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DICÁ

por Rubens Lemos


O futebol virou um desafinado coral de jovens brutos. Mergulho no redemoinho da  infância e relembro Dicá, tão esquecido e melhor do que todos de agora.  Negada exceção. Sim, batia falta tão lindamente  quanto Zico, Zenon do Guarani e Corinthians, Roberto Dinamite e Rivelino. Chutava com a parte interna do pé direito, a bola viajava em parábola e morria no ângulo do goleiro. Dicá raramente errava uma cobrança. Os adversários tinham por ordem expressa dos seus técnicos evitar faltas na entrada da área.

Dicá punha as mãos na cintura, dava dois passos, descia o peitoral e tocava levemente na bola. O passeio aéreo era lento, belo e agonizante. Goleiros grandes tipo  Jairo, do Corinthians, se esticavam inutilmente. Outros, ótimos como Leão do Palmeiras e Raul do Cruzeiro ou o mediano Waldir Peres do São Paulo ficavam plantados, esperando que a bola não chegasse até a trave. Imóveis, resignados, evitando saltos decorativos.

Em torno do talento cerebral de Dicá, girava o time mais charmoso daquela segunda metade dos anos cabeleira, das camisas Volta ao Mundo e das calças boca de sino. A Ponte Preta de Campinas assombrava o Brasil com seu jogo ofensivo comandado por um camisa 10 de inteligência enxadrista de tão serena.

Dicá dava as ordens, apontava os caminhos, fazia os lançamentos, chutava forte quando era preciso, devagar e com sutileza sempre. Luz de plasticidade no meio-campo de raça e disciplina tática, composto pelo volante Wanderley, tarimbado e campeão brasileiro pelo Atlético Mineiro, e o correto Marco Aurélio, que também sabia trocar passes com qualidade nota seis.

A Ponte Preta transformava o seu estádio, o Moisés Lucarelli, num campo de batalha insuperável. Ninguém vencia a Macaca. A Ponte Preta era o Vasco de São Paulo, com seu uniforme preto e branco com listra cruzando a camisa.


Seu ano prateado foi 1977. Uma campanha impecável levava todos os especialistas a apontá-la campeã paulista pela primeira vez, ultrapassando o Trio de Ferro formado por Corinthians, Palmeiras e São Paulo e o decadente Santos de Fernando Narigão, Totonho e Toinzinho, sofrendo os três primeiros anos de viuvez de Pelé.

A Ponte Preta contava com três jogadores da seleção brasileira que seriam convocados para a Copa do Mundo da Argentina no ano seguinte: o goleiro Carlos, e os zagueiros Oscar e Polozzi. Seu ataque tinha a rapidez dos pontas Lúcio Bala e Tuta e a irreverência do polêmico artilheiro Ruy Rei, revelado pelo Flamengo nos tempos de Zico na escolinha.

O destino começava a castigar a Ponte Preta e tirar de Dicá, o direito de usar uma faixa exclusiva de campeão paulista. Na Portuguesa, dividiu com o Santos o título de 1973 por erro na contagem dos pênaltis pelo irrequieto árbitro Armando Marques. Em 1977, o Corinthians parecia ungido pelo carisma transcendental do técnico Oswaldo Brandão e pela força da Fiel torcida esperando há 23 anos por um campeonato.

A Ponte Preta venceu quatro vezes o Corinthians durante os dois turnos. Na pontuação final, foram para a decisão. O Corinthians venceu a primeira e seria campeão na segunda partida, um domingo com 140 mil pessoas superlotando o Morumbi.

O Timão abriu o placar com o ponta Vaguinho  e o estádio celebrou em alegria contida. Botijões de gás usados para encher balões haviam explodido antes da partida e ferido dezenas de torcedores. A comemoração antecipada do Corinthians azedaria: Dicá, de falta, parecia encestar no basquete, empatando a partida. Ruy Rei virou e forçou o jogo extra.


O Corinthians foi campeão com o gol de Basílio, o predestinado. A Ponte Preta tinha melhor time e o camisa 10. Dicá jogava pelo meio-campo inteiro do Corinthians naquela decisão: Ruço, Luciano e o heroico Basílio.

A Ponte Preta nasceu sem a obstinação pela glória. Perdeu de novo em 1979 para o Corinthians e em 1981 para o São Paulo. O título – um que fosse – teria sido  uma maravilha. Numa cobrança de falta. Em reverência ao craque Dicá.

Mauro Cézar

O CARA DA ESPN

entrevista: Marcelo Mendez e Paulo Escobar | texto: Marcelo Mendez |


 Mauro Cezar Pereira é um homem de urgências.

Em seu sorriso verdadeiro aos nos receber na portaria da ESPN onde brilha desde 2004, no seu passo forte nos guiando pelos corredores onde ia dar no nosso local de entrevista, no amor e na seriedade com a qual desempenha sua função no Jornalismo desde 1983, Mauro não é homem de perder tempo com nada.

