por André Luiz Pereira Nunes
Em 16 de junho de 1950, era inaugurado o maior estádio do mundo. Nomeado Mário Filho, um então notório membro da imprensa carioca, tinha capacidade para 200.000 espectadores, número na época equivalente a 10% da população da cidade do Rio de Janeiro.
Após visitas do presidente da Fifa, Jules Rimet, em 1938, o Brasil seria escolhido em 1946 para sediar a Copa de 1949. Contudo, em virtude dos rescaldos da Segunda Guerra Mundial, a competição acabou adiada para o ano posterior.
A obra, a qual levou dois anos para ser concluída, teve um custo aproximado de 250 milhões de cruzeiros. A primeira partida foi entre a seleção carioca e a de São Paulo. O gol de estreia foi marcado por Didi, o Folha Seca, para os cariocas, mas os paulistas levaram a melhor e venceram por 3 a 1. Uma semana depois, o Brasil bateu o México por 4 a 0, já na estreia do Mundial de 1950.
A ideia de construir o novo estádio no terreno do antigo Derby Club partiu do prefeito do Rio de Janeiro, Mendes de Moraes. A escolha, entretanto, foi bastante contestada pelo então vereador Carlos Lacerda, futuramente deputado federal e governador do antigo estado da Guanabara, que desejava a construção em Jacarepaguá. Porém, na época, o Jornal dos Sports, comandado pelo jornalista Mário Filho, publicou diversos conteúdos de apoio à construção do estádio na Tijuca. O tablóide também realizou uma pesquisa popular que ratificou a preferência popular pela mesma região.
Ao longo das décadas, o Maracanã passou por diversas mudanças para se adaptar à modernidade com o intuito de sediar grandes competições internacionais. O fato culminou na drástica diminuição da capacidade, atendendo atualmente a 80 mil pessoas, menos da metade da máxima anterior. Mas, infelizmente nem sempre as obras trouxeram melhorias. Lamenta-se profundamente o fim das arquibancadas e da geral que conferiam um saudoso aspecto popular e democrático. Além disso, o espaço que compreende o estádio de atletismo Célio de Barros foi bastante danificado e até hoje não foi reformado. Absurdamente chegaram a cogitar a sua total destruição para que se tornasse um estacionamento. Os moradores do bairro também ressentem do desaparecimento do antigo parquinho que atendia às crianças da comunidade. Permanecem, no entanto, de pé o Colégio Municipal Friedenresch e o Parque Aquático Júlio Delamare, os quais também ficaram a perigo por conta de exigências descabidas para a Copa do Mundo. Vale ressaltar que o Maraca também é um ponto turístico da cidade e do país e o seu entorno é bastante utilizado diariamente para a prática de passeios e exercícios.
Além de duas Copas, o ‘Maraca’ recebeu uma série de partidas emblemáticas e inesquecíveis, competições importantes como os Mundiais de Clubes de 1963 e 2000, além de grandiosos shows musicais e eventos, os quais incluiu até mesmo a chegada de Papai Noel de helicóptero. Ainda celebrou as conquistas do Brasil nas Copas América de 1989 e 2019 e foi palco dos Jogos Pan-Americanos de 2007 e das Olimpíadas de 2016.
O momento mais dramático do Maracanã ocorreu realmente na final da Copa de 1950. O Brasil era favorito a conquistar a taça de campeão mundial de futebol. Um mês depois da inauguração do maior estádio do mundo, no dia 16 de julho, o Maracanã vivenciou um dos dias mais amargos da sua história. A final entre Brasil e Uruguai fez os 199.854 torcedores presentes se calarem completamente. O maior público do estádio da história silenciou ao ver o Brasil ser derrotado pelos visitantes por 2 a 1. O episódio ficou conhecido como Maracanazo. Em espanhol, o sufixo “azo” é usado para significar algo grandioso.
O estádio é chamado popularmente de Maracanã por ter sido construído ao lado do rio homônimo. No Brasil, é prática costumeira entre torcedores nomear um campo com o mesmo nome do bairro ou da região na qual se encontra. Atualmente o Maraca não renega o seu papel de protagonista, abrigando um dos hospitais de campanha que atendem aos infectados pelo novo coronavírus.
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