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Falcão

O CRAQUE DO BRASIL EM 1979

por Luis Filipe Chateaubriand


Paulo Roberto Falcão sempre foi um jogador diferenciado.

Elegante, postura ereta, cabeça levantada – não precisava olhar para a bola, sabia onde ela estava –, visão de jogo que lhe propiciava antever jogadas, um jogador fino, completo, raro, diamante em forma de gente.

Em 1979, estava no esplendor de sua carreira.

Conduziu seu Internacional ao título de campeão brasileiro, de forma invicta, como um comandante leva sua tropa à vitória nas sucessivas batalhas.

Os adversários foram sendo superados, um a um, com a maestria de Falcão se destacando de forma soberba, galante, incontestável.

Na semifinal, contra o Palmeiras, na casa do opositor, um recital de futebol, com direito a gol de cabeça indo até o “último andar”, gol de sem pulo incrível e uma bicicleta espetacular que não resultou em gol por poucos centímetros.

No jogo da final, contra o Vasco da Gama, em seus próprios domínios, Falcão deu o tom da atuação do time e, de quebra, marcou o gol que confirmou o título do Campeonato Brasileiro de 1979.

Não à toa, no ano seguinte, 1980, os italianos da Roma vieram buscá-lo.

Por tudo isso, dá para afirmar que o craque do Brasil em 1979 foi Paulo Roberto Falcão!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

FALCÃO E A INFÂNCIA

por Rubens Lemos


Desejo minha pureza na gula pelos bolos de chocolate feitos por minha avó. Não tenho a infância, perdi minha avó e estou proibido até de ver chocolate a anos-luz do meu confinamento, em respeito ao mínimo de controle da taxa de glicose.

A memória é possível rever a partir de 1977, aos sete anos, quando disputava campeonatos de futebol de botão com meus amigos de rua, era apresentado ao ABC, ao Vasco e ao universo do futebol no qual mergulhei sem cilindro de oxigênio.

Quando menino, praguejava a idade desejando ver filmes censura 18 anos no infecto cinema Panorama nas Rocas. Nossa turma até que tentava subornar o bilheteiro, mas nossos trocados eram tão miseráveis que o sujeito patusco e afetado nos enxotava, rabugento e exagerado nos trejeitos.

Entre 7 e 10 anos, a vida me foi surpreendente. Sem níquel, nem intervalo de agitação. Brincávamos, criávamos armadilhas para os velhotes chatos e, em doses cavalares, arrancávamos pedaços de dedo nas peladas de calçamento fervendo sob o sol e a floresta do bairro do Tirol. O sol é impossível de ser comprado, a imensidão verde é pulverizada nos arranha-céus crescendo dia após dia.

Os adultos notavam nossa fascinação pelo futebol do passado e exageravam nas histórias. A tragédia de 1950 nos fazia odiar os uruguaios cujo pecado foi cumprir o papel de vencer de virada uma seleção brilhante massacrada pela pressão politiqueira de um título a qualquer custo.

Em casa, convivia com um inconformado pelo Maracanazo. Meu pai, vascaíno radical, queria seu clube erguendo a Taça Jules Rimet. O Vasco ostentava a nata do time: Barbosa, Augusto, Danilo Alvim, Maneca, Ademir Menezes e Chico. E eles fracassaram.

– A culpa foi de Bigode, que levou um tapa de Obdúlio Varela! e o Uruguai ganhou sendo macho! – irritava-se papai, sem estender o debate à hesitação de Barbosa entre sair do gol e ficar na trave, como de fato ficou, levou o 2×1 dos pés de Ghighia e cumpriu pena máxima pelo crime de solidão na trave, não previsto no Código Penal Brasileiro.

Aos 9 anos, vi  a impecável partida do Brasil contra o Uruguai. No Maracanã. O técnico Cláudio Coutinho, do escrete terceiro lugar invicto na Copa do Mundo da Argentina, no ano anterior, mudava seus conceitos defensivos e convocava novos nomes que seriam consagrados.

