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TAFFAREL, O “ALEMÃO” VOADOR

por Luis Filipe Chateaubriand 


Cláudio Taffarel é um dos goleiros brasileiros mais impressionantes que este escriba viu em ação. Brasileiro com jeito de alemão, era verdadeira muralha a ser transposta pelos atacantes que o enfrentavam. 

Tinha uma noção de posicionamento no gol extremamente acurada, sabia que bom goleiro não é aquele que a toda hora faz pontes acrobáticas, mas sim o que, bem colocado, tem facilitado seu caminho em direção à bola. 

Jogador de voleibol na juventude, tinha um tempo de bola excepcional, o que fazia com que sua saída de gol em bolas altas – notória deficiência de goleiros brasileiros – fosse excelente. 

Dono de uma frieza e de uma concentração fartos, tornou-se especialista em defender cobranças de pênaltis. Aliás, esta habilidade impressionante do guarda redes ajudou a Seleção Brasileira a ganhar uma Copa do Mundo, a chegar à final em outra e a chegar em final de Jogos Olímpicos. 

O signatário deste texto teve a oportunidade de ver, in loco, Taffarel fazer uma defesa das mais inacreditáveis de todos os tempos. 

Maracanã, 1990, jogo de despedida de Zico, entre o Flamengo de 1981 e os Amigos do Zico. 

Tita, craque de bola, recebe esta no meio da grande área, e fica cara a cara com Taffarel. Desfere um chute violentíssimo, uma “bomba”. 

Taffarel, na maior calma do mundo, estende os dois braços, encaixa a bola entre as duas mãos e sai jogando. 

Impressionante! 

Por essas e outras, é que sempre se saberá: sai que é tua, Taffarel!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

ESPECIAL 70 ANOS DA COPA DE 1950: OBRIGADO, HERÓIS BRASILEIROS!

por Marco Antonio Rocha


Quanto custa o bilhete de entrada para a galeria dos grandes do futebol? Se a resposta for a conquista de uma Copa do Mundo, então veremos Lionel Messi e Cristiano Ronaldo barrados na porta… E o que falar de Cruyff, Puskas e uma infinidade de outros gênios que encantaram multidões com seu talento? Durante a publicação da série especial sobre os 70 anos da Copa do Mundo de 1950, alguns amigos seguidores do Museu da Pelada questionaram por que não falamos dos brasileiros que formaram aquele time dos sonhos. Seria um pesadelo momentâneo capaz de perturbar seu sono durante anos, no caso de Barbosa até a morte, o mais indefensável dos chutes?

Não fosse a virada na decisão, aquele Brasil que pulverizou marcas e triturou adversários teria entrado para a história do futebol como uma das seleções de campanha mais irretocável de todos os tempos: 4 a 0 no México; 2 a 2 com a Suíça; 2 a 0 na Iugoslávia; 7 a 1 na Suécia (numa época em que esse placar não era sinônimo de vergonha para nós); e 6 a 1 na Espanha, com direito ao Maracanã cantando em uníssono “Touradas de Madri”, de Braguinha e Alberto Ribeiro – um carnaval fora de época, espécie de catarse pós Segunda Guerra Mundial que havia cancelado as Copas de 1942 e 1946.  

Coube a Ademir Marques de Menezes, craque do Vasco, o papel de artilheiro do Mundial, com nove gols em apenas seis jogos. Habilidoso e dono de um chute que beirava a perfeição, Queixada teve na Seleção a companhia de outros colegas de Expresso da Vitória, alguns deles que haviam, dois anos antes, conquistado o inédito Sul-Americano. Entre eles o mítico Barbosa, goleiro que ainda acumulou seis Cariocas e um Rio-São Paulo pelo clube. A lista de destaques brasileiros é extensa, com jogadores épicos como Jair Rosa Pinto, Chico e Zizinho.

Ex-Flamengo e São Paulo e, na época, jogador do Bangu, Zizinho atribuía aos bastidores grande parte da culpa pela derrota para o Uruguai. Tudo porque a delegação, a seis dias da final, trocou a tranquilidade da concentração no Joá pelo tumulto de São Januário.

