meia adiou o quanto pode o procedimento. Parecia pressentir algo de ruim. A decisão ocorrera por insistência da direção rubro-negra. Naquela época era fato costumeiro a extração das amígdalas para evitar infecções persistentes. Júnior, entre outros atletas do elenco, já haviam se submetido com sucesso à operação. O meia foi internado às 7h da quinta-feira. É relatado que ainda fez questão que o médico do clube, o ortopedista Célio Cotecchia, estivesse presente, mas a cirurgia seria realizada pelo otorrinolaringologista Wilson Junqueira, já falecido. Foi ele quem aplicou a anestesia local

Menos de meia hora após a extração, o jogador começou a se sentir mal e teve uma parada cardíaca. Apesar de algumas tentativas infrutíferas de reanimação, a sua morte foi decretada por volta das 10 horas. O jovem craque veio a falecer em decorrência do choque anafilático causado pela anestesia. Serginho, o massagista que o acompanhava, nunca se recuperou do episódio. É relatado em um vídeo que tentou o suicídio após a morte do amigo.

Chegou a ser aventada a suspeita de erro médico. O Conselho Regional de Medicina (Cremerj) até abriu uma sindicância interna para investigar o caso. Mas os médicos Wilson Junqueira e Célio Cotecchia foram absolvidos.

Chorou o país a perda de um de seus maiores talentos. Geraldo, o assoviador. Geraldo, o mineirinho de Barão de Cocais. O parceiro perfeito do Galinho de Quintino

SEU CHICO

por Valdir Appel


Por mais de 40 anos, o Vasco teve um mordomo que fez da rouparia o seu santuário.

O presidente João Silva pedia licença e apenas Fontana, Brito e Danilo Menezes eram (eventualmente!) autorizados a entrar naquele recinto. 

Da janelinha daquele escaninho, seu Chico mostrava apenas seu magro rosto, sempre com um cigarro no canto da boca, rosnando em resposta um bom dia mal humorado e ranzinza, àqueles que timidamente o cumprimentavam.

Detestava futebol! Jamais foi visto na saída do túnel dando uma espiadinha no andamento de uma partida. Tomava conhecimento dos resultados apenas para saber se receberia bicho ou não.

Nos vestiários, os jogadores não tinham o que reclamar dos serviços do seu Chico. As cestinhas de material eram entregues por ele de forma impecável. Não cometia erros, não dava oportunidades a reclamações.

O que alegrava os atletas era a chegada de um jogador para testes. Sulista, então, era um prato cheio! Um de nós checava o material do recém-chegado e sugeria que ele fosse pedir atadura para proteger os pés.

– Seu Chico, o senhor poderia me ver uma faixa?

Chico ia até o armário da rouparia e trazia a faixa de campeão de 1958 e a entregava para o jogador:

– Pronto, aqui está a sua faixa.

– Seu Chico, é faixa para os pés!

– Ah, então o senhor quer uma atadura?

– Isso, isso, seu Chico!

Chico então lhe dava uma atadura. O cara dizia que eram duas. Chico replicava:

– Então, o senhor quer um par de ataduras!

Torcedores visitantes também nos deixavam felizes:

– Seu Chico, é uma honra conhecer o roupeiro mais famoso do Brasil! Venho de Itajubá, Minas Gerais, lá só tem vascaíno. Eu, por exemplo, sou doente pelo Vasco!

Chico esticava a mão para fora da rouparia e apontava o dedo:

– Entre na primeira porta a esquerda e procure o doutor Marcozzi. Doente, é com ele.

Chico não gostava do nosso treinador, Célio de Souza, e fazia questão de que todos soubessem. O goleiro reserva, Celso, atendendo a um pedido do Célio, foi ao vestiário pedir que seu Chico enviasse todos as bolas disponíveis para fazer um treinamento diferenciado.

– Pra quê todas as bolas?

– Sei lá, seu Chico!

– Pra quê todas as bolas, se uma já atrapalha vocês?

Novamente o Celso, sempre ele…

– Seu Chico, o seu Célio mandou pedir mais um jogo de camisas.

– Quem é o seu Célio?

– Ora, o seu Célio de Souza, treinador do Vasco!

– Não conheço nenhum Célio de Souza treinador. Volta lá e pede pra ele mandar o diploma!

Por conta do Ademir Menezes, passamos alguns constrangimentos…

Ademir costumava ir ao vestiário, quando o jogo era no Maracanã, para nos visitar. Nestas raras ocasiões, seu Chico saía do seu cubículo, se aproximava do grande Queixada, ajoelhava-se aos seus pés e os beijava, dizendo:

– Este sim, me deu muito bicho! Não estes merdas que estão aí, agora!

