REINALDO, O QUE SERIA O MELHOR DEPOIS DE PELÉ
por Luis Filipe Chateaubriand
Reinaldo Lima, o Rei da torcida do Atlético Mineiro, é um dos maiores jogadores da história de nosso futebol.
Dono de um futebol extremamente técnico e envolvente, aliava rara habilidade com a bola a um raciocínio para decidir lances fora do comum.
Seu domínio de bola incrível resultava em dribles desmoralizantes, lençóis precisos e conclusões a gol certeiras.
Fazer gols de cobertura, especialmente com “paradinha” à frente dos goleiros, tornou-se uma de suas maiores especialidades.
Um momento marcante de sua carreira foi em 1976, quando seu Atlético bateu o grande Cruzeiro, campeão da Libertadores da América, pelo título do Campeonato Mineiro. Comandados por Reinaldo, os garotos do Galo deram um “chocolate” no consagrado rival mineiro.
No ano seguinte, 1977, o Atlético Mineiro fez campanha excepcional no Campeonato Brasileiro, sendo finalista, e, embora não tenha conquistado o título, merecia. Reinaldo fez inacreditáveis 28 gols em 18 jogos.
Em 1980, o Rei ajudou o Galo a chegar a nova final do Campeonato Brasileiro e, nos dois jogos finais, azucrinou a defesa do Flamengo, tendo feito três gols nos dois jogos – um deles com distensão muscular e mal conseguindo andar!
Na Seleção Brasileira, foi injustiçado duas vezes. Na Copa do Mundo de 1978, ao ser barrado. Na Copa do Mundo de 1982, ao sequer ser convocado.
Ainda assim, fez grandes jogos pela Seleção. O maior deles foi contra a Bolívia, na altitude asfixiante de La Paz, em 1981, onde só faltou fazer chover…
Este redator teve a oportunidade de estar pessoalmente com Reinaldo, no final dos anos 1980, em uma história que ainda será contada. Foi uma grande emoção, estar com um dos maiores jogadores que viu em ação – aquele que Zico disse que, não fossem as graves contusões que teve ao longo da carreira, seria o jogador que, tecnicamente, mais se aproximaria de Pelé.
Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com
O ARTICULADOR SOBERANO
por Eliezer Cunha
Competições, aonde elas não existem nós as inventamos. Fazem parte de nossas vidas competirmos; com os nossos vizinhos, um amigo de classe ou um namorado de uma ex. Desta forma é uma das molas que movimentam e fazem parte de nossas rotinas.
Durante a minha adolescência no pacato subúrbio, nos reuníamos, amigos de pelada, nas esquinas, nas beiras dos campos, nas quadras de salão de futsal, para discutirmos, sobre as inúmeras vitorias do Flamengo nos finais de semana (70/80), mas, sobretudo, discussões que tendiam a igualar jogadores, quanto a forma de atuar e/ou como sendo quem seria o melhor, ou seja, quem é mais importante jogador dentro do elenco? Evidentemente, nosso Galinho ficava de fora das discussões, mas tinham dois que sempre vinham à roda para as comparações, sendo eles: Adílio e Tita. Confesso que minha simpatia era enorme sempre pelo Tita, porém também existiam aqueles outros torcedores que eram pró e evocavam por Adílio.
Não venho aqui como também não possuo competência para tal, em dissecar sobre a carreira deste grande atleta chamado Adílio. Outros já o fizeram com maior maestria. Vim, sim, me retratar a um craque e reparar minhas opiniões que tinha no passado.
Hoje consigo enxergar o Flamengo sem os seus maiores ídolos. Hoje consigo enxergar substitutos para Andrade, Tita, o grande Zico, os laterais e os vários centroavante que tivemos, mas, hoje não enxergo e não vejo um substituto para Adílio. A sua conexão com o ataque não tinha preferência de lados, a sua visão era 180º do meio de campo pra frente, poucas bolas perdidas e muito poucos passes errados.
