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O SACODE NO PEIXE

por Marcelo Meira

Hoje, rebuscando um armário embutido, no rés-do-chão, encontrei um jornal da cidade aqui com uma reportagem de fevereiro de 1996. Uma relíquia. Na época, por intermédio de Armênio, um amigo comerciante influente em Santos-SP, combinamos de trazer a Miguel Pereira um time de veteranos do famoso Santos Futebol Clube para enfrentar a seleção veterana da cidade.

A equipe local dormiu concentrada num clube daqui. Os de fora vieram tomando cachaça pela estrada e partiram de Santos durante a madrugada, numa Kombi e dois carros, chegando aqui em casa, onde aconteceu o jogo, por volta de 11h. Comeram churrasco e beberam cerveja.

Eram veteranos mesmo, a maior parte ex-reservas do Santos, com exceção do Mengálvio, que ficou de técnico e Negreiros, cracaço muitas vezes titular do Peixe.

O time da casa, além de concentrado, foi enxertado com alguns novinhos e não-veteranos. Resultado: 12×3 para Miguel Pereira.

Segue a foto no jornal com a reportagem de 1996.

ILUSTRES FUTEBOLISTAS SANTACRUZENSES NATOS

por Ivaneguinho

Wellington de Oliveira Monteiro, mais conhecido como Wellington Monteiro, foi um excepcional jogador! Muito técnico, habilidoso e versátil, surgiu nas divisões de base do Bangu Athletic Club e atuou por vários clubes brasileiros.

Além do Bangu, exibiu sua classe futebolística pelo Vasco, Fluminense, Paulista de Jundiaí entre outros. Até que veio, por merecimento, a sua coroação e reconhecimento do seu belo futebol, sendo apontado pelos cronistas esportivos como um dos melhores médios volantes do Sport Club Internacional. No Colorado, se tornou o primeiro e único jogador de futebol nascido e criado em Santa Cruz, Rio de Janeiro, a ser campeão mundial!

A história do nosso “maestro”, Santacruzense, está relacionada com a do Inter, visto que o nome do Wellington permanecerá para sempre entre os grandes cabeças de área dessa agremiação, ao lado de Caçapava, Batista, Falcão e o Tetra Dunga. Santa Cruz o abraça!

IVANEGUINHO, O AMIGO DOS CRAQUES!

FUTEBOL CAMPISTA

por Wesley Machado

Dois campistas, Didi e Amarildo, na seleção bicampeã do mundo em 1962

Você sabe quais jogadores campistas já estiveram na seleção brasileira principal de futebol?

Campos dos Goytacazes-RJ revelou para o futebol os campeões mundiais com a seleção brasileira, Didi “Folha” Seca” (1958-62) e Amarildo “Possesso” (1962). Mas não apenas.

Os primeiros campistas que serviram a seleção brasileira foram David de Souza e Mario Seixas, ambos pelo Americano; e Amaro Silveira e Soda, ambos pelo Goytacaz, no Sul-Americano de 1923.

Na Copa de 1930, Policarpo Ribeiro, o Poly, representou Campos no primeiro Mundial. Apesar de não ser natural de Campos, ele era jogador do Americano e é até a contemporaneidade o único jogador que atuava por um clube de Campos quando disputou uma Copa do Mundo.

Seguiram-se a eles Jarbas (Flamengo) em 1932, Lelé (1944), que saiu do Aliança de Campos, fez sucesso no Vasco e foi homenageado no samba “No boteco do José”, do conterrâneo Wilson Baptista; o zagueiro Pinheiro, que por 10 anos foi capitão do Fluminense e foi convocado para a Copa de 1954.

Ainda tivemos na década de 1950 Hélvio “Piteira”, que fez base no Campos e jogou no Fluminense e no Santos, tendo sido convocado pelo Brasil em 1955; Paulinho Almeida, artilheiro do tricampeonato carioca do Flamengo em 1953-54-55 e que foi convocado em 1956, Tite, do Santos, que teria ensinado Pelé a tocar violão; e Bené, do Fluminense, os dois últimos convocados em 1957.

