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Copa São Paulo

DESCASO COM A GAROTADA

::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::

Início de ano é uma excelente oportunidade para assistir à garotada no torneio mais tradicional do futebol de base: a Copa São Paulo de Futebol Júnior. É inegável que trata-se de uma excelente vitrine para os garotos, visto que os jogos têm transmissão para o Brasil inteiro. Perdi as contas de quantos jovens arrebentaram na competição e logo foram alçados para o time profissional, se destacando no mesmo ano.

Dito isso, é inadmissível o estado do gramado da grande maioria dos jogos. É um crime o que estão fazendo com essa garotada, colocando a integridade física deles em risco, com campos esburacados, lama, poças, areia, grama alta, capim e por aí vai. Quantas vezes já bati na tecla que é preciso investir na nossa base? Não tem mistério, é de lá que vão sair nossos futuros craques! E claro que esse investimento vale não só para os clubes, mas também para a federação. A não ser que seja do interesse deles ficar mais 20 anos sem levantar uma taça da Copa do Mundo! Kkkkk!

Temos que aplaudir esses meninos de pé por conseguirem praticar esse esporte em meio a esses pastos que são obrigados a jogar. O pior é que todo ano essa reclamação vem à tona e os dirigentes não fazem esforço algum para propor melhorias. O interesse deles está somente em colocar as joias em campo para vender o quanto antes para um clube europeu por cifras milionárias. O que eles não sabem é que, com gramados melhores, novos craques poderiam despertar o interesse das potências mundiais. A matemática é simples!

Agora, se os campos estão nesse estado, tenho até medo de imaginar como devem ser as acomodações. Vale destacar que Flamengo, Corinthians, Vasco, Fluminense, Grêmio e São Paulo já deram adeus ao torneio e estou na torcida para que uma das zebras levante o caneco.

No mais, os Estaduais começaram e é impressionante como pouco se fala da competição. Que saudade dos tempos em que o Carioca era o torneio mais charmoso, que Francisco Horta agitava trocas de jogadores para tornar ainda mais competitivo, que a Geral bombava e por aí vai! Éramos felizes demais e sabíamos!

Essa história de poupar os jogadores eu nunca vou entender, e considero uma grande falta de consideração com a torcida. O Vasco, por exemplo, empatou em 0 a 0, assim como o Palmeiras. O Botafogo perdeu para o Audax e o Corinthians para o Bragantino. Certo está o Fernando Diniz, que entrou com força máxima no sábado e tem dado a devida importância ao Carioca!

Pérolas da semana:

“A ligação direta por dentro tem dado consistência e intensidade para o time amassar o adversário e ter uma leitura de jogo que faça o falso 9 espetar a linha de 5 e chapar na orelha da bola”

“Com uma linha baixa em transgressão, o time aciona o atacante agudo no último terço do campo, que tira o zagueiro para dançar e esconde o movimento do chute. Dessa forma, consegue dar dinâmica de jogo, quebrando a intensidade do adversário e tornando o time reativo”.

Esses analistas de computadores seguem enchendo a nossa paciência! Até quando?

COPA SÃO PAULO PREMIA SEUS MELHORES FINALISTAS

por André Luiz Pereira Nunes


Santos busca o quarto título da Copinha

Foi feita justiça. A presente edição da Copa São Paulo de Juniores será decidida pelos melhores times da competição: Palmeiras e Santos. A final premia os esforços de duas equipes que não mediram esforços para alcançar o título. Também retrata o que todos já sabem. Existe, de fato, uma disparidade abissal entre a qualidade do futebol paulista e a do resto do país. A base é o verdadeiro pilar. Sem esse investimento, não existe trabalho de médio nem de longo prazo. O futebol já deixou de ser uma brincadeira há muito tempo. É uma indústria centrada na venda e compra de jogadores.

Em se tratando de Rio de Janeiro apenas o Flamengo poderia ter tido vida mais longa no certame. Mas a sua diretoria resolveu, de maneira incompreensível e incompetente, dispensar os melhores atletas no meio da competição. Resultado: o rubro-negro acabou eliminado, em seguida, pelo “poderoso” Oeste, de Itápolis.

O Vasco até ensaiou uma boa performance. Contudo, não teve condições de superar o São Paulo, caindo nas oitavas. Os outros, com exceção do Resende, não merecem sequer uma citação de nota de rodapé.


Endrick, do Palmeiras, é a principal revelação do torneio

O torneio contou com alguns bons jogos, nenhuma maravilha, é claro, mas já se é possível sonhar com uma nova safra de jogadores talentosos como Endrick, do Palmeiras. Aliás, o Verdão investiu pesado no torneio, ao contrário do Flamengo, pois visa uma conquista inédita. Já o Santos possui um trabalho sedimentado e extremamente competente no que tange às categorias de base. Oito anos depois do bicampeonato, em 2014, o Peixe volta a uma final de Copa São Paulo, a sexta de sua história. Será a chance do quarto título (84/2013-2014). Ainda foi vice em 1982 e 2010.

