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Diego

OBRIGADO, DIEGO

por Zé Roberto Padilha


Em nome de todos os jogadores de futebol, gostaria de lhe agradecer por ser responsável, ao lado do Nenê, pelo recente aumento da expectativa de vida de um atleta profissional.

Quando completei 34 anos, então jogador do Bonsucesso FC, disputando o estadual da primeira divisão carioca e literalmente “voando”, não havia um só comentarista que não depreciasse nossa apresentação.

– Mas ainda é aquele Zé Roberto, do Fluminense e do Flamengo? Veterano, hein! Ou seria seu filho? – ironizava.

Aí vinha o redator do caderno de esporte e, mesmo com o Motoradio nas mãos após empatarmos com o Fluminense, e abria os comentários assim:

– Apesar da idade, esteve bem…

34 anos. Em qualquer profissão, um estagiário. Na nossa, veterano.

Tudo porque os craques que nos precederam não tiveram uma nutricionista em seu clube. Um psicólogo para amenizar conflitos internos pós derrotas, e consciência profissional para evitar ir para o “bagaço”.

O campo era ruim, bola pesada, chuteira com travas que furava a sola dos pés, uniformes que pesavam 100 kg quando chovia. Pouca coisa contribuía para ir um pouco além.

Fisioterapeuta não existia, fisiatra só nos sonhos e artroscopia nenhum médico de clube dominava sua execução. E os joelhos eram operados a céu aberto.

Chegar jogando em alto nível após os trinta anos era tarefa para poucos. E como você precisa dos 35 anos para se aposentar, como toda profissão, mais cedo era jogado no mercado de trabalho em busca de algum ofício que ninguém se preocupou em lhe preparar.

Aí surge você, no Flamengo, contrariando todos os prognósticos e aos 36 anos realiza, contra o Corinthians, uma exibição de almanaque.

Como segundo homem do meio campo, deu o equilíbrio que toda equipe precisa quando não se erram passes e a bola gruda na chuteira.

Uma atuação impecável que mostra o quanto você se cuida e dá exemplos para as novas gerações.

Como toda profissão, quanto mais você pratica, mais aprende. No futebol não é diferente.

O que sobrava era preconceito. O que faltava eram Diegos.

Parabéns!

SEM ROSTO    

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


(Foto: Nana Moraes)

A convocação de Diego, do Flamengo, é a maior comprovação do marasmo vivido por nosso futebol. Mas o que podemos esperar se no Brasileirão a artilharia vem sendo disputada pelos rodados Ceifador (é Ceifador, Gladiador, Pitbull, Hulk, He Man… estamos perdidos), Jô e Roger?

Reparem nos ídolos dos principais clubes. Ricardo Oliveira continua comandando o Santos, Fred e Robinho o Atlético, Nenê e Luis Fabiano são os ídolos do Vasco, Zé Roberto ainda disputa vaga no Palmeiras, Rafael Sóbis continua fazendo seus golzinhos no Cruzeiro, e Léo Moura e Cortês são titulares no Grêmio. Vão jogar até os 100 anos porque as bases desses clubes não são aproveitadas como deveriam.

Pouquíssimas novidades surgem. Santos e Fluminense ainda nos dão algumas surpresas e mesmo assim rapidinho se mandam para algum time de fora. Me digam, recentemente, qual o garoto fez sucesso ao sair do Brasil: Gabigol? Gerson, do Fluminense, daquela venda que virou empréstimo, uma confusão danada? Douglas, do Vasco? Agora vai o Wendel, do Flu, Vinícius Júnior, do Fla, e uma penca de tantos outros, que vão botar uma graninha para dentro e cair no esquecimento.


Gente, o Diego não está jogando mais do que o Everton Ribeiro, por exemplo. Sem qualquer tipo de provocação, mas ele não teria vaga, nesse momento, nem na seleção carioca. A convocação é para ficar bem com a torcida do Mengão? Porque com a do Corinthians nosso técnico está em dia, afinal até o Fagner tem tido chance.

Resumindo, o Diego vai juntar-se a Renato Augusto, Fernandinho e os Casemiros da vida e vamos em frente torcendo para uma seleção sem rosto.