Na década de 1960, foram convocados Amaro “Sarará”, campeão carioca de 1960 pelo America; Dary, do Fluminense, Denílson, também do Fluminense, o “Rei Zulu” da Copa de 1966; e Evaldo, do grande Cruzeiro da época.

O lateral direito Edevaldo “Cara de Cavalo”, quando jogava pelo Internacional, foi convocado para a Copa de 1982 e o goleiro Acácio do Vasco foi convocado para a Copa de 1990.

O “zagueiro zagueiro” Odvan, destaque no Vasco, foi convocado para a Copa América de 1999.

Nos anos 2000 foram convocados o lateral direito Alessandro, campeão brasieiro pelo Athletico Paranaense em 2001; e o lateral esquerdo Léo, multicampeão pelo Santos.

Faz 10 anos da última convocação de um jogador campista para a seleção brasileira, o zagueiro Gil, com uma longa carreira no Corinthians.

A nova promessa é o jovem atacante Nathan Fernandes, de 19 anos, do Grêmio, que iniciou nas categorias de base do Grêmio de Custodópolis, um curioso Grêmio campista que é vermelho como o arquirrival Internacional do homônimo gaúcho.

Com informações do Blog Futebol Campista na Rede, do jornalista Álvaro Marcos Teles.

E O PLAYSTATION VENCEU A CRIAÇÃO

por Zé Roberto Padilha

Com o fechamento de muitos campos de futebol, a invasão dos seus gramados por gente sem chuteiras em busca de shows e entretenimento, tenho encontrado meus netos dentro do quarto jogando Real Madrid X Barcelona. Pelo Playstation. Sem conhecer a magia das peladas.

Pertencem a primeira geração dos Lopes e Padilhas que deixam as chuteiras e vão jogar futebol com as mãos. Muitos não perceberam que esse fenômeno tem sido o divisor de águas no futebol brasileiro.

Do improviso que surgia nos campinhos de futebol pela adaptação aos desníveis irregulares, o jogador de futebol brasileiro criou seu diferencial. Cobiçado por todo mundo.

O primeiro a criar uma obra de arte, a bicicleta, Leônidas da Silva disse que caminhava para completar um cruzamento da linha de fundo e a bola encontrou um montinho pelo caminho. Tomou uma trajetória contrária, passou por sua cabeça e ele se jogou para tentar alcançá-la. E a acertou lá em cima.

A tabelinha, a segunda obra de arte, foi criada, segundo Zizinho, onde tinha um poste e a pelada era no meio da rua. Acuado num canto, tocou no poste e recebeu mais à frente. O poste, embora fixo e limitado, não errava uma devolução.

Desse laboratório onde a bola tinha vida própria, e teve o Drible da Vaca, era preciso desenvolver uma gama de recursos para dominá-la, surgiu o nosso diferencial. Que infelizmente está indo embora. O que resiste, as Taças das Favelas, revelam Vinicius Jr, e a Copinha, que a cada gol nos mostra que não há mais cotas disponíveis para brancos e loirinhos.

O futebol não é para quem quer. É para os que mais precisam.

E para fechar o caixão da criatividade, a IA chegou ao Liverpool. Corners serão batidos no mesmo lugar em que o algoritmo marcar. E os atacantes irão procurar o lugar em que Lewandowski regularmente cabeceia pro fundo das redes.

Tudo o que se fez será

Do mesmo jeito que se fez um dia

Nada mais se cria, tudo se copia

E o futebol, como a vida, vai ficando chato e repetitivo toda vida.

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 54

por Eduardo Lamas Neiva

O show de Elza Soares, com Garrincha ao seu lado cantando as músicas que compôs, fez o público do Bar Além da Imaginação delirar. Muito aplaudidos, abraçados e beijados, voltaram à mesa em que estavam. Quando todos se acomodaram, Sobrenatural de Almeida levantou a bola.

