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Futebol

O QUE ESTAMOS FAZENDO DO NOSSO FUTEBOL?

por Cesar Oliveira


Cesar Oliveira

Já disse antes e vou repetir: sou um daqueles que, ainda hoje, coubertianamente, acreditam na lisura e na ética no desporto, no “que vença o melhor”. Detesto mão na bola, empurrão ou calço pelas costas; nem na pelada mais vagabunda isso é aceito.

Sou do time do Mimi Sodré, campeão carioca de 1910, que levantava o dedo quando cometia uma infração, antes que o “referee” a apontasse. Sou de um tempo em que árbitro algum voltaria atrás na marcação de um pênalti.

Por isso, me enojo com a possibilidade de alguém dando palpite na arbitragem do árbitro principal que, segundo a Regra 5, deveria ter “total autoridade para fazer cumprir as regras de jogo na partida”.

Ainda segundo a mesma Regra 5, “as decisões do árbitro sobre fatos em relação com o jogo são definitivas. O árbitro poderá mudar sua decisão unicamente se perceber que sua decisão é incorreta ou, se o julgar necessário conforme indicação de outro membro do quarteto de arbitragem, sempre que ainda não tenha reiniciado a partida”.


Patrocínio de site de apostas no futebol

A Regra 6, que trata dos árbitros assistentes, diz que eles são dois e determina as suas funções, e que eles “têm o dever de indicar”, entre outras coisas, “quando forem cometidas infrações em que os árbitros assistentes estejam mais perto da ação que o árbitro” [principal].

Em tempos de tantos sites de apostas metidos no futebol – em camisas de grandes clubes, em propaganda estática nos gramados, patrocinando jogos e atletas — o esporte tomou um caminho muito perigoso. 

No jogo Santos 3 a 2 Flamengo, pela Copa do Brasil, que vem suscitando — mais uma vez por interferência externa” — tanta celeuma, o árbitro principal Leandro Vuaden não vacilou um instante sequer em marcar o pênalti de Réver em Bruno Henrique, e apontou imediatamente a marca da cal.


Então, acontece uma interferência externa do quarto árbitro (cadê essa figura nas “Regras do Futebol”?), chama o árbitro principal pelo intercomunicador (equipamento que quase levou o árbitro José Roberto Wright ao cadafalso quando usou um, a pedido da TV Globo, gravando seus diálogos no gramado com jogadores), conchinha no ouvido e Leandro Vuaden volta atrás da marcação do pênalti.

É pelo menos estranho que, contrariando as Regras do Futebol, o árbitro principal mantenha-se hoje em comunicação privada (duplo sentido) com gente fora do ambiente de jogo (o que falam?).

E, principalmente, que o árbitro seja chamado por um elemento de fora do trio de arbitragem (Regra 5) para convencer o árbitro a mudar sua decisão, tomada sem hesitação no momento da infração.

O que vale para esse jogo sob polêmica, vale para o futebol como um todo. Se querem uma arbitragem limpa e isenta de erros, com o tal “árbitro de vídeo”, o futebol tem que se preparar para que isso seja feito limpamente. Como é no vôlei e no tênis. Sempre que uma pessoa interfere na arbitragem principal, dá zebra.

Sabemos que o futebol é um esporte muito corrupto. Por seus dirigentes (muitos presos, outros que não podem sair do País), árbitros, federações, agremiações etc. Os casos de suborno e papeletas amarelas estão aí, e ninguém faz nada para coibi-los.


Torço por um time que já perdeu campeonatos por arbitragens duvidosas. Mas quem já não perdeu campeonatos por arbitragens duvidosas? Então, volto ao começo do meu texto: estou ficando velho demais para ver minha paixão imaterial pelo futebol ser negociada por debaixo dos panos.

Certa vez, sentado a uma mesa em clube nobre do Rio de Janeiro, ouvi um ex-dirigente de um clube (desses que não são queridinhos da “futebolpress” ou favorecidos por arbitragens estranhas, contar casos escabrosos em que comprou arbitragens). Meu mundo caiu. Nunca pensei que aquele clube, prejudicado em tantas ocasiões, também lançava mão de fatores extracampo para conseguir resultados que precisava. Certamente, com times de menor expressão do que ele.

O que estamos fazendo do nosso futebol? Eu queria acreditar na lisura do desporto. Na vitória do melhor. No que melhor se preparou e desempenhou no campeonato. No que tem melhor preparo físico para desempenhar um plano de jogo superior e irresistível. Naquele que faz na Base a criação de jogadores de qualidade para abastecer o time de cima. No que vence limpamente, pela qualidade do time.

Eu sou um velho bobo.

VAI DAR ZEBRA!

texto: Victor Kingma | charge: Eklisleno Ximenes.


Gentil Cardoso

A zebra do Gentil Cardoso, no gramado, e a zebrinha do Borjalo, na loteca.

O futebol, nosso velho e bom esporte bretão, trazido para o Brasil por Charles Miller em 1894 e que em pouco tempo se tornou uma paixão nacional, vem, ao longo de todos estes anos, não só contribuindo para a divulgação da imagem do país em todos os cantos do mundo, mas, também, influenciando até na formação da nossa língua pátria. Várias expressões, oriundas do meio futebolístico, acabaram se incorporando ao nosso vocabulário. 

Uma delas, que muito bem comprova essa tese,  é “vai dar zebra!


Borjalo

Essa expressão, tão comum entre os boleiros, significa, no popular, que o inesperado pode acontecer.

Foi usada pela primeira vez pelo técnico Gentil Cardoso, um dos maiores filósofos do futebol brasileiro, em 1964, num jogo do Vasco da Gama contra o seu time, a Portuguesa, pelo Campeonato Carioca daquele ano.

O favoritismo era todo do Vasco, mas antes do jogo, entrevistado pelo repórter de campo, Gentil profetizou: vai dar zebra!  Estava se inspirando numa outra grande manifestação da nossa cultura, que é o jogo do bicho. 