Nada do que engesse a verdade, nada que atrapalhe os eu olhar apurado, absolutamente nada que o faça dispersar de seus objetivos toma meio segundo dele. De onde nos orgulhamos… Afinal tomamos bem mais;

Por uma hora e meia falamos de tudo com Mauro Cezar Pereira. Passeamos pelas laudas do jornalismo, pelas arquibancadas do mundo e trazemos agora essa resenha pra vocês.

Curtam…

 

Pelada do Jorginho

PELADA DO JORGINHO

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Como manda a tradição, fim de ano é época de reunir os amigos e os boleiros aproveitam para organizar a boa e velha pelada. A equipe do Museu procura ir em todas, mas o convite para o jogo beneficente de Jorginho, ex-volante do Flamengo, fez os nossos olhos brilharem.

Tudo começou na festa de fim de ano do Areia Leme, na Praia de Copacabana, quando o parceiro Denis nos abordou e contou sobre o evento que rolaria em Anchieta, bairro da Zona Norte do Rio. Para quem não lembra, Jorginho foi peça fundamental na equipe rubro-negra do final dos anos 90 e início dos anos 2000.

– Sou nascido e criado aqui em Anchieta, onde dei meus primeiros tapas na quadra de salão. Depois fui para o Olaria, Flamengo e aí foi só alegria.

A tradicional pelada rola há seis anos no clube e, além de reunir craques do passado, tem como objetivo arrecadar alimentos. Nesta edição, Donizete Pantera, Beto, Leandro Ávila, Maurinho e até João Marcos, o sósia do Roberto Carlos, marcaram presença e levantaram a galera.

– A gente jogou junto com ele, fomos campeões e nada melhor do que reunir essa rapaziada e ajudar ao próximo! – disse Leandro Ávila.

Antes da bola rolar, Ademar Barbosa, presidente do Anchieta Esporte Clube, fez questão de demonstrar todo o seu carinho por Jorginho:

– Aqui é a casa do Jorginho e é sempre um prazer recebê-lo. Não abro mão de ceder o campo para essa pelada!

Aproveitamos a boleirada toda reunida para armar aquela resenha animada. Apesar de ter atuado no Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense, Beto enfatizou sua passagem pelo Napoli. O motivo é mais do que especial:

– Tive a felicidade de usar a 10 do Maradona lá. Além disso, fiz gol na semifinal da Copa Itália e foi uma felicidade imensa!

Ao perguntarmos ao sósia do Roberto Carlos se a potência do chute era a mesma, a figuraça rebateu:

– A perna é do Roberto Carlos cantor!

Como é bom matar a saudade dos craques do passado e ouvir um pouco da história do nosso futebol com esse clima descontraído!
 

 

A GLÓRIA DO LOCO

por Paulo Escobar


Em Minas, uma pequena cidade do Uruguai , nasce Washington Sebastián Abreu Gallo, que viria a ser conhecido no mundo do Futebol como Loco Abreu.

Podemos dizer que o Loco é um daqueles jogadores que mesmo em curto tempo nos clubes por onde passou deixou sua marca, e não foram poucos os times defendidos: no total 28 até agora. Mesmo sendo este nômade do futebol deixou marcas profundas em alguns clubes.

Além da Seleção Uruguaia, Nacional, San Lorenzo, River, La Coruña e Botafogo devem ter sido os lugares onde o centroavante talvez tenha deixado a sua marca. Mas não podemos esquecer que são títulos e artilharias que ele carrega no seu extenso currículo também.

Homem de área, de presença e que sabia aguentar a pressão como poucos atacantes, frio e decisivo em muitos momentos. Abreu não é um daqueles loucos sem noção ou idiotas na sua forma de ser, mas a inteligência e as posições firmes do lado de fora dos gramados também são suas marcas.

Formado em Jornalismo, lembramos bem da sua passagem pelo Botafogo, onde foi um terror daqueles que muitas vezes se escondem por trás dos microfones para emitir opiniões sem conteúdos ou desconexos de contextos.

A química gerada entre Abreu e Botafogo é sem dúvidas umas das paixões que até hoje a torcida da estrela solitária sente saudades. Impossível esquecer aquelas tardes de Maracanã nas quais o camisa 13 fazia as redes balançarem e levava os torcedores do Bota, carentes de ídolos e títulos às lagrimas. Vale lembrar que a fera honrou o Glorioso até na sua comemoração do título da Copa América de 2011, quando levantou a bandeira do Botafogo em campo.


Uma das lições mais bem aprendidas pelo Loco sem duvida foi a famosa cavadinha nas cobranças de pênaltis, como ele mesmo gosta de apontar que aprendeu olhando Djalminha fazê-las. E é justamente talvez aí que habite um dos gestos que deve ter causado mais de um pré infarto por aí.

Mesmo com poucos minutos jogados na Copa de 2010, talvez daqui a dez anos você ainda se lembre daquele pênalti do jogo Gana x Uruguai. E, claro, toda história que envolveu talvez um dos jogos mais emocionante da história das Copas.

Abreu jogou 15 minutos daquela Mundial, mas, como costuma apontar Lugano, que sofreu muito com as cavadinhas do Loco, procurou o seu momento de glória propositalmente. Buscou entrar para a história das Copas e foi atrás do momento que fosse único.

