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COMO CONHECI PC CAJU

por Luis Filipe Chateaubriand 


Em 1980, aos dez anos de idade, entrava no Maracanã pela segunda vez para assistir um jogo de futebol, mas iria assistir pela primeira vez um jogo do clube do qual sou torcedor. Jogavam, em um domingo, América x Vasco da Gama, no Maracanã.

O jogo foi bom, movimentado, disputado. Tanto o time do América como o time do Vasco eram bons.

O ponta direita Wilsinho fez 1 x 0 para o Vasco no final do primeiro tempo. O centroavante Luisinho empatou para o América, 1 x 1, por volta de 20 minutos do segundo tempo, e o lateral esquerdo Marco Antônio fez, de falta, o gol da vitória vascaína, 2 x 1, faltando uns dez minutos para o jogo acabar.

Foi divertido assistir ao jogo, ver meu time vencer, meio estranho ver a torcida xingar o juiz (o garoto de dez anos ainda não era acostumado com essas malcriações…), mas o que foi legal mesmo foi ficar observando Paulo Cesar, o Caju, em campo.

O primeiro detalhe que me chamou atenção foi que, enquanto os outros jogadores jogavam com a camisa para dentro do calção, PC colocava a camisa para fora. A camisa, assim, cobria o calção todo, parecia que o Caju esta usando um vestido com a cruz de malta. O visual engraçado mostrava a irreverência do craque…

Mas havia outro detalhe que merecia mais atenção ainda: ao contrário dos outros jogadores, que quando recebiam a bola sempre davam passes laterais curtos ou até para trás, ao recebê-la o Paulo Cesar sempre tentava algo inusitado, diferente, inesperado. Ou era um passe em profundidade. Ou um drible inventivo. Ou um arremate inesperado.


O cara não corria muito, mas botava a bola onde queria! Parecia que tão somente sua presença majestosa já intimidava os adversários.

Esse foi um jogo comum de Paulo Cesar Caju, já caminhando para o fim de carreira. Dizem que, no Vasco, jogou muito pouco em relação ao que havia jogado no Flamengo, no Botafogo, na Seleção Brasileira e, especialmente, na Máquina Tricolor – times que não tive o prazer de acompanhar, ou porque não era nascido, ou porque ainda era muito novo e não entendia futebol.

O fato é que fico cá a pensar com meus botões: se o PC Caju majestoso que vi no Maracanã em 1980, já com mais de 30 anos, era essa bola toda, o que não teria sido o PC Caju de antes? Minha Nossa Senhora!

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.

60 TONS DE VERMELHO E PRETO E UM POUQUINHO DE VERDE AMARELO

por Marcos Vinicius Cabral e Mario Helvecio


Certa vez, em 1987, sentado numa bola, Leandro observava seus companheiros correndo no gramado da Gávea.

Apesar do olhar triste – o mesmo que lembrou o episódio quando foi considerado acabado para o futebol e reprovado nos exames médicos do empréstimo ao Internacional em 1979 – nada abalaria mais o jogador aos 28 anos.

Vítima de problemas crônicos nos joelhos – artrose no direito e tendinite no esquerdo – o imortal camisa 2 rubro-negro poderia ter ido mais longe na carreira.

– Cada partida disputada por Leandro é uma obra de arte do departamento médico do clube – diria certa vez o falecido GiuseppeTaranto.

O craque da camisa 3 era diferenciado, tanto que não treinava em dois turnos como os demais e fazia apenas exercícios específicos de peso, como por exemplo, fortalecimento muscular em que levantava 25 kg com a perna direita e 15 com a esquerda 250 vezes.

Ainda se submetia às ondas eletromagnéticas – a famosa corrente russa -, laser, ultra-som e gelo, muito gelo em ambos os joelhos.

Tudo isso para combater (ou tentar) o “mal de cawboy”, que segundo especialistas, só seria possível se o jogador tivesse usado gesso com aparelho ortopédico entre os 2 e os 5 anos e ser submetido a uma cirurgia até os 10 anos, em que teria que quebrar as pernas e engessá-las novamente.

Embora com todas essas dificuldades, não lhe faltam títulos e isso se deve porque Leandro é dotado de uma qualidade técnica inesgotável.

Clássico, jamais foi desleal – em 415 jogos na carreira, foi expulso uma única vez, em 23 de novembro de 1983, quando se desentendeu com o ponteiro Ado do Bangu, no Campeonato Carioca.