A narração da TV Globo ficou a cargo do melhor da história, Luciano do Valle. O Uruguai fez 1×0. Edinho empatou saindo da defesa. O magricela Sócrates desviou de Rodolfo Rodriguez na virada e, de cabeça, fez 3×1. Um dos últimos pontas brasileiros, Nilton Batata, do Santos, decretou 4×1 e Éder encerrou os 5×1.

Nenhum gol valeu o lance do nome da partida. Esticaram uma bola ao ponta Ocampo na esquerda, perto da bandeirinha de escanteio. Falcão partiu à cobertura em movimento de garça.

Os dois, um contra o outro, bola com o uruguaio que a deixou fugir por milímetro. Falcão, peitoral de chanceler, deu toque de biquinho de chuteira, tirando o pé para não levar uma entrada covarde. Um edredom cobrindo o humilhado atacante. Impôs o banho sutil e saiu para armar o contra-ataque.

Eis o lance intacto pela infância. Não vou esquecer, e nenhuma questão faço de saber como foi o recente Brasil 2×0 Uruguai. Vitória não produz cópia malfeita. A glória é a que a memória preserva.

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA FALCÃO


Pegar dois ônibus para chegar no treino não era problema para o filho de seu Bento e de dona Azise, que vendia garrafas vazias para pagar suas passagens. 

Quando não conseguia dinheiro, seu Jofre Funchal, treinador da base do Internacional, financiava.

Certo dia, o pai, um caminhoneiro experiente, e a mãe, uma costureira dedicada, quebraram o ‘porquinho’, pegaram as economias guardadas, e compraram sapatos novos para o filho ir para o treino.

Naquele dia, cerca de trezentos meninos aproximadamente passaram pelo vestiário antes e depois do treino para tentar convencer seu Jofre, de que eram craques.

Na ocasião, um deles surrupiou os sapatos do menino, que ao não encontrá-los começou a chorar.

Ao ver as lágrimas do menino, seu Jofre foi numa loja perto do estádio e comprou um par de tênis brancos, para que ele não voltasse descalço para casa. 

Feliz com o presente, mas temeroso ao chegar em casa com medo de levar uma coça, seu Bento e dona Azise perceberam que os tênis eram maiores que os pés do filho, começaram a rir e o menino, acabou rindo junto.

Mas se o menino franzino e bom de bola deu alegria aos pais na infância, Falcão, jogador consagrado, deu ao Internacional três campeonatos brasileiros, em 1975, 1976 e 1979.

Mas o fim se aproximava de forma lenta, porém, suave como a elegância de um cisne de pernas compridas que caminhava no solo verdejante dos campos no Brasil e mundo afora.

Até o dia em que disse: “Chegou a hora de ir!”.

A frase saiu certeira como flecha da boca de Paulo Roberto Falcão, na sala de José Asmuz (1927-2016), presidente do Internacional, e acertou seu peito.

Durante anos, o dirigente colorado  engoliu a seco por ter vendido o maior craque da história do clube em seus 111 anos.

“Chegou a hora dele ir”, dizia à época, sem revelar a razão do negócio.

No entanto, as cinco palavras que construíram a frase que saiu da boca do maior jogador do Sport Clube Internacional, mudou a sua história e o destino do futebol brasileiro.

Sua coragem em meter a mão na maçaneta da porta de entrada para a Europa e abri-la, foi o suficiente para outros jogadores fazerem o mesmo.

Com um futebol elegante, conquistou o campeonato italiano de 1982/83, as copas da Itália nos anos de 1980/81, 1981/82 e 1983/84, e assim como Nero Cláudio César Augusto Germânico, imperador romano, que acendeu fogo em Roma, ele, Falcão, acendeu a paixão no coração do torcedor romanista e pôs fogo no Estádio Olímpico, na cidade que leva o nome do clube que defendeu e onde se tornou Rei.

Fogo intenso que seria apagado com três baldes de água fria jogados pela Itália em 1982, na Copa do Mundo da Espanha, onde foi destaque da equipe de Telê Santana que encantou o planeta.

O craque que fez história com a camisa 5 do Internacional e do Roma, porém, antes de avisar ao presidente José Asmuz que queria sim, se transferir para a Europa, pediu a opinião de Dona Azise, sua mãe. 

