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Eduzinho Coimbra

EDUZINHO, NOTA 100!

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça vídeo e edição: Daniel Perpétuo | 

 

Em mais uma tabelinha envolvente, Museu da Pelada e Canal 100 esticaram o tapete vermelho para homenagear Edu Coimbra, o grande Eduzinho, maior ídolo da história do América-RJ!! E, nesse caso, o vermelho do tapete combinou com a cor do tradicional clube carioca. Eduzinho é o terceiro entrevistado do Museu/Canal 100, desde que anunciaram a parceria. Os dois primeiros foram os cruzeirenses Raul e Dirceu Lopes. Ao chegar no Bar Insano, do parceiro Sergio Bragança, na Barra da Tijuca, o craque não conseguiu esconder a felicidade quando soube que veria alguns lances seus, transmitidos pelo Canal 100.

– Caramba! Canal 100? Eu saía de Quintino para os cinemas de Cascadura ou Madureira para me ver jogando. Não levava minha namorada para ela não atrapalhar e torcia para ser algum jogo do América! Nenhuma tecnologia vai conseguir resgatar aquela emoção.

Responsável pelo acervo do Canal 100, Alexandre Niemeyer separou algumas partidas e editou os melhores lances de Eduzinho. As primeiras cenas transmitidas foram entre América e Flamengo, no Maracanã. Numa resenha para lá de descontraída, com muita cerveja, bolinho de bacalhau e pastel, o camisa 10 demonstrou que está com a memória em dia, lembrando de todos os lances e jogadores.

Sobre os duelos contra o Flamengo, aliás, o ex-jogador fez uma revelação bastante curiosa. Sempre com grandes exibições diante do time em que o irmão Zico se tornou ídolo, Edu explicou de onde vinha tanta motivação.

– Eu tinha a obrigação de jogar bem! Se eu jogasse mal, muitos iam dizer que eu tava fazendo corpo mole. Todos sabiam que minha família inteira era flamenguista! O Flamengo era freguês do América naquela época! – disse o artilheiro, explicando depois que a tal freguesia acabou quando Zico surgiu.

Vale destacar que o talento para o futebol corre no sangue da família Antunes Coimbra. Além de Zico, não podemos esquecer do saudoso Antunes, com quem Edu teve a oportunidade de jogar junto no América na década de 60, e Nando, que teve passagens por Ceará e Portugal. Por conta desse “DNA privilegiado”, Edu não tem medo de dizer:

– Nenhuma família no mundo fez mais gols do que a nossa! Tenho certeza absoluta! Só eu, Zico e Antunes já temos mais gols que todo mundo e ainda tem o Nando! – gabou-se, para a risada de todos.

Depois de muitas lembranças, Alexandre “apertou o play” para o segunda atração: Vasco x Fluminense. Assim como o jogo anterior, o clássico carioca ainda estava fresquinho na memória de Edu.

As lembranças, no entanto, não eram das melhores. Naquela partida, Eduzinho reclamou muito da arbitragem de Arnaldo Cezar Coelho. Além de ter sofrido um pênalti não marcado pelo árbitro, o craque do Vasco ainda marcou um gol belíssimo, de bicicleta, invalidado “por estar em posição irregular”.

– Depois daquele jogo, nunca mais falei com o Arnaldo! Anular um gol daqueles foi um crime! E eu fui derrubado na área, sim! Foi pênalti claro! O PC Caju ainda me xingou, falando que eu tinha me jogado!

Quando comentava sobre essa partida, Eduzinho revelou que a grande maioria dos jogadores já entrava em campo procurando os cinegrafistas do Canal 100 e, quando eles estavam presentes, era uma motivação a mais, pois todos queriam fazer lances bonitos para ver no cinema depois.

O terceiro duelo transmitido foi uma das poucas exibições de Eduzinho com a camisa da seleção brasileira: Brasil x Uruguai, pela Taça Rio Branco. Embora fosse diferenciado e tivesse extrema facilidade para balançar as redes, o craque teve o azar de ser de uma geração de ouro para o futebol brasileiro. A grande concorrência no ataque da seleção fez com que Eduzinho não fosse convocado para a Copa de 70, quando vivia um momento mágico no América.