Encerrou sua brilhante carreira vestindo apenas a camisa do Flamengo – com exceção da seleção brasileira – ao longo de doze anos como profissional.

O Museu da Pelada elaborou sessenta motivos para parabenizar esse ídolo da galeria dos imortais do Clube de Regatas do Flamengo, que hoje sopra velinhas de aniversário:

1) No dia 17 de março de 1959, nascia na cidade de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, um dos raros jogadores a passar toda a carreira vestindo apenas uma camisa: o lateral-direito e zagueiro LEANDRO.

2) Em 1969, aos 10 anos de idade, se interessa pelo futebol e começa a encantar, por sua habilidade com a bola, os amigos e a todos que presenciaram seu inicio no mundo da bola.

3) Acompanhou a tristeza do pai, quando, ouvia pelo rádio, o Flamengo perder para o Fluminense por 2 a 1. Depois do segundo gol do Fluminense, disse que ia ao banheiro, mas foi, na verdade, para a sala ajoelhar e rezar pelo empate. Quando voltou, saiu o gol de empate. Foi uma grande alegria para o menino Leandro. “Me senti realizado por papai do céu atender ao meu pedido”, disse Leandro.


4) Entre 1973 e 1975, vem diversas vezes ao Rio de Janeiro, junto com o pai, para assistir no Maracanã a jogos do Flamengo. Se apaixona pelo Rubro-Negro carioca e elege Zico, seu ídolo e exemplo.

5) Em 1976, aos 17 anos, veio com o primo Nonato ao Rio de Janeiro, prestar vestibular e foi convencido por este primo a fazer um teste nas categorias de base do FLAMENGO, seu clube de coração.

6) Fez testes no Campo da Base dos Fuzileiros Navais,

6) Fez testes no Campo da Base dos Fuzileiros Navais, na Ilha do Governador, juntamente com Vitor, futuro volante do Flamengo. Imediatamente integrado à equipe juvenil do Flamengo, Leandro ficou nesta categoria até fevereiro de 1978. Américo Faria o levou para treinar na Gávea.

7) Impressionou a todos no Clube pela qualidade de seu futebol e no fino trato com a bola. Foi aprovado.

8) Nesta época ganhou dos colegas da base do Flamengo o apelido de “Peixe-Frito”, que o acompanha até os dias de hoje.

9) Foi promovido pelo técnico Claudio Coutinho ao time profissional do Flamengo, estreando no empate de 1 a 1 com o América, em partida amistosa em 22 de março de 1978 no Estádio Caio Martins em Niterói/RJ. Atuou como volante.

10) Em 10 de maio de 1978, atuou pela primeira vez como lateral-direito, posição que o consagraria, na partida amistosa Flamengo 3 X 1 Atlético-BA em Alagoinhas, Bahia.

11) Sua primeira partida como titular do Flamengo foi em 05 de julho de 1978, no empate de Flamengo 1 X 1 Palmeiras no Maracanã, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro. Atuou como lateral direito.

12) Seu primeiro jogo internacional foi no empate Flamengo 0 X 0 Talleres-ARG, no Estádio Chateau Carreras em Córdoba na Argentina, em partida amistosa no dia 27 de julho de 1978. Atuou como lateral direito.


13) Seu primeiro jogo oficial (valendo 2 pontos) nos profissionais do Flamengo foi na derrota de 2 a 0 para o Real Madrid da Espanha no Estádio Razor em La Coruña na Espanha pelo Troféu Teresa Herrera em 13 de agosto de 1978.

14) Sua estreia no Campeonato Carioca foi na vitória de 3 a 0 do Flamengo sobre o Bangu, no Estádio Proletário, válido pela Taça Guanabara em 24 de setembro de 1978.

15) Seus primeiros títulos como profissional foram a Taça Rio e o Campeonato Carioca, ambos em 1978.

16) Em 11 de fevereiro de 1979, em partida válida pela Taça Guanabara, primeiro turno do Carioca (Especial). O Flamengo venceu o América por 4 a 0 com gols do ponta Reinaldo, Adílio e dois gols de falta de Zico. Leandro teve atuação soberba como volante. Este jogo marcou a inauguração do placar eletrônico do Maracanã.

17) Seu primeiro gol como profissional do Flamengo, foi na partida Flamengo 3 X 0 Portuguesa/RJ, em 29 de setembro de 1979 no Maracanã, pelo 3o turno do Campeonato Carioca. O seu gol foi o terceiro do Flamengo.