“Vai, meu filho! Vai conquistar o mundo”, ouviu como resposta.

Obediente, ele foi.

O Museu da Pelada entrevistou Paulo Roberto Falcão, o Rei de Roma, que contou um pouco da carreira e do desejo em voltar a ser treinador de futebol, na série Vozes da Bola.

por Marcos Vinicius Cabral

Quem foi sua grande inspiração no futebol?

Sinceramente, eu não lembro em ter uma grande inspiração, mas talvez o Pelé, pela qualidade como atleta de futebol, pela relação que ele tinha com seus fãs e a forma com que ele tratava essas pessoas, então, seguramente, tenha sido ele a minha inspiração.

No último 19 de julho foi comemorado o Dia Nacional do Futebol. O que ele representou para o Falcão?

Eu acho que na realidade o futebol acontece todos os dias, não só profissionalmente, mas tem futebol todo dia nas escolas, nas escolinhas de futebol, no meio da rua, futebol está para a gente todos os dias do ano. Então, o Dia Nacional do Futebol é sim, os 365 dias do ano.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao Coronavírus?


Em casa e lendo, normalmente coisas do futebol, vendo jogos, analisando alguma coisa interessante que possa ter acontecido no jogo, tipo uma falta ensaiada, procurando prestar atenção em jogadores, fazendo isso basicamente, enfim, pois é o que podemos fazer, né?

Quem foi seu melhor treinador?

Quem foi meu melhor treinador? Olha, eu tive vários treinadores, como por exemplo seu Jofre Funchal, na escolinha do Internacional, que me deu muita força; depois o Ernesto Guedes, que me colocou de segundo jogador de meio-campo de meia esquerda para centro médio; depois Dino Sani, que me tirou das categorias de base faltando um ano para chegar ao profissional e me colocou no time principal do Internacional; o Rubens Minelli, que me ajudou muito quando fui para ser segundo homem no meio-campo, além de sua competência; o Ênio Andrade, três vezes campeão brasileiro, pelo Internacional, Grêmio e Coritiba, uma grande figura e com uma capacidade de leitura de jogo impressionante; tive o Nils Liedholm, na Roma-ITA, me ajudou demais, era sueco e como veio antes para Itália, passou pelo mesmo processo que eu de adaptação. Vale ressaltar que o  Nils Liedholm, além de ser uma figura extraordinária e com um carisma enorme, a nível de conhecimento, para os leitores saberem, jogou na seleção sueca e fez o primeiro gol da Suécia contra o Brasil, na Copa do Mundo de 1958 e a seleção brasileira acabou vencendo por 5 a 2. Portanto, esses foram os meus melhores treinadores.

Podemos dizer que você foi pioneiro em ir jogar no mercado italiano. Depois Zico, Toninho Cerezo, Júnior, Casagrande, Renato Gaúcho e outros craques brasileiros da década de 1980 tiveram passagens, mais ou menos vitoriosas, pelo país. Tudo porque um catarinense de Abelardo Cruz resolveu seguir o conselho da mãe e foi para a Europa tentar conquistar o mundo. Na sua opinião, o que você atribui tamanho sucesso?

Realmente, fui o primeiro a ir para a Itália, o mercado estava fechado, e ao abrir, eu fui. Eu sabia que eu tinha que ir bem, eu me preocupava com isso, embora desde no início a saudade fosse forte, mas eu sabia que estava ali com a responsabilidade de abrir mercado para outros brasileiros. O começo sempre é difícil, mas eu fui muito bem recebido pelos jogadores, pelo próprio treinador Nils Liedholm, e isso me ajudou muito na minha adaptação, até porque na época era um estrangeiro só por clube, então era muito mais difícil a adaptação. Na verdade, eu fui para lá sabendo que as coisas não seriam fáceis, e é bom frisar que eu não fui com o corpo e deixei a cabeça no Brasil, como alguns jogadores fazem, ou seja, eu fui inteiro para lá. E tenha certeza, que só assim, do jeito que te falei, eu poderia me adaptar rapidamente, como aconteceu. Mas minha ida para a Itália, tem muito a ver também com a minha idade, tinha 26 para 27 anos, havia feito muita coisa no Brasil, estava com a cabeça feita, e sempre tive uma boa base familiar. Não cheguei na Itália deslumbrado e isso ajudou bastante. As dificuldade que passei na infância, sempre tive o apoio de meus pais e meus irmãos.