– Eu fiquei bem triste! Eu sei que jogava no América, que não estava entre os maiores do Brasil, mas merecia a vaga! Tinha acabado de ganhar o prêmio de melhor jogador sul-americano, mas acho que fui prejudicado pela ditadura. Minha família sofreu muito no regime militar!

Tendo vestido as camisas de América, Vasco, Bahia e Flamengo, o artilheiro se tornou técnico assim que pendurou as chuteiras, e teve a missão de comandar o time no qual se tornou ídolo, em 1982. Depois de treinar alguns clubes no Brasil, foi se aventurar no Kashima Antlers, do Japão, onde passou por uma situação extremamente engraçada e constrangedora, que pode ser vista no vídeo ao lado!

Além de ter sido um grande craque dentro das quatro linhas, o artilheiro mostrou mais uma vez que também seria titular em qualquer resenha do mundo!

Valeu, Eduzinho!!

 

O ANDARILHO

por Claudio Lovato


Foto: Max Rocha

Pode acreditar: ontem, quando cheguei ao estádio para a minha apresentação no meu novo clube, demorei para responder quando um repórter me perguntou em quantos times eu já havia jogado.

O cara perguntou de repente, tive que fazer um esforço, acho que ele teve até vontade de rir. Ainda bem que era uma entrevista para jornal, porque se fosse para TV ou para o rádio, num programa ao vivo, eu estaria sendo chamado de comédia, teria virado piada. 

Foram 14 clubes.

É, 14.

Saí de casa com 16 anos. Assinei meu primeiro contrato como profissional aos 18. Faço 35 daqui a dois meses. Rodei muito.

Pois é. O meu décimo quinto clube. Fechamos um contrato de dois anos, coisa rara para um jogador da minha idade. Eu tenho sorte. Mas também tenho meus méritos: sempre me cuidei, sempre agi com profissionalismo, nunca me meti em roubada, esquemas para derrubar técnico, essas coisas. Só me preocupei em jogar bola para quem estivesse pagando o meu salário.

Hoje, o Caio Lúcio, meu filho mais velho, me perguntou:

– Pai, você sente a mesma coisa por todos os clubes em que jogou?

Aquela pergunta me perturbou, confesso. Pensei nas minhas entrevistas de apresentação, sempre com beijo nos escudos, pensei nas minhas comemorações de gol com a batida de mão aberta no peito.

– Mais ou menos, filho.


Ele não se deu por satisfeito.

– Mas o seu primeiro clube foi o mais importante, não foi?

Fiquei olhando para a TV enquanto ele aguardava a minha resposta.

– O mais importante foi o que veio antes do primeiro! O time lá do bairro. Depois de lá virou outra coisa! – eu disse, sem pensar muito.

– O time do vô Alberto?

– É. O vô Alberto organizava tudo.

Senti a garganta apertar.

– Quando você parar, você podia organizar um time pra mim, não podia? Que nem o vô Alberto fez pra você? – ele perguntou.

De repente, naquele exato instante, eu me convenci de que queria fazer aquilo mais que qualquer outra coisa na minha vida. 

– Então, ué! – eu disse.

– Ué! – ele disse, e batemos as mãos, num “cinco” bonito.

Nosso papo, nossos códigos. Eu e o velho Alberto também tínhamos os nossos. Tudo tão diferente e, ao mesmo tempo, tão igual. Nostalgia e expectativa, sempre se revezando. Derrotas e voltas por cima. A próxima chance! Arrependimentos e autocongratulações. Passado, presente e futuro no mesmo pacote. A vida. 

CRAQUES DAS LENTES


Ismar Ingber

Dando sequência à série de fotógrafos que nos enviam belos registros sobre futebol, postamos quatro fotos históricas tiradas pelo parceiro Ismar Ingber, o aniversariante do dia! Flamenguista apaixonado, o craque dava trabalho para os marcadores, seja como ala ou como pivô, em um clube de Copacabana.

