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Flamengo

SONHOS DE UM COADJUVANTE

por Zé Roberto Padilha


Zé Roberto Padilha

Dizem que o novo assusta. Imaginem um novo com doses de genialidade, como o elástico de Roberto Rivellino, os dribles de Mané Garrincha, a bicicleta de Leônidas da Silva. Quantos, então, não se assustaram com o corta luz de Pelé sobre o goleiro uruguaio Mazurkiewicz na Copa do Mundo de 1970, no México? Se o estádio se calou e televisões assombraram torcedores pelo mundo, calculem a emoção dos que vestiam a mesma camisa amarela, como, Tostão e Jairzinho, e presenciaram toda a obra de arte ao seu lado?

Nós, ex-jogadores de futebol, privilegiados coadjuvantes das raras genialidades que por nossos gramados reinaram em décadas passadas, cuja ultima espécime a lhes dar vida foi o Neymar, às vezes acordamos no meio da noite de um sonho vivido. Teria acontecido mesmo aquele lance de verdade? Após conferir a jogada na lembrança, em meio a breve e escura vigília, e voltar a dormir, prometemos contar no dia seguinte para todo mundo. Não seria justo guardar as pérolas que assistimos de camarote, na Sala VIP do futebol, a centímetros da ponta das nossas chuteiras. Esta passagem me fez despertar no domingo, e buscar uma folha de papel, uma caneta, antes que a memória desperte cada vez mais preguiçosa.

Era meu primeiro treino no Flamengo, em Miguel Pereira, onde o clube fazia sua pré-temporada. Quando descia pela esquerda no coletivo sob o comando de Carlos Froner, via todo meu time me olhando, esperando lhes conceder o objeto de desejo, que estava ali rolando aos meus pés. Menos o Zico. Mesmo livre, às vezes, não me olhava. E eu tinha a bola. Estaria olhando pra quem? Não queria me dar moral por ter sido trocado pelo Doval? Daí eu a atrasava para o Júnior, procurava o Geraldo para a tabela ou cruzava na área para o Luisinho. Ao final do primeiro tempo Júnior se aproximou de mim. E perguntou:


Zé Roberto Padilha vestiu a camisa 11 no Flamengo

– Está com raiva das gratificações? Tá rico, não precisa do bicho? Notei que você não meteu uma só bola para o Galo!

Retruquei:

– Mas ele sempre olhava para o outro lado, como lhe passaria a bola?


Aí o capacete, que há mais tempo convivia com nosso camisa 10, explicou que ao pressentir que receberia um passe, Zico abria seu olhar giroscópio em busca de um repertório maior, para dar seqüência imediata às jogadas. Quando tinha certeza de que, livre, seria acionado, segundos antes já abria o GPS a notar se o Toninho passava apoiando a sua direita, o Tadeu estaria ao seu lado para cadenciar a jogada, Rondinelli, o Deus da Raça, livre mais atrás para reorganizar a saída de bola. Isto quando não partia em direção ao gol ao perceber a zaga adversária desarrumada. Como anteveria tantas opções olhando para quem, como eu, queria lhe passar a bola?

Depois da lição, lembrei da frase sábia de Neném Prancha: “O bom jogador vê, o craque antevê”. No segundo tempo do treino, mesmo diante do novo, do inusitado, tratei de acioná-lo imediatamente. Aliás, jogando no Flamengo consegui comprar o único apartamento de toda a minha carreira. Se não fosse o conselho do Júnior, e o destino glorioso que o Zico concedeu às jogadas que iniciamos, estaria vivendo de aluguel até hoje!

O SILÊNCIO DOS INOCENTES

por Zé Roberto Padilha


Zé Roberto Padilha

Certa tarde, acompanhando o América FC, de Três Rios, na terceira divisão, notei que um amigo meu, professor de educação física, entrara em campo em Mesquita para apitar a partida inaugural do estadual de 2012.

– Até que enfim renovaram a arbitragem da FERJ! Este juiz eu conheço de perto – com esta frase carregada de certezas, tranquilizei os ocupantes da van ao meu lado que se acomodavam junto ao alambrado.

