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AQUI, COM MEUS BOTÕES

por André Felipe de Lima


Se os poetas maiores podem, também posso, ora. Não falo da capacidade de um Vinicius de Moraes ou de um Chico Buarque para os sonetos, canções ou rimas históricas, que somente eles são capazes de criar. Quem dera escrevesse um por cento do que escreveram, cantaram ou viveram. Falo de outra paixão que Vininha (permito-me esse carinho com ele) e Chico tiveram na infância e dela jamais desistiram: o jogo de botão.

Ando meio nostálgico nessa dramática quarentena, e isso não tem nada a ver com “Síndrome de Peter Pan” ou algo do gênero. Tenho voltado o ponteiro do relógio sem parcimônia rumo a uma aventura, sei lá, mezzo “Benjamin Button”, mezzo “O túnel do tempo”. O primeiro, muitos sabem, é um filme onde Brad Pitt interpreta um camarada que nasce idoso e morre bebê (contei o filme, perdoem-me); o segundo, outros muitos da minha faixa etária ou mais também sabem, é um famoso seriado (olhe a nostalgia pulsando!) dos anos de 1960 cujos episódios que vi na TV na primeira metade da década seguinte eram imperdíveis. Creio ter assistido a todos, e sem conversa fiada.


Nessa mesma época, começava a curtir futebol. Jogava (muita!) bola, mas também (muito também!) botões. Tive um sem número deles. Os primeiros eram os chamados “panelinhas” da Estrela, com as carinhas dos jogadores, lembram? O meu “panelinha” do Vasco tinha no gol o Andrada, na zaga o Moisés, na ponta-direita o Jorginho Carvoeiro e no ataque o Roberto Dinamite. Confesso também tive os do Fluminense (com o Capita, Marco Antônio, Doval e Rivelino); do Botafogo (com Marinho Chagas, Fisher, Manfrini e Carlos Roberto) e do Flamengo (com Cantarelli, Rondinelli, Geraldo e Zico). Depois vieram os botões da Gulliver, a maioria de cristal e também com carinhas dos craques, mas também escudos.

Os hoje cobiçadíssimos de galalite da Bertisa foram os derradeiros da minha infância e pré-adolescência, com todas as cores, times, tamanhos e brasões. Tive para lá de trezentos. Hoje, um antigo time de “panelinha” da Estrela — para o qual todo garoto passava a torcer o nariz após ter um galalite nas mãos — custa num site de leilões de relíquias ou mesmo em qualquer marketplace da vida algo em torno de 500 reais. Comprava-os no antigo mercado Casas da Banha, que havia no Leblon, ali na rua Bartolomeu Mitre, por uma ninharia.

Acho que hoje um time de “panelinhas” custaria uns 10 reais, no máximo. E os jogadores, cujas “carinhas” colávamos nos botões, coitados, sequer viam a cor do dinheiro que poderiam receber de direitos pelo uso de suas imagens. Isso só passaria a valer em 1979, com a coleção de figurinhas “Futebol Cards”, do chiclete Ping Pong, que mudou completamente essa relação do jogador brasileiro de futebol com o marketing de entretenimento no país.


Já os botões da saudosa fábrica Bertisa são, hoje, ainda mais caros. Um simples “olhinho” ou “ratinho” — como nos referíamos aos miúdos botões de duas camadas de galalite — está custando na faixa de 50 a 100 reais. No mês passado, bateu saudade disso tudo e decidi — igualmente ao que fizeram Vinicius de Moraes e Chico Buarque — reaproximar-me do passado, do garoto igualzinho aos da foto principal que ilustra esta crônica.

No mais, como dizíamos antes de chutar contra o gol adversário e debruçados em uma mesa Estrelão, “prepara!”. Um gol em uma partida de botão sempre valerá a pena. E, aqui com meus botões que comprei nessa quarentena, é uma excelente e lúdica terapia para encarar esse momento tão difícil pelo qual passamos.

ZICO 4 x 2 IUGOSLÁVIA

por Luis Filipe Chateaubriand


Em 1986, a Seleção Brasileira preparava-se para a Copa do Mundo do México. Um amistoso em Recife, contra a Iugoslávia, no dia 30 de Abril de 1986, constituiu uma noite especial.

Zico vinha tentando se recuperar de uma entrada criminosa de um troglodita chamado Márcio Nunes, em Agosto de 1985, que arrebentou o seu joelho. O Galinho era dúvida para a Copa.