A paixão pela fotografia surgiu por acaso. Quando tinha 20 anos, um amigo o convidou para fazer um curso e, alguns anos depois, passou a dar assistência para um fotógrafo. A partir daquele momento, sua carreira decolou.

Estudou fotografia na School of Visual Arts of New York. Começou a trabalhar na Ed.Bloch, depois no Jornal do Brasil, onde também atuou como sub-editor e editor de fotografia. Como freelancer atende: COB, Coca-Cola, , Ed. Abril, Ed. Globo, H.Stern, Universal Channel, PETROBRAS, entre outros. Vencedor de um prêmio FINEP, organizou a exposição individual “Um Rio de Atletas” e participou das coletivas ¨Efiges¨, ¨Paisagens Inventadas¨ e ¨Fotógrafos Brasileiros”.

Tem fotografias publicadas no livros : “Rio de Janeiro–Retratos da cidade” ,”Mangueira, uma nação verde e rosa” e “Fotógrafos Brasileiros”.

Se o sucesso como fotógrafo não para de crescer, o mesmo não se pode dizer do desempenho nas peladas. Por já ter rompido o ligamento e também sentir fortes dores na coluna, precisou pendurar as chuteiras antes da hora. 

– O Pugliese brilhou em muitos gols graças aos meus passes! – lembra Ismar Ingber.

Confira as fotos:


O craque Júnior com a camisa da Juventus, time em que jogava nas areias de Copacabana


Em um trabalho de publicidade para a marca Monark, em um clube no Alto da Boa Vista, Pelé é clicado pelas lentes de Ismar.


Logo depois de marcar o golaço contra a Argentina, na Copa América de 2004, Adriano posou para o registro de Ismar.


Ismar registrou o exato momento em que Edmundo discute com o árbitro Luís Antônio Silva Santos, o Índio.

VASCOLECIONISMO

texto: Jorge Maia | entrevista: André Mendonça | fotos: André Gomes


“O meu Vasco de hoje é completamente diferente de antigamente, tudo muda de fato, mas a história não, ela se eterniza e enche de brilho os olhos daqueles que desejam conhecê-la”. A frase de efeito, carregada de saudosismo, é do parceiro Jorge Maia, um exímio colecionador de itens do Vasco da Gama. Depois da matéria com Victor Raposo, o colecionador flamenguista, corremos atrás de um vascaíno, que ressaltou que colecionar é história, conhecimento cultural, terapia, gestão e organização! 

Durante a resenha, Jorge revelou ter sido um grande goleiro, principalmente no futebol de salão, onde conquistou oito títulos municipais consecutivos. É no colecionismo, no entanto, que o craque se destaca! Embora nunca tenha visitado o Rio de Janeiro, o morador de Colinas, no Maranhão, mostrou, com mais de 2 mil peças catalogadas, que sua paixão pelo Vasco não tem limites!

Com quantos anos começou sua paixão pelo Vasco e pela coleção? Quem te influenciou?


Na verdade pratico o colecionismo desde os sete anos de idade, quando comecei com caixinhas de fósforos e tampinhas de refrigerante, em Belém do Pará, minha cidade natal. Na pré-adolescência mudei o foco para selos nacionais e internacionais, mas sabia que a minha identidade colecionável era outra, estava à procura, pois meu ego solicitava desta identificação. Somente em 1998, já morando em Colinas do Maranhão, encontrei meu foco verdadeiro. Colecionar camisas de futebol do meu clube amado. Este ramo colecionável foi a partir de uma forte influência de pessoas que colecionavam diversas camisas de outros times, na rede social do finado e saudoso “Orkut”.

Além de camisas e autógrafos, o que mais você coleciona?

Comecei com camisas, mas o Vasco da Gama não se resume sua história só em mantos, tem todo um conjunto de simbologia que expressam um contexto histórico! Por isso, somente em 2010, doze anos depois de começar a coleção, resolvi ampliar e diversificar bastante os itens da coleção. Vieram flâmulas, livros, medalhas, pôsters, revistas etc. Tudo que se referia à marca C.R. Vasco da Gama.