Aí o atacante da casa simulou um pênalti e ele mandou colocar a bola no cal. Foi uma indecência. Completamente sem graça, ouvi quietinho todas as gozações na viagem de volta.

– Imagine se você não conhecesse aquele ladrão, o que faria com a gente!

No segundo turno teve o jogo da volta e ele, novamente escalado, marcou um outro pênalti, também inexistente, desta vez a nosso favor no Estádio Odair Gama. Nem precisava, jogávamos melhor. Após a partida ele nos confessou os temores desta nova profissão:


Wagner do Nascimento Magalhães apitou a decisão do Carioca

– Sem segurança nenhuma, o máximo que mandam a nos proteger são guardas municipais.

Com a van com a logo da FERJ parada perto das arquibancadas em um estacionamento aberto, torcedores colados ao alambrado, na dúvida, você escolhe: ou sai daquela cidade mandante debaixo de garrafadas, ou administra o resultado. Invertendo laterais a irritar a equipe visitante. Distribuindo cartões amarelos de cara para toda a sua zaga e inibindo a marcação. Na dúvida, expulsa um deles. E guarda a marca do pênalti como ultima instância.

– É o nosso instinto de sobrevivência! – revelou.


“Vai longe este menino”, pensei. O problema é que o instinto incorpora, dá origem a arbitragem caseira e vira regra carreira afora. Que sonha sair seguro de campo mesmo na neutralidade de um Maracanã. E quando entram em campo já consagrados e percebem ao redor que existe um gigante do tamanho do Flamengo do outro lado, e a barulheira é tamanha que na dividida e na dúvida… reza a cartilha do instinto de sobrevivência ser melhor não enxergar uma carga do Rever. Tão comum aquele empurra-empurra, quem há de notar? A não ser que alguém reclame. E ninguém com a camisa tricolor se prestou a reclamar da arbitragem naquele decisivo momento.

O que nos assombrou, como tricolores, foi o silencio do Henrique. Desabou como uma criança abandonada e levantou como uma desamparada, daquelas que apanham e se calam por não conhecer os seus direitos. Já peço desculpas antecipadas aos meus leitores tricolores, mas pela vez primeira queria o Rodrigo, do Vasco, atuando em nossa zaga. Pelo menos naquela jogada.


Primeiro, não desabaria daquele jeito por sua complexão física. Segundo, levantaria com o dedo no nariz do árbitro, a confusão seria formada, Abel invadiria o campo, os bandeirinhas seriam consultados e….poderia até não dar em nada. Mas aquele silêncio dos inocentes, partido de um jogador experiente, foi tão nefasto quanto a porção de margarida untada nos braços do Diego Cavalieri. E que a canhota do Guerrero, que não tem nada com esta lambança, apareceu na história para enfiar a bola para dentro do gol e decretar a nossa derrota.

NÃO SE FAZ MAIS FLA-FLU COMO ANTIGAMENTE

por Marcos Vinicius Cabral


Marcos Vinícius

Houve um tempo em que o futebol era romântico e o Fla-Flu era um ai, Jesus.

Não havia cifras exorbitantes, seja nos salários ou nos direitos de imagens dos atletas.

É bem verdade que o futebol se modernizou, basta olhar os estádios que se transformaram em arenas, com gastos surreais, como o Maracanã, que custou aos cofres públicos aproximadamente um bilhão de reais.

Portanto, não seria de se estranhar que alguns entendidos no assunto, chamem os jogadores de guerreiros, gladiadores, soldados… e outras bobagens do tipo.

A coisa se profissionalizou de tal forma que os times entram juntos e lado a lado, tornando-se cada vez mais comum o esfriamento por parte do torcedor.

Não tem mais aquela ovação de ver das arquibancadas o momento mais emocionante (depois do gol, é lógico) de uma partida de futebol: a vez do seu time adentrar o gramado.


Do lado da “tricolada”, o tradicional pó de arroz, marca que caiu no ostracismo assim como o urubu, que era solto no gramado pela “mulambada”.