– Era uma desconcentração, ninguém tinha tempo para nada. São Januário vivia cheio de gente. Não aguentava mais tanta bagunça. Eu quis largar aquilo na véspera da decisão! – revelou o ídolo:

– Em meses aconteceria a eleição presidencial. Entrava um político e saía outro. Era muita gente pedindo autógrafo, querendo tirar foto. Minutos antes da final, o prefeito Mendes de Moraes ainda discursou, dizendo que havia feito um estádio para nós e que exigia a vitória.

Outra passagem contada por Zizinho mostra como os jogadores, na verdade, foram vítimas, não vilões:

– Eu estava com o joelho inchado e eles nem cuidavam de mim. Depois do empate com a Suíça em São Paulo, o (técnico) Flávio Costa me disse que precisaria de mim, que eu teria de fazer um teste. Meu Deus, que teste? Mal podia andar… Puseram um remédio no meu joelho e lá fui eu. Segundo Augusto, nosso capitão, era um remédio para cavalos. Mas eu não acredito que fosse, porque um cavalo não aguentaria aquilo, não.

O ex-atacante jamais se furtou de recordar a decisão contra os uruguaios, mas preferia falar de samba, em especial da amizade com Wilson Batista, Ataulfo Alves e Walter Alfaiate. É de Alfaiate uma letra que, por linhas tortas, simboliza aquele jogo que começou na tarde de 16 de julho de 1950, mas parece não ter acabado: 

“Olha aí, toda a minha gente reunida; Parece que está bem decidida e que atingiu o seu ideal; Olha aí, veja a euforia como é grande; Note como o pessoal se expande, num gesto tão humilde e leal; Cante com vontade, minha gente, porque hoje já é carnaval; Em cada bloco havia um estandarte, em cada estandarte um dizer; Simbolizando que, nesses três dias, ninguém se lembraria como é o sofrer; Após a batucada pela rua, quarta-feira a vida continua”.

Obrigado, Barbosa, Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico!

70 ANOS DE PURA EMOÇÃO

por André Luiz Pereira Nunes


Amado e odiado quase que na mesma proporção, Galvão Bueno é, sem sombra de dúvida, o mais popular locutor esportivo do Brasil. Narrador de eventos históricos do esporte nacional, como o acidente fatídico de Ayrton Senna, Galvão faz parte incontestavelmente da memória da televisão. Hoje ele faz 70 anos de idade.

Há cerca de alguns anos inventaram uma campanha para calar o maior narrador esportivo da televisão brasileira em mais uma das baixarias que a internet por vezes nos proporciona. Nada feito. Não tardaria a faturar por anúncios nas transmissões. Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno é assim mesmo. Quanto mais tentam calá-lo, mais ele cresce. Provavelmente é uma daquelas criaturas mais predestinadas a dar certo, daquele tipo que Papai do Céu olhou e sentenciou:

– Esse é o cara! 

Poucos sabem, mas Galvão Bueno é carioca, nascido no bairro da Tijuca, mas mudou-se para São Paulo, aos seis anos, por conta de um novo casamento da mãe, uma atriz de sucesso do rádio e da TV nos anos 40. Após trabalhar em diversas rádios paulistas, chegaria à televisão, com passagens por Gazeta, Record e Bandeirantes antes de chegar à Globo em 1981. Na época, Luciano do Valle era o principal âncora da emissora, cobrindo jogos de futebol e corridas de Fórmula 1. Contudo, o desejo de criar uma programação voltada somente para esportes o fez se transferir primeiramente para a Record e, depois Bandeirantes, abrindo espaço para que Galvão se tornasse posteriormente o principal nome da emissora no que tange a jornalismo esportivo. Esse feito, porém, só iria se concretizar inteiramente após a Copa do Mundo de 1986, evento o qual fora preterido por Osmar Santos nas narrações dos jogos do Brasil.