18) Em 1979, Leandro conquistou com o Flamengo o Campeonato Carioca (Especial) e também o Campeonato Carioca. Neste ano, devido a unificação dos Clubes da Capital e do Interior do Estado, imposto pela então pela recém-criada Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, foram disputados dois Campeonatos Cariocas. O Flamengo venceu as duas Competições.


19) Em novembro de 1979, se envolveu em um acidente de carro e fraturou a perna, desfalcando o Rubro-Negro da Gávea. Até sua recuperação total, em setembro de 1980, só disputaria duas partidas amistosas, ambas contra o Atlético-MG em fevereiro e maio do mesmo ano. Mesmo contundido, fez parte do elenco que conquistou o Campeonato Brasileiro de 1980.

20) Neste período, ainda buscando afirmação, foi sondado pelo Internacional de Porto Alegre, sendo vetado pelo médico do Clube, Dr. Neylor Lasmar que mais tarde seria o médico da seleção Brasileira e que teria declarado que errara na avaliação na época do Internacional. Sorte do Flamengo.

21) Em 24 de setembro de 1980, na vitória de 1 a 0 sobre o Volta Redonda no Estádio Raulino de Oliveira, Leandro volta ao time, jogando de ponta esquerda, ao substituir Júlio Cesar UriGeller.

22) A partir de então, assume de vez a condição de titular da lateral-direita do Flamengo, deixando no banco o excelente Carlos Alberto.

23) No segundo semestre de 1980, realizou o sonho de jogar junto com o zagueiro Luís Pereira, no Flamengo.

24) Em Janeiro de 1981, renova seu contrato com o Flamengo até o final da Copa do Mundo de 1982, deixando claro que o Clube acreditava que Leandro chegaria à Seleção Brasileira em breve.

25) Em 15 de setembro de 1981, em partida amistosa que marcou a despedia oficial de Paulo César Carpegiani, o Flamengo de Zico venceu ao Boca Juniors-ARG de Maradona no Maracanã por 2 a 0. Após a partida, o astro argentino foi perguntar a Zico quem era o “craque” da camisa 2 do Flamengo.

26) Suas atuações no Flamengo o levaram a ser convocado para a Seleção Brasileira pela primeira vez para o amistoso contra um Combinado Irlandês em 23 de setembro de 1981, no Estádio Rei Pelé em Maceió. Entrou no segundo tempo no lugar do lateral Perivaldo. O Brasil venceu por 6 a 0.

27) Sua primeira partida como titular da Seleção Brasileira foi em 28 de outubro de 1981 na vitória da Seleção de 3 a 0 sobre a Bulgária no Estádio Olímpico em Porto Alegre. Leandro marcou o terceiro gol após belo passe de Sócrates, no segundo tempo. Leandro assumiu de vez a titularidade da lateral direita da Seleção Brasileira. Após este jogo o Dr. Neylor Lasmar, médico da Seleção Brasileira, que o havia condenado para o futebol, se rendeu ao talento de Leandro.

28) Na decisão da Taça Libertadores em 23 de novembro de 1981, no Estádio Centenário de Montevidéu, contra o Cobreloa-CHI, Leandro atuou como volante e numa partida soberba, comandou o meio campo do Flamengo, na vitoria de 2 a 0, garantindo o titulo para o Flamengo.

29) Em 06 de dezembro de 1981, o Flamengo venceu o Vasco por 2 a 1, conquistando o Campeonato Carioca. Ainda no primeiro tempo, numa disputa de bola com Roberto Dinamite no meio de campo, Leandro “rolou” a bola entre as pernas do craque vascaíno e iniciou mais um ataque do Ribro-Negro. Lindo lance que levou a galera do Flamengo ao êxtase.

30) Em 13 de dezembro de 1981, Leandro atingiu o ápice da carreira aos 22 anos. O Flamengo venceu o Liverpool-ING por 3 a 0 e sagrou-se Campeão Mundial de Clubes. Leandro teve atuação destacada encarando o astro escocês Kenny Dalglish, atacante do time inglês. Leandro o marcou com excelência e ainda construiu lindas jogadas de ataque, deixando o lado esquerdo do Liverpool desnorteado.

31) Em 1981 e 1982, foi o líder de assistências na temporada do futebol brasileiro, jogando pelo Flamengo.

32) Em 24 de janeiro de 1982, o Flamengo foi a Recife encarar o Nautico no Estádio do Arruda. Em um jogo muito duro, o Flamengo venceu por 4 a 3 e Leandro marcou um golaço de perna esquerda de fora da área.