E um adendo: como era bonito ver os jogadores tricolores entrando no piso verde, tremulando a bandeira gigantesca do Fluminense em ritmo voraz e movimento uníssono.

Como era bonito de ver os rolos de papel higiênico sendo atirados na entrada dos jogadores rubro-negros e as fumaças em vermelho e preto.

Por horas, penso cá com meus botões, que saudades eu tenho do velho “Maraca” e de suas gerais, que eram um atrativo à parte no estádio.

Às vezes (para não dizer sempre e poder corroborar com o ilustre jornalista tricolor Nelson Rodrigues, de que toda unanimidade é burra), meus olhos sangram diante de tal cenário devastador a qual nos encontramos.


O futebol perdeu a sua essência e, com isso, não move com a mesma intensidade essa paixão enraizada dentro de cada um de nós: a paixão de ir ao estádio e torcer pelo seu clube.

É triste mas é a mais pura e profunda realidade.

Quisera eu poder voltar no tempo e colocar tudo no seu devido lugar, de onde nada deveria ter saído.

A começar por essas invenções mal sucedidas de dar números a certos jogadores, como 19, 27, 35, 48… enfim, como são utilizados no basquete.

Os uniformes, cada vez mais sofisticados, absorvem melhor o suor e fazem que o atleta tenha um desempenho satisfatório.

Já os materiais de antigamente, pesado com cada chuva recebida, com o suor mal absorvido e mal costurados, refletem bem tamanha discrepância.

As chuteiras, entorpecidas como o peso de uma pena e multicoloridas como arco —íris no céu cinza após uma chuva, não refletem com o século passado, em que os calos eram minimizados por camadas de ataduras.


A bola, intrinsecamente objeto de desejo (os goleiros querem agarrá-la, os jogadores habilidosos tratam com carinho e os artilheiros colocam ela para descansar nas redes macias do gol adversário), bem revestida e com uma aparência aprazível, não lembra em nada aquela coisa pesada, oca e sem vida.

Os atletas, cada vez mais vaidosos, incrementam cortes de cabelo à la Léo Moura, que fazem mais sucesso do que seu futebol praticado dentro das quatro linhas e com as moças de família.

Ainda há em mim, resquícios da década de 80, quando idas ao velho Maracanã eram tão comuns para um garoto de 10, 11, 12 anos.

E olha que essas idas sempre eram com amigos mais velhos, tricolores, e compelido estava eu, na torcida do Fluminense em algumas ocasiões, para não dizer quase sempre.

Eles (meus amigos de infância), bem que tentaram, mas não conseguiram me transformar em um torcedor do Clube das Laranjeiras.

Se hoje sou rubro-negro, o culpado é meu avô materno José Diniz Cabral, que me ensinou a amar este clube de 122 anos, em uma época que ouvir Valdir Amaral ou Jorge Cury, recompensava a falta de TV.

Com tanta dificuldade e tendo apenas o rádio como único meio de comunicação, éramos brindados com os artistas que faziam do Fla-Flu, um espetáculo.


No gol, tanto Paulo Victor quanto Raul, transmitiam segurança para os torcedores e dificultavam a vida dos atacantes.

Já nas laterais, o Fluminense estava bem servido com Aldo na direita e Branco na esquerda, e o Flamengo com os monstros Leandro e Júnior, titulares daquela seleção fantástica de 82.

Na zaga, Duílio e Ricardo Gomes se completavam assim como Marinho e Mozer se entendiam.

No meio-campo (considerado o setor de criação do time), Andrade, Adílio e Zico foram foras de série, enquanto dava gosto ver Jandir, Delei e Assis, no fino trato à bola.


No ataque, se o tricolor dispunha do poder ofensivo de Romerito, Washington e Tato, o Flamengo vinha com o arsenal de Tita, Nunes e Lico.

Então, era futebol gostoso de se assistir e imagino eu, de se jogar.

Portanto, nos dias atuais, o Fla-Flu se torna um jogo tão simplista que não me surpreenderia com qualquer resultado.

Razoável jogo, pois desejar bom jogo com os atuais jogadores, é pedir demais.

