HIPNOSE… ATÉ O TEIMOSO TELÊ ‘VIAJOU’ COM ELA
por André Felipe de Lima
Há uns três anos ou quatro anos, presumo, jogadores mexicanos recorreram à hipnose para mudar o rumo de suas carreiras nos gramados. O primeiro deles a recorrer ao método do sono induzido foi o atacante francês André-Pierre Gignac, do Tigres. O cara não fazia gols de jeito nenhum. Estava convencido de que não nascera para jogar bola e pensara até em fazer outra coisa na vida. Treinava dia e noite, noite e dia, e nada. Nada de gols, que deveria ser seu ofício como o de qualquer atacante. Mas Gignac chegou a ficar dois meses sem marcar um gol sequer. A torcida do Tigres, obviamente, chiava, e com inteira razão. Foi aí que o jogador teve a ideia de procurar um terapeuta hipnotista profissional — o escolhido foi John Milton — antes de um jogo decisivo do campeonato mexicano de 2016 contra o Pumas. Algumas sessões e… Tigres 5 a 0, com três gols do francês.
Quem mais recentemente no Brasil recorreu à hipnose foi a Portuguesa de Desportos para tentar escapar do rebaixamento à série C do campeonato Brasileiro, em outubro de 2014. A missão coube ao ex-goleiro Olimar Tesser, que teve experiências com hipnotismo em vários clubes, dentre os quais o Guarani, a Ponte Preta, o Náutico e o Bahia. Mas foi vã a tentativa de Tesser na Lusa. O trabalho do especialista durou menos de um mês. Foram quatro jogos com derrota em todos. O time não conseguiu sair da lanterna e não somente caiu para série C como intensificou a amarga uma crise que perdura até hoje, em 2020, ano de seu centenário.
Mas o sucesso da hipnose no esporte tem um viés vitorioso. A extinta União Soviética sempre a usou com seus atletas olímpicos. Fazia o mesmo com soldados durante as duas grandes guerras mundiais no século passado. O que ganharam de medalhas não está no gibi. Aí a prova de que hipnose — quando bem aplicada — dá certo.
No futebol brasileiro, a terapia vem de longe. Do final dos anos de 1950. O primeiro a se empolgar com ela por aqui foi o polêmico médico Paes Barreto, o mesmo que citamos em nossa crônica anterior publicada no Museu da Pelada. Só para reforçar a memória, Barreto, quando esteve no Flamengo, foi acusado de dopar jogadores na campanha do tricampeonato carioca do rubro-negro em 1942, 43 e 44. Fato que ganhou os jornais e foi muito especulado ao longo dos anos, mas sem que houvesse prova contra o médico, que, por sua vez, nunca negou ter passado “bolinhas” aos jogadores de que cuidava.
Mas vamos à hipnose do Barreto, que a imprensa definia — cercada de obviedades por se tratar do polêmico médico — como “doping da alma”. “Conseguimos um tricampeonato para o Flamengo alicerçados nessa base”, disse Barreto ao repórter Ronaldo Boscoli. “Embora digam que dopei jogadores, continuo afirmando que a sugestão foi minha arma. Cativei meus comandados e estudei caracteres. Senti que a saída de Domingos da Guia lhes minaria o moral e a confiança. Usei a psicologia como arma. Muitas conversas, muitas confidências, e finalmente as pastilhas ‘mágicas’, o ‘doping’, ou o quer que seja, fê-los vencer um campeonato (nota do cronista: popularmente conhecidas no futebol como ‘bolinhas’)”, completou o médico, que alegara ter se inspirado na experiência de um time do Rio Grande Sul cujos jogadores “jogavam hipnotizados” e “venceram” muitos jogos.
Ídolo daquele Flamengo tricampeão, campeão com o Botafogo em 1948 e depois um treinador bem-sucedido, Pirilo foi o primeiro “paciente” do Paes Barreto, que declarou ter “levado o técnico até sua casa e o fez “ver” e “abraçar” sua mãe. O hipnotizado Pirilo — garantia peremptoriamente o médico — verteu “grossas lágrimas”.