Quando o Barão de Drumonnd criou este jogo, escolheu 25 bichos e entre eles, não estava a zebra.

 Assim, dar zebra no jogo do bicho é impossível.

Mas, no jogo de futebol, o que parecia impossível aconteceu: a Portuguesa venceu por 2 a 1.  Deu zebra!

O fato foi manchete em vários jornais do dia seguinte. E virou folclore.

No início dos anos 70, com a implantação da loteria esportiva que se tornou uma febre para os apostadores, o termo foi mais popularizado ainda. Isso porque, na televisão, era uma zebrinha, na voz da dubladora Maralisi Tartarini, quem informava  o resultado dos jogos.

Quando acontecia algum resultado inesperado, a simpática zebrinha, criada pelo saudoso cartunista Borjalo, baseado na expressão de Gentil Cardoso, roubava a cena nas noites de domingo no programa Fantástico, com sua voz inconfundível:


– Olha eu aí! Zebra!

E a zebra foi se incorporando cada vez mais ao vocabulário esportivo.

Com o passar do tempo a expressão passou a ser usada popularmente para definir algo que pode não dar certo ou não sair conforme o previsto. Assim, pode “dar zebra” num negócio, viagem, eleição, namoro e, é claro, num jogo de futebol.

Leia mais em: www.historiasdofutebol.com.br

HÁ 64 ANOS, O FUTEBOL BRASILEIRO PERDIA CHARLES MILLER, O ‘PAI’ DA BOLA

por André Felipe de Lima


Mais dia ou menos dia, aconteceria. E aconteceu em 1894. É impossível prever qual seria a trajetória do esporte mais popular do mundo se o Brasil começasse a jogar futebol após 1894. Outro país teria, quem sabe, nove canecos mundiais, ou a Irlanda seria a seleção mais forte do planeta. Sei lá… tudo poderia acontecer. Mas, parafraseando o “profeta” Nelson Rodrigues, “estava escrito há mil anos” que o futebol brasileiro nasceria no cabalístico mil oitocentos e noventa e quatro.

A história brasileira entre quatro linhas e sobre um gramado começou a ser escrita quando o paulistano (segundo filho do escocês John Miller, engenheiro transferido para o Brasil para a São Paulo Railway Company, e da brasileira descendente de ingleses Carlota Alexandra Fox, e sócio do São Paulo Athletic Club [SPAC]), foi estudar, em 1884, na Bannister Court School, em Southampton, na Inglaterra. Esse menino tinha nove anos e chamava-se Charles William Miller. O velho Miller enviou para terra da rainha o garoto, o irmão mais velho dele, John, e o primo de ambos, William Fox Rule. Os três desembarcaram em Southampton no dia 29 de julho.

Charles chegou a defender o selecionado de seu condado, o Hampshire . Disputou jogos contra o Corinthians F.C. , que mais tarde viria ao Brasil e inspiraria jovens para a criação da versão paulistana do time inglês, e defendeu o St.Mary’s, que mudaria de nome, tempos depois, para Southampton F.C.. Aos 17 anos, destacava-se na escola, mas com a bola e com o críquete. Chegou a enfrentar o time do Exército da Divisão de Aldershot. Perdeu o jogo [3 a 1], mas foi o autor do gol do St. Mary’s.


Na temporada de 1893-94, Charles Miller disputou 34 jogos pela Banister School, marcando 51 gols, com a média de 1,59. Na edição de Natal da revista da escola em que estudava, foi publicado o seguinte comentário: “Charles W. Miller é o nosso melhor atacante. Seu drible é como uma fagulha e seu chute, devastador. Poderia ser mais esforçado, mas, mesmo assim, trata-se de um goleador incorrigível”. Sempre atuando como left-winger, ou simplesmente ponta-esquerda.

Pelo St. Mary’s, Charles disputou 13 partidas e fez três gols, pelo Condado de Hampshire marcou o mesmo número de gols só que em seis partidas. Retornou ao Brasil em 18 de fevereiro de 1894, com um par de bolas de capão e um livro de regras do association football, que conheceu por aquelas bandas frias, no colégio em que estudava.

Jovens associados da The Gaz Co., fornecedora de gás da capital, da São Paulo Railway Company [SPR], a empresa que administrava a linha férrea que ligava o planalto paulista ao litoral, e do London Bank, em sua maioria ingleses ou descendentes, organizaram um treino em 14 de abril de 1895 na Várzea do Gasômetro, na Chácara Dulley, situada entre os bairros da Luz e do Bom Retiro.

O jogo colocou frente a frente o time da SPR e o da The Gaz Co. A primeira peleja disputada no Brasil terminou 4 a 2 para a SPR, com dois gols de Charles Miller. O SPAC foi depois o primeiro tricampeão da Liga Paulista de Futebol, fundada em 19 de dezembro de 1901, vencendo os certames de 1902, 03 e 04. Charles Miller foi artilheiro em 1902, com 10 gols, e em 1904, com nove.


O alemão Hans Nobiling, que tinha uma enorme paixão pelo futebol, foi um grande incentivador do esporte bretão, ao lado de Charles Miller. Nobiling chegou de Hamburgo, no dia 13 de fevereiro de 1896. Trouxe na maleta uma bola e os estatutos da Deutschland S. V.. Em 1898, os estudantes do Mackenzie College fundaram a Associação Atlética Mackenzie College e, no ano seguinte, a colônia alemã, com Nobiling a frente, fundou o Germânia [atual E.C.Pinheiros]. Charles Miller e Oscar Cox, que havia voltado da Suíça para o Rio de Janeiro, organizaram os primeiros jogos entre Rio e São Paulo. Em 1º de agosto de 1901, no campo do Rio Cricket, brasileiros enfrentaram membros da colônia inglesa. Apenas 15 pessoas presenciaram a partida.