Qual foi o primeiro objeto da sua coleção?

O primeiro objeto da minha coleção foi uma camisa Adidas que ganhei do meu avô, que foi juiz de futebol da Federação Paraense, na década de 60. Meus olhos brilhavam de felicidade quando vestia aquele manto sagrado, era como estivesse numa armadura templária.


Todas as camisas são originais? Como faz para conseguir tantos itens do Vasco da Gama?

Hoje em dia, com mais maturidade e mais conhecimento na arte do colecionismo desportivo, procuro por peças que realmente estejam inseridas no histórico do clube. Antigamente, por exemplo, pegava camisas sem levar em consideração a autenticidade das mesmas. Agora, analiso e adquiro somente peças autênticas; uma camisa de jogo, um livro autografado, autógrafos de jogadores e celebridades desportivas, placas e medalhas comemorativas, assim como flâmulas e fotografias originais, etc. Hoje em meu acervo tenho mais de duas mil peças, todas catalogadas, mas historicamente dentro do conceito de memorabílias tenho por volta mil peças históricas tranquilamente.

Como funciona esse mercado dos colecionadores? Existe muita procura?

O mercado do colecionismo cresceu bastante, ou melhor, tem vida hoje em dia graças as redes sociais que divulgam e ajudam nos desejos de todos. Eu, por exemplo, comecei a partir do Orkut, conseguindo camisas, assim como a maioria dos colecionadores antigos. Com o surgimento do Facebook e demais redes interativas, novos colecionadores aparecem dia a dia, compartilhando suas ambições e divulgando seus interesses em compra, troca ou venda. Sem tais interações sociais, eu morando nas entranhas do nordeste, não teria o que tenho e não conseguiria o reconhecimento que adquiri. Talvez até não estivesse respondendo a tais perguntas para o Museu da Pelada.

Qual foi o valor mais alto que pagou por uma camisa?


O colecionador, muitas vezes, quando aparece uma peça que ele não tem, não mede esforço algum para adquirir àquela oportunidade única, talvez. Quer possuir, quer a todo custo tê-la em seu acervo ou em sua coleção, aí pode causar transtorno financeiro e pessoal. Eu atuo sempre com um orçamento para coleção e outro familiar. Nunca misturo as “estações” e nem cubro prejuízo de um ou de outro com orçamentos trocados. Por isso, ao longo dos anos, sempre fui equilibrado no sentido amplo orçamentário. Já paguei uma quantia alta por uma peça significativa, mas na maioria das vezes consigo peças raríssimas, e muito valiosas a preço de “banana”. Tudo vai do olhar critico e conceitual daqueles que me vendem ou doam algo. Muitos não têm o conhecimento histórico do valor daquele objeto, outros têm e acham que um acervo é o verdadeiro lugar deles, por isso fazem as doações. Já paguei R$ 400,00 reais por um par de chuteiras da década de 50, onde colecionadores deste ramo já me ofereceram alguns milhares de reais por essas chuteiras. E assim outros itens.

Com uma coleção tão grande, consegue escolher o item que você mais gosta? Aquele que você não venderia nem por muito dinheiro.

Todos os itens da minha coleção são importantes e têm o mesmo valor significativo, isso vai muito do foco que você escolhe para sua coleção. Desde um chaveiro adquirido em um camelô a R$ 2,00 até uma carteira social do clube da década de 20 tem o mesmo cuidado e significativo para um colecionador de verdade. Claro que nós temos àqueles que chamam mais atenção de maneira expositiva como: medalhas e placas antigas, flâmulas antigas, fotografias etc. Mas, especificamente, amo todos os itens que tenho e que fazem parte do meu foco. Os que não fazem, negocio para alimentar o desejo dos demais colecionadores e amigos.


Como colecionador, ninguém discute que você é um craque! Mas como é o Jorge em campo? Gosta de jogar peladas? Qual posição?