Barreto, que na época estava no Fluminense, justificava o uso da hipnose como um meio para deixar o jogador em “ordem psíquica” e até “física” para os times.
No Tricolor, arriscou a técnica em alguns jogadores. Notoriamente com fama de “durão” e “teimoso”, Telê Santana submeteu-se a duas sessões com o médico, que afirmou ter sido uma hipnose de “ordem particular” e não destinada ao futebol. O “tratamento” no Telê foi registrado pelo fotógrafo Carlos Kerr, que acompanhava Boscoli na reportagem da Manchete Esportiva, também se submeteu ao teste. Fez tudo o que Barreto determinara, escrevera o jornalista. Os jogadores Robson e Jair Marinho, que morreu recentemente, também passaram pelas mãos do Barreto. O primeiro foi apenas “magnetizado”. Nada falou demais; o segundo, ao recobrar a consciência, confessou sentir-se sonolento, apenas. E quanto ao saudoso mestre Telê? Este “viajou” mesmo. De olhos fechados, ele “foi” à Minas Gerais, sua terra natal, sob o comando do médico. Até então incrédulos, como todos nós jornalistas até o último fio da alma, Boscoli e Kerr testemunharam tudo imersos em um mar de interrogações existenciais.
Para Barreto, tudo era muito simples e sem chance às dúvidas: “Um homem hipnotizado não mente jamais”. Se a moda pegar…
OLHOS NOS OLHOS
por Rubens Lemos
Olhar nos olhos é a tradução intuitiva da verdade e do caráter. Desconfie de quem conversa com você de luz baixa, desviando a vista ou franzindo o cenho. Esse é um traiçoeiro certificado. Olhar nos olhos, nos cafundós sertanejos, tem o poder do papel passado. Fechado o assunto, acertado o pacto, é ir dormir sossegado.
O fraco sem personalidade, o boboca passado para trás (em qualquer aspecto), o avarento de placenta e sem autoridade mínima, é esquivo em geral. Anda desconfiado, vislumbrando o chão, no máximo balança a cabeça em cumprimento, como fazem os ratinhos bípedes, ratos de duas pernas.
O homem que não olha nos olhos se cerca mal. Põe puxa-sacos deslumbrados para tomar as medidas que evita assumir por covardia, a sua tatuagem invisível. É uma pústula, um desprezível acompanhado por outras catitas de laboratório.
O ABC adaptou para si a fábula acima. É um clube insosso, sem compromisso com suas raízes, dominado por quem não o conhece, não respeita sua história e, logo o clube da Frasqueira, pisoteia primeiro os humildes.
É claro que a pandemia do Coronavírus vai levar empresas a enxugar seus quadros por falta de dinheiro. Confinado, ninguém compra. Fechado, ninguém vende. Os vampiros do ABC usam tal discurso para justificar a perseguição aos funcionários. Menos a verdade. Para dar o exemplo, eles saíssem primeiro. Puxando pela mão o inútil que despejou por incompetência redundante o clube na Série D.
O símbolo de todos os jogados fora é o roupeiro Joca, R$ 2.500 de salário, sobre quem escrevi há semanas uma crônica de domingo. Joca é(era) o roupeiro mais antigo do Brasil. Foi tema de reportagem da Revista Placar, é um servidor padrão, chegou menino ao ABC do qual conhece cada centímentro.
Joca tem(tinha) 52 anos de clube. João, Bernardo em homenagem ao Santo Claraval combatente de mentiras e heresias, arrumou o uniforme de um jovem loiro nascido nas encruzilhadas das Salgadeiras e das Sete Bocas, periferia próxima ao Cemitério do Alecrim(o maior de Natal). O menino de 17 anos atendia por Marinho Chagas, maior esportista do Estado pelos séculos, amém.
Joca chegou antes de Marinho ao clube do povo. Era do povo. Lá na sede de Morro Branco, que não existe mais como a instituição prostituída pelos seus inquilinos atuais. Em 1970, com Joca moleque e Marinho também, o ABC quebrou um tabu de quatro anos sem títulos. Com ambos, o Deus Banto da bola potiguar, Alberi.