Já nos primeiros minutos do primeiro tempo, saiu a primeira obra prima da noite, assinada pelo craque: cruzamento forte de Branco da esquerda em direção da área, Zico emenda de calcanhar – ou seria de letra? – para o gol, e a bola vai morrer no canto esquerdo do goleiro iugoslavo.

No entanto, a Iugoslávia virou o jogo, e o primeiro tempo terminou 2 x 1 para os adversários.

Mas, no segundo tempo, Zico empataria o jogo, com gol de pênalti.

Pouco depois, viria o momento culminante da noite: Zico recebe a bola na intermediária, dribla um, dribla dois, dribla três, dribla quatro, dribla o goleiro e toca para o gol vazio, fazendo 3 x 2 para os amarelos.

A galera recifense delira na arquibancada do estádio do Santa Cruz! Luciano do Valle, em narração inesquecível, diz que “não há palavras” para descrever o que se passa. Os repórteres e gandulas vão abraçar o craque, que comemora efusivamente.

Careca ainda viria a fazer o quarto gol canarinho, mas isso pouco mudou o fato principal: mesmo com o joelho em frangalhos, a noite era de Zico, como tantas outras.

Naquele dia, ao encerrar as transmissões do jogo pela Rádio Globo, Waldir Amaral diz a João Saldanha: “Saldanha, você tem um minuto para falar do jogo, pois temos que encerrar a transmissão”. Saldanha, também genial, resume, suscintamente: “O Brasil ganhou porque o Zico se chama Zico; se chamasse Zicovich, ganhava a Iugoslávia!”.

Fecho perfeito para a noite.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!    

O MELHOR DO MUNDO

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Depois de assistir Bayern 1 x 0 PSG chego a uma triste conclusão: não existe um melhor jogador do mundo em atividade. Se tivesse que escolher um atleta para levar a Bola de Ouro meu voto seria para Manuel Neuer, o goleiro alemão. Não é de hoje que o camisa 1 faz a diferença e é o grande responsável por passar confiança ao time! Lewandowski e Neymar não jogaram bola o suficiente para ganharem o prêmio. A crise de talentos não se limita ao Brasil, mas o mundo não tem mais aquele tradicional camisa 10, o cérebro do time, o que encantava a torcida cada vez que pegava na bola. A tal evolução do futebol fez com que esse tipo de jogador desaparecesse do mapa.

O próprio Phillippe Coutinho, caso não tivesse saído do Liverpool, talvez fosse esse último romântico. O Arthur, que estava no Barcelona, já foi vendido e dificilmente surpreenderá em outro clube. No Brasil, os que poderiam cumprir esse papel perderam espaço, ou por falta de cuidado com a própria carreira ou pela falta de entendimento dos técnicos. Lucas Lima voltou a ser usado no Palmeiras, mas não deve durar porque logo um superatleta ocupará a sua vaga. Sobre Ganso cansei de falar, mas Gustavo Scarpa talvez devesse tentar a sorte em outro terreiro.

Gosto de ver um 10 que jogue de cabeça erguida, em busca do lançamento preciso, que consiga furar desequilibrar das barreiras com dribles desconcertantes, como Zico, Pelé, Rivellino, Dirceu Lopes, Ademir da Guia, Silva Batuta, Platini, Jairzinho, Samarone, Tostão, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho. Aí, o São Paulo dá a 10 para o Daniel Alves. Está errado! Talvez esse seja o grande erro de Fernando Diniz. Daniel Alves sempre jogou em excelentes times, mas sempre foi coadjuvante. Não conseguirá ser o ator principal em um clube grandioso como o São Paulo. Na posição, Hernanes é muito melhor do que ele, mas amarga o banco de reservas.

Sabem um jogador que precisa ser tratado com mais carinho por seu técnico, pois é um diamante? Tales Magno, do Vasco. Ele tem o estilo muito parecido com o meu, mas não tem velocidade para ficar isolado na esquerda. É muito inteligente e precisa de alguém para tabelar. Tem que ir para o meio. Ele é o verdadeiro 10 do Vasco. Mas já já será chamado de lento, sonolento, irá para o banco e terminará vendido a preço de banana. O Tiago Galhardo está se destacando no Inter justamente por ter encontrado a posição e os parceiros certos. O treinador precisa estar de olho nisso.