O Jorge saindo do cenário do colecionismo, sempre foi um desportista. Em Belém do Pará, comecei a praticar o antigo futebol de salão.Treinei do Clube do Remo, depois vôlei e futebol de campo e a posição de goleiro sempre foi meu forte. Quando cheguei a Colinas do Maranhão, fui goleiro de uma agremiação local chamada Botafogo Futebol Clube e fomos octacampeão municipal consecutivos. Depois vieram as conquistas no futsal e, por fim, pendurei as luvas com muitas conquistas no currículo.

Como um bom colecionador, imagino que você tenha alguma história engraçada envolvendo procura de algum item… Alguma camisa que você queria muito, algum outro colecionador oferecendo…


A camisa trocada com o flanelinha

Quando se coleciona, se procura desesperadamente, e se depara com algumas situações bem engraçadas. Todo colecionador, principalmente de camisas, fica sempre com olhos ligados esteja onde estiver prá ver se pinta alguma raridade na rua, no shopping, na balada, no campo de futebol ou em qualquer outro lugar.

Certa vez estava no centro da capital, em São Luis, andando na rua me deparei com um flanelinha usando uma camisa do Vasco autêntica de jogo. Era uma finta (Away), usada por Giovani, no começo da década de 90. Imediatamente o abordei e ele se espantou pensando que era assalto! Fui explicar pra ele que estava desejando somente a camisa do Vasco e sugeri a troca. Fui até uma loja renomada de confecções, e comprei uma “Lacoste” original pra ele. Troca justa, eu acho. Saí feliz da vida e toda vez que olho pra esse manto me ponho a sorrir e vivenciar a novela que foi pra conquistá-la. Tornei-me amigo do cara, e sempre que o via ele me pedia outra Lacoste, mas só que não era troca… Passei a cortar beco nas mediações que ele atuava no ramo.

Você disse que cultua o clube das décadas áureas. A que época, especificamente, se refere? E como vê o Vasco dos dias atuais?


A história do Vasco é uma das mais lindas, se não for a mais bonita do cenário futebolístico mundial! O meu Vasco de hoje é completamente diferente de antigamente, tudo muda de fato, mas a história não, ela se eterniza e enche de brilho os olhos daqueles que desejam conhecê-la. Futuramente o que vou contar de lindo do meu clube para meus netos? São os rebaixamentos em pouco espaço de tempo? Ou são os anos de brio do Expresso da Vitória? São os talentos vascaínos de hoje? Ou são as histórias de Barbosa, Ademir Menezes, Ipojucan, Danilo Alvim, dentre outras lendas? Claro que vou começar a história lá quando era apenas Clube de Regatas, passando pela discriminação racial, pelas conquistas dos negros e operários, chegando no Expresso da Vitória e aportar em Roberto Dinamite, o nosso ídolo dentro e fora de campo. O Vasco de hoje é medíocre, não transmite confiança alguma. Nós torcedores vivemos em cordas bambas e inseguros em relação ao dia de amanhã, nas competições. Sobe, cai, sobe, cai, sobe, cai. Chega. O C.R. Vasco da Gama tem que ser tratado como time grande, seus torcedores precisam ser respeitados, assim como sua história tem que ser conservada. É injusto vivermos só do passado. Eu amo o Vasco, eu respiro o Vasco. Eu tenho boa parte da sua história dentro de casa, tudo ao meu alcance.

Além disso, você nunca veio ao Rio. Por qual motivo?

Nunca fui ao Rio, não foi por falta de oportunidade ou interesse, jamais, e sim porque o Vasco atual me faz distanciar desta possibilidade, deste desejo. O Rio pra mim não é Copacabana, Corcovado, Maracanã, somente. O Rio pra mim é VASCO DA GAMA e todos os seus anexos. O Rio pra mim são os colecionadores e amigos virtuais que fiz ao longo desses anos. O Rio pra mim são vocês que dão oportunidade de uma expansão no ramo colecionável, e fazem do reconhecimento a força para continuar com o meu propósito de extensão do clube.

Qual é o jogo inesquecível pra você?