Cox passou a se corresponder com Renê Vanorden, do Internacional de São Paulo, Charles Miller e Antonio Casemiro da Costa, este fundador e primeiro presidente da Liga Paulista de Foot-Ball, no dia 14 de dezembro de 1901, na Rua São Bento, nº 3, sala 1, no centro paulistano. Cox queria agendar o primeiro jogo “pra valer” entre cariocas e paulistas, sem a escalação de ingleses. E o primeiro confronto aconteceu em 19 de outubro de 1901, no campo do São Paulo Athletic Club.


Para se ter ideia de como eram tratados os praticantes, quando a delegação carioca pediu um desconto, ou mesmo cortesia nas passagens de trem, ouviu que “A Estrada de Ferro não foi feita para passeios de malandros e desocupados”. Tanto o primeiro jogo quanto o segundo, no dia seguinte, terminaram empatados, em 1 a 1 e 2 a 2, respectivamente. Ao fim do segundo desafio, Cox e Miller discursaram no banquete oferecido pelos paulistas na Rotisserie Sport.

O Jornal do Brasil de 21 de outubro anunciava que “O match de foot-ball ficou empatado novamente, sem que nenhum dos lados fizesse ponto algum” e o jornal O Comercio, do dia 17, que “No sábado à tarde, 19, e no domingo de manhã, se realizarão dois matchs nesta cidade, entre rapazes dos clubes daqui e os do Rio, que para esse fim vieram a esta capital especialmente […] Esta é a primeira vez no Brasil que se joga um match deste interessante sport entre dois Estados, e se acrescentarmos que são brasileiros os rapazes que, na maior parte, vem do Rio disputar o campeonato Brasil-1901, há um justo motivo de nos regozijarmos, porque finalmente a nossa gente começa a se dedicar com afinco a estes utilíssimos exercícios, cujos benefícios para nossa futura geração, se hão de patentear na sua robusta physica, condição essencial em todos os ramos do labor humano. Aos nossos leitores, que aconselhamos não perderem um minuto deste interessante encontro, prometemos todos os pormenores que se possa guiar e conduzir nessa curiosa prova de foot Ball.”

Miller amava o futebol, mas era, antes de tudo, um exemplo de desportista. Na Inglaterra, jogou críquete, rúgbi, tênis e futebol. Foi fundador da Associação Paulista de Tênis. Quando abandonou a carreira futebolística, tornou-se árbitro e dirigente esportivo.


O inventor da “charles” ou “chaleira” , jogada em que o jogador passa bola por trás do pé, tocando-a de calcanhar, nasceu no dia 24 de novembro de 1874, no bairro paulistano do Brás, na rua Monsenhor Andrade. Nos dias que antecederam o jogo entre cariocas e paulistanos, em 1901, procurou insistentemente os jornais de São Paulo para que anunciassem o marco esportivo que aquela partida representaria para o País. Ouviu o seguinte dos redatores: “Não nos interessa semelhante assunto!”. À Gazeta Esportiva de 1944, ele comentou: “E hoje em dia como é diferente…”

Se há um “pai” da bola no futebol brasileiro, este é Charles Miller.

O pioneiro da bola no Brasil morreu em São Paulo, no dia 30 de junho de 1953.

FIQUE DE OLHOS BEM ABERTOS: SEU TIME PODE SER COMPRADO EM BREVE PELOS CHINESES. COMO SERIA PRA VOCÊ?

por Cesar Oliveira


Torcedores de Inter e Milan protestaram contra o horário do clássico

Torcedor troca de mulher, mas não troca de time. Hei de torcer até morrer. Você nunca caminhará sozinho. Até a pé nós iremos. Eu teria um desgosto profundo se… meu time fosse vendido, principalmente para um investidor estrangeiro, sem nenhuma relação com a história do futebol brasileiro.

Como se sabe, isso acaba de acontecer na Itália, com Internazionale e Milan, ambos da charmosa cidade de Milão, realizando o primeiro “clássico chinês” da história do futebol da Bota. A entrega é tanta que o “derby” da semana passada foi realizado em horário que se acomodava ao fuso horário. Meio-dia e meia na Itália, 19h30 na China, bem no horário nobre.

Depois de uma negociação arrastada e de atraso no pagamento das parcelas, o Milan do complicadíssimo Silvio Berlusconi foi oficialmente adquirido na quinta-feira, 13 de abril, pelos chineses. Compra sacramentada pelo grupo Rossoneri Sport Investment Lux, liderado pelos investidores chineses David Han Li e Yonghong Li (este, já proclamado o novo presidente do clube).

E, desde junho do ano passado, a Internazionale é comandada pelo Suning Commerce Group (dono da equipe do Jiangsu Suning e dos passes de Ramires, Alex Teixeira e Jô); o manda-chuva é o indonésio Erick Thohir, que também tem participação no clube.


Há tempos, os times ingleses vinham sondando o mercado oriental, trazendo jogadores de olhinhos puxados para seus times, e olho grande no gigantesco potencial do mercado chinês. Afinal, quem não quer uma torcida com algumas centenas de milhões de torcedores, vendendo camisas e mais camisas do outro lado do mundo?

Não sei o que pensam disso os torcedores dos clubes brasileiros, todos pendurados em dívidas monstruosas, impagáveis e, também, que não pretendem pagar?

Como você se sentiria?

O FUTEBOL COMEÇOU NA CHINA

Segundo registros milenares, por volta de 3000 a.C, militares chineses praticavam um treinamento chamado “tsu-chu”, que tem enormes similaridades com o nosso bom e (não tão velho) futebol. O velho e violento esporte bretão teria sido inspirado nessas práticas?

Conta-se que, durante a dinastia do imperador Huang-ti (conhecido como “o Imperador Amarelo”, que teria reinado entre 2697 a.C. e 2597 a.C.), após as guerras, equipes eram formadas para chutar a cabeça dos soldados inimigos.