Em 30 de agosto de 1980, você estreou pela Roma, em um amistoso contra o Internacional, jogo disputado no Estádio Olímpico de Roma. O jogo terminou empatado em 2 a 2 e quais as lembranças dessa estreia exatamente contra o clube do seu coração?

Foi um jogo festivo e estava dentro do contrato que ocorreria esse jogo. Foi isso, foi uma festividade apenas.

A Roma foi campeã em 1982/83, com duas rodadas de antecedência e quebrou o jejum de 41 anos sem títulos. Para os torcedores romanos, você sucedeu Tarquínio, o Soberbo, comoa oitavo Rei de Roma. É o título mais importante da sua carreira?

Foi uma grande conquista sim, ser campeão com ap Roma-ITA, depois de tanto tempo, 41 anos. Foi um título fantástico, porque era muito difícil ser campeão jogando no contra os times do Juventus, Internacional, Milan, embora o Milan vivesse uma grande dificuldade naquela época, mas havia a Fiorentina que atravessava um bom momento, mas na realidade foram quatro anos maravilhosos, sendo que no primeiro ano, nós já merecíamos ganhar o campeonato. No campeonato de 1980/81, realmente foi um escândalo o gol que anularam, que era o gol praticamente do campeonato. Se você der uma pesquisada aí, você vai ver que faltando três jogos, um ponto atrás do Juventus, na época se jogava por dois pontos e não três como hoje, e com aquela vitória nós passaríamos à frente deles e com dois jogos teoricamente mais tranquilos: um em casa e um outro fora. Então, certamente aquele gol anulado escandalosamente, nós daria o título, já no primeiro ano, em 1980/81. Aquilo ficou em nós, jogadores, um gosto amargo e dez dias depois, no mesmo ano, ganhamos a semifinal da própria Juventus, na Copa da Itália, e depois vencemos o Torino, e fomos campeões.


Você formou um meio de campo memorável na Seleção Brasileira ao lado de Toninho Cerezzo, Sócrates e Zico na Copa do Mundo de 1982. Foi um pecado aquele time não ter conquistado o título?

É, eu joguei com um meio-campo forte, com Cerezo, Sócrates, Zico, era uma seleção muito forte mesmo. Foi um pecado a gente não ter conquistado, não conquistamos o título sabe, mas seguramente conquistamos o título de encantamento, onde o mundo seleção se encantou com aquela seleção. Até hoje, todo mundo pergunta dessa seleção, quer saber dessa time, até mesmo vocês do Museu da Pelada estão me perguntando sobre essa seleção de 1982. Por quê? Porque 82, estamos falando de 38 anos atrás e que ainda se se fala dessa seleção, significa dizer, que essa equipe jogou bem e emocionou. Não ganhou, é verdade,  mas jogar bem e emocionar, mesmo você não ganhando, você fica na história, que é o caso dessa seleção.

Antes de assumir como treinador a Seleção Brasileira em 1991, você comentou, ao lado de João Saldanha, a Copa do Mundo da Itália pela extinta Rede Manchete. Como foi essa experiência?

Minha convivência foi muito boa, infelizmente o João (Saldanha) acabou falecendo lá na Itália, em 1990, e era uma grande figura, muito divertido, uma pessoa que ficou marcado no futebol brasileiro nessa época de comentarista e no período em que foi técnico da seleção brasileira. Mas foi uma experiência muito boa trabalhar na Manchete, e antes da Copa, eu apresentei o programa chamado ‘Itália de Falcão’, onde eu mostrava para as pessoas de modo geral, em especial para os brasileiros que fossem viajar para a Itália, o que eles poderiam fazer além dos jogos da Copa. Então, foi uma experiência muito importante, inclusive ganhando até prêmio esse programa com o (diretor) Nilton Travesso, uma grande série e que me deixou muito realizado em termos de televisão. Mas foi ali que o (ex-presidente da CBF) Ricardo Teixeira pensou em mim como treinador e depois acabei assumindo a seleção brasileira. Acabei não ficando por enes motivos que nem vale citar no caso, pois faz muito tempo.

