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Vitor

O PAPA-TÍTULOS

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Se jogar nos quatro grandes do Rio é um privilégio que poucos atletas têm, levantar a taça em todos eles é quase igual ganhar na loteria. Se já não fosse o bastante, o craque Vitor ainda teve uma passagem pelo Atlético-MG, onde também soltou o grito de “É Campeão!”.

Por isso, assim que recebemos o convite do botafoguense Adílson Bastos Tangerina para cobrir e prestigiar um jogo em homenagem ao papa-títulos, não pensamos duas vezes antes de aceitar e colocar o Pelada Móvel na estrada para Miguel Pereira, onde Vitor começou sua trajetória.


– Sou nascido e criado aqui! Aos 16 anos, o América-RJ veio fazer um amistoso contra o Portela e o Loureiro Neto me perguntou se eu não queria treinar no Rio com o Mecão.

A partir daquele momento, a carreira de Vitor deslanchou. Em pouco tempo se transferiu para o Flamengo e se profissionalizou pelo rubro-negro no final dos anos 70. A concorrência naquele timaço da Gávea era fortíssima e o jovem brigava por posição com ninguém menos que Andrade.

No Flamengo, foi bicampeão carioca, tricampeão brasileiro, campeão da Libertadores e do Munidal Interclubes. Um fato curioso é que mesmo sem ser titular, foi convocado diversas vezes por Telê Santana e por muito pouco não fez parte do elenco que viajou para Copa do Mundo de 1982.

– O Telê dizia que eu tinha um estilo parecido com o do Beckenbauer! – lembrou.

Depois de vestir a camisa rubro-negra, se transferiu para o Atlético-MG e conquistou o Estadual de 1984. No ano seguinte, foi contratado pelo Vasco e levantou a taça do Brasileirão de 1987. No Botafogo não foi diferente e, em 1989, acabou com um longo jejum de títulos do clube ao se sagrar campeão carioca em cima do Flamengo.

Apesar de ter vestido a camisa de tantos clubes de expressão e a amarelinha, Vitor não esquece as raízes. Antes do apito inicial para a pelada em sua homenagem, no campo do Estádio Fructuoso Fernandes, fez questão de agradecer:


– É uma alegria muito grande por vocês terem vindo na minha cidade. É um orgulho ser Portelense. Ser homenageado pelo Museu da Pelada e pelo Botafogo, na minha cidade, é motivo de muito orgulho para nós.

Ainda tivemos o privilégio de visitar a casa de Vitor e conhecer seu vasto acervo, com matérias da Revista Placar, Jornal dos Sports, fotos históricas e até mesmo a bola da despedida de Carlos Alberto Torres do Cosmos.

– Ficaria imensamente satisfeito se o Museu ajudasse a revitalizar o meu acervo. Alguns quadros estão perdendo a cor. Isso para mim tem um valor sentimental muito grande, pois era meu pai que guardava isso tudo. Era o meu melhor amigo!

Recebemos o pedido como uma ordem e nos disponibilizamos a revitalizar e eternizar mais um acervo de um grande ídolo do passado!

Valeu, Vitor!
 

 

Boca x River

A SONHADA FINAL

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Após muito esperar o desfecho da tão sonhada final da Libertadores de 2018, que foi parar vai saber como em Madrid, a equipe do Museu da Pelada decidiu tomar suas providências e reuniu River Plate e Boca Juniors em um verdadeiro caldeirão para tentar dar um fim nessa história.

Seguindo a sugestão do parceiro Marcinho Nunes, fomos conhecer a tradicionalíssima loja Botão e Palheta, da fera Hamilton Tavares, na Tijuca, e não perdemos a oportunidade de realizar o clássico do século. Vale destacar que o “estádio” reúne semanalmente craques da brincadeira que marcou a infância de muitos.


– Toda quarta-feira rola esse campeonato aqui! São dois tempos de sete minutos cada e todos jogam contra todos! – explicou o dono da loja, que conta com mais de 33 mil peças de botão na coleção.

Diferentemente da cenas lamentáveis que adiaram a final no Monumental de Nuñez e frustraram as expectativas de milhões de pessoas, o que vimos na Botão e Palheta foi um futebol vistoso e alegre, com efetividade que lembrava os grandes ídolos do passado.

– Em cada jogada só pode dar oito toques na bola e um jogador não pode tocar mais de duas vezes seguidas no lance! – explicou João, o representante do Boca Juniors.