Eram dois times de oito jogadores. E o objetivo era passar a cabeça, de pé em pé, sem deixar cair no chão, tentando fazê-la atravessar por dentro de duas estacas fincadas no campo (seriam os ancestrais das “balizas”?), ligadas por um fio de seda.

Com o tempo, as cabeças foram substituídas por esferas de couro, revestidas com cabelo (seriam escalpos?). Essa prática era chamada “tsu-chu”, que em chinês, significa “bola recheada” (tsu), “feita de couro” (chu).

AMARELO E INTELIGENTE

O Imperador Amarelo não era um qualquer. Tido como muito inteligente, é considerado como o ancestral de todos os chineses da principal etnia da China – a etnia Han. Ele introduziu o Calendário Chinês e importantes elementos da cultura chinesa, tais como o Taoísmo, a Astrologia, a Medicina Chinesa e o Feng Shui.

Veja mais sobre o “Tsu Chu” no YouTube:

FIFA RECONHECE ORIGENS

No dia 4 de fevereiro de 2004, a Fifa reconheceu que “os chineses, e não os ingleses, inventaram o futebol”. Segundo o então secretário-geral da entidade, o francês Jerome Champagne (dirigente da entidade entre 1999 e 2010), “os historiadores do futebol concluíram que uma forma rudimentar do esporte teria surgido na China. Os ingleses apenas criaram as regras que se tornaram a base do futebol moderno”.

Nem imagino o que pensam disso os velhinhos da Board…


O chamado “cuju” seria o primeiro embrião do futebol. E a cidade de Linzi, capital do antigo Reino Qi, o lugar original do futebol. Em Chinês Antigo, “cu” (sem gracinhas, por favor, isso aqui é História…) significa “dar pontapé”, e “ju” significa bola. É provável, por questões linguísticas que não nos é dado entender facilmente, eis que a Língua Chinesa tem milhares de meandros; então, quem sabe “tsu-chu” e “cuju” podem se referir ao mesmo jogo?

Historiadores asseguram que, por volta de 300 a.C., o “cuju” já era um jogo muito popular na cidade de Linzi, que atualmente integra a província de Shandong, no leste da China.

No século primeiro, na Dinastia Han, haveria sólidos regulamentos sobre o “cuju”. Até a Dinastia Tang, a técnica de produzir a bola foi sendo aprimorada. Usavam-se oito peles de vaca para formar a superfície; e, para encher a bola, bexigas de animais (ao invés de crinas de cavalo ou cabelos). Esta seria, então, a primeira vez que surgiu a bola com preenchimento de ar no mundo.

Na Dinastia Song, os bons jogadores de “cuju” eram respeitados e assediados por admiradores e até podiam alcançar uma alta posição social e política. Eram as celebridades do esporte, sem as facilidades de comunicação que temos hoje, em que qualquer zémané vira um sucesso de mídia.

O historiador Bai Yunxiang, da Academia da Ciência Social da China, afirma:

“Nossos ascendentes inventaram o ‘cuju’, uma antiga forma de futebol e elaboraram seus regulamentos, o que deu uma base para o desenvolvimento do futebol moderno. E esta é mais uma contribuição da China antiga para a civilização humana. Acredito que o esclarecimento da origem do futebol favorece o desenvolvimento deste esporte na China”.

A opinião de Bai Yunxiang conseguiu consenso junto aos responsáveis pelo esporte na China. Segundo Yuan Daren, diretor do Departamento do Estudo Histórico da Administração Estatal de Esportes da China, “a descoberta é um sucesso, e foi conseguido por parceria de especialistas de estudos históricos esportivos e da Arqueologia. Queremos aproveitar esta oportunidade para impulsionar o desenvolvimento do futebol da China”.

UM MARCO POLO ÀS AVESSAS


Rowan Simons

O inglês Rowan Simons, um lateral-esquerdo das peladas das tardes de domingo, veio ao Brasil, a passeio, bem na época da Copa de 1986 e andou pelo nosso País atrás de futebol.

Tal como aconteceu com os pioneiros do futebol no Brasil (Charles Miller, em SP; Thomas Donohoe, no Rio de Janeiro) – e seguindo orientação de amigos –, Simons trouxe várias bolas para o Brasil. Segundo seus amigos aconselharam “uma bola de futebol abre portas no Brasil”. Ele percebeu isso por ter conseguido contornar situações de ameaça com a proposta de uma “pelada”, simplesmente apresentando uma bola. O mesmo se deu na Argentina; imaginem, um inglês por lá, as feridas da Guerra das Malvinas ainda sangrando…

A experiência vivida aqui – que levou Simons desde a Transamazônica até o Cone Sul –, o incentivou a buscar novas experiências pelo mundo. Como seria na China? – imaginou. E se preparou para isso, estudando chinês intensivamente durante um ano, na Universidade de Leeds, quando voltou à Inglaterra.

Chegando à China, em 1987, e aproveitando a amizade de antigos colegas da universidade inglesa, procurou – mas não conseguiu –, encontrar um clube amador de futebol no qual pudesse jogar. E, pior, descobriu que todos os encontros que envolvessem dez ou mais pessoas tinham que ser submetidos à aprovação das autoridades governamentais. Mesmo com a falta de interesse dos chineses pelo jogo, Rowan conseguiu organizar pequenos campeonatos e atrair a atenção da nação para o futebol.

UM INGLÊS VIVENDO NA CHINA

Ele viveu na China por 20 anos e virou uma celebridade. Ensinou futebol como um esporte que, praticado de maneira amadora, traria benefícios sociais e de saúde. Não foi fácil, naquela época em que juntar pessoas, mesmo que para a prática esportiva, era visto com maus olhos.

Como parte do seu projeto, fundou o China Club Football FC, clube de futebol amador de estilo inglês para expatriados e, depois, principalmente moradores. Tem mais de quatro mil membros, tornando-se um dos maiores clubes de futebol amador em Pequim. Veja o site do clube: (http://www.clubfootball.com.cn/).