MELHORES MOMENTOS

por José Dias


No dia 5 de janeiro de 1972, quando adentrei no vestiário do Flamengo, na Gávea, tremendo mais que vara verde, senti que começava o jogo mais importante da minha vida e que duraria, com os acréscimos, cerca de 40 anos.

Aristobolo Mesquita, um misto de Supervisor/Dono do Clube, avisou ao roupeiro FERRUGEM – dê material para o Prof. José Dias -, nosso novo Preparador Físico.

Deve ter pensado::

– Pô, mais um para encher o saco.

Tirou, não sei de onde, um calção e uma camisa, usados, com o nome do antigo Professor – SALDANHA -, que por sinal era um perfeito armário, de tão grande e forte que era. Agora imaginem – eu, grande e parecido com um poste, de tão fino que era, dentro daquele uniforme. Vida que segue.


DOVAL, por sinal um grande “sacana”, passou os dois anos em que convivemos juntos, me chamando de Saldanha, mesmo já sabendo meu nome.

O que fazer com um jogador que, em campo, corria mais do que o LULA do Juiz SERGIO MORO, e fazia gols em pencas, apesar de que nas corridas que fazíamos na Vista Chinesa toda semana – naquela época, só jogávamos aos domingos -, pegava carona com um amigo ou uma namorada e pouco antes da linha de chegada, desembarcava e passava bufando por mim, que de cronômetro na mão cantava:

– Boa, Doval! 30 minutos e 12 segundos, tá melhorando seu tempo – como eu era BABACA e não sabia!

Ainda do “gringo” tenho mais histórias. Amistoso numa capital do Nordeste e, após o jogo, os jogadores foram liberados. Lá pelas tantas, na hora marcada para o regresso, em frente ao hotel, estaciona um conversível importado, com uma reluzente motorista (diziam que era Miss do Estado) para devolver a “mercadoria” já devidamente provada, porém, intacta.

Não tivesse sido o gringo batizado com o nome de NARCISO, filho de um Deus, não sei de onde – deve ser lá dos “pampas”.

GERALDO! Que número você calça? É para pedir um par de tênis! Perguntava o roupeiro Ferrugem.

Respondia ele:

– De 37 até 44 tá bom. É de grátis!

Estávamos em Feira de Santana, interior da Bahia e íamos participar de um amistoso – como o Flamengo faturava nos amistosos no interior do País -, quando, do seu “bangalô, porta a fora, Ferrugem, branco feito uma cera, assustado e aos berros. Motivo? Como fazia um calor “baiano”, dos ralos do pátio, surgiam inúmeros sapos, mas não eram sapos comuns, iguais àqueles que conhecemos. Eram verdadeiros monstros, enormes. E, junto com os demais “sacanas” que eram os jogadores, Doval devia estar no meio, esconderam um deles na cama do Ferrugem. Perceberam o porquê da correria do roupeiro?


Alberto Leguelé (Foto: Vaner Casaes)

Como se estivesse sonhando, me vejo em Point Noire, no Congo/África, e os jogadores da Seleção Olímpica entraram no campo para o aquecimento, antes do jogo. De repente, não mais que de repente, o ALBERTO LEGUELÉ, baiano, gozador que nem ele só, parou de abraços abertos, aos gritos dizia:

– Como é João Santos (ponta esquerda do Santa Cruz), vai ficar aí, parado?

Nada disso, o apelido dele era SAPO e, o sacana viu um sapo onde eles estavam. MARINHO, outro da turma, era o que mais zoava, o mesmo que, no campo do Atlântico Sul, em Vargem Grande, local onde o Botafogo treinava, um dia chegou pilotando um Mercedes Benz, quase tão reluzente quanto o da “noiva” do Doval. Curiosidade geral. Perguntas para cá e perguntas para lá, quando ele abre o capô e mostra com aquela cara que Deus lhe deu – motor de opala que já bateu biela. Minutos depois, ouve-se gritos histéricos vindo da sala de massagens, que se ouvia na rua em frente.

