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Paulo Victor

AS MÃOS QUE FECHAVAM O GOL

entrevista: Sergio Pugliese | texto: Mauro Ferreira | vídeo e edição: Daniel Planel

Quantas histórias podem contar a vida de um ex-jogador de futebol? No território da resenha, todas. Causos, lendas (…reza a lenda…), contos, encantos, derrotas, vitórias, sorrisos e gargalhadas. O dia-a-dia escrito nos jornais não narra metade da metade delas. Serve tão somente para pontuar a época, estancar um fato no tempo. As biografias vão bem mais além; esmiúçam as histórias, encontram personagens até então invisíveis. Não são como as resenhas, mas funcionam para aproximar o ídolo do fã.

Goleiro do Fluminense e reserva de Carlos na Seleção Brasileira de 86, Paulo Victor ganhará uma biografia. Depoimentos de amigos e não amigos estão sendo colhidos pelo escritor Ricardo Nogueira. Na casa de Ricardo, numa tarde ainda sem quarentena, mas com o coronavírus batendo nas franjas cariocas, churrasco, cerveja e uísque embalaram os depoimentos de três amigos das antigas: Fernandinho, companheiro de CEUB, Alexandre, ex-lateral da máquina tricolor de 83/84/85 e Roberto Dinamite.

Não faltaram “depoimentos” informais. “Todos vão pro livro”, assegura o escritor. Paulo Victor contesta: “tem coisa que não pode ir” e ri, lembrando a época em que era chamado de rei do setor quatro do Maracanã. Galã, Paulo Victor era o único a rivalizar com Renato Gaúcho em um quesito: acúmulo de mulheres apaixonadas, e o tal setor quatro era onde os jogadores davam uma “paradinha” antes dos jogos. A desculpa era assistir a preliminar, mas a verdade é outra e certamente estará no livro ainda sem título e atrasado no seu lançamento por causa da pandemia.

Mas a tarde ainda havia reservado uma outra surpresa. Antônio Fernandes, paraibano e torcedor tricolor, viajou de Sapé para o Rio de Janeiro para dar um abraço no ídolo. Ganhou de presente outro abraço, de Roberto Dinamite, dedicado a outro Antônio, também de Sapé. O goleiro e o artilheiro, rivais, amigos lembraram do campo, do extracampo, da vida. Lembraram também que haveria mais um Vasco x Fluminense no dia seguinte. Não quiseram arriscar prognóstico. Mais que o resultado de um jogo, o abraço sempre valeu e valerá mais à pena.

P.S: Sergio Pugliese, o MEU Fluminense venceu o SEU Vasco da Gama por 2 a 0. Mas isso também não importa. O que vale é a resenha e neste território o MUSEU DA PELADA joga nas 11.

 

DENÍLSON, O ‘LÍBERO BOSSA NOVA’ DO NELSON RODRIGUES

por André Felipe de Lima


As portas das Laranjeiras pareciam brilhar diante daquele rapaz. Parara enfrente dela e imaginava que sua vida mudaria após passar pelo portal de cimento pintado de branco, verde e grená. O porteiro o barrou na entrada. Mas o jovem o convenceu de que estava ali apenas para jogar bola com o técnico Zezé Moreira, sim o grande Zezé, ex-jogador dos bons e treinador do escrete brasileiro na Copa do Mundo de 1954. Destemido, o rapaz superara seu primeiro desafio, o mesmo de muitos garotos quando um dia desejam jogar bola no clube que amam: o porteiro. Superado o cidadão da roleta, o garoto sagaz abordou Zezé Moreira: “‘Seu’ Zezé, eu sou jogador de futebol e quero treinar aqui”. O ímpeto juvenil prevaleceu. Zezé impressionou-se com a determinação do garoto. Começara a nascer ali um dos maiores ídolos da história do Fluminense: Denílson, cujo sonho de conhecer Castilho, Pinheiro e Altair, verdadeiros monstros sagrados das Laranjeiras, foi muito além.