Como sempre, a imprensa já projeta em Endrick, destaque absoluto da competição, um futuro promissor, inclusive vestindo a camisa da Seleção Brasileira. Tal disparate não deveria ser sequer ventilado, haja vista que se trata de um atleta ainda muito jovem. Também se esperava muito, em 1988, do meia-atacante Mil, do Nacional (SP), vencedor e craque daquela edição. Infelizmente foi mais uma jóia preciosa que se perdeu no sumidouro de talentos que abunda nesse Brasil do desperdício.

SURPRESAS DA COPINHA

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Enquanto não começa o campeonato estadual, tenho acompanhado a Copinha. Sei que o torneio é uma oportunidade única para centenas de garotos pelo Brasil, mas esse excesso de times acaba desvalorizando a competição. Não temos nem estrutura para tantos jogos e o resultado são gramados de péssima qualidade por conta da grande quantidade de jogos e os meninos que se virem!

Fico contente com os times considerados pequenos eliminando os favoritos: o Mirassol goleou o Bahia e o Oeste eliminou o Flamengo merecidamente. A comissão do rubro-negro carioca teve a absurda ideia de tirar os principais jogadores da competição para colocarem no Carioca e deu no que deu…

Ainda sobre a Copinha, gostei muito de acompanhar o Resende, time que joga tocando de pé em pé, sem chutão e deu um banho de bola no Corinthians na casa do adversário. Acompanhei a classificação do Botafogo contra eles nos pênaltis e ficou nítido que o gramado atrapalhou bastante o estilo de jogo. Tudo isso exige tempo e é fruto de um investimento 100% na base em parceria com a Pelé Academia e o Lyon, da França, que dão todo suporte à garotada, inclusive acadêmico. Queria eu que todos os clubes tivessem essa consciência porque é a salvação para o futebol brasileiro! Também destaco as campanhas de América-MG e Santos, que fazem um ótimo trabalho na base.

Durante a minha caminhada no Leblon, um vendedor ambulante me perguntou sobre a convocação do Tite. Sinceramente, não tenho mais paciência para falar! Já são mais de 20 anos sem ganhar uma Copa do Mundo, não vejo luz do fim do túnel. E olha que o nível do futebol europeu não está lá essas coisas! O Real Madrid levantou mais um caneco, mas dá pra ver que já não é mais o mesmo quando vemos que Eder Militão, Casemiro, Rodrygo, Vinicius Jr. são a base do time. Não tem mais jogadores excepcionais como Zidane, Ronaldo, Raúl, Beckham, Roberto Carlos e o próprio Marcelo!

A pedido da galera, finalizo a coluna com uma pérola que anotei dos analistas de computador: “A bola está viva! Foi chapada por um jogador agudo, que trombou com os zagueiros da segunda linha e fez uma ligação direta pela beirada do campo”. E aí, geraldinos? Entenderam alguma coisa?

COPAS SIMULTÂNEAS

::::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::::


Para os que dizem que só reclamo, estou muito feliz que a Copa Africana de Nações voltou a tevê aberta depois de 12 anos. Reunindo 24 seleções do continentes, é uma mini Copa do Mundo e a atual edição reúne estrelas de gigantes europeus, como o egípcio Salah, o senegalês Mané, o argelino Mahrez. o gabonês Aubameyang e por aí vai..

Sempre fui fã do futebol africano e poderia ser ainda mais se a maioria dos craques não mudassem a nacionalidade em busca de mais visibilidade. Marius Trésor, Thierry Henry, Zinedine Zidane, Lilian Thuram, Karim Benza, Patrick Vieira e Youri Djorkaeff são alguns deles. Para se ter noção, 14 dos 23 jogadores campeões mundiais em 2018 pela França têm origens africanas. Precisa dizer algo mais? No fim de semana, acompanhei Camarões x Burkina Faso e Etiópia x Cabo Verde, dois jogos muito disputados! Gostei do que vi!

Simultaneamente à Copa Africana, estou acompanhando a Copinha! Vocês lembram-se da corrida do ouro, em Serra Pelada? O futebol virou isso, escancaradamente isso, um garimpo sem disfarces. Tenho assistido alguns jogos e, infelizmente, o nível é abaixo da crítica. Claro, nota-se alguns meninos talentosos, mas com falhas grosseiras em fundamentos básicos. A impressão é que quando um talento é descoberto todos os cuidados voltam-se exclusivamente para ele, a salvação da lavoura. O resto é figuração. Dá o pulo do gato quem tiver o empresário mais influente, a rede de relacionamentos mais ampla. Se tiver dupla cidadania, ótimo, valoriza, facilita!