Você viveu um hiato de 17 anos, entre 1994 e 2011, sem dirigir uma equipe no futebol. Por que ficou longe da bola esse tempo todo?

Na realidade eu resolvi ficar um pouco mais em Porto Alegre, comecei a pensar em voltar para a televisão e fiz televisão na RBS do Rio Grande do Sul e em seguida fui contratado pela Rede Globo, onde fiquei até 2011. Aí, comecei a pensar em voltar a treinar, dirigir uma equipe, me deu saudades da adrenalina, dos treinamentos, dos coletivos, das jogadas ensaiadas, do papo com os jogadores. Foi quando o Internacional me fez o convite e eu acabei aceitando e voltei aos gramados.

O início de sua carreira como treinador, foi após o fiasco na Copa do Mundo de 1990. Na ocasião, você sofreu uma pressão enorme, decorrente de resultados inexpressivos, combinada a uma forte cobrança por parte da imprensa. O que você atribui o fato de não ter permanecido nem um ano à frente da Seleção?

Eu assumi a seleção em 1990, com o objetivo de nos primeiros quatro meses, observar o que o futebol brasileiro tinha para oferecer em termos de jogadores. Felizmente, deu a possibilidade de surgir Cafu, Leonardo, Mauro Silva, Márcio Santos, que acabaram se tornando importantes na conquista da Copa de 1994, nos Estados Unidos. Isso sem falar dos jogadores que não foram usados na seleção, mas que se destacaram muito em seus clubes, como os casos de Cléber, que saiu do Atlético Mineiro para ser multicampeão no Palmeiras, o Adilson Batista, o Luís Henrique, que era do Bahia e foi jogar na Europa, o Mazinho Oliveira, que saiu do Bragantino e foi para a Europa também, ou seja, muitos jogadores se destacaram porque foi dado a eles a oportunidade de vestirem a camisa da seleção brasileira. Ali, eu como treinador, não pensava muito em resultado e não tinha como pensar nisso, para se ter uma ideia no primeiro jogo contra a Espanha, que vinha de uma Copa do Mundo dois meses antes, e no nosso time, ninguém havia viajado para a Europa. Então, nosso objetivo era esse, dar experiência e conhecer os jogadores para que a gente pudesse utilizar depois na Copa do Mundo de 1994, que foi o que o Parreira fez. E inclusive, lembro até que ele disse em uma entrevista quando reconheceu a importância desse nosso trabalho e que o ajudou muito para ele já saber com quais jogadores poderia contar nesse Mundial, que acabou nos dando o título.


Como treinador do América do México, conquistou a Copa Interamericana em 1991 e a Copa dos Campeões da CONCACAF no ano seguinte. Como foram esses dois títulos como treinador?

Como treinador do América-MEX, eu cheguei à final da Concacaf, campeonato que leva para disputar o Mundial de Clubes, mas não fiz a final, saí antes. Lembro que ganhamos a semifinal, aí saí, depois o América-MEX conseguiu ganhar e ser campeão. Foi fantástico, esse título é difícil, como se fosse ganhar uma Libertadores por aqui. Então, foi uma conquista extremamente relevante.

No comando da Seleção Japonesa entre 1994 e 1995, em 9 jogos, você teve 3 vitórias, 4 empates e 2 derrotas. Por que saiu?

Quando eu fui para a seleção japonesa, era um contrato de oito meses e o objetivo de renovação. Lembro que o Japão não havia se classificado para a Copa dos Estados Unidos de 1994 e vivia um grande momento de desilusão. No entanto, nós fomos para lá, eu, Gilberto Tim, preparador físico, o Abelha, treinador de goleiros que já estava lá e fizemos um ótimo trabalho com esse objetivo. Mas existia lá no Japão, uma necessidade de trocar treinador a cada ano e eu nunca entendia o porquê, pois sempre trocava, trocava e trocava, sem razão de ser. Eu, como treinador, cumpri rigorosamente o meu contrato. Deu para lançar alguns jogadores que depois acabaram de destacando na seleção principal.