Vale ressaltar uma passagem curiosa de sua prestigiosa carreira. Em 1992, Galvão tentou ensaiar uma simulação do que Luciano do Valle fizera com sucesso na Bandeirantes. A ideia era se tornar uma espécie de diretor de esportes da recém-criada Rede OM, sucessora do canal 9 no Rio de Janeiro, que havia pertencido a Silvio Santos. Passaria a cuidar da produção, operação e dos direitos de transmissão das competições que seriam feitas na nova emissora. Então em alta na Rede Globo, deixara o canal do Jardim Botânico para se aventurar na nova empreitada. Chegou a negociar a exclusividade das transmissões de diversos eventos esportivos como a Taça Libertadores e o Campeonato Paranaense, os quais se tornaram sucesso absoluto. Veio então a bater grande recorde de audiência ao narrar a final entre São Paulo e Newell`s Old Boys tendo Roberto Avallone como comentarista. A alegria, porém, durou apenas 10 meses. A Rede OM, que fazia parte do esquema PC Farias, foi extinta após o impeachment do então presidente Collor de Mello.


Após sair da Rede OM, Galvão recebeu propostas de todas as emissoras: do SBT, Bandeirantes e até mesmo da Manchete, esta última propondo o mesmo modelo de negócio o qual havia tentado com a Rede OM. Mas o narrador batera o martelo. Decidira retornar para a Globo. Em 13 de março de 1993, já estava de volta à Fórmula 1, narrando o GP da África do Sul. 

Com o passar dos anos, sua perfomance passou a ser mais rocambolesca, mais teatral. Galvão abrira um pouco mão da sobriedade, arriscando-se mais nos bordões com o objetivo de dar azo às suas emoções. Provavelmente nunca tivemos no Brasil um locutor esportivo que tenha conferido tanto sentimento às narrações. Não raro exagerado, como na ocasião do tetracampeonato do Brasil, uma coisa é certa, Galvão Bueno se tornou reconhecidamente o mais prestigiado narrador esportivo da TV brasileira.

OS EXAGEROS SOBRE JORGE JESUS

::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


É inegável que Jorge Jesus fez um ótimo trabalho no Flamengo e chacoalhou o mercado de treinadores, mas não o suficiente para as mesas-redondas, absolutamente todas, gastarem 80% do tempo na cobertura de sua ida para o Benfica. Elogiei sua postura algumas vezes, mas até a página dois. Jorge Jesus é um treinador mediano e pegou um elenco grande e de qualidade bem superior a maioria de seus rivais. E há uma grande diferença entre inovar e resgatar. O que Jorge Jesus fez foi escalar os jogadores em suas posições de origem e apostar no futebol ofensivo. Um colírio para os olhos do torcedor cansado de assistir shows e mais shows de retranca. Um time bem preparado fisicamente, com bons salários em dia e empolgados com a chegada de um treinador europeu. Jorge Jesus estava na hora certa, no lugar certo.

E que lugar era esse? Na Ásia. Nem ele mesmo deve ter entendido quando foi procurado pelo Flamengo. Mas teve o mérito de fazer Gabigol, Bruno Henrique e Gerson jogarem bola. E não custa lembrar que nenhum dos três deu certo na Europa. O que não dá é para a imprensa brasileira ser pautada pelo futebol português. E será que o Flamengo trará um outro português? Por isso, o Brasil não avança. Será que os portugueses realmente estão revolucionando o futebol? Só faltava essa, termos que aprender com a escola portuguesa!!! Respeito a história de Benfica, Porto, Sporting e todos os outros clubes. Qual representatividade o futebol português tem na Europa? Mas a imprensa transformou Jorge Jesus em um superstar. A carência de ídolos é impressionante. Por que essa imprensa, que só fala o óbvio, não pega o Paulo César Carpegiani e o convida para dar um passeio pela Rua da Carioca? Aposto que muitos torcedores da nova geração não o conhecerão e ele foi mais longe do que Jorge Jesus, além de ter jogado muito mais bola.

Sem falar que aquele timaço do Flamengo, da década de 80, era quase todo de crias da base. Mas o pior é imaginar que nos próximos meses ficaremos sabendo tudo sobre o Benfica, suas contratações, demissões, fofocas, tudo por conta de Jorge Jesus, o novo Deus do futebol. Olha que se fizerem uma pesquisa no Brasil sobre o português mais famoso do futebol Jorge Jesus barrará Eusébio e Cristiano Ronaldo. Como costuma dizer o locutor Sílvio Luiz, “pelo amor dos meus filhinhos”, paramos no tempo, idolatramos quem trabalha melhor o marketing pessoal.