Gyrafa, por sua vez, vestiu a camisa do River Plate e colocou os Millionarios em campo. Times escalados, era a hora da tão esperada final! Antes disso, no entanto, Hamilton encarnou o presidente da Conmebol e deu um verdadeiro show de humor.

– Dá um dinheiro aqui que a gente resolve tudo! O jogo vai acontecer com sol, chuva e nada vai impedir! Futebol é para macho! – esbravejou!

Mal rolou a bola e o River Plate carimbou a trave do goleiro Pato, em um chutaço de longa distância. Não demorou muito e o Boca Juniors respondeu com um golaço de Benedetto, o carrasco do Palmeiras.

De tanto pressionar, o River Plate de Gyrafa chegou ao empate com um toque de categoria de Pablo Aimar e levou a decisão para os pênaltis.


– Agora vocês vão ver como os jogadores de botão têm um alto índice de aproveitamento em cobrança de pênalti! – antecipou, de forma irônica, João.

Os episódios que antecederam o clássico parecem ter mexido com o psicológico dos jogadores, que não conseguiam balançar a rede nas penalidades. Até que chegou a vez de De León, o levantador de taças, que converteu sua cobrança e colocou o River bem próximo do título.

Na hora do Boca cobrar o pênalti que poderia dar fim a essa novela que se arrastou por muito mais tempo do que devia, uma pequena confusão no deslocamento das peças se tornou uma briga generalizada.

– Meu jogador foi agredido! Vou retirar meu time de campo! O Boca vai recorrer!

– Vamos marcar uma nova data! – finalizou Hamilton, com muito bom humor!

O futebol de botão respira!
 

 

A RIVALIDADE E O MARKETING

por Idel Halfen


A final da Copa Libertadores da América de 2018 tem provocado os mais diversos tipos de comentários, esses passam pelas críticas à Conmebol – entidade que rege o futebol sul-americano – aos torcedores deste continente e desfecham sobre a solução de abrigar a partida no estádio do Real Madrid na Espanha.

Discordar ou concordar com tais comentários não acrescentarão muito em termos da proposta do blog, por essa razão aproveitarei o assunto para discorrer sobre “rivalidades” e como essas se fazem importantes no ambiente mercadológico.

Claro que a existência de um competidor forte é incômoda em certos momentos, porém a falta dele(s) pode implicar não apenas em acomodação, mas também numa menor atratividade do ambiente em que se está inserido, isto porque a rivalidade, na pior das hipóteses, tem o poder de chamar a atenção sobre a “disputa” e, dessa forma, provocar mais interesse.

Apesar de terem chegado à final da Libertadores da América, não podemos afirmar categoricamente que Boca Juniors e River Plate sejam as melhores equipes do continente, tampouco as que possuem as maiores torcidas ou que tenham atualmente no plantel ídolos mundialmente reconhecidos. Contudo,  ganharam a fama de ser a maior rivalidade da América do Sul e uma das maiores do mundo. Afinal de contas, qual a partida entre equipes sul-americanas jogada na Espanha seria capaz de esgotar previamente a carga de ingressos para os sócios do Real Madrid? Talvez um Fla-Flu pela mística e pelo fato de o futebol brasileiro ainda ter uma boa fama, quem sabe…


O que quero dizer é que a rivalidade não advém de aspectos exclusivamente “racionais”. Pegando por exemplo o mercado de fast food, temos que o Mc Donald’s é a rede com o maior faturamento, seguida por Starbucks, Subway e Burger King, já em número de lojas a ordem é: Subway, Mc Donald’s, Starbucks, KFC e Burger King.

Diante dessa condição, pareceria estranha em um primeiro momento  a “briga” que acontece há anos entre  Mc Donald’s e Burger King, até porque um fatura 3,7 vezes mais do que o outro e tem mais do que o dobro de lojas. É certo que podemos evocar a semelhança entre os produtos ofertados para justificar essa rivalidade, mas também não devemos desprezar que, pelo prisma de marketing, a disputa coloca as marcas e a categoria “burgers” bastante em voga, reforça essa visão o fato de a maioria das provocações partir do Burger King que, sendo menor, tem mais a ganhar ao confrontar o líder.

Uma das últimas provocações se deu em função dos recentes lançamentos do McPicanha e do McVeggie, que fez com que o Burger King usasse as redes sociais para alfinetar o rival com um anúncio de oportunidade que trazia a frase: “No sanduíche ou no Enem o melhor é não atrasar”, complementando o ataque com a informação de que seu sanduíche de picanha foi lançado em 2012 e o vegetariano em 2015.