TRAVES DE BAMBU RESUME EXPERIÊNCIA


Como fruto dessa odisseia, Rowan Simons escreveu um livro: “Traves de Bambu (Bamboo Goalposts) – como a China aprendeu a amar o futebol”, tradução de Carlos e Anna Duarte para a Editora Record (2008). O subtítulo do livro, em inglês, explica melhor as intenções e objetivos do autor: “A busca de um homem para ensinar a República Popular da China a amar o futebol”.

A edição chinesa de “Traves de Bambu” foi publicada inicialmente como uma série do “Titan Weekly”, o maior jornal esportivo da China, em fevereiro de 2008, e depois editado lá pela SEEC, em março de 2008. O livro mereceu uma versão em francês: “Des Bambous dans la surface de réparation – l’historie vrai de l’Anglais qui a fait jouer au football um milliard de Chinois”, uma edição da Editions Intervalle (2012).

Na obra, autobiográfica, Rowan narra sua longa jornada, por mais de 20 anos, para ensinar os chineses a amar o futebol, inspirada na iniciativa individual dos pioneiros do futebol amador, que levaram o esporte aos confins do mundo no século passado. O desafio era contar a história do futebol num país sem chuteiras. E ele o fez de modo bem-humorado. A narrativa é divertidíssima e cheia de informações interessantes sobre o país.

Fluente na língua, durante muitos anos Rowan tentou explicar na televisão chinesa, como apresentador, o que o futebol significava. Virou celebridade e referência da garotada que queria começar a jogar bola.

“Traves de Bambu” é a descrição de uma odisséia pessoal inspirada pelos pioneiros altruístas do futebol amador, que levaram o futebol pelo mundo nos séculos passados, mas, por algum motivo, esqueceu a China.

UMA CELEBRIDADE NA CHINA


Simons vive na China, é apresentador na Beijing TV, tem sua própria empresa de mídia – The Susijn Agency – e dirige o “Guinness World Records” na China. Mas é mais conhecido por sua carreira como comentarista de futebol na TV de Pequim e como defensor da reforma do futebol.

Ele concedeu uma esclarecedora entrevista à jornalista Liu Zheng, do South China Morning Post, falando da sua extraordinária de ensinar Inglês nas escolas durante a prática do futebol.

ENTREVISTA

Como você se interessou pelo futebol?

Minha família é fã de esportes. Meu pai ama o rúgbi, minha mãe era membro de um clube de tênis. Ainda joga competições aos setenta anos de idade. Eu era o capitão da equipe da minha escola e capitão da equipe do meu clube de 10 a 13 anos, na cidade de Guildford, em Surrey, ao sul de Londres. O meu primeiro clube foi o Ockham FC. Mas nunca joguei futebol profissionalmente.

Como começou sua aventura na China?

Eu vim para a China em 1987, como estudante. Estudei Chinês na Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim. Gostei muito do meu tempo e antevi uma enorme oportunidade para desenvolver minhas coisas na China.

Naquela época, nada acontecera na sociedade de consumo. Qualquer coisa que eu fazia impressionava o povo chinês, qualificadas como “idéias incríveis”. Mas era apenas porque eu vim de um país mais avançado no esporte.

Consegui um emprego na TV Central da China e decidi ficar. Trabalhei originalmente como professor de Inglês para os locutores do canal. Mais tarde, nos anos 1990, virei comentarista de futebol na televisão de Pequim.

Um inglês comentando sobre o futebol chinês?

Sim, para a Premier League e da FA Cup. Era comentarista convidado. O programa tinha dois anfitriões e um comentarista convidado chinês também. Eu comentava a partir de uma perspectiva de fãs de futebol Inglês sobre a história dos clubes, as rivalidades entre as equipes, os contextos culturais e um pouco de humor.

Na TV britânica, você não precisaria disso, porque todo mundo já sabe que o Manchester United foi fundado por trabalhadores de ferrovias, mas o público chinês precisa desse tipo de experiência.

Foi muito difícil no começo porque a linguagem era lenta para traduzir. Mas depois foi divertido.

Como foi fundado o seu clube de futebol?

Adoro futebol e queria jogar futebol. Mas descobri que não havia futebol na China. Não havia clubes, ligas locais, equipes amadoras, futebol nas escolas. Não encontrei qualquer dessas coisas que são normais na Inglaterra.

Nos anos 1980, o futebol inglês já era muito conhecido em Pequim e as grandes cidades; e o futebol europeu era muito popular na TV. Mas ninguém jogava futebol. Apenas assistiam, como um entretenimento na TV. Era muito estranho para mim.

Então, eu tentei organizar uma equipe para estrangeiros, para começar a jogar. primeiro, como amador. Houve um rápido crescimento de negócios e o patrocínio de futebol no país – mas os habitantes locais ainda não jogavam.

Então, finalmente, em 1997, decidi que o futebol de base poderia ser um bom negócio; e que o futebol poderia ser um negócio na China, como em toda parte do mundo.

Por que é diferente administrar um clube de futebol na China?

Foi muito difícil fazer acontecer porque, naquela época, o esporte era uma atividade controlada pelo governo. Todas as associações são órgãos governamentais.

Demorou muito tempo para obter permissão. Passamos quase um ano tentando explicar que não queríamos nos tornar um clube de futebol profissional, como o Beijing Guoan, e que nós só queríamos organizar o futebol amador, o futebol de base. Essa era uma ideia muito diferente para eles.

Obtivemos nossa licença em 2001 e começamos o negócio de futebol de base. Não houve financiamento externo. Foi autofinanciamento. Mas nós ficaríamos gratos por algum apoio de patrocínio.

Como você transformou um clube do passatempo de expatriados em um negócio comercial?

Foi possível fazer quando obtivemos nossa licença em 2001. Já estávamos contratando árbitros, jogando uma liga de forma livre. Assim que formamos a empresa, tudo isso mudou. O futebol infantil começou em 2004.