No Flamengo, Gerson e Arrascaeta já namoram com o banco de reservas. Os “especialistas” dirão que os camisas 10 mais clássicos não se adaptaram ao futebol moderno. Mas esse não seria um erro? As camisas 10 estão desbotando e seria mais um crime contra o patrimônio do futebol se elas forem enquadradas e virarem peças de museu. Como de costume, não poderia esquecer dos chavões! A última que ouvi foi “linha alta”, agora só falta conseguir a agulha!

ELE MERECIA A BOLA DE OURO

por Zé Roberto Padilha


Sabe aquela jogada que você faz, no cotidiano do seu ofício, para cumprir tabela sabendo que ela pouco ou nada vai lhe ajudar? Como ir cobrar um cliente que nunca vai lhe pagar? Levar um freguês ao pátio de carros usados e tentar lhe vender um Ford K, primeira geração, o carro mais feio já fabricado no mundo?

No futebol tem essa jogada. Realizada nos campinhos de pelada, no futebol soçaite e, principalmente, no Maracanã. É a número 1 em perda de tempo e dinheiro: os zagueiros, apertados, atrasam a bola para os goleiros e os cabeçudos que vestem a 9, hábeis em concluir, não raciocinar, como Ribamar e outros Tanques, dão piques em sua direção. Mesmos os Ricardos Oliveiras a realizam jogando em casa para “fazer pressão”.

Mesmo todo mundo sabendo que em 99,9% dos casos não conseguem roubar esta bola. É a chamada jogada “para mostrar serviço ao patrão”.

Ontem, na decisão entre PSG x Bayern de Munich, o “sábio” treinador da equipe francesa inverteu sua maior arma: escalou o Mbappé pelo lado esquerdo e centralizou o Neymar. E quem passou a dar piques inúteis em direção ao goleiro alemão, se desgastando à toa quando mais sua equipe precisava de suas arrancadas com a bola?

Mbappé é mais novo, faria esse papel inútil com a natural obrigação. E Neymar iria crescendo com os dribles e jogadas que faria tendo ao lado a cumplicidade de um objeto que domina como poucos.

A ordem dos fatores, uma simples troca de função, alterou seu desempenho e prejudicou o produto PSG que pela primeira vez alcançava uma final de Champions League. E tirou do melhor do mundo a força, a velocidade e a oportunidade de carregar seu talento em direção ao prêmio de melhor jogador do futebol do mundo.

Que tanto merecia.

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA ROBERTO DINAMITE


Muitas vezes, fazer sucesso no futebol é uma questão de sorte. São milhares de atletas em busca de reconhecimento de seu talento. Em muitos casos, eles não têm a oportunidade de provar suas qualidades nas ‘peneiras’, os famosos testes promovidos por escolinhas de clubes, e acabam se tornando os ‘craques que nunca foram’. 

Esse não é o caso de Carlos Roberto de Oliveira, o Roberto Dinamite, que saiu da Baixada Fluminense, aos 15 anos, para navegar por ‘mares navegados’. 

Moleque, ainda frequentando as aulas de catecismo, Roberto trocou um ‘santo’, o São Bento, time amador de Duque de Caxias, onde costumava fazer os adversários pagarem seus pecados em forma de muitos gol sofridos, por outro, São Januário, símbolo e padroeiro do Vasco da Gama, que completou 122 anos recentemente.  

‘Marinheiro de primeira viagem’, Roberto não sabia que ali começava uma jornada de 21 anos por mares nunca navegados, onde assumiu como capitão o leme da ‘nau vascaína’, e lá, viveu muitos momentos de glória, mas também teve que sobreviver a naufrágios. 

Recordista em ‘número de viagens envergando a farda vascaína’ (1.110 partidas disputadas pelo mesmo clube); maior artilheiro da ‘Colina’, com 708 tentos marcados (752 no total, contando os 44 marcados por outros ‘navios piratas’); principal artilheiro de São Januário (184 gols); maior marcador de gols na história do Campeonato Brasileiro (190 gols), o ‘timoneiro’ Roberto Dinamite ‘ancorou’ na redação do ‘Museu da Pelada’ para dar seu testemunho para a série ‘Vozes da Bola’. 

Terra à Vista, Almirante!         

Por Marcos Vinicius Cabral 

Como começou sua relação com o Vasco? Você veio da Baixada, onde jogava no São Bento, de Duque de Caxias, não é?

É. Mas, antes, é bom contar que tive uma infância muito difícil. Com 7 anos fiz uma cirurgia e com 12 tive que fazer outra por um problema na perna esquerda, já atuando na escolinha do São Bento. Mas, graças a Deus consegui superar tudo isso, me tornar um atleta e, sem sombra de dúvidas, um bom jogador de futebol.