“Sempre gostei de chutar bola e o futebol era o esporte de que eu mais gostava. Assim, aos 13 anos de idade já jogava minhas peladas lá no Galitos. Durante quatro anos fiquei sem interessar a ninguém até que recebi um convite do Madureira para integrar o seu time de juvenis e, não tive dúvidas, aceitei prontamente. Disputei o campeonato de 1961 por aquele clube, mas já no ano seguinte, 1962, portanto, passei para o outro tricolor. Foi ‘seu’ Antoninho e Válter Vasconcelos que me fizeram o convite (para ingressar no Fluminense). Achei a troca vantajosa e vim para a as Laranjeiras. Porém, como estava servindo ao Exército (no Rec Mec), joguei poucas vezes naquele ano. Não podia manter minha melhor forma, pois o quartel é em Campinho e a distância de lá até o Fluminense é bem grande. Em 1963 fiz umas 13 partidas na equipe de aspirantes, embora não conseguisse chegar a ser titular da posição. No início deste ano (a entrevista aconteceu em 1964), em março, o Fluminense interessou-se em me contratar e assinei contrato por um ano, ganhando 60 mil cruzeiros mensais. Agora que me tornei titular, fui aumentado para 120 mil. Dobrei o ordenado, o que foi ótimo.”

Tim sabia como poucos o que realmente acontecia entre as quatro linhas do gramado. Sabia até mais que os próprios jogadores da verdadeira capacidade que tinham e em que posição melhor jogariam. Denílson, o ‘Rei Zulu’ do Nelson Rodrigues, vestia a camisa oito, mas Tim disse a ele que se jogasse como volante seria mais efetivo, mais útil ao tricolor. Poderia às vezes armar as jogadas, revezando-se com Joaquinzinho (que era o ponta de lança efetivo), mas tinha de ajudar o Oldair, que jogava ainda mais recuado. E foi como um verdadeiro cão da intermediária do Fluminense que Denílson se tornou um dos maiores ídolos da história do clube das Laranjeiras. Uma espécie de líbero daqueles tempos em que se vivia a bossa nova e se exalava cultura por todos os poros, porém, na política, começamos a viver sob o longevo e desconfortável regime militar.

Cidadão de Campos, no norte do estado do Rio de Janeiro, Denílson é filho de Manoel Agostinho Custódio e de dona Andina, um casal que deu seis irmãos ao ídolo do Fluminense. Quando veio para o Rio, trouxe os pais com ele. No começo, eles moravam em uma casa alugada próxima à estação de trem em Riachuelo, na zona norte do Rio. Alguns anos depois, Denilson compraria um apartamento no Engenho Novo, bairro colado em Riachuelo.

Além do Denílson, o irmão dele Derci também jogava bola (como volante, igualmente ao irmão mais famoso) e foi inclusive campeão infanto-juvenil de 1963 e ex-jogador do Flamengo.

O ídolo tricolor era fã do Zito, bicampeão mundial (1958/62) com a seleção brasileira, e de Altemar Dutra, o cantor. O estilo em campo era definido como algo “novo” para o volante. O destro Denílson era combativo, não dava chance ao adversário para “pensar” a jogada. Desarmava-o sem dó. Atuava mais como um líbero ao estilo europeu que propriamente como um volante.

“O meu forte sempre foi, realmente, a destruição. No início da minha carreira, ou melhor, quando comecei a jogar futebol, eu atuava igual a todo volante, apoiando e destruindo. Sempre trabalhei melhor, rendendo mais, quando defendendo. Assim era no infantil do Galitos, no Madureira e no Fluminense, logo que cheguei. Sempre atuei pelo lado direito do campo e só mudei quando Tim mandou que eu fizesse e me fixasse nessa posição (lado esquerdo). Disse, também, que eu me preocupasse mais em destruir os avanços dos adversários, deixando a função de armar nossas jogadas a outro.”

Denílson era uma unanimidade na crônica esportiva. Tinha até aprimorado lançamentos e passes graças aos treinos com Telê Santana. “Denílson era igual ao padeiro que vai entregar pão pela primeira vez. Entregava tudo errado. Hoje é quase perfeito”, disse uma vez Orlando Pingo de Ouro, também ídolo inesquecível do Fluminense.

Denílson foi, sem dúvida, um companheiro inigualável dentro e fora de campo.

Um dia Assis — o grande zagueiro e capitão tricolor — machucou-se. A diretoria pressionou Telê para que não escalasse o ídolo Altair, já veterano, no lugar do ainda jovem Assis. “Se eu não lançasse Altair estaria terminando com sua carreira. Fiquei desesperado e na hora do jogo dei a camisa ao Altair. Chamei Denílson e expliquei o drama: se Altair falhasse eu perderia o emprego. Denílson disse-me apenas: ‘Deixa comigo’. Durante o jogo ele se multiplicou, na frente e atrás de Altair, que esteve perfeito. Mas Denílson deu um exemplo de grandeza e companheirismo”, lembrou Telê.