O pensamento por trás disso é simples. Ao olhar para os investimentos dos estrangeiros no nosso clube, vimos muitos professores de Inglês, que alguns deles também tinham qualificação para serem treinadores de futebol.

Aí, pensei: e se nós trouxermos o ensino de Inglês junto com a prática e ensino de futebol? Aprender inglês enquanto joga futebol poderia ser uma boa idéia. Pedimos a essas pessoas para trabalharem conosco e ensinar Inglês através do futebol. Foi assim que começou.

Aprender Inglês jogando futebol motivava os pais da classe média chinesa?

Sim, nosso primeiro cliente foi a Escola Internacional de Pequim. Fornecemos classes de futebol de alto padrão para seus alunos. Então, começamos a construir alianças com outras escolas internacionais, que ficaram felizes em trabalhar conosco. Daí, começamos a ir às escolas chinesas, que era mais complicado.

Conseguimos finalmente atingir a nova geração de pais chineses, que são bem educados, que desejam mais para o seu filho, querendo que seus filhos sejam felizes e tenham uma educação equilibrada.

Aprender inglês enquanto jogava futebol era um ponto de venda muito importante para convencer as mães a deixarem os filhos ir jogar.

As pessoas gostam da nossa equipe. São quatorze treinadores europeus qualificados. No começo, só tínhamos crianças estrangeiras. Agora, 70% das crianças são chineses.

Qual foi o maior desafio?

Desde nosso primeiro ano, em 2001, levamos doze anos até atingir o equilibro financeiro. Doze anos de lutas muito grandes. Sem a paixão muito profunda das pessoas envolvidas, não teria sido possível.

O ano de 2008 foi o pior ano para o nosso negócio em nossa história por causa dos Jogos Olímpicos, que quase matou esportes de base em Pequim.

Durante todo o verão, houve proibição de atividades por conta dos Jogos Olímpicos. Todas as nossas atividades foram proibidas durante todo o verão olímpico. Foi um desastre. Muitos pequenos clubes esportivos não sobreviveram. Conseguimos sobreviver, porque já estávamos com certo porte; então, tivemos algum impulso. E focamos nosso negócio no período da primavera e do outono. Mas foi muito difícil.

As autoridades chinesas do futebol o consideravam como um desafio ao sistema?

Não temos problema com o Governo. Eles não nos criam qualquer problema, nem interferem com o que fazemos, o que é bastante incrível para mim. Mas também mostram o quão longe o Governo estava de até mesmo entender o que o futebol deve ser, e que eles realmente não precisavam se preocupar com o que estávamos fazendo.

Sou o presidente do maior clube de futebol de Pequim. Temos jogadores jogando todos os fins de semana em Pequim, em 30 locais, por toda a cidade. Mas eu não tenho participação na Associação de Futebol de Pequim, e eu não vejo como contribuir com a AFP em nossa cidade.

Isso é pelo fato de você ser estrangeiro?

Historicamente, a AFP era uma organização governamental, então não havia espaço para um estranho, seja você estrangeiro ou chinês.

Agora, o Conselho de Estado emitiu o Plano de Reforma do Desporto. Foi um dia muito, muito feliz para mim.

Diz muito claramente que a FPA tem que mudar e se abrir. Que o Governo deve se retirar do controle, e a FAP deve ser dirigida pelas partes interessadas de futebol, especialistas e, muito especificamente, fala de “especialistas internacionais”.

O plano foi publicado em 2014, há dois anos. A mudança realmente está acontecendo?

Não vi nenhuma mudança prática. O plano de reforma é um plano maravilhoso, um plano de longo prazo que a China precisa. O presidente Xi Jinping colocou a reforma da FPA no topo de sua agenda, mas também é a coisa mais difícil.

O que foi parar a reforma? Por que a reforma é tão difícil?

Quando eu vi o discurso do presidente sobre a reforma do futebol, achei que ele estava perguntando à China uma questão muito maior; se a China, como uma grande sociedade, poderia realmente organizar corretamente algo tão simples quanto o futebol. Se não conseguimos organizar o futebol adequadamente, como podemos pensar sobre a nossa sociedade civil?

O grande problema na China que os esportes abordam, diretamente, é a corrupção. O jogo justo é o cerne dos esportes. É o problema da China?

São princípios e moral, como o respeito mútuo, o respeito pela verdade, o respeito pelo fair-play, o respeito pela meritocracia. Estas são as coisas que está faltando na China e que os esportes poderiam trazer.

O que mais na sociedade ou cultura chinesa você considera relevante para o desenvolvimento do futebol?

Vejo surgir uma classe média ávida pelo tipo de experiência e qualidade de vida que vem nos clubes, nos grupos sociais e nas sociedades. Essa é também a base do futebol de base.

Pode o seu modelo de clube ser copiado para grandes cidades como Xangai, onde a classe média se desenvolveu? Você já tem esse plano?

Sim. Cada cidade deve ter sua rede. Mas a capacidade de treinar é um grande problema.

Começaremos a nos mudar para cidades diferentes. Mas a verdade é que, depois de todo esse tempo, o mercado de Pequim ainda tem muito espaço para o crescimento. Há um longo caminho a percorrer.

Quando você se considerará bem sucedido com seu clube de futebol da China?

Um termo recentemente popular é “empreendimento social”. Nós precisamos nos encaixar neste segmento.

Gostaríamos de ganhar dinheiro e merecemos, e é possível porque pode ser em qualquer mercado desenvolvido com uma classe média que busca qualidade de vida e paga por experiências de qualidade. Mas também produzimos impacto na sociedade. Estamos construindo comunidades e amizades.

Outra coisa que vi na China foi a estratificação da sociedade, pouca mobilidade entre os níveis sociais. É possível para o motorista do táxi se encontrar com o CEO de uma grande corporação na sociedade chinesa? Achamos que o esporte oferece um campo justo e equitativo.