PS: E o Rogério Micale, hein! Me engana que eu gosto….

FUI DIEGO, VOLTEI ROBINHO

por Zé Roberto Padilha


Diego teve recepção de gala no aeroporto do Rio de Janeiro

Confesso a vocês que tomei um susto no aeroporto quando cheguei e vi milhares de torcedores rubro-negros a me esperar. Há uma década, no melhor da minha forma, deixei o futebol brasileiro por Viracopos e só a minha família foi se despedir de mim. A torcida do Santos ainda mandou uma faixa, mas todas as torcidas organizadas da Vila compareceram em massa mesmo no dia em que o Robinho foi vendido. Era Robinho e Diego. Como Pelé e Coutinho. Um gênio protagonista, um bom jogador ao seu lado como coadjuvante.


Observado por Diego, Robinho conduz a bola para o ataque

O futebol acima de tudo, é um esporte coletivo e não um monólogo. Mas desde a chegada ao Brasil, vivo a me perguntar: eu melhorei, virei Robinho, ou foi o futebol brasileiro que piorou, perdeu suas referências e virou Diego?

Sem desmerecer o que ainda serei capaz de fazer no Flamengo, afinal sempre me cuidei e escapei de graves lesões, notei, enquanto me preparo para a estreia, que não foi por acaso que o Maracanã deixou de ser palco dos grandes aqui do Rio. Sem Rivellino e Assis, mas com Cícero e Magno Alves ressuscitado, anda bastando para a menos exigente presente torcida tricolor o modesto estádio do América, na Baixada Fluminense.

Para um clube que foi perdendo espaço e prestígio no futebol brasileiro tudo bem, mas daí Edson Passos ser a casa do Fluminense… Logo a seguir assisto Botafogo x Palmeiras, na Ilha do Governador. Para o clube glorioso de outrora, de Mané Garrincha, Mendonça e Nilton Santos, seria uma piada levar para o modesto estádio da lusa carioca os seus jogos. Mas desde que perdeu a classe de Seedorf, o carisma de Loco Abreu e só seu goleiro tem sido convocado para a seleção, para abrigar metade dos seus apaixonados anda cabendo. E eles estão felizes não só com aquele estádio, como ter como camisa 10 o Camilo. Com todo o respeito!


E, finalmente, o Vasco. Este não perdeu seu estádio, mas trocou a paixão por um ídolo, Roberto Dinamite, por um cartola que nunca fez um gol na vida por eles. E seu maior jogador da atualidade, o Nenê, também saiu camisa 8, como eu, do Brasil e agora virou o todo poderoso camisa 10. Dava para desconfiar que existia, desde minha chegada, algo de errado com o nível atual do nosso futebol. 

Mas se estava em dúvida quanto ao seu declínio técnico, o Zé Roberto, jogando no último fim de semana pelo Palmeiras os 90 minutos, acabou com todas. Quando ele se despediu na Alemanha, aos 40 anos, nos confessou que pretendia acabar sua carreira na Portuguesa, seu primeiro clube no futebol, ou jogar no máster do São Paulo. Zé, como eu, sempre se cuidou, pouco se contundiu também. Mas daí a atuar na primeira divisão com aquela idade numa equipe que está no G4 e na lateral-esquerda? Tudo bem, os pontas acabaram, laterais não mais apoiam, mas definitivamente foi a prova que precisava para entender porque agora virei capa dos jornais. Considerado o novo Messias. O camisa 10 do Flamengo.

Num país em que a expectativa de vida aumentou vinte anos, permanecer em cena jogando mais uma década se torna um paradoxo. A definitiva constatação que diminuímos a expectativa de alcançar o futebol brasileiro de novo em sua plenitude. Mas não se esqueçam: se fui Diego, voltei Diego. Robinho será sempre a lembrança de um tempo em que os craques enchiam os estádios e nós, seus coadjuvantes, tabelávamos o simples para receber de volta as maiores das obras de arte.


