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Celso Meira

O PODEROSO CHEFÃO

Sergio Pugliese


Celso Meira aplica o cartão vermelho para Léo do Peixe

Grandalhão, cara de mau e protegido de Alberto Ahmed, dono do campo, Celsão Meira normalmente sabe quem vai ganhar os jogos antes mesmo do pontapé inicial. Não é o novo Nostradamus, nem nasceu para feiticeiro, mas é o comandante do apito, um árbitro rancoroso. Recentemente, chegou ao Caldeirão do Albertão, tradicional arena do Grajaú, onde apita há 10 anos, e deu “bom dia!”. Todos responderam, menos Joãozinho Perdigão. Tadinho! E olha que não faltou educação ao pontinha arisco. Distraído, concentrava-se na aplicação de gelo na batata da perna. Mas Celsão não perdoa e pela atitude relapsa, Joãozinho transformou-se no eleito do domingo.

– Minhas diferenças resolvo no apito e antes mesmo das partidas costumo avisar quem vou perseguir em campo – revelou para a nossa equipe, sem constrangimentos.

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Mas esse comportamento desgastou, pior, causou um racha no grupo e após mais uma arbitragem tendenciosa, para alguns criminosa, em favor de Alberto Ahmed, Celsão Meira atiçou a ira de alguns conselheiros poderosos, todos veteranos, bem relacionados e amigos dos craques irmãos, Rodrigo Surfistinha e Ricardinho, filhos de Alberto.

– Precisamos afastar esse ladrão daqui – chutou o balde Joãozinho Perdigão, um dos líderes do movimento “Apito Limpo”.

Joãozinho tinha razão para tanta revolta, afinal foram três pênaltis não marcados a seu favor e um gol legítimo anulado. Por outro lado, Alberto Ahmed estava feliz da vida com seu gol, o da vitória, de mão, no último minuto. Na resenha, grupo divididos. Joãozinho buscou apoio de Rodrigo e Ricardinho, dos formadores de opinião Tico Blá Blá Blá, Vagner do Transplante e do orador Betinho Carqueija. Para bancar os gastos da campanha, atraiu os tesoureiros Viquinho e Zé Carlos, e os gerentes Kadu do Empréstimo, Marcelo Carqueija e Sérgio Bradesco. Para atuar como Black Blocs convocou Maurição, Ericson, Franco e Bebezão, e para dar credibilidade ao movimento e conquistar de vez a simpatia da imprensa, um reforço de última hora: Júnior Negão, o “Joaquim Barbosa”.

– Vamos para às ruas e para o Superior Tribunal de Justiça, tudo para afastar esse cara – conclamou, Joãozinho.

Experiente, Celsão sentiu a situação complicar e mandou Vilson, o garçom-cabeleireiro, caprichar nas porções para Alberto Ahmed e até massagem nos ombros do “patrão” ele fez. Nosso atento fotógrafo, Guilherme Careca Meireles, por baixo da mesa, registrou troca de envelopes entre os dois. Na mesa de Joãozinho, o fundador da pelada, Aziz Ahmed, fazia cara de nojo para a cena.

– Há muitos anos esse Celso é um ladrão descarado – disparou.

Em pouco tempo, o grupo de Joãozinho triplicou as adesões, mas bastou uma ligação de Alberto Ahmed para chegarem três poderosos advogados, Dudu Domecq, Pires e Leão, acompanhados de Alemão, goleiro aposentado, sósia do ministro Ricardo Lewandowski. Contra o desejo do povo, a lei! Celsão explicou o caso aos advogados, mas eles o tranquilizaram, tinham uma carta na manga, os embargos infringentes. Celsão, ar vitorioso, mandou o barman Sandrinho descer mais cinco geladas! Alberto Ahmed, anfitrião de primeira, sugeriu juntar as mesas para debater as reivindicações. Joãozinho pediu o afastamento de Celsão e elencou os motivos: seis pênaltis marcados a favor de Alberto, desses três batidos para fora, mas anulados por “invasão de área”, oito expulsões, nenhuma de atletas de Alberto, 18 intimidações e 27 cascudos em crianças. Nem o acusado aguentou e caiu na gargalhada! Os dois brindaram! Alemão Lewandowski e Junior Joaquim Barbosa abraçaram-se, Alberto suspirou “isso aqui é bom demais!”, Nei Pereira, Betinho Cantor, Juarez Bombeiro e Marcelo Rodrigues, afinadíssimos, sacaram seus violões e puxaram “Que País é Esse?”, e a resenha, como sempre, terminou em churrasco.