33) Em 31 de março de 1982, Flamengo foi a Recife encarar o Sport pelas quartas de finais do Campeonato Brasileiro. O Clube pernambucano venceu por 2 a 1. Leandro marcou um golaço de fora da área, encobrindo o goleiro País, aproveitando belo lançamento do zagueiro Marinho, classificando o Rubro-Negro carioca para as semifinais, já que no primeiro jogo no Maracanã, o Flamengo venceu por 2 a 0.

34) Em 1982, Flamengo e Grêmio decidiram o Campeonato Brasileiro em três jogos. 1 a 1 no Maracanã, 0 a 0 no Olímpico em Porto Alegre e também no Olímpico em Porto Alegre, 1 a 0 para o Flamengo, garantindo o título para o Rubro-Negro da Gávea. No segundo jogo desta decisão, o tricolor gaúcho impunha uma pressão fortíssima em cima do Flamengo e toda a bola que chegava ao goleiro Raul, este chutava para a frente e era repreendido por Leandro, que dizia: “Vamos sair jogando, não adianta dar chutão. Só devolve a bola pra eles”. Irritado com a insistência do lateral, Raul jogou com violência a bola na direção de Leandro. A partir daí foi só arte. Leandro deu um passo atrás, matou a bola no peito, deu um “chapéu” em Vilson Tadei, driblou Paulo Isidoro, fez linda jogada pela direita, foi ao ataque e criou jogada que quase resultou em gol do Flamengo. Voltou para defesa e gritou para Raul: “Ei, Velho…psiu…quando eu pedir a bola, pode dar…eu jogo pra caralho”…o goleiro do Flamengo de olhos arregalados, imediatamente, fez sinal de positivo, concordando com Leandro.

35) Leandro foi o titular da Seleção Brasileira em toda a campanha na Copa do Mundo de 1982, na Espanha.

36) Integrou a Seleção da Copa de 1982, eleição feita pela revista France Football.

37) Após a Copa do Mundo de 1982, ao saber do interesse de Clubes da Europa, Leandro assinou contrato em branco com o Flamengo, garantindo sua permanência no Rubro-Negro.

38) Ganhou sua primeira Bola de Prata da Revista Placar em 1982.

39) Em 1983, foi vice-campeão da Copa América pela Seleção Brasileira.


40) Em 06 de fevereiro de 1983, o Flamengo foi a Belém-PA encarar o Paysandu no Estádio Mangueirão. Em um jogo muito duro, o Flamengo venceu por 3 a 2 e Leandro marcou o segundo gol do Flamengo de perna esquerda após confusão dentro da área do Paysandu.

41) Marcou o segundo gol do Flamengo, de cabeça, após centro de Zico, na vitória de 3 a 0 sobre o Santos, na decisão do Campeonato Brasileiro de 1983, garantindo o título para o Rubro-Negro.

42) Em 19 de julho de 1984, no empate do Flamengo 0 a 0 com o Grêmio, pela Taça Libertadores da América, Leandro jogou sua última partida na lateral direita.

A partir daí, assumiu a condição de zagueiro do Flamengo, possibilitando a Jorginho, seu sucessor, a oportunidade de se firmar com a camisa 2.

43) Em 11 de dezembro de 1985, em partida válida pelo triangular decisivo do Campeonato Carioca, Leandro marcou um dos gols mais bonitos da história do Maracanã, no empate de 1 a 1 entre Flamengo e Fluminense. Um golaço de fora da área, de pé direito.

44) No dia 08 de junho de 1985, Leandro marcou seu segundo e último gol pela Seleção Brasileira. Foi no amistoso Brasil 3 X 1 Chile no Estádio Gigante do amistoso Brasil 3 X 1 Chile no Estádio Gigante do Beira-Rio, em Porto Alegre.

45) Ganhou sua segunda Bola de Prata da Revista Placar em 1985.

46) Em 1986, formou com Mozer, uma das melhores duplas de zaga da história do Flamengo. É até hoje a dupla de zaga menos vazada da história do Campeonato Carioca. O Flamengo conquistou o título deste ano.

47) Em 07 de maio de 1986, Leandro disputou seu ultimo jogo pela Seleção Brasileira. Foi no amistoso Brasil 1 X 1 Chile no Estádio Pinheirão em Curitiba. A partida fazia parte da preparação da Seleção para a Copa do Mundo de 1986.