Joca estava no tetracampeonato de 1973, o do time de Erivan; Sabará, Edson, Telino e Anchieta; Maranhão, Danilo Menezes e Alberi; Libânio, Jorge Demolidor e Moraes.
Joca estava no timaço que evitou o tricampeonato do América em 1976: Hélio Show; Fidélis, Pradera, Wagner e Vuca; Draílton, Danilo Menezes e Zé Carlos Olímpico; Noé Silva, Reinaldo e Noé Macunaíma.
Como estava Joca em 1983, no sonho tocado de primeira por Dedé de Dora, Marinho Apolônio e Silva em orquestra com Lulinha; Alexandre Cearense, Joel, Alexandre Mineiro e Dudé; Nicácio, Dedé de Dora e Marinho Apolônio; Curió, Silva e Djalma.
Em contas que faço – duvido consigam os carrascos -, Joca participou de 24 dos 55 títulos estaduais do ABC, ou do Ex-ABC. Joca está na biografia de mais da metade dos campeonatos conquistados. De seis Taças Cidade do Natal. Fora torneios interestaduais e locais para ocupar agenda vazia.
Promovendo um festival de cabeças cortadas, a ridícula e pior gestão do ABC joga para debaixo do tapete, histórias tenebrosas de uma pequena auditoria que flagrou gastos inexplicáveis como o uso de um cartão corporativo no valor de 118 mil reis, ou 47 salários de Joca. Vão deixar por isso? Ou a conveniência da cumplicidade vale para os poderosos e prepostos de costas quentes? Os humildes temem a Deus.
Cadê o ABC? Tem Conselho Fiscal? Joca é um simplório, entrava em campo vestido de frade, de sacristão, da religião alvinegra. Está no desenho escrito por Victor-Marie Hugo: “De que adianta triunfar sobre uma multidão de humilhados e famintos?”. Só miseráveis tripudiam.
O DIA EM QUE DOPARAM DIDI
Embora justamente condenável, o doping era algo corriqueiro no futebol do passado. Craques de outrora confessaram ter sido dopados. Zizinho, Almir e Amarildo são três notórios exemplos. Didi também foi dopado uma única vez sem que soubesse. O Mr.Football confirmou a história ao repórter Ronaldo Boscoli).
por André Felipe de Lima
Antes de os mecanismos de detecção em laboratórios ganharem notoriedade a partir dos anos de 1970, o doping no futebol brasileiro era mais corriqueiro do que hoje se imagina. Há depoimentos históricos de grandes ídolos que reconheceram ter recorrido às populares “bolinhas” — termo corriqueiro do universo do futebol para substâncias estimulantes proibidas no meio esportivo. Zizinho (“Dão sim. Eu mesmo tomei muito”) e Almir Pernambuquinho (“Naquele Santos x Milan de 14 de novembro de 1963, aqui no Maracanã, eu entrei muito doido no campo”) se tornaram casos célebres. Houve também o caso em que o médico do Flamengo Paes Barreto foi acusado de dopar os jogadores durante a intensa campanha do tricampeonato do rubro-negro em 1942, 43 e 44. Quando Barreto seguiu para o Botafogo, a mesma acusação foi feita em relação à campanha vitoriosa do alvinegro no campeonato carioca de 1948. Algo que jamais saiu do território das especulações e calúnias. Mas o médico confirmou, na época, que realmente dava pílulas vitaminadas para deixar os jogadores mais “animados” antes de cada jogo. Nilton Santos — comentava-se nos bastidores — cuspia escondido as “milagrosas” pílulas do dr. Barreto.
Amarildo é o outro exemplo. O jogador estava prestes a ser convocado para a Copa de 1966, na Inglaterra, quando num papo informal com o médico do escrete, o dr. Hilton Gosling, que mostrou-se surpreso com o incomum estado físico do jogador, confessou que o uso das “bolinhas” era “normal” no futebol italiano. Gosling ficou abismado com o que acabara de ouvir do “Possesso”, e Amarildo acabou sacado do escrete. Não se sabe, ao certo, se por essa história ou se por índice técnico.