Eram tão poucos afastamentos por contusão que sinceramente não me lembro de um sequer. Na decisão do mundial no Japão, foi ovacionado por um jogador do time inglês, classificado como liso, ágil, vibrador, visão de jogo, etc. Talvez tenha sido uma das maiores injustiças do futebol brasileiro não ter sido titular da seleção do Brasil da época, mas, para um menino franzino, pobre, que um dia saiu da comunidade de uma certa ‘Cruzada’ para conquistar um lugar ao sol daquele grande e elitista time já o satisfazia. Talvez tenha o faltado os olhos azuis, a cor amarelada da pele e os belos cachos louros bem vistos da época.
Jankel Schor
SENHOR EMBAIXADAS
entrevista: Sergio Pugliese | texto: Leandro Costa | fotos e vídeo: Daniel Planel
Quem frequentou o Maracanã até o ano de 2013 certamente se lembra do Vovô das embaixadas, Jankel Schor. Dono de uma habilidade invejável, esse senhor de 92 anos nos remete as nossas melhores memórias afetivas do antigo Maracanã.
Sergio Pugliese, Jankel Schor e Leandro Costa
Vê-lo fazendo embaixadas de um lado para outro do gramado no intervalo das partidas era, de fato, uma atração à parte no jogo, ou melhor, ouso dizer que aquilo era o verdadeiro espetáculo. Perco a conta de quantos jogos modorrentos tiveram o brilho do futebol arte somente nos 15 minutos em que o Sr. Jankel era o protagonista e roubava para si o olhar atendo e admirado de milhares de espectadores.
Do alto da sabedoria de nove décadas, com um andar rápido e uma lucidez impressionante, o Vovô das embaixadas nos contou que uma hérnia provocou sua aposentadoria mas que se encontrasse um bom cirurgião tinha vontade de operar e voltar aos gramados. Enquanto isso não ocorre, fomos brindados com um mini flash back. Obrigado, Sr Jankel! A resenha foi maravilhosa.
Luizão
MÃOS MILAGROSAS
Quem nos acompanha sabe o quanto gostamos dos personagens que ficam à beira do campo. Por isso, estávamos há um bom tempo atrás de Luizão, um dos massagistas mais vitoriosos do mundo, para relembrar sua trajetória!
Em seu currículo, consta nada menos do que quatro Copas do Mundo, Olimpíadas, Pan-Americano e títulos pelo mundo inteiro. O primeiro mundial foi em 1982, mas engana-se quem pensa que o massagista acompanhou aquela seleção que encantou o mundo.
– A primeira foi com o Kuwait, em 1982, com o Parreira!
A relação de Luizão com o técnico vem desde a juventude, quando o massagista ainda tentava ser jogador e teve a oportunidade de ser treinado por Parreira em Padre Miguel, no Rio de Janeiro.
Os anos se passaram, Luizão largou o futebol e passou a servir o exército. Quis o destino, no entanto, que o futebol cruzasse seu caminho novamente, mas de uma maneira inusitada:
– Tudo começou com uma necessidade de um oficial equatoriano. Ele tinha três dias pra permanecer no curso de Guerra na Selva ou seria cortado. Liguei para o meu irmão (massagista), que me deu as instruções e eu passei três dias fazendo tratamento nele.
Resultado: o rapaz se recuperou, Luizão vibrou e decidiu que levaria aquela profissão para o resto da vida!
– Fiz o curso e estou aí há 40 anos! – lembrou!
A segunda Copa do Mundo foi em 1990 e teve um gosto especial, já que vestiu a amarelinha e fez parte da delegação de Lazaroni.
Mas nada se compara ao mundial seguinte, quando Luizão reencontrou Parreira, seu velho conhecido, e o desfecho todos conhecem.
– Com toda a sinceridade, acho que a ficha não cai imediatamente após o apito final! Recentemente, fizemos um encontro na Granja para celebrar os 25 anos do Tetra!