48) Em 1986, após participar de quase todo o processo de preparação e eliminatórias para a Copa do Mundo, Leandro se recusa a embarcar para o México, abandonando a Seleção Brasileira, alegando, que com o corte do amigo, o ponta Renato Gaúcho, o esquema de 1982 seria repetido, e seria prejudicado novamente sem nenhum apoio pelo lado direito e, que seus joelhos não agüentariam o vai e vem pela lateral. Lembrando que Leandro já jogava na quarta zaga já há quase dois anos. Leandro também atribuiu sua decisão a um gesto solidário ao mesmo Renato Gaúcho, já que o atacante foi cortado após os dois terem chegado tarde à concentração. Segundo Leandro, não seria justo apenas Renato ser cortado.


49) Em 1987, formou com Edinho, outra zaga de muito respeito e sucesso. Conquistaram a Copa União, o Tetra Brasileiro para o Flamengo.

50) Em 24 de fevereiro de 1988, Leandro marcou seu último gol como jogador profissional. Foi no jogo Flamengo 3 X 1 Volta Redonda, no Estádio da Gávea e Leandro marcou o segundo gol do Flamengo, num chute forte de pé direito de fora da área.

51) Em 1988 e 1989, com sua experiência e talento, foi fundamental na formação do zagueiro Aldair, Campeão da Copa do Mundo de 1994 pela Seleção Brasileira e considerado por muitos, como um dos maiores zagueiros da história da Seleção.

52) Em 06 de fevereiro de 1990, disputou o jogo Flamengo 2 X 2 World Cup Master, no Maracanã, jogo que marcou a despedida de Zico no futebol.

53) Em 07 de julho de 1990, disputou seu último jogo oficial, a derrota do Flamengo de 2 a 1 para o Bangu, no Estádio Proletário em jogo válido pela Taça Guanabara, primeiro turno do Campeonato Carioca.


54) Em 10 de setembro de 1990, disputou seu ultimo jogo como profissional, na partida Flamengo 4 X 2 Seleção Carioca, que representou a despedida do atacante Nunes no futebol, no Estádio Caio Martins em Niterói.

55) Leandro conquistou pelo Flamengo as Taças Guanabara de 1978, 1979, 1980, 1981, 1982, 1984, 1988 e 1989; as Taças Rio de 1978, 1983, 1985 e 1986; os Campeonatos Carioca de 1978, 1979, 1979 (Especial), 1981 e 1986; os Campeonatos Brasileiros de 1980, 1982, 1983 e 1987 (Copa União); a Taça Libertadores da América e do Mundial de Clubes, ambos em 1981, além de Torneios menores onde se destacam a Copa Punta Del Este, Torneio Internacional de Nápoles, ambos em 1981, Troféu Naranja em 1987 e Copa Kirin e Troféu Colombino em 1988.

56) Disputou pelo profissional do Flamengo, entre 1979 e 1990, 415 jogos e marcou 14 gols.


57) Zico sempre dizia: “O Leandro marca poucos gols, mas sempre quando marca, é um gol importante”.

58) Leandro é considerado por muitos jogadores, treinadores e críticos esportivos como o maior lateral- direito que o Brasil já produziu.

59) Disputou pela Seleção Brasileira, entre 1981 e 1986, 29 jogos e marcou 2 gols. Integrou a equipe que disputou a Copa do Mundo de 1982, na Espanha.

60) Américo Faria: “Em minha longa carreira no futebol, foi, sem dúvida alguma, o jogador de maior talento com quem trabalhei”.

Eurico Miranda

A ÚLTIMA BAFORADA

entrevista: Sergio Pugliese | texto: Rubens Lemos | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Aos 10 anos incompletos, sofri bullying dos amigos flamenguistas. Era 1980, o Flamengo anunciava a contratação de Roberto Dinamite, meu ídolo no Vasco, para formar dupla com Zico.

Chorei lágrimas de desespero, imaginando os dois invadindo a área e partindo céleres ao gol. Um tal cartola Eurico Miranda soube da negociação, meteu a sua vascainagem na trama e Roberto voltou ao Vasco (estava no Barcelona da Espanha).


Vibrei por Roberto, passei a cultuar Eurico como símbolo de um clube que se libertava. Roberto fez os cinco gols na rentrée contra o Corinthians (5×2).

