BUFFON, DO PLAYSTATION PARA A REALIDADE
por Wendell Pivetta
Uma das maiores lendas do futebol mundial, completou mais um ano de vida durante a semana, e este lendário goleiro é com certeza um genuíno vinho: quanto mais velho, melhor.
Desde criança, quando estava entendendo o futebol e iniciando o amor de torcedor com o Sport Club Internacional, foi através do recém chegado, na época, Playstation 1 que me foi apresentado equipes europeias, e que facilmente se destacavam virtualmente com os melhores jogadores do mundo. O rankeamento feito nestes jogadores eram altos, porém, dentre eles havia um goleiro em destaque, ainda mais se tratando de uma posição pouco valorizada naquela época que estava iniciando a era dos games de CD.
Gianluigi Buffon é um dos poucos atletas que está presente até o momento, em todas as edições do futebol virtual, sempre muito bem valorizado, a muralha se tornou marca registrada de inúmeras equipes campeãs tanto no virtual, quanto na vida real.
Um goleiro que encanta a todos dentro e fora de campo, multicampeão, fez parte da Squadra Azzurra campeã do mundo em 2006, fazendo parte de uma máquina futebolística que do meio campo para frente produzia belos gols, e a linha defensiva formava uma verdadeira guilhotina para os adversários que se aventuravam a tentar passar. O goleiro está na ativa muito em função do único título que falta em sua estante, um título que no video-game ele conquistou inúmeras vezes, na vida real faz o goleiro persistir e ainda sonhar com a famosa Champions League.
Será que o destino, ou algum pacto faz dele ser preservado de erguer a tão sonhada orelhuda? Um dos maiores crimes do futebol mundial persiste, logo com quem mais ergueu a taça, virtualmente falando.
BONS TEMPOS DE CARIOCA
por Marco Antonio Rocha
O Chevette marrom 1982 cruza a Avenida Brasil, enquanto o barulho da bandeira do Vasco, tremulando do lado de fora, invade o carro. É preciso aumentar o som do rádio para ouvir os repórteres dando as informações sobre o jogo que começará em algumas horas. Geovani, Dinamite e Romário confirmados!
O caminho entre a Ilha do Governador e Olaria é curto o bastante para o menino registrar cada cena em sua memória: carros cobertos por bandeirões, torcedores uniformizados nos pontos esperando o ônibus.
Doalcey Bueno de Camargo anuncia que o pequeno estádio já está apinhado de gente. Não demora para as palavras do velho locutor ganharem vida (e cores) na forma de Fuscas laranjas, Brasílias verdes, 147 azuis, Opalas vermelhos… Todos tentam encontrar uma nesga de vaga que seja para estacionar.
Por anos minhas tardes de domingo foram assim. Na Rua Bariri, em Moça Bonita, no Ítalo del Cima ou no quintal de casa, no Luso-Brasileiro. Não foram poucas as vezes que vi de perto (e bota perto nisso!), no acanhado estádio da Portuguesa, o Flamengo de Zico; o Fluminense de Romerito; o Botafogo de Mendonça; e, claro, o Vasco! Foi ali que Ronaldo Theobald fez a foto ”Deus de calção e chuteira”, que ganhou o Prêmio Esso em 1977 pelo Jornal do Brasil: no túnel que levava ao gramado, fiéis tentam encostar em Dinamite.
Cenas assim ficaram no passado, em um preto e branco cada vez mais desbotado. Vejo a tabela do Carioca e me surpreendo que as partidas entre Bangu x Fluminense e Madureira x Botafogo tenham sido marcadas para Moça Bonita e Conselheiro Galvão. Pequenos que enfrentam grandes em suas casas, com charanga, papel picado e faixas com declarações de amor são exceção de uma regra que privilegia (com perdão da palavra) arenas.
O Chevette marrom 1982 segue cruzando uma Avenida Brasil que só existe na cabeça do menino. Shhhh… Doalcey já vai anunciar as escalações!
ALTA RESISTÊNCIA
texto: Pedro Barcelos | fotos: Alex Ribeiro
Aviso importante para as areias cariocas: a altinha virou Patrimônio Cultural Imaterial da cidade do Rio de Janeiro na última semana. Apesar de toda a frescura alheia e de sua quase proibição (só podendo ser praticada legalmente a partir das 17h na beira da água), este esporte se mantém vivo e mais valorizado do que nunca.
Se nossos futebolistas ainda frequentassem as praias cariocas, nosso jogo continuaria atrativo para o expectador. Penso que se o domínio com elegância ainda fosse uma marca do nosso futebol, o Brasil permaneceria como o melhor do mundo. Se Heleno, Romário, Júnior e tantos outros não treinassem num terreno desnivelado e arenoso, sem dúvidas teriam mais dificuldade para jogar no gramado do Maracanã.