Com o merecido cartaz, Denílson acreditava que iria à Copa de 70. Ambicionava superar o fiasco da seleção na Copa anterior, em 1966, da qual o Rei Zulu participou. Fiava-se na tese de que João Saldanha o convocaria para integrar o rol de “feras” que preparava para o mundial do México. O treinador cogitava a possibilidade. Mas Saldanha caiu e Zagallo assumiu o comando das “feras”. O sonho de Denílson terminara sem alegria. Seu nome, e de forma injustificável, sequer foi incluído na lista de 40 jogadores selecionáveis que a antiga CBD entregou à Fifa. Confessara aos mais íntimos que o fracasso de 66 poderia ter influído na decisão de Zagallo. “Fizeram uma injustiça com Denílson. Ele entra em qualquer seleção que se formar”, argumentara Telê. Mas Denílson conformou-se.

“Eu esperava, sim (ser convocado). Mas minhas esperanças eram maiores quando Saldanha era o técnico, pois eu vinha bem na Taça de Prata e fazia por merecer a convocação. Isso são coisas do futebol e a gente deve saber encará-las. O negócio é esquecer essa e sair para outra.”

Foi o que fez o ídolo tricolor. “Saiu” dali para ser um dos maiores nomes do Fluminense em todos os tempos.

Paulo Victor na Rocinha

HERÓI TRICOLOR EM AÇÃO SOCIAL NA ROCINHA

Em mais uma ação social bacana, a equipe do Museu subiu a Rocinha para abastecer a escolinha de futebol da Vila Verde e fez a alegria da criançada! De quebra, ainda levamos o goleiro Paulo Victor, lenda do Fluminense, que subiu de moto com o nosso parceiro Biscoito.

– Eu nunca tinha andado! Não sabia que era essa emoção toda! – revelou o paredão ainda nervoso.

Ao chegar no campo, encontramos Danilo, um dos maiores craques do futsal da China. Cinco vezes artilheiro do campeonato nacional, tendo marcado mais de cem gols em uma temporada, a fera agradedeceu a presença do Museu e celebrou o encontro com Paulo Victor.

Como não poderia ser diferente, os tricolores, claro, não escondiam a emoção. Ao saber que o goleiro estaria presente, “Scarpa” separou as camisas mais antigas para pedir um autógrafo!

– Essa foi a primeira camisa que eu ganhei, quando eu tinha 5 anos!

Após muita resenha, chegou a hora de ir ao campo para a entrega de coletes, bolas e cones. Atenta, a criançada ouvia cada detalhe das dicas do ídolo do Flu, que também se mostrou muito contente por participar da ação.

– É uma satisfação estar aqui hoje! Topei logo de cara quando a equipe do Museu me convidou!

Os alunos da escolinha aplaudiram, os professores agradeceram e não há palavras para definir o nosso sentimento ao ver o sorriso no rosto daquele meninos!

Na hora de ir embora, mais emoção! Ao ser perguntado sobre o que deixava mais nervoso, andar de moto ou uma cobrança de pênalti, Paulo Victor rebateu de primeira!

– Andar de moto, sem dúvidas!

 

HIPNOSE… ATÉ O TEIMOSO TELÊ ‘VIAJOU’ COM ELA

por André Felipe de Lima


Há uns três anos ou quatro anos, presumo, jogadores mexicanos recorreram à hipnose para mudar o rumo de suas carreiras nos gramados. O primeiro deles a recorrer ao método do sono induzido foi o atacante francês André-Pierre Gignac, do Tigres. O cara não fazia gols de jeito nenhum. Estava convencido de que não nascera para jogar bola e pensara até em fazer outra coisa na vida. Treinava dia e noite, noite e dia, e nada. Nada de gols, que deveria ser seu ofício como o de qualquer atacante. Mas Gignac chegou a ficar dois meses sem marcar um gol sequer. A torcida do Tigres, obviamente, chiava, e com inteira razão. Foi aí que o jogador teve a ideia de procurar um terapeuta hipnotista profissional — o escolhido foi John Milton — antes de um jogo decisivo do campeonato mexicano de 2016 contra o Pumas. Algumas sessões e… Tigres 5 a 0, com três gols do francês.