No final da década de 1970, início dos anos seguintes, o Flamengo ostentava o melhor time do Brasil e uma simpatia exagerada da arbitragem. Sempre surgia um pênalti aqui, uma anulação de outro do adversário, a expulsão de meio time rival (Atlético Mineiro foi vítima em 1980 no Brasileiro e 1981 na Libertadores) para incrementar as vitórias rubro-negras incontestáveis pelo toque de bola hipnótico de suas estrelas.

Eurico, inimigo do Presidente Antônio Soares Calçada, queria seu lugar, perdeu eleições e os dois uniram-se, com Eurico assumindo o futebol. O Vasco a contar com um guarda-costas sem pinta de Kevin Costner e os jogos passando a ser decididos apenas na bola. Eurico rugia, se transfigurava, partia com seu figurino de Capo sobre quem ousasse trapacear o Vasco.

Eurico gostava de comprar, Calçada, de vender. Eurico trouxe do Espírito Santo (ES), Geovani, ainda juvenil, para despontar como o grande meia da Colina em todos os tempos. Repatriou Geovani da Itália, tirou Bebeto e Romário do Flamengo.


Bancou Edmundo, mandou buscar Juninho Paulista, Ramonzinho, Denner, Luizão, Donizete, Evair, Mauro Galvão, Ricardo Rocha, Jorge Mendonça, Arthurzinho, Mário Português, Mauricinho, Cláudio Adão, Luis Carlos Winck, Paulo Roberto, Elói, Tita, Marcelinho Carioca, Pet, feras que nos garantiram a virtude do toque de bola e do amor-próprio.

Até 2000, o Vasco deve o incalculável a Eurico. Campeonatos Cariocas: 1982/87/88/92/93/94/98/03/15/16 (os dois últimos sem brilho nem craques), três Brasileiros: 1989/97/00, a Libertadores de 1998, o Rio-São Paulo de 1999, para deixar na conta os indiscutíveis.

Eurico Miranda, de guardião, transmutou-se com seu assombroso charuto em sinônimo de antipatia ao Vasco. De truculência, de desaforo substituindo argumento, de Valdiram, Valdir Papel, Jonilson, Gomes, Fábio Braz, Tadic, Ciro, Allan Delon e outra frota de caminhões de perebas laboratoriais. Vexatórias campanhas, eliminações ridículas, status de Olaria com Cruz de Malta na camisa.

Estava Eurico dedicado à politicagem mais tacanha, vencendo eleições sob suspeita de fraude, impondo nepotismo, tratando mal quem encontrava pela frente e reduzindo o Vasco à Série B. Desmanchou glórias em pó de fracasso.

A morte nem santifica nem crucifica o morto. A Eurico, o que é de Eurico. Vida que segue.
 

 

DE BRITO À MILAGRE

por Marcos Vinicius Cabral


– Ouvi sempre coisas boas sobre meu avô, que jogou até os 64 anos! – diz Rodrigo Santos Brito, de 34 anos, ao Museu da Pelada.

Mas se o filho de seu Newton e de dona Ivana não se cansa de elogiar o octogenário e craque da família, foi por causa de suas atuações na ponta-direita do Veterano Futebol Clube nas manhãs de sábado no Campo do Bairro Rosane, que ele decidiu que era aquilo que queria fazer na vida: jogar futebol profissional.

Coisa que seu avô não conseguiu em sua época, mesmo tendo jogado com Gérson, o Canhotinha de Ouro, um pouco antes do tricampeão mundial se profissionalizar no Flamengo.

– Era difícil. Jogador era taxado como vagabundo. Ou casava ou jogava – lamenta seu Waldir dos Santos, casado há 58 anos com dona Nicinha.

Mas taxações à parte no mundo cruento da bola, o neto não se arrepende de ter desfrutado da constância de seu Waldir na sua vida.

– Peguei gosto por estar sempre com ele, que me levava para o campo e ficava batendo bola comigo! – diz Brito como passou a ser conhecido no mundo do futebol.


E arremata:

– Foi com meu avô Waldir que aprendi o beabá do futebol, como dominar, tocar, driblar, lançar e chutar uma bola. Deveria ter uns 5 anos de idade – diz.

Aprendeu tanto que em 1995, aos 10 anos de idade, já era destaque jogando no meio campo no time do Bairro Rosane Futebol Clube, e dois anos depois ingressava na escolinha Toque de Bola Futebol de Base, comandada por seu Ruterley ou Telê Ventura como é até hoje chamado.