Os jogos inesquecíveis do Vasco pra mim, na realidade são dois. O primeiro é a virada histórica, ou melhor, a Virada do Século sobre o Palmeiras na Mercosul de 2000. Estar perdendo de 3 x 0 em pleno Parque Antarctica, numa decisão, e virar o placar, te digo e afirmo foi muita emoção… Confesso que quando pego o DVD desta partida e vejo, ainda me pergunto: “Será que o Vasco vai virar este placar?”

O jogo mais importante prá mim foi conta o Botafogo em 1976, onde Roberto Dinamite fez o gol de placa! Obra prima, foi surreal àquela jogada, ficou eternizada em minha mente, pois foi depois daquele jogo que tornei-me VASCAÍNO, isso aos meus nove anos de idade. Por isso, considero o jogo mais importante da minha vida. Foi aí que conquistei minha identidade futebolística e graças a Deus estava na hora e lugar certo na frente da TV com imagem preta e branca, com meu pai (que Deus o tenha) torcendo contra o Vasco!


E sua família? Também é apaixonada pelo Vasco?

Sou pai de três filhas e dois enteados. Isadora, de 20 anos, é tricolor, Sarah, de 16, é flamenguista e Ana Flávia, a caçula de dois anos, é vascaína de corpo e alma e espero que continue com este propósito sempre. O Jonas tem oito anos e é vascaíno e o André, corintiano, tem 12. Percebe-se uma miscigenação de gostos futebolísticos. 

Quero que futuramente a Ana Flávia, a caçula, toque minha coleção e que tenha o mesmo amor pelo ramo do colecionismo como eu tenho. Estou trabalhando diariamente para isso, porque a história do C.R. Vasco da Gama não irá se acabar, ela continuará sempre, seja com tempestades ou calmarias, assim como uma caravela em alto mar nas descobertas dos caminhos marítimos em mares turbulentos.


André Gomes, o enteado corintiano responsável por tirar as fotos

Agradecimentos a colaboradores:

Sérgio Pugliese pela oportunidade e interação no nosso dia a dia; Jorge Medeiros, grande Vascaíno e Prof. de História, no Rio, vem me auxiliando bastante no contexto histórico literário do acervo; André Moura, o mago das camisas; Roberto Campos, criador da estrutura do site, foi que me impulsionou no projeto virtual e grande colecionador cruzeirense; aos colecionadores vascaínos Cláudio e Tavares, amigos do peito mesmo; minha mãe (Sônia), irmãs (Karina e Alessandra), filhas (Isadora, Sarah e Ana Flávia), enteados (André e Jonas), pai (Pedro, falecido) e principalmente minha esposa Alciane Maia, que atura este colecionador chato todos os dias, e claro, ela é uma fonte de inspiração para que eu preserve a história do Vasco.


João Ernesto e Mauro Prais, os padrinhos

Dedico esta matéria especialmente a duas pessoas que são muito importantes para o Acervo Vascolecionismo. São dois ícones e historiadores vascaínos. São “PADRINHOS” do acervo e conhecedores profundos da história do clube. Quando fiz o convite para usufruírem dos títulos a eles designados, não pensaram duas vezes. Agradeço a JOÃO ERNESTO e a MAURO PRAIS, por fazerem parte desta família que dia a dia cresce em conhecimento e reconhecimento.

Confira o site: http://acervovascolecionismo.com.br/

 

A PRIMEIRA

por Sergio Pugliese


Na foto, Sylvio Amaro, o homem que jogou o camarão para o alto

Eduardo perdeu a direção quando tentou uma manobra ousada e ficou entalado num canteiro. Foi ultrapassado pelo amigo e bufou quando ele seguiu rindo, e ainda deu tchauzinho pelo espelho interno. PC Bonfim saiu de uma festa com o sol raiando e para não arriscar foi direto ao Campo do Agrião. Dormiria no carro a uma hora e meia que faltava. Chegando lá, foi surpreendido por outros dois malucos com a mesma ideia. Mauro Maidantchik acorda todo sábado às cinco da matina para garantir a vaga, no Jamelão. Fernando Coimbra teve acesso de fúria quando viu a pelada iniciar sem ele e, inconformado, jogou duas dúzias de tangerina no campo do Country Clube de Niterói. A mesma atitude irada teve Sylvio Amaro, do Bate Boca, na Barra. Arremessou 10 quilos de camarão para os ares e melou o jogo. Quem é peladeiro sabe. Vale tudo para não ficar fora da primeira. 