A notória relação de Almir Pernambuquinho com as “bolinhas” chegou ao seu livro autobiográfico (Eu e o futebol), no qual ele fala abertamente sobre doping no futebol brasileiro. Mas — antes de o livro surgir pelas penas dos repórteres Fausto Netto e Maurício Azêdo — Almir já alardeava, sem pudor, que às vezes ingeria estimulantes, o que João Saldanha ouviu do próprio craque em uma roda de conversa na praia, em frente à rua Miguel Lemos, em Copacabana. Havia testemunhas, disse ele ao então repórter Mário de Moraes, o primeiro vencedor do lamentavelmente extinto Prêmio Esso de Jornalismo.
Durante nossas infindáveis leituras da história de cada um destes grandes jogadores do passado, deparei-me com um depoimento bombástico de Didi, cujos detalhes, confesso que desconhecia e não me recordo de ter identificado essa informação na excelente biografia dele (Didi, o gênio da folha seca) assinada por Péris Ribeiro. Caso tenha sido desídia da minha parte, desde já minhas sinceras desculpas.
Mas a reportagem da revista Manchete Esportiva estampa o seguinte título: “Eu já fui dopado”. Quando falou ao então repórter Ronaldo Boscoli, Didi estava em plena forma e a Copa da Suécia, em 1958, se avizinhava. Mas ele, embora tenha se consagrada na reta final das eliminatórias para o Mundial, ainda era visto com desconfiança por muitos, que, frise-se aqui, não deviam regular muito bem da cabeça. O ídolo chegou a confessar à esposa Guiomar que desejava abandonar a carreira nos gramados. Guiomar o dissuadiu para o bem da história do nosso futebol. Um dia, ele não aguentou mais, e disse tudo a Boscoli:
— Fico realmente indignado, toma conta de mim o desânimo quando já perto dos trinta anos assisto a tantos desmandos no Brasil esportivo. Fico revoltado com as intrigas a mim atribuídas — e Didi faz as maiores revelações de suas carreiras — dá vontade de desabafar, de falar o que sei. Chamam-me de descansado, de moleque. Queria que esses homens estivessem na minha pele em diversas ocasiões. Lembro-me de um Pan-Americano, o de 52. Eu nem podia tocar o pé no chão, imagine você chutar assim. Pois bem, eu mesmo arrumei um pedaço de borracha plástica (vulcanizada) e adaptei à chuteira. Quando fiz o primeiro gol caí de dor. Disseram que foi emoção… se emoção doesse tanto o mundo inteiro seria bem mais calmo.
Boscoli então indaga:
— Mas por que você não tomou uma injeção?
Didi responde:
— Essa não. Fui na conversa uma vez para nunca mais. Posso dizer-lhe que fui dopado, sem saber, durante um jogo de campeonato. Faz algum tempo. Quando cheguei em casa parecia que ia estourar. A cabeça rodando, o coração aos pulos. Injeção, sem eu ver antes, nunca mais. Você não pode imaginar o que significa jogar seguidamente, sempre visado, sempre assediado.
Pela história ilibada do Didi, certamente o doping sobre o qual falou ao Boscoli não foi intencional. Como o próprio Almir alertara no livro Eu e o futebol, havia aqueles que sabiam estar sendo dopados e outros — como o Didi — que entravam de “bucha” na história. Se o que ocorreu com Didi acontecesse hoje, o craque estaria encalacrado, porém sem culpa no cartório.
Futebol, uma “caixinha de surpresas”… surpresas que nem sempre são boas e saudáveis para o esporte.
HOJE SONHEI COM UM ESTÁDIO
por Claudio Lovato Filho
No começo, ele estava lotado. Crianças, adultos e velhos. Cantos, batucada. Bandeiras, faixas e trapos por todos os lados. Uma festa.
Mas de repente começaram a surgir os clarões.
Primeiramente, pequenas áreas esparsas; depois, grandes espaços vazios em todos os lugares avançando como sombras sedentas de mais escuridão.
As bandeiras, faixas e trapos voaram, sugadas pelo céu cinza-chumbo.
