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O ÚLTIMO VOO DE CASTILHO

por André Luiz Pereira Nunes


Em 2 de fevereiro de 1987 faleceria aos 59 anos, Carlos José Castilho. O inesquecível goleiro do Fluminense e da Seleção Brasileira, vítima da depressão, atirou-se da cobertura do prédio de número 383, da Rua Bonsucesso, vindo a cair na área interna do edifício. Teve morte instantânea. Na ocasião, era treinador do selecionado da Arábia Saudita e se encontrava de férias no Rio. A esposa Vilma Lopes Castilho ainda tentaria evitar o trágico desfecho, mas não teve forças para segurá-lo. O incidente aconteceu por volta das 16h e a família não quis dar declarações à imprensa. Segundo alguns amigos, Castilho desejava rescindir o contrato com os árabes e voltar para o Brasil, mas teria que pagar uma alta rescisão em dólares, algo impraticável mesmo para ele, que vivia com absoluto conforto e tinha a vida, sob o ponto de vista financeiro, realizada.

Nascido em 27 de novembro de 1927, começou jogando peladas em São Cristóvão. Em 1945, começou a treinar no Olaria, o qual defendeu no campeonato da categoria juvenil. No ano seguinte, o pai do artilheiro Ademir Menezes o convidou para o Fluminense, comandado pelo folclórico Gentil Cardoso. Finalmente, em 1947, assinaria o seu primeiro contrato profissional. Daí para o estrelato não tardaria muito, pois em 1950 já fazia parte do elenco vice-campeão mundial da Seleção Brasileira que capitulou em pleno Maracanã diante do Uruguai na tragédia que ficou conhecida como “Maracanazo”. Como se sabe, Barbosa fora o goleiro titular. Muitos se perguntavam do porquê de Castilho, em pleno início de carreira, já ter sido chamado a uma Copa do Mundo. O motivo é claro. Ele simplesmente fechara o gol durante o Campeonato Carioca, de modo que o técnico Flávio Costa não teve como deixá-lo fora de sua lista.

Se sagraria campeão na temporada seguinte pelo Tricolor das Laranjeiras, então comandado por Zezé Moreira, o qual implantara na equipe um polêmico sistema de marcação por zona. O time marcava um gol e depois recuava, de maneira que o adversário pressionava e chutava inúmeras vezes. A torcida sofria horrores, mas debaixo das traves estava um arqueiro seguro, bem colocado e que ainda contava com a sorte, esse diferencial tão importante em uma partida de futebol. Treinava sempre com afinco. Não podia vacilar, pois o seu reserva era o excelente Veludo, também goleiro da Seleção Brasileira. Em 1952, defendeu pênaltis em oito partidas. Certa vez, por conta de uma atrofia no dedo mínimo da mão esquerda, teve que tomar uma difícil decisão. Ou engessava e ficava fora dos gramados por um ano ou se submetia a uma cirurgia para extrair o membro. Optou pelo mais prático, passando a preencher o vazio por dentro da luva com algodão.


Pelo Fluminense foi ainda campeão carioca em 1959 e 1964, além de vencedor do Torneio Rio-São Paulo, em 1960. Participou de quatro Copas do Mundo: 1950, no Brasil (vice-campeão), 1954, na Suíça (como titular), 1958, na Suécia (campeão), e em 1962, no Chile (bicampeão). Foi ainda campeão panamericano, em 1952. Vestiria no total a camisa da Seleção por 31 oportunidades.

Após encerrar a carreira, em 1966, passou logo a treinador. No ano seguinte já se sagraria campeão paraense pelo Paysandu. Teve uma breve passagem pelo Olaria e voltou a ser campeão, em 1969, pelo Paysandu. Dirigiu o Sport, Fortaleza e o Tiradentes. Em 1974, classificou o Vitória para o Campeonato Brasileiro. A seguir, foi campeão invicto pelo Tiradentes, voltando para o Paysandu. Em 1976, conduziu o Operário ao terceiro lugar no Campeonato Brasileiro, maior feito da equipe alvinegra de Campo Grande. Esteve no Internacional, no ano seguinte, retornando ao Operário, onde ficou até 1982, quando passaria a treinar o Grêmio. Mais uma vez foi para o Operário e, em 1984, se sagrou campeão paulista pelo Santos. Ainda pelo time da Vila Belmiro conquistaria seu último título, o do Torneio Início, em 1986. Transferira-se no mesmo ano para o Palmeiras e, em seguida, por indicação do amigo Telê Santana, ao futebol árabe.