Você fez um intercâmbio na Fiorentina-ITA e foi um dos fundadores da Federação Brasileira dos Treinadores de Futebol (FBTF). Como foi a experiência no clube italiano e qual o propósito da Federação? Ela ainda existe?

Fui um dos que participei da FBTF (Federação Brasileira dos Treinadores de Futebol) sim. Achei que poderia se ter um pouco mais de força mas não está tendo a força que eu imaginava, pois existem muitos bloqueios e não se consegue fazer aquilo que seria o ideal para o futebol brasileiro em termos de treinadores, assim como para os clubes também. A entidade surgiu com o intuito de representar os interesses da categoria no Brasil, na busca por profissionalizar, regularizar e organizar a categoria no País.O objetivo da FBTF é que a gente tivesse um respeito maior só profissional e que se pudesse estabelecer algumas regras importantes, evitar essa troca-troca dos treinadores em clubes, por exemplo. Às vezes, um clube demite quatro, cinco técnicos por ano e às vezes algum deles ficam sem receber desse determinado clube. Quando você caracteriza que não pode mexer em mais do que dois treinadores no ano, você dá ao clube a opção dele escolher melhor o seu profissional. Isso tem que ser uma relação saudável, de federação, clube e os próprios CEO’s, que são os gestores do futebol. Bom, sobre o intercâmbio, eu sempre fiz essas viagens para conversar com treinadores, tive na Fiorentina-ITA, tive no Centro Técnico de Coverciano, na Itália, e isso é bom, pois você conversa com profissionais de outros países, para se ter esse intercâmbio de diálogos, onde se troca ideias e eles gostam muito do futebol o. Nessas viagens, falei com Vincenzo Montella, treinador da Fiorentina-ITA, com Luciano Spalletti, treinador da Roma-ITA, José Mourinho, atualmente treinador do Tottenham-ING, Carlo Ancelloti, ex-treinador da seleção italiana, Cesare Prandelli, atual treinador do Genoa-ITA… enfim, com vários profissionais do futebol e isso sempre nos enriquece também.

Desde novembro do ano passado, as marcas de seus pés estão na calçada em Mônaco, após ser eleito como Lenda do Esporte Mundial durante a 17ª edição do Prêmio Golden Foot. Você imaginou que o filho de Dona Azise, chegaria tão longe?

Foi um outro grande momento ser colocado como lenda do esporte em sua 17ª edição do Prêmio Golden Foot. Para ser sincero, nunca havia pensado nisso e já haviam me convidado algumas vezes, por meio do Antônio Calino, que é o organizador disso lá em Monte Carlo, em Mônaco, na França, mas nunca dava para ir, ou estava treinando, e a impossibidade por outros motivos e tal, mas resolvi ir nesse e fui muito legal. Na ocasião, o Luka Modrić, jogador do Real Madrid estava lá, e foi muito legal, sem falar que o prêmio é muito importante, pois colocar o pé nessa ‘Calçada da Fama’, foi inesquecível.


Você virou tema de uma exposição na Embaixada do Brasil na capital italiana, ano passado. Amostra “Falcão, Ottavo Re” (em português, “Falcão, Oitavo Rei”), exibiu uniformes históricos usados por você, como um par de chuteiras e mais de 50 fotos e um painel biográfico. Você tem a dimensão do que Paulo Roberto Falcão representa para a Roma?

Foi muito legal, muito legal mesmo, foi mais um momento de satisfação profissional e de muita felicidade. Mas fiquei mesmo impressionado com o número de visitantes em que a exposição ficou lá em Roma. Essas homenagens são mais importantes que um título, que um gol, sabe. O fato do reconhecimento em vida é uma coisa que deveria ser feita com todos os profissionais que assim merecem. Já sobre ser Rei, não sei, eu acho que, ser considerado o Rei é uma brincadeira (risos) que eles fazem, mas eu nunca me considerei Rei, longe disso, apenas é uma maneira muito, muito, vamos dizer muito graciosa que os romanos tinham para dar carinho aos seus jogadores, nesse caso específico, dar carinho ao Falcão.