Sobrenatural de Almeida: – Ninguém falou do cachorro preto que eu pus em campo… Ele driblou até o Garrincha!

Idiota da Objetividade: – Durante Brasil e Inglaterra, um cão preto invadiu o gramado no primeiro tempo e depois de muitas tentativas, o atacante inglês Jimmy Greaves, com calma e habilidade, conseguiu pegá-lo.

Sobrenatural de Almeida: – Calma e habilidade que não teve pra fazer gols contra o Brasil.

Garçom: – Ainda bem que não era um gato preto. Cão preto não dá azar.

Sobrenatural de Almeida: – Deu pros ingleses. Garrincha até me agradeceu, sem saber que tinha sido eu, de não ter conseguido pegar o cachorro. Ele mesmo percebeu que daria azar. Depois mandaram pra ele de presente. O Mané agradeceu, mas não se deu bem com aquele cão e logo o repassou pra outra pessoa.

Músico: – Essa história de bicho em campo me lembra algumas músicas. Mas quem pode falar melhor sobre isso é o grande Rolando Boldrin.

Garçom: – Isso mesmo! Rolando Boldrin, por favor, venha ao palco.

Rolando Boldrin: – Ô, minha gente, obrigado, obrigado. Cheguei tem pouco tempo e fico muito honrado pelo convite.

Todos aplaudem de pé Rolando Boldrin.

Rolando Boldrin: – Obrigado. Vocês sabem que tem muito causo de bicho, caipira inclusive. É, bicho caipira, cavalo, mula, burrinho… Mas aqui eu vou cantar o “Futebol da Bicharada”, um cateretê do Raul Torres, que está ali e já a apresentou aqui com o Florêncio. Vamos a ela novamente. É um causo cantado.

Todos se divertem e aplaudem Boldrin ao fim da apresentação. Ele agradece, deixa o palco e vai para uma mesa para acompanhar o papo dos nossos personagens, ainda sobre a Copa de 62.

Idiota da Objetividade: – Na semifinal contra o Chile, novamente Garrincha brilhou, mas foi expulso. Ele acabou absolvido e pôde jogar a final contra a Tchecoslováquia. O Brasil derrotou os donos da casa por 4 a 2, gols de Garrincha, aos 8 e 31 do primeiro tempo, e Vavá, aos 2 e 32 do segundo tempo. Jorge Toro, aos 41 da primeira etapa, e Leonel Sánchez, de pênalti, aos 15 da etapa final, fizeram os gols chilenos.

Ceguinho Torcedor: – Foi uma vitória colossal, uma selvagem vitória. Estava tudo contra nós, rigorosamente tudo. Até os Andes tinham enfiado uma máscara até as orelhas. Jamais um time de futebol ficara tão só. Mas o brasileiro é ainda maior quando solitário. Éramos onze gatos pingados contra milhões enfurecidos. O Brasil estava só, mas novamente tinha Garrincha. Feliz do povo que pode esfregar um Garrincha na cara do mundo. Ele pôs os Andes de gatinhas, ou de cócoras, sei lá.

Garçom: – Seu Ceguinho, o senhor que não enxerga, ou melhor, enxerga pouco… ops, desculpa, o senhor que antevê tudo, parece que viu mesmo todos os jogos da Copa de 62.

João Sem Medo: – Zé Ary, a TV só passou a transmitir ao vivo os jogos da Copa do Mundo para o Brasil a partir de 1970, no Mundial do México. Em 62, os torcedores acompanhavam pelo rádio e dois dias depois é que podiam ver o videoteipe.

Ceguinho Torcedor: – Pois então, os locutores disseram que o Brasil fizera, contra a Inglaterra, uma exibição deslumbrante. Pura imaginação e, por isso mesmo, altamente voraz. O videoteipe demonstrou o contrário. Azar da imagem. A verdade está com a imaginação dos locutores. Digo mais: a imaginação está sempre muito mais próxima das essências.