ROMÁRIO, ANJO 11

por Rubens Lemos


É passar em frente ao prédio e a angústia é instantânea. Volta como em reprise a agonia das caminhadas noturnas na calçada do Hospital Infantil Varela Santiago em Natal.

Chorava na rua para não assistir ao meu filho, Caio, com um ano e um mês de idade, ser picado por agulhas, amarrado ao berço em intenso tratamento contra uma pneumonia surgida do nada.

Dormíamos no pequeno apartamento do hospital. Ele teve que ser amarrado porque não aguentava de impaciência. E se doía nele, mais ainda em mim. Pai sofre em dose tripla.

Caio já demonstrava a valentia sertaneja lá do Oeste potiguar. Soluçava baixinho. Quase 20 dias de tormenta. Quando o libertaram do soro, Caio quase voou do berço e foi pouco para os milhares de abraços chorões.

No esporte, golpe traiçoeiro. O moleque Denner, que eu tenho certeza faria história bem mais que os Neymares e Robinhos, morria enforcado pelo cinto de segurança do seu carro nas imediações da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Denner, do Vasco, achava o drible mais belo que o gol. Demais eu chorei por Denner. Desabafar também é arma de pobre. Lembro que usei uma tarjinha preta na camisa para ir trabalhar, igual ao luto estampado nos homens interioranos.

Confesso que não me integrei à comoção pela morte de Ayrton Senna. Se vivo fosse, duvido que Schumacher ganhasse tanto depois. O problema, como nos sonhos delirantes, é um pequenino se.

Caio já estava robusto e nós, felizes em nossa vida simples e assim boa além da conta. Tínhamos o suficiente e ninguém ligava pra gente, o que era melhor, o melhor da história.

Veio a Copa do Mundo. E eu com 100% de fé naquele que jamais me decepcionou em minhas preces: Romário. Gostava mais de Romário do que da própria seleção. Ele levava sem saber a revolta que eu precisava extravasar. Eu tinha de ganhar alguma coisa. Ele correspondeu.

O jogo contra a Holanda pôs meu pulmão de tísico à prova. Na falta cobrada por Branco, a que decidiu a partida (3×2), berrei como um Pavarotti com 50 quilos. Caio assustou-se e chorou o que não pudera quando em seu leito de hospital.

Contra a Suécia, na semifinal, o goleiro deles era chato, Ravelli, que ficava zombando a cada chute pra fora de Mazinho, Bebeto, Zinho, até Mauro Silva arriscou de longe. Aí, Romário subiu como senador romano à tribuna, mandando a empáfia do goleiro direto pra Estocolmo.

Contra a Itália, nos pênaltis, petrificado  fiquei quando Baggio mandou a bola pelos ares. E, sem o vozeirão de Cauby, gritei, gritei até ter dó da garganta. Editava o Bom Dia RN na afiliada Globo em Natal.  Encerrei o telejornal com um clip com a música Brasileirinho na voz de Baby Consuelo. Aquele era o hino. De todos os nós desatados.

Fez 26 anos dia 18 de julho. O amigo piedoso me confessa até hoje ter dó do pobre Baggio e a sua solidão após o fracasso e a nossa vitória. E fica indignado quando digo que ele fuck! Ele esquece da tragédia de Zico em 1986.

Feliz 1994. Caio hoje, 27 anos, casado , é torcedor de Copa do Mundo. Nada é perfeito. E acha exagero quando digo que Romário foi tudo. Ele alcançou os meus milagres. Consumou minhas vinganças.

VALEU, XERIFE

por Marcos Vinicius Cabral 


O ex-jogador de futebol Antônio Carlos Ferreira da Costa, de 58 anos, morreu neste sábado (15), no Hospital das Clínicas, em São Gonçalo, onde estava internado com coronavírus.

Nascido em São Gonçalo, Antônio Carlos era zagueiro e jogou no Flamengo na década de 1970, com Júnior, Tita e Zico.

Nas redes sociais vários amigos fizeram postagens exaltando o caráter de Antônio Carlos e lamentando a sua morte.

– Ele era uma pessoa maravilhosa. Tive a oportunidade de conviver com ele no futebol, jogando nos grupos de pelada aqui de São Gonçalo. É muito triste e não tenho palavras para expressar a minha dor”, afirmou o companheiro de peladas Maurício Pimenta.