– Brito era um jogador muito técnico, organizador de jogadas, aplicado, com uma leitura de jogo impressionante, além é claro, de bater faltas como poucos – gaba-se o ex-treinador de 69 anos.

Com tantas qualidades foi levado ao Club de Regatas do Vasco da Gama, onde treinou no campo anexo de terra batida de São Januário que fica atrás das arquibancadas e agradou.

O talentoso garoto que confirmaria o DNA da família Santos Brito viu a alegria no brilho dos olhos de seu Santos Brito, viu a alegria no brilho dos olhos de seu Waldir ao ser aprovado.

Brilho efêmero convenhamos, pois alguns meses depois, viu o mesmo olhar de reprovação do avô para os empresários que administravam as carreiras de vários garotos.

Preterido por ser do mirim e integrar a escolinha do clube vascaíno, Brito foi desligado.

Mas não desligou da vida o sonho de vestir a camisa de um clube de futebol.

Passou na peneira do Nova Iguaçu Futebol Clube, fundado em 1990 por Crizam César de Oliveira Filho, mais conhecido como Zinho, tetracampeão mundial em 1994 :


– Eu não tinha dinheiro de passagem para treinar. Nem almoçar eu conseguia por causa do horário. Abri mão! – queixa-se sobre os quase 57 km de distância entre sua casa em São Gonçalo e a sede do Carossel da Baixada.

No Bonsucesso Futebol Clube, onde Leônidas da Silva, o inventor da bicicleta, se profissionalizou em 1934, a história foi diferente:

– O clube estava sem recursos para disputar o Campeonato Carioca – lamenta sobre o rubro-anil.

Depois dessas experiências, a primeira tristeza: a escolinha onde dera seus primeiros chutes numa bola de futebol observado pelos olhos atentos do avô encerrava suas atividades.

Recomeçou então no rubro-negro mais famoso do bairro: o Flamenguinho da Brasilândia, time que revelou o meio campista Diogo Oliveira, hoje no Brasil de Pelotas.

Nesse período, estudava no primeiro ano do segundo grau no Colégio Estadual Padre Manuel da Nóbrega e jogava os interestaduais pela tradicional escola do bairro, sob a batuta do treinador Mekerra, que lapidou a joia no começo de carreira.

Com um futebol encantador conquistou Carlos Roberto – ex-jogador do Botafogo nos anos 1960 e atualmente treinador do Al Tai Sport Club da Arábia Saudita -, e Silvinho – que jogou no Fluminense -, que o levaram ao Madureira Futebol Clube.

No infantil do Tricolor Suburbano, jogou ao lado de Maicon (atualmente no Grêmio de Porto Alegre), Muriqui (ex-Vasco) e André Lima (hoje no Austin Bold FC dos EUA).


– O treinador me valorizava tanto que eu pedi para ser dispensado e me emprestaram. Queriam que eu fosse dispensado e me emprestaram. Queriam que eu voltasse, mas não quis mais – revela.

Poderia continuar mas os malditos contratos “de gaveta” (que viriam a ser proibidos pela CBF apenas em 2015) o desanimaram.

A vida continuou seu curso e Brito acabou indo parar no Centro Esportivo Arraial do Cabo mas foi no Angra dos Reis Esporte Clube que disputaria sua única Copa São Paulo como profissional em 2005.

Ainda jogaria profissionalmente na Associação Atlética Ranchariense e na Associação Esportiva Araçatuba, um pouco depois de vestir as camisas do América/RJ e o Canto do Rio de Niterói.

Enquanto buscava um lugar ao sol em equipes profissionais, nos campos de várzeas de São Gonçalo assinaria súmulas pelas equipes do Duro na Queda e Aranha (ambos do Coroado), Xeque-Mate de São Gonçalo, Jovem Fla do Boa Vista, Santos do Porto Velho, Renascença de Itaboraí, além de no F7, pelas equipes do Atlantic e Al Ain.

Ganhando títulos e jogando o fino da bola, surgiu a oportunidade de ir para Portugal.

Certo dia, tomando banho, sentiu uma forte dor na nuca e desmaiou.

Levado às pressas para o HEAT (Hospital Estadual Alberto Torres), no Colubandê, ficou em observação numa maca em um corredor lotado.

– Ouvi o médico dizendo ao enfermeiro pra ficar de olho no meu irmão, pois ele não estava bem – recorda o irmão Felipe.

Numa ala de isolamento, seu estado ia agravando e para visitá-lo era preciso colocar uma roupa específica.