Diego abraça Robinho após um gol do camisa 11

“O TIME DE 92”, DIEGO, GANSO E JEAN CHERA

por Paulo Silva Junior


The Class of ’92 é um documentário dirigido por Ben e Gabe Turner que conta a história de David Beckham, Nicky Butt, Ryan Giggs, Gary Neville, Phil Neville e Paul Scholes, seis jogadores revelados pelo Manchester United que alcançaram não só longevidade, mas grande sucesso no clube, principalmente com a conquista do título europeu de 1999.

Os quatro primeiros levantaram a FA Cup Juvenil em 1992, enquanto os dois últimos chegaram pouco depois. Em média, os caras desta turma jogaram 15 temporadas pelos Diabos Vermelhos, das 24 de Giggs às 12 de Beckham, por exemplo. Exemplo raro de geração que protagoniza, da base ao torneio máximo dos profissionais, as conquistas de um clube gigantesco. E que marca, por consequência, também a presença enquanto núcleo da seleção inglesa – à exceção do galês Giggs, claro.


Se fosse rotina não viraria filme. E nem precisa recorrer ao cinema para encontrar histórias de grandes craques adolescentes que não vingaram, estrelas precoces que resumiram à subida aos profissionais a um brilhareco cadente, ou duplas de ataque encantadoras desfeitas no primeiro clássico com derrota e vaias da torcida. Imagina uma turma toda? No Brasil do futebol-exportação então, mais fácil ainda de enxergar. O que um dia se resumiu a um resmungo no boteco pela peneira mal aproveitada no terrão, hoje ganha contornos de série policial com empresários suspeitos no Oriente Médio ou contratos curtos para ligas alternativas na Índia, nos Estados Unidos.

Mas se o assunto é cinema, vale acompanhar a saga bem filmada em Futebol, série dos anos 1990 de João Moreira Salles e Arthur Fontes cujo terceiro episódio mostra garotos atrás do sonho no São Cristóvão (e tão difícil de achar quanto a história de um menino que repetiu nos profissionais todos os gols marcados nos infantis), ou Mata Mata, do alemão Jens Hoffmann, um contemporâneo que acompanha brasileiros, hoje na faixa dos 20 e pouquinhos, jogando e negociando com engravatados do futebol-negócio.

Diego


O ano devia ser 1999, por aí. Eu jogava no clube da fábrica da Volkswagen, tradicional em São Bernardo do Campo, ABC Paulista. Durante meses, o único assunto nos treinos da molecada era o camisa 10 do Santos que tinha acabado com um jogo-treino realizado no nosso campo. Eu, numa categoria abaixo, não assisti, mas tinha amigos entre os volantes nossos, derrotados: os dois levaram cartão amarelo em botes ainda no primeiro tempo; substituídos, viram os dois reservas repetirem a cena, bote seco, falta feia no 10, amarelo de cara.

O camisa 10 era Diego, nascido em 86. Pouco depois ele subiria aos profissionais ainda aos 16 anos para ser uma das estrelas do improvável time campeão brasileiro de 2002, que de quase eliminado teve na estrela dos garotos o grande trunfo para superar São Paulo, Grêmio e Corinthians. O protagonismo no time de cima se deu com o técnico Emerson Leão, que recorreu aos meninos diante de um elenco de poucas opções. Por muitíssimo pouco – o rebaixado Gama venceu o Coritiba na rodada final da primeira fase – as revelações não terminam num discreto nono lugar (viva o mata-mata!). 

Para os padrões brasileiros, a Classe de 2002 até que durou bastante. Os jovens não eram necessariamente formados no clube, mas tinham ali um primeiro grande destaque: Renato, 23, Alex, 20, e o próprio Diego, 17, ficariam no clube até o meio de 2004, jogando só o início da campanha do título brasileiro daquele ano, além de alcançarem dois vices na temporada anterior, da Libertadores e da própria Série A; Elano, 21, foi para a Ucrânia no final do ano e Robinho, 18, ainda ficou até os 21, quando seguiu para o Real Madrid no meio de 2005.