Então o estádio desmoronou.
Foi assim: pedaço por pedaço, seção por seção, anel por anel – até não sobrar nada além de um vasto terreno descampado pedregoso, calcinado e deserto.
Nesse ponto acordei.
Um pouco mais tarde, com uma caneca de café na mão e o olhar preso no horizonte através da janela da sala, pensei numa passagem de “A Estrada”, de Cormac McCarthy:
“Eu disse ao garoto que quando você sonha com coisas ruins significa que você ainda está lutando e que ainda está vivo. E quando você começa a sonhar com coisas boas é a hora em que você deve se preocupar”.
O dia prosseguiu em seu novo modo quarentena. Na minha cabeça e no meu coração se fortalecia o desejo de continuar sonhando com coisas ruins desde que isso signifique continuar tendo ao meu lado aqueles de quem preciso e que precisam de mim e fazer por eles o melhor que eu puder, colhendo de volta a possibilidade de, com eles, poder olhar para o céu à noite e falar da Lua, da brisa leve e das estrelas.
Mais adiante, quem sabe, conforme eu continuar a ter sonhos ruins, talvez eu possa ver acontecer coisas como o surgimento de novas e melhores formas de relacionamento entre as pessoas, junto com o retorno de velhas alegrias, coisas simples e maravilhosas como as caminhadas no parque, as confraternizações com os amigos do peito e os estádios lotados.
A SUDERJ INFORMA: SAEM OS INCONSEQUENTES E ENTRAM OS SOLIDÁRIOS
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
Por mais incrível que possa parecer, festeiro assumido, sempre gostei de me concentrar. Sinuca, ping-pong, carteado, os amigos reunidos, a troca de ideias, piadas, as histórias dos mais experientes. Para mim, concentração era como estar em família. Talvez, por isso, não tenha me adaptado ao modelo sugerido pela Democracia Corinthiana, de Sócrates, Casagrande, Wladimir & Cia. Mas, dessa vez, a concentração virou clausura. Por conta desse maldito coronavírus minha vida resume-se a casa, padaria, padaria, casa.
Os canais esportivos, sem muitas alternativas, reprisam jogos antigos, pelo menos isso. Gol do Ailton Lira, de falta! Que arrancada do Elói! Moreno, quanta categoria! Esses jogadores não existem mais, foram devastados pelo vírus do anti-futebol. Outro dia, achei um DVD antigo do Júlio César Uri Geller em que ele dizia que nunca treinou um drible, era natural, surgido nas peladas da favela. Hoje tudo é maquiado, os jogadores, os estádios. Os vírus já nos destroem há tempos. A conta chegou. As ruas estão vazias e até os ateus pedem ajuda divina. O que fizeram com o mundo? As lideranças são nulas. Nossa seleção é pífia, nosso Brasil está destroçado.
Odeio política e sigo a linha de Cazuza, “meu partido é um coração partido e as ilusões estão todas perdidas, os meus sonhos foram todos vendidos tão barato que eu nem acredito”. Estou sozinho em casa e o vírus bate em minha porta. Como se não bastassem os vírus da corrupção, da violência e do preconceito. Esses já arrombaram a porta faz tempo. O problema desse corona é que não tem para onde correr, o mundo está contaminado, até mesmo as potências mundiais. Somos todos iguais e talvez esse vírus seja um ensinamento, o de que estamos no mesmo patamar, carne e osso.
Com 70 anos faço parte do grupo de risco, mas vejo pessoas organizando festas, indo à praia, desrespeitando a vida dos outros. Enquanto isso os médicos se esfolam de trabalhar. O egoísmo é o pai desse vírus. Nós fabricamos os piores vírus. Mas a Suderj informa, saem os inconsequentes e entram os solidários. A solidariedade sempre vence. Sou osso duro de roer, nunca operei os joelhos, nunca tive uma contusão séria. Sou do tempo do Quarentinha, não da quarentena. Carrego a estrela no peito e se durmo ao som de Cazuza apostando que minhas “ilusões estão todas perdidas” acordo com Gilberto Gil me reerguendo… “andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá”.