– Não para, Zé Carlos. Vai! Com mais força! Vou gozar! Ui! Gozei ……

Era o Marinho sendo massageado antes de entrar em campo para o treino. Assim era esse fenômeno de jogador, querido e admirado por todos.

Logo após esse lance com o Marinho, ouve-se uma barulheira no campo. Fora do campo, depois do muro, com uma porteira, tinha um pasto onde bois e vacas pastavam. Tinha um touro ou vaca, ainda adolescente, bravo para caramba. Assim que o pessoal chegava para o treino, estivesse onde estivesse, partia em desabalada carreira em direção a porteira e por ali ficava. Nesse dia, a porteira estava aberta e foi o que se viu em seguida. O boizinho correndo atrás de quem estivesse à sua frente, entre os carros, até passar pelo portão do campo. Aí o bicho pega!

O SANCHEZ, treinador de goleiros, estava sob uma das balizas e a fera partiu para cima dele. Ninguém sabe, ninguém viu, mas em frações de segundos, surge o Professor cavalgando o travessão e lá ficou, até a fera desistir.

Um dos melhores momentos dessa vida de “boleiro” é o tempo reservado para as “resenhas”. Nessas horas muitos se revelam, gente impossível de se imaginar. Dos muitos que conheci, quatro eram inigualáveis: No ranking dos melhores eu destaco – em ordem decrescente a partir do melhor -, VAVÁ; MELLO; TELÊ (com o palitinho no canto da boca) e o jogador WALDIR (do Guarani).

Waldir, especialista em piadas de “fanhos”. Sensacional.

Telê, eclético. Piadas sem um motivo aparente e uma das melhores era a do “trilema”, que o horário não permite sua divulgação. Hilária.

Mello, além de narrar, interpretava e as melhores eram a do cara que sonhava e transformações ocorriam com sua “genitália” e a do macaco equilibrista em fios de alta tensão. Também impróprias para o horário nobre.

Agora, VAVÁ – esse era fenomenal. Não sei se era melhor como atacante ou como contador de piadas. Interpretava ao extremo. Contava uma sobre “a vaca” (que bem podia ser aquela lá no campo de treino do Botafogo, já adulta). Resumo da ópera, final da piada: Olha a vaca aí gente!

Nessa hora, Vavá subia numa cadeira, numa mureta ou qualquer lugar elevado, se jogava no chão se “estabacando” todo, rindo mais que qualquer um de seus ouvintes. Até hoje não sei se ria mais do Vavá ou das piadas que ele contava.

Durante o desenrolar desse jogo, não podia deixar de lado as lembranças que uma foto deixou. Foto histórica e memorável, pois reúne figuras históricas e memoráveis que já se foram e que deixaram um legado inestimável. Dissertar sobre eles desnecessário se torna.


O técnico Zizinho (sentado no canto esquerdo), o jornalista Hideki, Roberto Abranches (Chefe da Delegação), Parreira, Coutinho (Supervisor nessa oportunidade), o preparador físico Sebastião Araújo e José Dias (administrador)

Desses “melhores momentos” não podia deixar passar as figuras de dirigentes que, no meu entender, honraram suas funções, bem diferentes de muitos dos de hoje:

Giulite Coutinho: o presidente da CBF. Carrancudo e que fazia muita gente tremer. Talvez eu, junto com Doutor Althemar Dutra de Castilho, tenhamos sido os poucos que vimos o “homem de ferro” chorar quando do desembarque da seleção em 1982, no Galeão. Foi emocionante!

Manoel Schwartz: presidente do Fluminense. Esse eu sei que não meteu a mão.

Castro Gil: vice-presidente de Futebol, também do Fluminense, e que não se achava o dono da verdade. Ouvia quem tivesse que ser ouvido antes de tomar uma decisão.

Gilberto Coelho: diretor de finanças e depois diretor de competições da CBF. Com as mesmas características do Castro Gil. Saiu da CBF por discordar de algumas coisas que ocorreram com as finanças da entidade.

Roberto Abranches: Esse era o “cara”. Era de uma simplicidade que irritava. Se enturmava com uma facilidade incrível.