Com todo o respeito aos jogadores do hemisfério norte, mas não se entra nas praias cariocas vestindo botinas. Nosso futebol se formou descalço e conquistou o mundo muito antes de se pensar que amortecedores nos calcanhares elogiariam nossos joelhos. Isso é besteira! O que acalma nossos joelhos é a areia, a estabilidade inconstante de posicionar os pés nela para um melhor controle da redonda. A imprevisibilidade do vento, a água do mar chegando justamente naquele momento de plasticidade e o grito dos ambulantes numa tentativa ingênua de desconcentrar nossos praticantes. A altinha se joga em roda e todos se ajudam.
Por falar nisso, talvez as expressões culturais de matrizes africanas também estejam presentes aqui. A cultura de roda: roda de samba, roda de capoeira, roda de jongo, roda de altinha… A altinha é jogada por apenas um time e todos se esforçam pelo coletivo. Não é uma competição, está mais para uma dança praticada com uma esfera conectando seus artistas.
E no nosso mundo, como tudo que não é competitivo, como tudo que só funciona através da cooperação total de seus participantes, a altinha sofreu diversas tentativas de proibição. Fracassaram! A altinha continua resistindo aos grã-finos e seus sapatos amortecidos.
Viva a altinha carioca e o futebol genuinamente brasileiro!
Edmar
EDMAR E OS GOLS POR ONDE PASSOU
por Marcelo Soares
Caçula de nove irmãos, Edmar nasceu em Araxá, Minas Gerais. Mas só foi dar os primeiros passos no futebol, na cidade de Brasília, após mudar-se com a família para a mais nova capital do país. Na cidade, Edmar já mostrava que tinha faro de gol e foi artilheiro do Brasília Futebol Clube durante os anos que esteve por lá.
Os gols e troféus de artilheiro, deixaram de ser municipais e passaram a ser estaduais e nacionais. Foi artilheiro do Campeonato Mineiro, Paulista, Carioca e também do Brasileirão. Marcou no Maracanã, Pacaembu, Morumbi e em todos os grandes estádios do futebol brasileiro.
Brilhou no interior de São Paulo e também na capital. Foi artilheiro do Brasileirão pelo Guarani, campeão paulista pelo Corinthians e foi para Seul disputar as Olimpíadas de 1988 ao lado de Romário e Bebeto pela Seleção Brasileira.
O sucesso fez ele ir balançar as redes na terra da bota, ao lado de craques no velho continente. Jogou em uma época que o Campeonato Italiano abrigava os maiores do mundo.
Achando que já tinha vivido de tudo no futebol, Edmar ainda voltou pra Minas Gerais pra ser campeão pelo Atlético Mineiro, time de coração do seu pai. E antes de pendurar as chuteiras, atravessou o mundo e viu o sol nascer primeiro. No Japão deixou sua marca na memória dos goleiros e viveu muitas situações inusitadas enquanto esteve imerso na cultura nipônica.
No papo que teve com o Museu, Edmar contou como foi essa trajetória vitoriosa e cheia de curiosidades pelo mundo do futebol, revelou uma história engraçada com Roberto Dinamite na disputa pela artilharia do Brasileirão e provou que por onde passou, foi capaz de deixar a sua marca.
Confira a entrevista!
DUPLA DE CRAQUES DO RÁDIO
por Luis Filipe Chateaubriand
No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, a Rádio Nacional abrigava a dupla de craques do rádio futebolístico brasileiro: o “Garotinho” José Carlos Araújo e o “Apolinho” Washington Rodrigues.
José Carlos Araújo, o locutor jovial, com uma narração bem-humorada e cheia de expressões deliciosas.
Na época, surgiu a música em sua homenagem: “O xará, assim não dá, pisou na bola e vai ter que aturar. Você deu o passe errado pelas quebradas da esquerda, vacilou com a cocotinha, recebeu o seu cartão. Vai mais, vai mais, Garotinho, você não é de pipocar, geraldinos e arquibaldos, estão aí para confirmar. E a galera tem vez, José Carlos Araújo”.
Washington Rodrigues revolucionou a linguagem do comentário esportivo brasileiro, ao trazer o coloquial para os ditos. Expressões como ‘briga de cachorro grande”, “mais feliz do que pinto no lixo” e “isso aí é como batom na cueca” são clássicas e deliciosas e revolucionárias.
O “Apolinho” apresentava o mítico programa “No Mundo da Bola”: “No Mundo da Bola, esporte, esporte. No Mundo da Bola, esporte, esporte. No Mundo da Bola! Vai começar”. Como o próprio Washington dizia, “o programa esportivo mais importante do rádio brasileiro desde os tempos de Antônio Cordeiro!”.
A dupla de craques marcou época na Rádio Nacional, depois na Rádio Globo e ainda hoje, na Super Rádio Tupi, já faz tempo com o reforço de Gérson, o “Canhotinha de Ouro”, e de Gílson Ricardo, o “Gilsão”.
Continuam por aí, tabelando como Pelé e Coutinho e fazendo golaços!
Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há mais 40 anos e é estudioso do calendário do futebol brasileiro e do futebol europeu. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.