Que se registre que em 2015, o Burger King propôs ao rival, através de um anúncio no New York Times, promover uma ação conjunta no Dia Internacional da Paz, sugestão que foi respondida pelo McDonald’s por meios das redes sociais com o seguinte dizer: “Caro Burger King, inspiração para uma boa causa…ótima ideia. Nós adoramos a intenção, mas acreditamos que nossas duas marcas podem realizar algo maior para fazer a diferença. Da próxima vez um telefonema resolve”. 
Bem direto, não?

O que se pode concluir desta “disputa” é que rivalidades saudáveis, aquelas que não faltem com o respeito, nem mexam com a paixão, são peças importantes para serem contempladas em um plano de marketing.

O IMPERADOR DA VILA CRUZEIRO

por Paulo Escobar 


Imaginar de longe a vida na pobreza e aquilo que ela acarreta é uma coisa, assistir a televisão e ser levado a acreditar o que é a favela (com as imagens distorcidas) é julgar sem conhecer. Mas viver a realidade tal qual ela é, dura, viva, crua, mas alegre e feliz é o que Adriano viveu na Vila Cruzeiro.

Adriano viveu das dificuldades que o fizeram um Imperador desde muito pequeno. Sua mãe Dona Rosilda teve que fazer hora extras para pagar seus dias na escolinha do Flamengo, por exemplo. No clube de seus amores, além do futebol, levou os ensinamentos do seu Almir, que o ensinava a ser humilde e humano e de não pagar o mal com mal.

E foi do morro que Didico desceu para a Gávea, de lá para o Maracanã e de lá para as TVs da molecada da Vila Cruzeiro, que tinha seu representante e um dos seus fazendo gols e alegrando os dias de resistência das pessoas lindas que vivem nas favelas. De lá vem um salto a um mundo estranho, na Itália, Inter-Fiorentina-Parma e Inter de novo aonde viria ser o Imperador.

Um mundo estranho aquele vivido fora dos campos, não era a Vila Cruzeiro, era um mundo distante dos seus, a Fama e um mundo que muitas vezes discrimina aqueles que vieram da realidade que Adriano vinha. Mas dentro dos Campos era “Um animal” como descrito pelo Ibra, pois era com essa habilidade misturada com a potência que Adriano balançava as redes e conquistava o território italiano.


Como não ter na mente aquela Copa América que Adriano parecia imparável e imarcavél, como não lembrar dos zagueiros tentando tirar a bola e esbarrando em seu corpo com o qual colocava uma barreira que dificultava de lhe tomar a bola. Nos seus chutes a força de um morro e nos seus gols toda uma comunidade que balançava as redes junto com ele.

A vida o surpreendeu ainda na Itália com a morte de seu melhor amigo, Seu Almir, e foi neste episodio que o chão de Adriano desaba e lá que seu coração sente a falta daquele pelo qual houve um amor que somente ele consegue descrever. Não vou falar de excessos, não vou julgar o que segue, pois todos carregamos dores e cada um sabe como suportá-las, há dores grandes demais e todos temos maneiras de aguentá-las e Adriano teve a sua maneira de lhe dar com ela.

Das fases duras e do fundo das suas dores e tendo que aguentar todo tipo de julgamentos morais, o Imperador precisou ressurgir, e no Maracanã, no clube de seus amores que ele desce da Vila Cruzeiro mais uma vez para ser campeão pelo Flamengo. 

Quantos artilheiros hoje fazem 19 gols num Brasileiro? Quantos jogadores têm a frieza e o gosto pelas redes que Adriano tinha?

Adriano foi julgado por aquilo que os carrascos moralistas do futebol não toleram, foi punido pela Vila Cruzeiro não ter saído dele, as raízes, os aprendizados e favela sempre estiveram presentes na vida do Imperador. Jogou, ganhou, venceu e não foi domesticado, Adriano se negou a negar sua origem, coisa que muitos jogadores fazem, se negou a negar suas amizades.


Não se importou com aquilo que seus amigos são e como a sociedade os olha, Adriano foi amigo e ajudou os seus, ajudou sua família, foi aos churrascos, empinou suas pipas e descalço continuou amando o lugar que o viu crescer. O Imperador da Vila Cruzeiro continua sendo mais um com sua bermuda e jogando as peladas de rua, imaginam o ídolo andando com a molecada num domingo de sol sem seguranças? pois isso é Adriano, mais um na Vila Cruzeiro.