O produto secundário do nosso plano é ter muitas crianças felizes. Não sei se vai sair daqui um jogador para a seleção nacional da China; mas este não é o nosso objetivo. Mas se você quer uma equipe nacional e usar o atual sistema soviético, meu caminho vai funcionar mais rápido.

SAMBA FUTEBOL CLUBE

por Felipe Corvino


Como versa Dorival Caymmi em ‘Samba da Minha Terra‘: “Quem não gosta de samba, bom sujeito não é, ou é ruim da cabeça ou é doente do pé”. Não há como negar os versos do bom baiano, mas e quando a gente faz um samba do criolo doido misturando samba e futebol?

Aí não tem jeito, é gol de placa, de bicicleta, eternizada pelo diamante negro Leônidas da Silva. Nada mais justo que em pleno carnaval, o ritmo mais brasileiro de todos faça uma dupla infernal com o mais malemolente dos esportes, a nossa pelada. Futebol é nos outros países, aqui se chama futebol brasileiro, terreiro de inúmeros bambas da bola e do riscado.

Em época em que o carnaval virou negócio com direito a subcelebridades ganhando holofotes, camarotes VIP, monopólio da plim plim e o escambau, a festa do povo deixou de ter ares de manifestação cultural e de identificação da gente miúda  com seu chão, ao menos em parte. Assim como vem acontecendo com o futebol, nossa religião politeísta, composta por deuses a perder a conta e a vista como Domingos da Guia, Evaristo de Macedo, Ademir Queixada e da Guia, Pelé e Garrincha, Nilton Santos e Heleno, Dinamite e Zico, Sócrates eFalcão, Edmundo e Gérson. Enfim, uma série de artistas circenses que faziam da pelota arte e musica, quadros mais belos e mais indecifráveis que a Monalisa de Da Vinci, merecedores de frequentar o Louvre.

E como o papo aqui é bola e samba, carnaval e festa, como não lembrar de episódios escalafobéticos envolvendo nossos boleiros com samba e bola nos pés?

Quem não recorda da história do baixinho Romário metendo uma péia no Real Madrid em 93 e pedindo pra ser substituído as 20 do segundo tempo pra ir pro carnaval do Rio? Ou do Edmundo e a famosa foto dele dando uma “biritis” a um macaco? Ou das histórias sobre o bailes de vermelho e preto da turma do Flamengo? Pois é, samba e futebol andam interligados desde que o samba é samba e que nosso pincel é a bola.

Pra dar liga ao time dos versos e prosa, do passe (passe sim, assistência é coisa de espectador, não de boleiro) e gol, vamos azeitar nosso meio campo pra armar a jogada pro 9 de oficio (no caso do baixinho Romário a eterna 11) fazer o êxtase da moçada metendo aquele golaço épico com sambasque fazem uma tabelinha digna de Pelé e Garrincha, deRomário e Bebeto em homenagem a época de carnaval. Como diria o Simas, a festa existe e se faz necessária pra aguentar a dureza da labuta e da viração do dia a dia. E nada melhor do que unir futebol e samba pra fazer um pagode de mesa digno dos batuques dos bambas.

Não dá pra começar a falar do riscado nessas mal traçadas sem falar do mestre Pixinguinha. Vascaíno de alma e talento incomparáveis, em 1919 compôs ‘1 x 0‘ em alusão a partida final entre Brasil e Uruguai no Sul Americano daquele ano. O choro remonta o ritmo da partida, que dizem estudiosos foi frenético, alucinante. O ritmo da peleja é musicada pelo mestre Pixinga em parceria com Benedito Lacerda e o título é em homenagem ao resultado final do certame: 1 a 0 pro Brasil gol de Friedenreich, aos 3 minutos da prorrogação.

Já que começamos com um vascaíno de corpo e alma, vamos ao maior rival do Gingante da Colina com o grandioso sambista e flamenguista doentio Wilson Batista. O Campista Wilson Batista, mudou-se para o Rio de Janeiro nos anos 20 com sua família e assim sua paixão pelo rubro negro atingiu níveis inimagináveis, acompanhando treinos e jogos de montão. Respirar o futebol o fez retratar a peleja em inúmeras composições suas como ‘Samba Rubro Negro‘, regravado posteriormente pelo ilustríssimo João Nogueira, e ‘O Juiz Apitou‘. Canção essa que retrata o desgosto sofrido devido a uma derrota para o Botafogo. Wilson também faz, em uma das suas letras, uma homenagem ao Vasco da Gama com a musica ‘No Boteco do José‘, interpretada por Linda Batista.

Fazendo uma tabelinha, a pelota é passada de Wilson para Moreira. Moreira da Silva, o Kid Morengueira, assim como Ary Barroso, flamenguista fervoroso. Moreira com toda sua irreverência e ar de malandro, lançou em 1968 um samba de breque que entorta qualquer beque inglês. Nesse caso, dá um drible daqueles no James Bond, o famoso 007, e de praxe ainda deixou o “Divino Crioulo” de beiços secos ao roubar-lhe a Claudia Cardinale, musa de filmes de Fellini e Sergio Leone. O samba ‘Morengueira Contra 007‘ é de um tremendo bom humor e trata do agente secreto Kid Morengueira salvando a pele do Pelé. Quando o agente da coroa britânica o vê cheio de  intimidades com a musa italiana, Moreira dá um tabefe no “zero sete” e de quebra rouba-lhe a dama. Claudia confessa que só foi a Santos com o agente secreto pra sequestrar o 10 da seleção, mas com a intervenção do malandro Moreira, cai de amores pelo sambista tupiniquim. É ou não é a cara do Brasil? Como canta Moreira no breque do samba: “ O temperamento latino é fooooooogo!”