É verdade que seu pai e seu irmão jogaram mais bola que você?

É verdade. As pessoas lá de Caxias, até hoje dizem que meu pai e meu irmão, jogaram mais do que eu. No entanto, eu fui profissional e eles não, mas foram pessoas importantes que me incentivaram e sempre estiveram do meu lado. Mas é isso, é a vida e que eles jogaram muito, eu sei, meu pai era goleiro e meu irmão era ponta e depois passou a ser goleiro também. Então, como eu era goleador, não teria como não dar certo.

De onde vem o apelido Dinamite?


Vem do meu primeiro jogo no Maracanã, com 17 anos, com a camisa do Vasco, no time principal, no Brasileiro de 1971. Entrei no segundo tempo da partida, contra o Internacional, no Campeonato Brasileiro e fiz um gol num chute forte de fora da área. Desse gol surgiu o apelido Dinamite. No dia seguinte o Jornal dos Sports colocou na primeira página: ‘O garoto Dinamite explode no Maracanã’. Isso foi criado pelo jornalista Eliomário Valente e foi importante naquele momento, no início da minha carreira.

Em 1973, você enfrentou o Santos de Pelé no Maracanã e fez um belo gol de voleio, sendo inclusive elogiado pelo ‘Rei’ ainda em campo. Você imaginava que aquele garoto de Duque de Caxias chegaria tão longe?

Ter recebido o elogio de Pelé foi motivo de orgulho. Mas depois tiveram outros jogos importantes, outras conquistas, como o Brasileiro de 74, onde o Vasco se tornou o primeiro carioca a ganhar o título da competição. Sem falar que fui o artilheiro. Mais à frente conquistamos os títulos cariocas de 82, 87 e 88, além da marca de artilheiro das competições. É realmente uma coisa fabulosa.

Quem foi sua referência no futebol?

Quando era criança, com 12, 13 anos, vi Garrincha e Pelé jogarem. Acho que foram referências para todos, cada um dentro do seu universo, Garrincha mais descontraído, com seu jeitão de povão e tal; e Pelé, além do grande talento, tinha uma outra linha, muito profissional, de se dedicar em tudo. No Vasco conheci os grandes Ademir, Barbosa, e acho que é por aí. A gente tem a referência, a gente vai olhando e para buscar lá na frente tem que sempre olhar para trás.

Num jogo contra o Botafogo, em 76, estavam na tribuna do Maracanã, Henry Kissinger, secretário de Estado dos Estados Unidos à época, e Mário Henrique Simonsen, ministro da Fazenda. Você entregou a camisa do jogo para ele?

Nesse jogo eu fiz dois gols. Estávamos perdendo por 1 a 0, e fiz o primeiro aos 39 minutos e o segundo aos 44, num  gol de lençol sobre o Osmar, que foi muito bonito. Nesse jogo o Mário Henrique Simonsen estava na tribuna de honra com o Henry Kissinger, e nós, capitães do Vasco e do Botafogo, entregamos as camisas usadas nos primeiros 45 minutos para eles. Isso abrilhantou a vitória, e o gol é considerado um dos mais bonitos do Maracanã.

Você jogou a Copa de 1978, e na de 1982 foi reserva. Acha que poderia ter tido mais oportunidades na Seleção?

Em 78 fiquei no banco nos dois primeiros jogos, no terceiro entrei como titular, fiz o gol contra a Áustria que classificou o Brasil e dali, fiquei até o final da competição, inclusive sendo artilheiro da Seleção Brasileira. Pena que o Peru entregou o jogo para a Argentina, e nós, que tínhamos saldo de cinco gols acabamos fora porque eles conseguiram. Já em 82 eu fui convocado para o lugar do Careca. Perdendo um pouco a humildade, a minha presença poderia contribuir mais.

O seu ‘divórcio’ temporário com o Vasco e a ida para o Barcelona em 1979 até hoje são motivos de discussão entre os torcedores cruzmaltinos. Mas, regressar ao Maracanã sob desconfiança, depois de um ‘flerte’ com o Flamengo e  marcar logo cinco gols na vitória de 5 a 1 do Vasco contra o Corinthians em 1980, foi o ápice?