Durante o papo, descobrimos que o massagista conta com um acervo precioso que reúne belas fotos, camisas e muito mais! Imagem por imagem, Luizão lembrou cada momento e ao ser perguntado sobre o clube do seu coração não teve dúvidas:
– Tenho um carinho por todos, mas o São Paulo me acolheu no momento que eu mais precisava! Sofri um acidente na Dutra e tive todo o suporte deles! Cuidaram de mim de uma forma sensacional.
No fim da resenha, ainda deu tempo do nosso craque Guilherme Careca tirar uma casquinha do massagista e aproveitar uma sessão das mãos milagrosas!
Que resenha boa! Assistam ao vídeo completa!
A RAÇA DE UM GALO DE BRIGA
por Serginho 5Bocas
Lembro como se fosse hoje como eu me sentia, na época de menino, quando vinham dizer que o Maradona era melhor do que o Zico. Naquela época, o Galinho sofreu muito com a imprensa no Brasil e a torcida de outros clubes, ele não tinha este respaldo nacional que desfruta hoje em dia.
Lembro que ele era chamado de “canela de vidro”, “jogador de Maracanã”, “craque de laboratório”, enfim, uma infinidade de nomes pejorativos que tinham a intenção de minimizar o talento de um dos melhores jogadores de todos os tempos. E o mais engraçado é que quem falava isso, não era um argentino ou um uruguaio, mas sim, brasileiros. Talvez a razão seja porque ele jogou num clube que é amado e odiado na mesma proporção, senão como entender tanto veneno destilado contra um cara que nunca fez ou falou mal a ninguém.
Hoje, para quem não viu Maradona e Zico jogarem, deve soar um pouco estranho e até certo ponto uma heresia esta comparação, mas a verdade é que Zico tinha um imenso talento e por aqui não havia nenhum outro jogador que pudesse ser comparado ao nosso Galo. Na verdade, nossos “inimigos”, nos davam mais munição, para ter certeza de que Zico era realmente um jogador diferenciado.
No ano de 1981, Zico já era jogador consagrado, e já havia vencido dois duelos contra Maradona ambos em 1979. O primeiro pela seleção no Maracanã, quando o Brasil venceu por 2×1 e Zico deixou sua marca além de ter dado o passe para Tita marcar o outro e de ter sido superior em vários aspectos, a partir de uma avaliação da revista “paulista” Placar. O outro pela seleção da FIFA contra a Argentina, também por 2×1 na comemoração de um ano do título da Copa do Mundo vencida pelos argentinos. Naquele dia, Zico só entrou no jogo no segundo tempo, deu passe para um gol com direito a lençol em Passarela e marcou outro após passe de Toninho Baiano, sendo o nome do jogo.
Desta vez era um desafio entre Flamengo e Boca Juniors, da Argentina, ou Zico versus Maradona, enfim, mais um aperitivo antes da Copa do Mundo da Espanha que seria no ano seguinte. Também era a despedida de outra fera. Paulo Cesar Carpegiani, que estava trocando de posição, do campo para o banco, onde futuramente seria o auxiliar de Dino Sani e depois seria efetivado como técnico. Em qualquer um dos dois lugares, sua visão continuaria privilegiada.
O jogo em si foi uma festa e o nosso Galinho literalmente foi o dono dela, jogou com febre e com furúnculos pelo corpo. Mesmo assim, fez os dois únicos gols do confronto e novamente venceu o duelo contra o Hermano Maradona.
Zico ainda iria vencer Maradona outras vezes (nunca perdeu para o argentino), sem nunca ter seu verdadeiro valor reconhecido até hoje, mas naquele dia, o Galinho mostrou quem mandava no terreiro com toda sua categoria, mas principalmente com muita raça, e pouco se fala disso hoje em dia. Era uma época que ainda se ouvia falar em amor a camisa, sem beijinho no escudo.
Ô tempo bão!
Um forte abraço
Serginho5Bocas