Botando a gorduchinha pra rodar o meio campo, passando de pé em pé, pra desnortear o adversário, do volante armador ao meia direita, chegamos ao camisa 10, aquele clássico, que nós como poucos produzimos aos montes. Mas nenhum como Chico Buarque, tricolor de peito aberto, de olhos cativantes e musicas primorosas. Chico, além de saber como poucos comover nossa alma romântica e amante, ama e serve o futebol. De suas letras formidáveis, tira da cartola tricolor como o gênio Cartola, um lance daqueles de fazer o marcador cair de bunda no chão. Mesmo quando o carrapato na marcação é um compadre de longa data como o rubro negro Cyro Monteiro. Em 1969, quando nasceu Silvia Buarque, primeira filha de Chico e Marieta Severo, Cyro Monteiro presenteou a petiz com uma camisa do Flamengo. Pronto, foi a senha pra que Chico versasse sobre o mimo do compadre e compusesse ‘Receita Pra Virar Casaca de Neném‘  A feita é uma resposta bem humoradíssima ao presente do amigo, e que conta como de um presente de grego rubro negro nascia uma tricolor com ardor como o pai, na época um sofredor torcedor do Fluminense.

Do camisa 10 tricolor pra Santos, a bola chega macia e com graça pra Luiz Américo fazer o domínio com seu clássico ‘Camisa 10‘. Santista que é, ficou órfão do 10 da Vila quando, assim como todos os amantes do esporte bretão, resolveu se aposentar da Seleção após a copa de 70. Apesar de Rivelino envergar a 10 do escrete canarinho, a coisa não ia lá muito bem e de forma satírica fez um samba caprichado e cheio de ironias pra criticar o time comandado pelo velho lobo Zagallo.

Num lançamento daqueles que o Gérson sabe fazer como poucos, a pelota chega na ponta esquerda e o Trio Gato Com Fome amacia a redonda no peito, acaricia ela com os pés e dá início a uma jogadaça com a musica ‘Derby‘ que retrata um clássico pelas bandas paulistas e que além de tudo, é uma final de campeonato. Coisa de craque! O único porém é que a pequena Helena, personagem do babado, na hora do replay do gol muda de canal. Aí não, Helena. É caso de polícia senhores, como é possível, na hora do replay do gol de empate aos 45 minutos e ainda por cima de bicicleta a presidente mudar o canal?!

Definitivamente, mulher pode tudo e mais um pouco, afinal são elas a razão da nossa existência. Bem, elas e o futebol. Se mexer com o futebol a casa cai e o siricotico tá armado. Olha o bafafá muito bem versado pela moçada:

Fui educado, fui comportado, fui delicado
Sofisticado como ela pediu
Dei boa noite, eu pedi licença
Eu sorri e agradeci
Tudo bem até ai

Peguei Helena, minha pequena, fui ao cinema
E a Vila Madalena pra curtir
Foi olho só pra ela
E nem pela janela, eu me distrai
Até a mim me surpreendi

E a nossa relação teve canção
E a única solicitação do pobrezinho aqui
Que respeitasse o meu domingo
E me deixasse o jogo assistir
Que o casamento ia sair

Mas foi num derby que meu time perde
Aos 45, uma jogada que saiu o gol
Num lance plástico, no fim do clássico
Meu time empatou e no replay ela mudou

Por falar em derby, vamos pra um clássico gigante e uma tabela de gênios, o corintiano Toquinho e o são paulino Carlinhos Vergueiro com ‘Camisa Molhada‘, primeira música de Vergueiro que trata do tema, e seus versos contém todos os ingredientes fundamentais de uma peleja: raça, árbitro vacilão, botecos, disputa acirrada, fé, rivalidade e bola na rede. Um golaço de placa da dupla. Vergueiro por sinal não fica só nesses versos sobre o riscado do campo. Tem um disco inteiro dedicado a arte suprema dos gramados com ‘Contra Ataque, Samba e Futebol’, que homenageia o gigante baixinho Romário, o galinho Zico e o craque são paulino Raí.

Depois de tantos passes primorosos, lançamentos escandalosamente perfeitos, matadas no peito e dribles infames chegamos a nossa dupla de ataque, e a bola é passada de Carlinhos Vergueiro para um dos mais fanáticos e ilustres torcedores do America (RJ), ninguém menos do que o mestre Monarco, que versa na música ‘America do Saudoso Lamartine‘, sobre o time Rubro e suas glórias e jogadores históricos que passaram por Campos Sales como Danilo, Saci de Irajá e de Carola, além de outro torcedor histórico do “diabo”, Lamartine Babo, o Lalá. Canta o saudoso tico tico no fubá, ataque formado por China, Maneco, César, Lima e Jorginho, que segundo outro ilustre americano, José Trajano, era um ataque mais poderoso que o do Real Madrid de Puskas e Di Stéfano. Esse gol nem o “Divino Crioulo” guardou.

Compondo nossa dupla de ataque, malandra e matreira, fechamos a jogada feita por uma equipe de astros com o mais escorregadio atacante: Dicró. Se Monarco é a elegância e o cérebro do ataque com a poesia perfeita do seu coração rubro cor de sangue, Dicró é o improviso definitivo, a malandragem na sua essência. O vascaíno Dicró com toda sua manha deixa pra trás uma lista infinita de craques, como bem versa no seu samba ‘O Bom de Bola‘, não tem pra Pelé nem Zico, Cruijffe Beckenbauer, Rivellino e Gersón, nem pro seu xará Carlos Roberto de Oliveira, o Roberto Dinamite, ali quem manja do riscado é ele. E com toda essa malemolência carioca e vascaína, guarda o gol mais bonito feito pelas bandas de cá. O gol definitivo do samba e futebol.

Bola passada de pé em pé, com classe, astúcia e inteligência, com gana e raça, do beque central ao ponta esquerda, passando pelo 10, como deveria ser sempre até chegar a dupla de ataque mortal e mortífera. Dicró sacramenta o gol sagrado das pelejas sambadas e dos golaços da pena.