Quem mais recentemente no Brasil recorreu à hipnose foi a Portuguesa de Desportos para tentar escapar do rebaixamento à série C do campeonato Brasileiro, em outubro de 2014. A missão coube ao ex-goleiro Olimar Tesser, que teve experiências com hipnotismo em vários clubes, dentre os quais o Guarani, a Ponte Preta, o Náutico e o Bahia. Mas foi vã a tentativa de Tesser na Lusa. O trabalho do especialista durou menos de um mês. Foram quatro jogos com derrota em todos. O time não conseguiu sair da lanterna e não somente caiu para série C como intensificou a amarga uma crise que perdura até hoje, em 2020, ano de seu centenário.

Mas o sucesso da hipnose no esporte tem um viés vitorioso. A extinta União Soviética sempre a usou com seus atletas olímpicos. Fazia o mesmo com soldados durante as duas grandes guerras mundiais no século passado. O que ganharam de medalhas não está no gibi. Aí a prova de que hipnose — quando bem aplicada — dá certo.

No futebol brasileiro, a terapia vem de longe. Do final dos anos de 1950. O primeiro a se empolgar com ela por aqui foi o polêmico médico Paes Barreto, o mesmo que citamos em nossa crônica anterior publicada no Museu da Pelada. Só para reforçar a memória, Barreto, quando esteve no Flamengo, foi acusado de dopar jogadores na campanha do tricampeonato carioca do rubro-negro em 1942, 43 e 44. Fato que ganhou os jornais e foi muito especulado ao longo dos anos, mas sem que houvesse prova contra o médico, que, por sua vez, nunca negou ter passado “bolinhas” aos jogadores de que cuidava.

Mas vamos à hipnose do Barreto, que a imprensa definia — cercada de obviedades por se tratar do polêmico médico — como “doping da alma”. “Conseguimos um tricampeonato para o Flamengo alicerçados nessa base”, disse Barreto ao repórter Ronaldo Boscoli. “Embora digam que dopei jogadores, continuo afirmando que a sugestão foi minha arma. Cativei meus comandados e estudei caracteres. Senti que a saída de Domingos da Guia lhes minaria o moral e a confiança. Usei a psicologia como arma. Muitas conversas, muitas confidências, e finalmente as pastilhas ‘mágicas’, o ‘doping’, ou o quer que seja, fê-los vencer um campeonato (nota do cronista: popularmente conhecidas no futebol como ‘bolinhas’)”, completou o médico, que alegara ter se inspirado na experiência de um time do Rio Grande Sul cujos jogadores “jogavam hipnotizados” e “venceram” muitos jogos.


Ídolo daquele Flamengo tricampeão, campeão com o Botafogo em 1948 e depois um treinador bem-sucedido, Pirilo foi o primeiro “paciente” do Paes Barreto, que declarou ter “levado o técnico até sua casa e o fez “ver” e “abraçar” sua mãe. O hipnotizado Pirilo — garantia peremptoriamente o médico — verteu “grossas lágrimas”. 

Barreto, que na época estava no Fluminense, justificava o uso da hipnose como um meio para deixar o jogador em “ordem psíquica” e até “física” para os times. 

No Tricolor, arriscou a técnica em alguns jogadores. Notoriamente com fama de “durão” e “teimoso”, Telê Santana submeteu-se a duas sessões com o médico, que afirmou ter sido uma hipnose de “ordem particular” e não destinada ao futebol. O “tratamento” no Telê foi registrado pelo fotógrafo Carlos Kerr, que acompanhava Boscoli na reportagem da Manchete Esportiva, também se submeteu ao teste. Fez tudo o que Barreto determinara, escrevera o jornalista. Os jogadores Robson e Jair Marinho, que morreu recentemente, também passaram pelas mãos do Barreto. O primeiro foi apenas “magnetizado”. Nada falou demais; o segundo, ao recobrar a consciência, confessou sentir-se sonolento, apenas. E quanto ao saudoso mestre Telê? Este “viajou” mesmo. De olhos fechados, ele “foi” à Minas Gerais, sua terra natal, sob o comando do médico. Até então incrédulos, como todos nós jornalistas até o último fio da alma, Boscoli e Kerr testemunharam tudo imersos em um mar de interrogações existenciais. 

Para Barreto, tudo era muito simples e sem chance às dúvidas: “Um homem hipnotizado não mente jamais”. Se a moda pegar…

OLHOS NOS OLHOS

por Rubens Lemos


Olhar nos olhos é a tradução intuitiva da verdade e do caráter. Desconfie de quem conversa com você de luz baixa, desviando a vista ou franzindo o cenho. Esse é um traiçoeiro certificado.  Olhar nos olhos, nos cafundós sertanejos, tem o poder do papel passado. Fechado o assunto, acertado o pacto, é ir dormir sossegado. 