Bom, o campeonato paulista vai começar e por lá estão Vanderlei Luxemburgo, Fernando Diniz e Tiago Nunes, três treinadores que elogiei muito em campeonatos passados. Os outros foram Roger Machado, do Bahia, e Sampaoli, do Galo. Que Jorge Jesus seja feliz no Benfica, que o novo técnico da Flamengo siga papando-títulos, e que algum especialista em futebol me aponte alguma revolução ocorrida em nosso futebol, além do melhor preparo físico, nos últimos 50 anos. Eu só vi retrocesso. E que Jesus, o de verdade, me castigue se estiver falado alguma besteira. 

ESPECIAL 70 ANOS DA COPA DE 1950: DOIS CRAQUES COM DESTINOS OPOSTOS

por Marco Antonio Rocha


Mais do que tristeza e perguntas sem resposta, a derrota em 1950 criou uma série de mitos, subterfúgios para explicar por que a vitória brasileira não aconteceu. Valentia, medo, amor à camisa, descaso, organização, despreparo. Tudo isso ainda serve para justificar o que pode muito bem ter sido simplesmente uma peça do acaso.

– Vocês, brasileiros, inventaram muitas histórias sobre o Mundial de 50! – divertia-se Máspoli, aos risos.

E ele parecia ter razão. A coragem dos adversários acabou personificada em Obdulio Varela, capitão que deu o tom da atitude celeste dentro do Maracanã e ainda hoje é lembrado como herói uruguaio. Já Barbosa, escolhido como a representação do fracasso apesar de ser um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro, cumpriu até o fim da vida uma condenação injusta pelo segundo gol que sofreu naquele jogo.

– No Brasil, a pena máxima é de 30 anos. Eu pago a minha desde 1950! – repetia ele, que morreu no dia 7 de abril de 2000.

Já a valentia atribuída a Obdulio Varela é tão grande que até mesmo uma agressão a Bigode, aos 28 minutos do primeiro tempo, entrou para o folclore da decisão. Ex-jogadores das duas equipes desmentem a história.

– Os brasileiros fizeram de Obdulio um homem mau. Ele não era de brigar, mas falava muito como capitão que era. Jamais correu atrás de problema! – defendia Máspoli.

De fato, El Negro Jefe – apelido que recebeu pela liderança que exercia – impunha-se pela voz ativa. Aos 32 anos, servia de proteção aos companheiros, transmitindo a eles coragem para enfrentar não apenas os favoritos ao título, mas também as cerca de 200 mil pessoas que abarrotavam o velho Maracanã. Apesar da fama de mau, o homem que comandou a virada uruguaia, mostrando a camisa ao restante da equipe, era apontado por todos como uma pessoa tranquila.

– Ele era um boêmio. Os uruguaios contam que, às vezes, procuravam Obdulio antes de um jogo e ele estava em Buenos Aires. Ele pegava aquele barquinho que faz a travessia do Rio da Prata e ia para a Argentina! – revelou Zizinho, falando do amigo com saudade:

– Nossa amizade começou depois da Copa, em 1963, quando ele me convidou para participar de um jogo de caridade que estava organizando para um hospital de crianças.

Se Obdulio era apontado como o herói do triunfo uruguaio, Barbosa foi escolhido como o vilão brasileiro. Tanto que o goleiro campeão sul-americano e pentacampeão carioca pelo Vasco passou a ser conhecido como “aquele que levou o gol de Ghiggia”.

– Quando se perde, sempre se busca um culpado. Eu não culpo Barbosa, porque ele era um grande goleiro e não teve culpa. Ele foi exemplar, tanto como jogador quanto como pessoa! – elogiou Ghiggia.

Máspoli também acreditava que Barbosa não falhou. Para ele, os méritos foram todos do companheiro.

– Os chutes dele eram dificílimos de defender, pois sempre tinham muito efeito. Não eram secos, mas marotos. Nos treinos, ele também fazia dessas comigo! – absolveu o ex-goleiro, com conhecimento de causa.

Jair Rosa Pinto foi mais longe e atribuiu a morte de Barbosa ao desgosto que sentiu no fatídico dia 16 de julho de 1950:

– Ele teria vivido mais se não fosse a tristeza. Não estou exagerando: ele morreu de amargura.