 Faltou algo na sua carreira?

Sempre falta alguma coisa, mas como treinador, eu posso te assegurar que gostaria de montar um time para poder trabalhar. Eu sempre lembro de uma entrevista do Jürgen Klopp, treinador do Liverpool, que disse: “Sinceramente, eu não entendo como os treinadores brasileiros conseguem montar times, porque são demitidos a cada dois ou três meses, por causa de dois ou três resultados negativos, quando eu, em um ano de trabalho, não consigo montar”, então,  você tem que ter paciência, tem que ter um bom grupo de jogadores com qualidade e enfim… montar um time não é fácil mas também não é muito difícil se você tiver as condições para isso.

Defina Falcão em uma única palavra?

Essa definição eu deixo para você, para os leitores do Museu da Pelada, e para quem for ler a entrevista.

FALCÃO E O JOGO DO ANO EM 1979

por Luis Filipe Chateaubriand 


Era a semi final do Campeonato Brasileiro de 1979, Palmeiras x Internacional no Morumbi. 

O Palmeiras jogou com: Gilmar; Rosemiro, Beto Fuscão, Pollozi e Pedrinho; Pires, Mococca e Jorge Mendonça; Jorginho, Carlos Alberto Seixas e Baroninho. 

O Internacional foi de: Benitez; João Carlos, Mauro Pastor, Mauro Galvão e Cláudio Mineiro; Batista, Falcão e Jair; Valdomiro, Bira (Adílson) e Mário Sérgio. 

Jogo extremamente equilibrado, as chances iam se sucedendo lado a lado. 

Tínhamos o duelo entre o estrategista Ênio Andrade e o estilista Telê Santana, colocando frente a frente os dois melhores times do país de então. 

Por volta de 35 minutos do primeiro tempo, depois de uma bola rebatida pela defesa colorada, Baroninho chuta de longe, rasteiro e por baixo de Benitez, para abrir o placar. 

Palmeiras 1 x 0. 

No final do primeiro tempo, Mário Sérgio cruza da esquerda, para linda e espetacular bicicleta de Falcão, que passa rente ao travessão. 

O segundo tempo se inicia como a mesma tônica do primeiro, chances de lado a lado. 

Já por volta dos cinco minutos da segunda etapa, o príncipe Jair chuta de longe para, em falha do goleiro Gilmar, empatar o jogo. 

Tem-se 1 x 1 no placar. 

A igualdade não dura muito, pois por volta de dez minutos do segundo tempo, Jorge Mendonça recebe a bola na entrada da área de costas, mata no peito girando o corpo e conclui para o barbante – um golaço! 

Palmeiras 2 x 1. 

O Internacional segue, obstinadamente, em busca do empate. E, por volta de 20 minutos da etapa final, um cruzamento da direita encontra a cabeça de Falcão, que sobe mais que o bem mais alto Beto Fuscão, e dali vai para as redes. 

Nova igualdade, 2 x 2. 

Cerca de cinco minutos depois, por volta de 25 minutos da etapa final, Falcão aproveita uma rebatida de Beto Fuscão para emendar um sem pulo sensacional, em gol antológico!

 Internacional 3 x 2. 

Continuam se sucedendo as oportunidades lado a lado, em jogo memorável, mas o placar não se altera mais. 

Ênio Andrade vence o duelo, vitória gaúcha em plena São Paulo. 

Em um jogo de tantos craques, sobressaiu aquele que fez gol improvável de cabeça, gol incrível de sem pulo, quase gol de bicicleta que seria inesquecível e comandou o time em campo: Paulo Roberto Falcão, o futuro Rei de Roma, a classe em forma de jogador de futebol!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada.    

FALCÃO X MOCOCA

por Serginho 5Bocas


Pode até soar estranho ouvir hoje tal comparação, muito jovens e torcedores com menos de 30 anos não devem nem saber do que eu estou falando, mas este era o “lead”, esta era a capa dos jornais e das revistas esportivas na semana do jogo de ida em São Paulo, partida decisiva de uma das semifinais do Brasileirão de 1979.