Doze anos depois, Diego está voltando, mas para o Flamengo. É o típico caso de brasileiro talentoso em tempos de futebol-mercado: em uma década teve ótimos e maus momentos em Portugal, Alemanha, Itália, Espanha e Turquia, conquistou Copa América, jogou Olimpíada, mas nunca foi à Copa do Mundo – saiu do Brasil aos 19 para retornar aos 31, saudoso e incógnita, chegando num Campeonato Brasileiro pegando fogo, quarta e sábado, quando não segunda e quinta e domingo e quarta, com a sensação, para muitos, de que poderia ter sido mais do que foi. Poderia?

Ganso


Paulo Henrique Lima, o Ganso, é de 89. Subiu aos profissionais de contrato novo no início de 2008, aos 18 anos, mas teve atuações apenas regulares. No ano seguinte, virou titular na campanha de final estadual e foi bem no Campeonato Brasileiro, jogando mais de 30 partidas e marcando 8 gols. Em 2010, arrebentou: campeão paulista, da Copa do Brasil e convocado entre os suplentes dos 23 da lista de Dunga para a Copa do Mundo. 

Símbolo da renovação da seleção pós-Mundial, era o camisa 10 da amarelinha quando passou por cirurgia no joelho. Sem o mesmo ritmo de antes, teve importância pontual na conquista da Libertadores de 2011. A turma também durou o que dá para durar diante dos euros que passam sob a porta a cada verão: Rafael, nascido em 90, ficou até o meio de 2013, Alex Sandro, 91, saiu após a Libertadores, assim como Danilo, 91, vendido na mesma época, mas que ainda jogou o Mundial no final do ano. Neymar, 92, tão ponto fora da curva quanto estrela de negociações tumultuadas, quando não casos de justiça, deixou a Vila no meio de 2013, aos 21 anos. Ganso, em atrito com diretoria e fatiado por empresários, seguiu para o São Paulo no segundo semestre de 2012, completando 23.

Tal como Diego, jogou Copa América, jogou Olimpíada, e teve seus vários momentos de grande meia brasileiro. No Morumbi, jogou muita bola em 2014, mais ainda nesta metade de 2016, até ser negociado com o Sevilla deixando a sensação, para muitos, de que poderia ter sido mais do que foi. Poderia?

Jean Chera


Jean Chera nasceu em 1995, mas nem chegou a subir com a sua turma. Com salários altíssimos para um adolescente, bebeu da fonte de Diego e Robinho – o clube que revela talentosos jogadores e oferece espaço entre os profissionais -, depois da de Ganso e Neymar – não só revela, como se esforça para mantê-los com salários altíssimos e planos de carreira ousados. Mas a ruptura se deu cedo, mais cedo possível, aliás. Em 2011, foi para o Genoa, da Itália.

Ainda uma criança, passou por Flamengo, Atlético-PR, Cruzeiro, Oeste e outras aventuras no futebol europeu. Voltou para o Cuiabá e ganhou nova chance no Santos, sob remuneração modesta e empréstimo à vizinha Portuguesa Santista. Com torção no tornozelo, abandonou o tratamento para acompanhar a família e o nascimento de seu segundo filho, previsto para agosto. 

Anunciado enquanto novo aposentado, negou, em conversa com o UOL nesta terça-feira, 19, que desistiu de tentar. Disse que vai ainda vai resolver seu futuro, ainda que seja difícil que o vínculo com o Santos seja mantido, mesmo que os R$900 mensais estejam bem distantes dos R$30 mil que chegou a receber quando deveria estar brincando de bola.

Na repercussão da decisão de momento de Chera, a sensação, para muitos, é de que poderia ter sido mais do que foi. Poderia?

Mais do que jogadores de futebol, esses três meninos, cada um a seu tempo, preenchendo buracos que se abriam e tentando agarrar as efêmeras oportunidades, foram e são repositórios de expectativas. O que separa Diego, de Ganso, de Chera, que se não seja uma arrancada num dia certo, um belo passe numa tarde de time desfalcado, uma tabela que dá certo numa noite de vitória? Detalhes mínimos que separam sua turma entre o Ulrico Mursa e o Vicente Calderón, deixando claro que não necessariamente seja melhor viver em Bremen ou Itápolis. A expectativa, quem cria, somos nós. As hierarquias, comparações e julgamentos, também.