Garçom: – Hoje em dia é tanta imagem o tempo todo que a imaginação está ficando esquecida…

João Sem Medo: – A criatividade em campo também.

Ceguinho Torcedor: – Amigos, todo o Chile se levantou contra nós. A imprensa, o rádio, a TV, o homem de rua, as crianças. Nunca se fez um massacre psicológico tão feroz contra alguém. O futebol passou para um plano secundário. Mas o gostoso é que o escrete do Brasil em nenhum momento, antes, durante ou depois, teve medo. E já em campo apareceu um outro adversário, o mais torvo adversário: o juiz. Então, o Brasil teve de lutar contra 75 mil espectadores, contra os jornais, contra a rádio, contra a TV, contra os carabineiros, contra a cordilheira, contra tudo, contra todos e mais o árbitro.

Idiota da Objetividade: – O árbitro da partida foi o peruano Arturo Yamasaki Maldonado.

Ceguinho Torcedor: – No seu medo abjeto da multidão, no pavor de ser cuspido e malhado como um Judas em sábado de Aleluia, ele roubou com um descaro gigantesco. E no seu lúgubre cinismo, o seu sujeito só faltou apitar “hands” nos arremessos laterais brasileiros.

Garçom: – O senhor me perdoe, mas não ouvia alguém falar em “hands” desde os meus tempos de pelada na rua no subúrbio.

João Sem Medo: – Vários termos ingleses do futebol foram adotados por muito tempo no Brasil. “Hands” é mão na bola.

Ceguinho Torcedor: – Muito obrigado, João. O que esse Eichmann do apito fez com o Garrincha não tem perdão.

João Sem Medo: – Na verdade, Ceguinho, eu esperava, pela expectativa que cercou o jogo, um ambiente mais difícil do o que vi em Santiago. De queixa, queixa mesmo, só tivemos a arbitragem. Uma coisa clamorosa, como nunca havia visto em toda minha vida esportiva. O juiz era um japonesinho, disfarçado de peruano, ladrão como o diabo. Fez coisas incríveis que nem se pode contar. Anulou gol, deixou de marcar pênalti, marcou contra nós, expulsou Garrincha etc. Não fosse a extraordinária tranquilidade do nosso time, e nos teríamos estrepado de verde e amarelo. A verdade é que o jogo foi facílimo. Fácil como ninguém poderia imaginar. Basta dizer que, durante 80 minutos, Gilmar não fez uma única defesa, apesar de ter aceitado uma bola infantil. A tarefa mais árdua foi pra defesa, que não podia encostar num chileno, ainda mais dentro da área. Esbarrar num chileno por ali seria pênalti na certa. A meia cancha esteve ótima, com o Zagallo prestando um auxílio valiosíssimo a Zito e Didi. Talvez tenha recuado demais, uns cinco metros mais à frente creio que ficaria melhor. Mas foi de um coração, uma fibra, um entusiasmo impressionantes. Ele foi um dos grandes escaladores dos Andes. O ataque esteve excelente e Garrincha mais uma vez foi a grande vedete, fazendo os gols que abriram o caminho para a vitória. Vavá também esteve muito bem. Ganhou todas as disputas de cabeça, brigou como um leão, e fez dois gols ao seu melhor estilo.

Músico: – Se brigou como um leão, caro João Sem Medo, me permita  rememorar mais uma das músicas que envolve os animais no futebol. Na que me lembrei agora, “Futebol dos Bichos”, do Teixeirinha, um dos times  foi formado pelo Rei dos Animais.

João Sem Medo (rindo): – É verdade!

Músico: – Ele pode contar, ou melhor, cantar melhor e a gente ajuda aqui.

Garçom: – Venha ao palco novamente Teixeirinha, por favor.

Aplaudido, Teixeirinha vai ao palco de novo.

Teixeirinha: – Muito obrigado! Vou cantar e narrar este grande jogo entre o time do Tigre e do Leão, com participação da Mary Terezinha lá do Mundo Material novamente,

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Um gol desse não se perde!