– Se a pelada é mágica, a primeira exerce um fascínio inexplicável. Ganhar, então, é garantia de uma resenha paradisíaca! – define Tico, da Pelada do Surdos e Mudos, em Laranjeiras. 

A equipe do A Pelada Como Ela É sabia disso tudo mas se impressionou com certas atitudes, todas insanamente divertidas. Na Asbac, do Estácio, foi demais! 

– Faltam quantos para fechar? – perguntou Luiz Flávio, o DJ, pelo rádio, em tom de pânico, ao organizador Porquinho. 

– Um – respondeu, com a tranquilidade de quem tinha a vaga garantida. 

DJ é um cidadão pacato, do bem, excelente professor de Educação Física, amado pelas crianças, mas a resposta de Porquinho fez com que ele pisasse fundo, avançasse dois sinais, quase atropelasse uma velhinha e lembrasse seus tempos de campeão de kart. Minutos depois o pessoal da concentração ouviu o som de carro cantando pneu e, em seguida, freando bruscamente. 

– O que foi isso? – perguntou Fino, assustado. 

– DJ chegou – disse Porquinho, com a experiência dos monges budistas. 

Estava certo. DJ entrou tropeçando e respirou aliviado quando ouviu Porquinho gritar “fechou!”. Exultante, contou sobre suas manobras ousadas e contabilizou o valor das multas que deve receber por avanço de sinal, mas vibrava por estar na primeira. Dez segundos depois, Fabinho Surfista entrou como um raio querendo saber se estava dentro. 

– Fechou, otário! – disse Porquinho, vibrando de prazer. 

– Tá todo mundo em dia com a mensalidade? São todos efetivos? – apelou Fabinho, tentando uma última cartada. 

Só restava lamentar. 

– O que me quebrou foi aquele sinal da Presidente Vargas. 

A loucura para não perder a primeira chega a níveis tão elevados que Joãozinho, da Pelada do Clube dos Macacos, adquiriu uma técnica ninja de trocar de roupa dirigindo. Certa vez estava na Lagoa apenas de cueca quando foi parado por um motoqueiro da PM. Desceu o vidro apenas alguns centímetros e passou a habilitação. Desconfiado, o policial o mandou descer. Então, abriu totalmente o vidro e revelou suas condições. 

– Você sempre dirige assim? 

– Vou trocando de roupa para não perder a primeira pelada – confessou, constrangido. 

O PM se apoiou no carro para rir e mostrou-se totalmente solidário. 

– Nossas mulheres nunca nos entenderão! Também faço isso e olha que tirar a farda não é mole. E a bota? Tenho que aproveitar os sinais fechados. Amigo, vai em frente, não quero lhe atrasar. Mas cuidado com os radares! 

E Joãozinho partiu. Mas perdeu preciosos minutos. Na verdade, ganhou. Empresário renomado, achou divertido ele e um PM agirem da mesma forma. Mais cara de pelada, impossível! Pelo rádio, um amigo avisou que a primeira fechara. 

– Parei numa blitz – explicou. 

– PM querendo tomar grana? 

– Não, PM que dirige de cueca como eu. 

O amigo estranhou a resposta, mas preferiu não entrar em detalhes. Sem chances para a primeira, Joãozinho relaxou e foi a 20 quilômetros. A cena era melancólica. Terno amassado no banco do carona, um dos sapatos jogados no painel, vidro aberto, de cueca, meião, cotovelo para fora da janela e peito nu para sentir a brisa da noite. O PM estava certo. As mulheres nunca entenderão tanta poesia.


Texto publicado originalmente na coluna “A Pelada Como Ela É” em 18 de dezembro de 2010.