A situação era grave, muito grave.

O craque que aprendera futebol com seu Waldir, agora lutava contra um adversário que queria a qualquer custo vencê-lo: a morte!

Brito então entra em coma induzido e o chefe da equipe médica responsável está pessimista.

– Se ele não reagir se preparem para o pior, mas se sobreviver, viverá numa cama para sempre – enfatiza após medicá-lo.

E completa:

– Mas tudo indica sua morte! – sentenciou.

– Nunca! Eu sei em quem tenho crido. O senhor vai ver o agir de Deus na vida do meu filho – diz o padrasto Rogério segurando uma bíblia e com lágrimas nos olhos.

Deus começa a operar na vida daquele rapaz cheio de sonhos e com uma vida inteira pela frente.

Depois de doze dias internado, Brito sai do coma, porém, uma inflamação no cérebro é diagnosticada.

Era necessário uma drenagem e uma cirurgia.

Após ser operado é transferido para o HEPJBC (Hospital Estadual Prefeito Jõao Batista Caffaro), em Manilha.

– Ele foi evoluindo mas um médico queria fazer traqueostomia nele e queriam que eu assinasse para liberar – conta dona Ivana, mãe do craque.

Nesse instante, Deus opera outro milagre.

– Ei, Ro! Lembra de mim? – sopra no seu ouvido a fisioterapeuta.

– Claro que sim, Lu! -, diz lembrando da colega de academia Smartfit, onde malhavam.

Aquela “anja” que atendia pelo nome de Luciana, faz alguns testes ali e diz que o jovem não precisa ser traqueostomizado.

Em seguida uma junta médica o examina e fica comprovado que não é necessário a cirurgia.

Alguns dias depois, a evolução começou a ocorrer com ganho de massa corporal e a tão sonhada alta.

Hoje, quem o vê cantarolar “Deus é Deus” de Delino Marçal, não entende o milagre ocorrido na vida deste jovem de 34 anos que se divide nos treinos em alto rendimento, em palestras motivacionais, trabalhos sociais e na Igreja Evangélica Assembleia de Deus, no Porto da Pedra, onde é Missionário.

Mas confessa:

– Duas das maiores alegrias que a bola me deu foi poder jogar ao lado do meu avô. Eu com 14 anos e ele com seus 64, em 1999 – lembra.

E finaliza:

– A outra foi marcar um gol de falta para ele um ano após ter vencido a meningite no qual fui acometido – diz sorrindo o camisa 30 do Boleiros FC.

TEMPO PERDIDO

por Eliezer Cunha


“Sonhei que estava sonhando um sonho sonhado”. Uma frase a princípio desconexa e que me veio hoje à cabeça, mas de alguma forma me transcende aos tempos áureos do nosso futebol pelos quatro cantos do país. 

Era o ano de 1980 quando em um belo samba de Martinho da Vila esta frase foi desferida. Tempos em que sonhávamos e o sonho se tornava realidade. 1980, ano em que o Flamengo se tornou campeão brasileiro em um belo jogo marcado por cinco gols não oriundos do acaso. Estádio lotado, torcidas amistosas se contorcendo para conseguir uma pequena brecha entre centenas de cabeças presentes, onde nem a alma do saudoso Mário Filho conseguia habitar, e assim, enfim, presenciar “O grande momento do futebol”. Eram verdadeiros clássicos degustados pelos torcedores de cada time. Craques de primeira linha desfilavam pelos gramados, largando a poesia que tinham em seus pés comandados pelo cérebro. 

Batalhões…Somente de torcedores, amparo policial, somente para organizar filas. O trem superlotado de torcedores que ligava às estações de Santa Cruz à Central do Brasil era a demonstração clara e absoluta da democracia de convivência social. Os objetivos eram claros e únicos, ver seu time jogar e vencer. 


Hoje o sonho sonhado virou pesadelo também pelos quatro cantos do país e, com isso conduziu minha paixão pelo futebol e esta se foi desmoronando frente às ocorrências, a ponto de me impulsionar a comentar sobre o que ocorreu no último no jogo entre Vasco X Fluminense. 

O espelho desta situação foi clara, técnica ausente, violência dentro e fora do campo, arquibancadas vazias e um somente gol concebido simplesmente pelo acaso. Todos se esqueceram dos valores principais do esporte “Emoção e arte”. Deveríamos aprender com o passado, corrigir o presente e planejar o futuro. Gostaria de voltar a sonhar novamente.