O fraco sem personalidade, o boboca passado para trás (em qualquer aspecto), o avarento de placenta e sem autoridade mínima, é esquivo em geral. Anda desconfiado, vislumbrando o chão, no máximo balança a cabeça em cumprimento, como fazem os ratinhos bípedes, ratos de duas pernas. 

O homem que não olha nos olhos se cerca mal. Põe puxa-sacos deslumbrados para tomar as medidas que evita assumir por covardia, a sua tatuagem invisível. É uma pústula, um desprezível acompanhado por outras catitas de laboratório. 

O ABC adaptou para si a fábula acima. É um clube insosso, sem compromisso com suas raízes, dominado por quem não o conhece, não respeita sua história e, logo o clube da Frasqueira, pisoteia primeiro os humildes. 

É claro que a pandemia do Coronavírus vai levar empresas a enxugar seus quadros por falta de dinheiro. Confinado, ninguém compra. Fechado, ninguém vende. Os vampiros do ABC usam tal discurso para justificar a perseguição aos funcionários. Menos a verdade. Para dar o exemplo, eles saíssem primeiro. Puxando pela mão o inútil que despejou por incompetência redundante o clube na Série D. 

O símbolo de todos os jogados fora é o roupeiro Joca, R$ 2.500 de salário, sobre quem escrevi há semanas uma crônica de domingo. Joca é(era) o roupeiro mais antigo do Brasil. Foi tema de reportagem da Revista Placar, é um servidor padrão, chegou menino ao ABC do qual conhece cada centímentro. 

Joca tem(tinha) 52 anos de clube. João, Bernardo em homenagem ao Santo Claraval combatente de mentiras  e heresias, arrumou o uniforme de um jovem loiro nascido nas encruzilhadas das Salgadeiras e das Sete Bocas, periferia próxima ao Cemitério do Alecrim(o maior de Natal). O menino de 17 anos atendia por Marinho Chagas, maior esportista do Estado pelos séculos, amém. 

Joca chegou antes de Marinho ao clube do povo. Era do povo. Lá na sede de Morro Branco, que não existe mais como a instituição prostituída pelos seus inquilinos atuais. Em 1970, com Joca moleque e Marinho também, o ABC quebrou um tabu de quatro anos sem títulos. Com ambos, o Deus Banto da bola potiguar, Alberi.


Joca estava no tetracampeonato de 1973, o do time de Erivan; Sabará, Edson, Telino e Anchieta; Maranhão, Danilo Menezes e Alberi; Libânio, Jorge Demolidor e Moraes. 

Joca estava no timaço que evitou o tricampeonato do América em 1976: Hélio Show; Fidélis, Pradera, Wagner e Vuca; Draílton, Danilo Menezes e Zé Carlos Olímpico; Noé Silva, Reinaldo e Noé Macunaíma. 

Como estava Joca em 1983, no sonho tocado de primeira por Dedé de Dora, Marinho Apolônio e Silva em orquestra com Lulinha; Alexandre Cearense, Joel, Alexandre Mineiro e Dudé; Nicácio, Dedé de Dora e Marinho Apolônio; Curió, Silva e Djalma. 

Em contas que faço – duvido consigam os carrascos -, Joca participou de 24 dos 55 títulos estaduais do ABC, ou do Ex-ABC.  Joca está na biografia de mais da metade dos campeonatos conquistados. De seis Taças Cidade do Natal. Fora torneios interestaduais e locais para ocupar agenda vazia.

Promovendo um festival de cabeças cortadas, a ridícula e pior gestão do ABC joga para debaixo do tapete, histórias tenebrosas de uma pequena auditoria que flagrou gastos inexplicáveis como o uso de um cartão corporativo no valor de 118 mil reis, ou 47 salários de Joca. Vão deixar por isso? Ou a conveniência da cumplicidade vale para os poderosos e prepostos de costas quentes? Os humildes temem a Deus.

Cadê o ABC? Tem Conselho Fiscal? Joca é um simplório, entrava em campo vestido de frade, de sacristão, da religião alvinegra. Está no desenho escrito por Victor-Marie Hugo: “De que adianta triunfar sobre uma multidão de humilhados e famintos?”. Só miseráveis tripudiam.