Foi muito bom. Voltar ao Brasil depois de uma passagem curta no Barcelona e marcar cinco gols contra a equipe do Corinthians, para mim foi motivo de muito orgulho e satisfação. O Timão tinha uma grande equipe e foi uma tarde maravilhosa. Essa é a lembrança que eu tenho. E para coroar a jornada, a torcida do Flamengo torcendo pelo Corinthians, pois eles haviam feito a preliminar contra o Bangu. Então, teve sabor em dose dupla.

Em como foi essa história de você voltar do Barcelona para jogar no Flamengo?

Realmente o Flamengo foi até Barcelona para tentar me contratar. Acabei voltando para o Vasco, numa decisão minha de querer voltar para o Brasil e voltar a vestir a camisa do meu clube de coração. E foi importante, muito importante, mas houve sim esse interesse rubro negro, mas acabei voltando para o Vasco.

Como é ser ídolo de um clube como o Vasco da Gama e ser respeitado por adversários e torcedores de outros times?

Os gols, claro, que para mim, foram importantes na minha carreira. Mas a relação de respeito com as pessoas, desde as categorias de base até o profissional, dos meus adversários, que hoje são meus amigos, sempre foi importante. Então, o que eu pude ver dentro do futebol é que você pode ser um grande adversário, mas pode criar amizades também. Foi o que fiz ao longo da minha carreira e essas foram as grandes conquistas de amizade, respeito e carinho de todos. Isso é muito bom!

Até hoje, não teve Pelé, Zico, Romário, Edmundo, Renato Gaúcho, Túlio, ninguém. O maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro segue sendo Roberto Dinamite, com 190 gols. Acha que um dia esse recorde vai ser batido?

Ser o maior artilheiro do Campeonato Brasileiro é decorrência de ter jogado um número bom de campeonatos, mas também pela qualidade de saber fazer gols. Minha técnica como centroavante ajudou, e só tenho a agradecer. Já tem algum tempo, eu parei de jogar em 92 para 93, e até hoje o recorde não foi batido. Espero e torço para que isso possa motivar essa nova geração. Aliás, o único jogador em evidência é o Fred, que é o mais próximo e está a 40, 50 gols de mim. Para mim, essa marca é muito significativa. Ser o maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro é um orgulho.


Ao lado de Pelé e Rogério Ceni, você jogou mais de mil partidas pelo Vasco (são 1.110 na verdade). Que retrospectiva você faz da sua carreira no clube?

É verdade. Sou um privilegiado, pois lá atrás não tinha ideia de que me tornaria um jogador de futebol, em razão das contusões que tive. Hoje é oficial. Eu, Pelé e Rogério Ceni somos os únicos jogadores no mundo que mais vezes vestiram as camisas de um mesmo clube. Joguei 1.110 partidas com a camisa do Vasco da Gama e para mim é motivo de muito orgulho. Jogar no Vasco, ser seu maior artilheiro e ser um dos ídolos de sua história é um orgulho muito grande.

Qual foi o melhor treinador com quem você trabalhou?

Eu tive grandes treinadores, e meu primeiro grande treinador foi seu Célio de Souza, ainda no juvenil. Mas citar um apenas é difícil. Travaglini do jeito dele; Orlando Fantoni, Joel, Lopes… Foram vários e cada um com sua característica. E sou grato a todos eles.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao Coronavírus?

Com muita preocupação. Não se sabe como se pega, você tem que usar máscara. É uma série de coisas e todo mundo está sujeito a isso. Já tive isso, mas graças a Deus, foi bem brando. Então, temos que ficar atentos a tudo que está em volta, porque infelizmente é uma coisa nova que pouca gente sabe. E isso é algo que está aí e vai durar por muito tempo. O que eu posso dizer para vocês é isso: “Se cuidem, se preservem, usem máscara, álcool gel, mas acima de tudo, tentem na medida do possível, ter o menor contato com outras pessoas e principalmente as que você não conhece!”.

Defina Roberto Dinamite em uma única palavra?

Artilheiro.

Roberto e Vasco foi coisa do destino?

Acho que sim. Eu acredito muito no destino e que a gente está aí para cumprir uma etapa aqui na Terra. Meu pai e meu irmão, foram muito mais jogadores do que eu, mas não chegaram, não foram profissionais como eu, mas fizeram história no futebol amador. Então, eu acredito muito nisso, que a gente vem aqui para uma missão neste mundo e a gente tem que trabalhar isso, melhorar, evoluir, crescer, para que realmente a gente possa cumprir essa etapa. Fica aí a mensagem, de que quando se tem uma oportunidade, tem que saber aproveitá-la.