Chefiava a delegação da seleção Sub 18 e estávamos em Paris quando aceitamos o convite para assistir ao espetáculo do MOULIN ROUGE. Durante o evento, alguém chamou membros da delegação para subir ao palco e quem atendeu, de pronto, foi o “Doutor Abranches” que, abraçado com as vedetes, dançou o CAN CAN. Gente! Imperdível!

O mesmo tinha acontecido, antes, em ABADAN/Iran.

O último dos melhores momentos ocorreu em 1983, quando no dia 19 de junho, no Estádio Azteca, o Brasil conquistou, pela primeira vez, o título de campeão mundial invicto, da categoria Sub 19, hoje Sub 20.

Pouco antes do término dessa partida, recebi um “amargo” cartão vermelho, que me defenestrou de vez, aplicado por um ……….de ……………

Hoje, só me resta ter ânimo para continuar passando informações que possam ser do interesse de quem assim o desejar.

AINDA BEM QUE SÃO (QUASE) HUMANOS

por Zé Roberto Padilha


Zé Roberto Padilha

Anteontem, nove da manhã, partiu perto de casa uma caravana de torcedores do Botafogo rumo ao Maracanã. Meia hora depois encontrei um deles que ficara pelo caminho, desolado e sentado na padaria. Estava indisposto, tomara um Sonrisal e preferiu ficar e assistir a partida pela televisão. O reencontrei à noite e ele estava brabo com o Rodrigo Pimpão. Segundo ele, não jogara nada e por isto foi fácil para o Flamengo alcançar a classificação às finais.

Como tricolor, igualmente classificado, disse, sem provocação, que ainda bem que era assim o futebol, um esporte praticado por seres humanos. Com uma diferença: com qualquer indisposição, principalmente aquelas em que bastam um sal de frutas, Rodrigo Pimpão, Lindoso, Camilo e Cia. tinham que embarcar no ônibus do clube, vestir a camisa e ir a campo defender sua paixão. E como toda a arte que é realizada ao vivo, serem contidos pela emoção e iluminados pela inspiração.


Se o seu filho Pipãozinho está com febre, seu salário atrasado, sua filha não fora bem na prova e ainda brigara com o namorado, paciência, mesmo não se sentindo bem, o chefe de família tem que jogar. E disse para ele, como advogado da classe: sabe quais os jogadores de futebol que atuam sempre do mesmo jeito, mantendo suas médias de atuações? Aqueles escalados por nossos filhos, não pelo Jair Ventura, que jogam no Playstation comandados por joysticks.

Neste jogo, com os atletas cada vez mais próximos da perfeição física, não há surpresas dos jogadores, mas daqueles que habilmente os manipulam. Enquanto a Sony patrocinar uma competição organizada pela FIFA, e usar o direito de comercializar seus jogadores nos joguinhos, tudo bem, mas já imaginou o contrário? Uma Champions League, uma Copa do Mundo, organizada pela Sony e disputada no computador?


Sábado, meus filhos, que torcem pelo Real Madrid disseram que seria mais fácil vencer o meu Barcelona dia seguinte sem o Neymar. Principalmente, segundo eles, porque Lionel Messi estaria passando por uma fase ruim. Mal iriam imaginar meus meninos que aquele argentino, quase de carne e osso, dormira bem, tomara o melhor café da manhã da sua vida, fora ao banheiro com a regularidade dos fins de semana em que enfrentara o Sevilha, o Atlético de Bilbao, e entraria no Estádio Santiago Bernabeu motivado para realizar toda aquela magia. Seres quase humanos a habitar nosso imaginário carente de emoções nos finais de semana.

Que bom que continuem assim, de carne, osso, carregando os seus problemas da vida e entrando em campo para tentar amenizar os nossos. Aos humanos comuns cabe a tarefa de pagar o ingresso, subir naquele ônibus da torcida ou ligar a televisão e assistir o imponderável. Não tem preço. Tem uma única magia chamada futebol. Quando pega na veia nos consagra, quando um penalty é perdido nos arrasa, o que fazer se, mesmo assim, ele faz um bem danado na vida da gente?