Vi alguns jovens recém-promovidos da base do Vasco serem dispensados. Estão sendo substituídos por atletas mais rodados e experientes. Tantos anos sendo treinados, alguns desde os cinco anos no clube, investimento financeiro e psicológico….será que o descarte é a melhor saída? Na verdade, isso é um gol contra da própria comissão técnica que reconhece sua péssima formação.

Os clubes precisam vender algum diamante para pagarem suas dívidas e negociam a preço de banana para Noruega, Tailândia, Islândia. A Copinha é uma vitrine, mas é o limite para saber se vai ou racha. A máquina precisa rodar, os cifrões precisam circular e os boletos, as contas e as multas rescisórias se acumulam sobre a mesa dos dirigentes. A garotada é negociada cada vez mais cedo. Quem correr mais, literalmente, vence. Antigamente, os diamantes eram lapidados por mestres nessa arte. Ser treinado por um Didi tinha o seu valor, mas as folhas secas não caem mais das árvores, o violino de Carlinhos não tem mais cordas, as referências apagaram-se da história.

Sempre que vejo a Copinha lembro de meu início e das histórias que ouvia sobre a Escolinha do Neca, de Célio de Souza e de tantos outros formadores. Hoje, vejo gerações serem perdidas por falta de profissionais que consigam observar o talento individual de cada um, as posições em que melhor se encaixam, o detalhe que faz a diferença. O futebol não pode ser dominado por aventureiros e garimpeiros sedentos e, sim, por lapidadores experientes, que são especialistas em nos brindar com arte.

Para facilitar a vida dos geraldinos, resolvi simplificar o linguajar! Na minha geração, “ligação direta” se chamava bicão pra frente! A “primeira linha” de quatro era na verdade lateral-direito, beque central, quarto-zagueiro e lateral-esquerdo. Protegida por um volante, a “segunda linha” era composta por ponta-direita, meia-direita, meia-esquerda e ponta-esquerda. Na frente, o centroavante era o responsável por balançar as redes! A rede nunca teve bochechas, era ângulo, assim como a bola só tem gomos e não orelha ou cara! Pra que dificultar?

TIREM AQUELE HOMEM DE LÁ!

por Zé Roberto Padilha


Foi bom a Copinha começar vazia, silenciosa nas arquibancadas, só assim deu para perceber não apenas o apito do juiz, mas a quantidade de “caralhos” ecoados que superam os passes errados. Mas de onde vem a praga daninha que vem matando, na fonte, o nosso futebol arte?

Apenas nestas transmissões, de futebol mudo, está sendo possível perceber a origem das células cancerígenas que há muitos anos vêm destruindo a criatividade das nossas divisões de base. Elas crescem em uma área demarcada em que foi permitida a entrada de um intruso. E em meio ao talento natural que emerge com a bola nos pés, com matérias primas selecionadas em peneiras, colocadas em seu habitat natural, gramados do país do futebol, dispostos a pintar uma nova obra de arte, surge uma voz que a tudo inibe: “Pega!”, “Volta!”, “Marca!”.

Por favor, tirem aquele homem de lá!

Certa vez, meu filho me perguntou qual foi minha melhor jogada. Contei a ele que não foi um gol, nem um lençol, muito menos uma caneta. Toninho Baiano, nosso lateral-direito tricolor, levou uma pancada e saiu de maca em um Fla-Flu. Como ponta-esquerda e seu companheiro mais distante dalí, dei um pique atravessando o campo e fui lhe cobrir. Na passagem, pedi ao Rivellino:


“Cobre as subidas do Júnior (então lateral-direito do Flamengo) para mim!”.

Só me foi possível raciocinar o jogo, contribuir com a mente, não apenas com os pés, porque nosso treinador, Didi, estava sentado no banco. Só assim, com liberdade, sem o grito da opressão, somos capazes de crescer profissionalmente. Assim surgem líderes, os capitães dos times e futuros treinadores. Então, por favor, tirem aquele homem dalí!

Em uma das maiores obras primas já realizadas no templo do nosso futebol, Rivellino parou a bola em um sábado à tarde, no Maracanã, frente ao camisa 5 do Vasco, Alcir. O Maracanã se calou. Seu treinador, Paulo Emílio, estava sentado e calado também. Todos nós sabemos a pintura que foi.


É no momento da criação que todo artista precisa do silêncio, da confiança, não de gritos, da quantidade de copinhos ridículos posicionados para tirar dos seus pés o foco da magia. Zico, Pelé, Gérson, Tostão, craques como eles não aparecem mais porque demarcaram, na voz sem limites da opressão, o poder da criação.

Se desejamos que a arte volte ao futebol brasileiro, o improviso e a genialidade reapareçam, ainda dá tempo, afinal, a Copinha está apenas começando. Mas, por favor, tirem aquele homem  que grita com as crianças dali!