Foi Imperador não do jeito ruim dos imperadores que dominavam seus povos, mas foi Imperador na sua grandeza e humildade de não abandonar suas origens e as pessoas do seu passado para trás, foi Grande no sentido mais humano da palavra. Os Grandes são imperfeitos, são humanos, e nos identificamos com aqueles que são falhos e humildes, pois como dizia Galeano “a perfeição é o chato privilegio dos deuses”.

Você não encontrará Didico na FIFA ou nos gabinetes, não achará ele bajulando os ricos ou então beijando os pés dos patrocinadores, não terá declarações chatas e planejadas. No Império da Vila Cruzeiro, o seu Imperador é mais um no meio dos seus, lutando contra os preconceitos que ainda sofre daqueles que o invejam do lado de fora dos morros.


Adriano teve que vencer as dificuldades que a pobreza lhe impôs, teve que lutar contra aqueles que o perseguiam pelo fato dele ser um favelado vencedor, num mundo que não aceita a vitória dos pobres, teve que vencer o moralismo das mídias que bajulam o menino Ney por dançar conforme a música e apedrejam os meninos que nem Adriano que se negaram a serem domesticados e não abandonam suas favelas. 

Sobre aqueles que continuam julgando Adriano por andar descalço na Vila Cruzeiro, lhes digo: “Que Deus perdoe essas pessoas ruins”

UM LUGAR PARA CAIR MORTO

por Rubens Lemos

O lugar do Vasco é a Série B. Sou um cara beirando os 50 anos de idade e perdi a capacidade de me desiludir posto que não me iludo com mais nada. São 30 anos de profissão e se elogio fosse dinheiro, compraria quatro São Januários para mim com todos os craques sonhados reais, cada um na flor da forma, para fazer torneios de imaginação.

Escalaria Acácio; Mazinho, Ricardo Rocha, Mauro Galvão e Marco Antônio (de meiões arriados); Zé Mário, Geovani e Dener; Edmundo, Roberto Dinamite e Romário. Seriam os onze do primeiro estádio desejado. Desejar é grátis.

Depois, Leão; Orlando, Torres, Daniel González e Pedrinho; Zé do Carmo, Zanata e Arthurzinho; Mauricinho, Dé (cheio de areia nas mãos pra jogar nos olhos dos goleiros) e Dirceu. O terceiro time: Mazarópi; Luis Carlos Winck , Abel, Geraldo e Felipe; Pintinho, Mário Português e Juninho Paulista; Euler , Luizão e Bismarck.

Os outros onze saem aleatoriamente, saltando de alegrias esparsas ou sentenciais aos dribles, lançamentos e gols espíritas: Carlos Germano, Paulo Roberto, Donato, Válber e Cocada improvisado (entra, abençoado pela fúria do gol de 1988 contra os urubulinos); Luisinho, Boiadeiro e Tita; Donizete, Sorato e William.


Juninho Pernambuco, não. Estou em pleno gozo dos meus direitos individuais e o tal sujeito é um militante tão insuportável que apagou seus milagres de minha retina. Um chato metido a Che Guevara sem motocicleta nem ternura.

Vou duelando no cansaço mental, os quatro Vascos, um de cada São Januário do meu coração. Pedaços flutuando no tempo e despertando o sorriso feito carranca por um clube que a cartolagem conseguiu transformar em ex.

Recuso-me a aceitar qualquer um do Vasco de hoje. Craque com nome de boneco eletrônico japonês de franquia é o meu baralho. Argentino gagá tratado feito bibelô é cascata não casaca, nosso brado de viradas heroicas lusitanas. A eles, o anonimato da insignificância.


O Vasco dos meus quase 50 anos (tenho 48) não mira taças, títulos, epopeias. Esperneia e se debate feito vira-lata rodrigueano crônico para não cair à Série B, seu devido barraco por fracasso imposto por um capo caricato e um ídolo grotesco fantasiado de cartola.

Quando se chega às imediações dos 50 anos de vida, sonhar é recordação e dependência. É o doce cansaço da primeira divisão existencial onde o passado e a impaciência, jogam na linha de fundo o que faz mal e é desamor. Série B, Vasco. É teu lugar pra cair morto.