Quem mais ajudou a criar este factoide foi o mestre Telê, por sua incrível capacidade fazer jogadores medianos, evoluírem absurdamente na parte técnica sob o seu comando e chegarem até mesmo à seleção. Foi o que ele fez com Mococa, um meio de campo daquele Palmeiras de 1979.

O Inter era um time excepcional, em suas fileiras jogavam Mauro Galvão, Batista, Falcão, Jair, Mario Sergio e Valdomiro, o Palmeiras não era tão estelar, mas também tinha gente boa, do nível de Gilmar, Polozzi, Beto Fuscão, Pedrinho, Jorge Mendonça, Pires, Jorginho, Baroninho e é claro, Mococa.

Porém o banco das duas equipes eram verdadeiras poltronas, de um lado Ênio Andrade, que viria a ser tricampeão brasileiro (Inter, Grêmio e Coritiba) e do outro Telê Santana, que já era campeão e se tornaria bicampeão (Atlético-MG e São Paulo), dois monstros em armar equipes.

Eram extremos em estilos, Ênio armava equipes com muita marcação e pegada, já Telê gostava de toque de bola, posse e fundamentos, um ótimo cardápio. Quem venceria?


O Palmeiras de Telê era a sensação do campeonato naquele momento, pois acabara de eliminar o Flamengo de Zico em pleno Maracanã, com sonoros 4×1. Já o Inter de Ênio Andrade era um time imbatível, reunia craques e a força da marcação dos gaúchos. Além de tudo, vinha invicto, uma pedreira. 

Falcão era um extra classe, um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos, já tinha vencido dois brasileiros e recebidos uma bola de ouro como melhor jogador da eleição realizada pela conceituada revista Placar. A segunda bola de ouro de sua carreira viria naquele ano, apesar de ter sido ignorado por Claudio Coutinho na convocação para a Copa de 1978.

Mococa era um jogador desconhecido, mas que nas mãos de Telê vinha gastando a bola, um motorzinho do time alviverde, que já sonhava em vencer o Brasileiro pela terceira vez.

Naquela noite, o Palmeiras foi melhor em campo, atacou muito, e até abriu o marcador, mas o Inter não se entregava e empatou numa falha de Gilmar que Jair não perdoou. Jorge Mendonça fez um golaço e colocou o Palmeiras na frente novamente, porém durou pouco. Falcão empatou de cabeça e fez o gol da virada numa jogada de muita raça e de categoria que só os gênios sabem fazer: encarando sem titubear a sola de Mococa, ele chutou com muita rapidez, evitando a chuteira de Mococa, e bateu com extrema precisão, para dar números finais à batalha épica. Depois foi só empatar no Sul (com gol de Mococa) e partir para a final contra o Vasco, vencendo as duas partidas contra o time da cruz de malta.


Mococa

Falcão continuou sua carreira de glórias, venceu aquele Brasileiro de forma invicta, liderando o time que nunca perdeu, ganhou a bola de ouro do campeonato e depois disso foi para a Roma da Itália, se tornando o “VIII Rei de Roma”. Fez uma Copa espetacular em 1982, entrando para história do futebol mundial.

Mococa, que tinha este apelido em razão da cidade em que nascera em São Paulo, fez um baita Campeonato Brasileiro naquele ano, sendo até cogitado para a seleção brasileira, depois teve uma curta e boa passagem pelo Santos e ainda teve umas três temporadas em alto nível no Bangu de Castor de Andrade, e daí para frente sumiu.

Hoje a comparação entre os dois jogadores pode parecer um exagero, mas naqueles idos, pelo menos em 1979, era mais do que realista.

O futebol nos ensina o tempo todo e fica aí mais uma máxima que temos que considerar: um craque deve ser medido pelo conjunto de sua obra, pelo seu legado e não por uma fase, por um ano bom.

Mococa pelo menos pode se orgulhar de que em 1979 teve seus dias de Falcão, e que convenhamos não é pouca coisa.