O Loco não vinha sendo colocado nos jogos daquele torneio, mas por uma daquelas paradas do destino foi escalado para entrar em campo naquele mítico jogo. Pela ordem de batedores do maestro Tabárez, o Loco seria o terceiro batedor daquela série, mas ele olha para o técnico e pede para ser o ultimo batedor, num olhar do maestro de alguns segundos que devem ter parecido uma eternidade concede o desejo de Abreu.

Lugano, que já sabia que o Loco faria a Cavadinha, pede por favor para não fazer naquele jogo, mas Abreu segue firme na sua decisão para fazer história. Naquele quinto pênalti decisivo, el Loco manda aquela cavadinha infartante, colocando em risco um capítulo histórico e a volta do Uruguai ao cenário mundial.

Vale lembrar que meses antes, numa final contra o Flamengo, converteria também um pênalti da mesma forma, inclusive com a bola batendo no travessão e entrando. Num momento também em que o Botafogo vinha de três finais perdidas contra o Flamengo, Abreu saca uma dessas que deve ter feito desmaiar mais de um torcedor botafoguense.

Para um louco de coletivas acaloradas com os jornalistas, que não tinha meias palavras, errar uma cavada daquelas seria sem dúvidas um motivo para ser massacrado. Mas a frieza e convicção de Abreu faz um momento que durou alguns segundos parece uma eternidade.


Ao entrar no Museu do Futebol no Uruguai, há uns anos atrás no Estádio Centenário de Montevideo, vi numa redoma de vidro a chuteira com a qual o Loco bateu aquele pênalti. Durante muitos anos ainda a torcida do Glorioso também lembrará da camisa 13, a chuteira e, claro, das glórias de um loco que passou como uma estrela fugaz.

Naquele ano de 2010 o Uruguai teve a melhor defesa da Copa, o melhor jogador e um time inesquecível, mas tudo isso passou a ser um detalhe, pois o que muitos com certeza irão contar a seus netos é a cavadinha de Abreu.

SPORT 1987


Todas as vezes que se fala sobre 1987 vem o trevo, o assunto que fica quicando nas mentes dos torcedores todos.

Lógico que a polêmica urge, salta aos olhos e os versos. Todo mundo já deve ter ouvido falar que a CBF, quebrada, entregou o Campeonato Brasileiro para os clubes, se recusando a fazê-lo por falta de grana. Os Clubes, 13 deles, fizeram o que sempre fizeram; Se juntaram na elite e danem-se os outros.

Guarani, vice-campeão brasileiro de 1986, ficou de fora da afamada Copa União de 1987. América-RJ, terceiro colocado, idem. Todo mundo foi para a chave do módulo amarelo e por lá ficou acordado que no final do ano, o módulo verde (Copa União) teria o cruzamento do módulo amarelo (Campeonato da CBF) para que soubéssemos quem seria o campeão brasileiro de 1987. Pois…

No final, Flamengo e Internacional se recusaram a jogar o cruzamento e, após a vitoria do Rubro-Negro na Copa União,  se auto intitularam campeão brasileiro, por conta e juízo próprio. Já que se recusou a entrar em campo, deixa o Flamengo pra lá. Aqui, vamos falar de quem ficou e jogou., do verdadeiro Campeão Brasileiro de 1987.

Esquadrões do Futebol Brasileiro, fala hoje do Sport de 1987.

CAMPEÃO DE DIREITO


A coisa toda começa com a eleição de Homero Lacerda, que primeiro trouxe o consagrado goleiro Emerson Leão, como jogador e depois o efetivou como técnico. Leão foi quem deu cara para o time, levando para a titularidade jogadores como Ribamar, Neco e Robertinho.

Na zaga o Leão da Ilha tinha Marco Antonio, jovem, vigoroso, talentoso, fazendo a dupla com o experiente Estevan Soares, hoje técnico de futebol. Bons laterais como Betão e Zé Carlos Macaé e meias velocíssimos como Zico e Rogério, além de um ataque infernal com Robertinho, Nando e Neco.

No meio do bagunçado ano de 1987 e o seu campeonato todo escangalhado, o Sport voou. Em 20 partidas, venceu 12, empatou 5 e perdeu apenas 3 jogos. Fez uma final contra o Guarani onde aconteceu de tudo!

Teve a decisão por pênaltis em que após inacreditáveis 11×11 as duas equipes simplesmente pararam de bater as cobranças, por conta própria, dividindo assim o titulo do módulo amarelo. Teve o WO de Flamengo e Inter que se recusaram a jogar no cruzamento do regulamento e, com isso, teve a final entre Guarani e Sport.


Nela, o Sport empatou a primeira em Campinas e depois venceu na ilha do Retiro, com o 1×0 necessário para ter o titulo mais importante de sua história.

No que pese toda discussão necessária, o que Esquadrões do Futebol Brasileiro faz é homenagear esse timaço de bola, que colocou o Nordeste no mapa do futebol nacional. É dar o devido tratamento para um ótimo time, que por direito é o Campeão Brasileiro de 1987.

Sendo assim, saudamos o Sport, Campeão Brasileiro de 1987