Para se livrar da depressão, a última e enganosa bola da vida, Castilho deu o seu último mergulho. Provavelmente o grande árbitro deve ter levado em conta o dedo perdido, o intenso esforço a favor do esporte e o talento e a dedicação dentro e fora das quatro linhas.  

A SORTE DE TER SORTE

por Idel Halfen


Quando alguém vai participar de algum evento, seja uma competição, uma entrevista de emprego, ou qualquer outra atividade na qual os resultados dependam de variáveis que fujam ao domínio do participante, é comum ouvir: “boa sorte”!

Por entender que existam inúmeros questionamentos quanto à efetiva necessidade de se ter sorte, aproveitaremos esse artigo para abordar o tema, ilustrando-o com um caso que consegue abordar tanto o lado do esporte como o de um “processo seletivo”: o início da carreira do técnico alemão Roger Schmidt, atual treinador do PSV Eindhoven da Holanda.

Em 2003, Schmidt jogava no futebol alemão pelo SC Padermon e foi por lazer assistir a um jogo do Delbrücker SC, clube vizinho que disputava a liga correspondente a uma espécie de 5ª divisão. No estádio, conversando com seus amigos, chamou a atenção do presidente e principal patrocinador da equipe – uma padaria – em função dos seus comentários inteligentes e simples. Foi o que bastou para que o presidente passasse a convidá-lo insistentemente para ser o técnico de sua equipe, até que um ano e meio depois Schmidt aceitou, ainda assim dividindo o tempo com sua profissão de engenheiro.

Sua atuação como treinador levou a equipe à conquista do campeonato e lá permaneceu por três anos, indo depois para equipes que disputavam ligas mais qualificadas, até que em 2012 passou a dirigir o Red Bull Salzburg, transferindo-se em 2014 para o Bayer Leverkusen, em 2017 para a China, até assumir o PSV Eindhoven em 2020.

Diante dessa evolução não há como negar sua capacidade, porém, se retrocedermos ao início, veremos que a sorte de estar no estádio perto do presidente/patrocinador de um time e conversando com seus amigos, foi fator fundamental para um novo direcionamento de carreira, a qual que ele sequer pretendia seguir. 

É fato que o sucesso é um somatório de talento, trabalho árduo e sorte, pouco adianta ser extremamente competente e preparado se não houver uma posição/vaga em dado momento para o profissional, assim como também de nada adiantará estar no local certo, na hora certa, se faltar a competência. Vale salientar que o conceito “competência” é bastante subjetivo e volátil, o fato de ser “melhor” não significa ser o melhor para aquele cargo ou para aquela competição naquele momento.

Em ambientes altamente competitivos, então, a sorte tem uma importância ainda maior, corrobora para essa tese o conteúdo do livro Success and Luck, onde o economista Robert Frank se utiliza de estudos para mostrar que o melhor candidato em processos seletivos vence em um número reduzido de casos. Na mesma linha de raciocínio, dispõe que numa economia muito competitiva o “acaso” é determinante para o sucesso.

Conclusões que, no meu modo de ver, fazem total sentido, pois, na medida em que a preparação e o talento estejam praticamente equiparados, restará a sorte como um instrumento decisivo. Não se pode desprezar aqui a influência da autoconfiança como fator de atratividade para a sorte, ou seja, estar bem preparado costuma ajudar a ser mais confiante nos desafios e, dessa forma, aparentemente trazer a sorte como aliada.

Inúmeros eventos corroboram para as teses que reconhecem a influência da sorte, no entanto, há também os negacionistas, geralmente pessoas que obtiveram sucesso através de muito esforço e que preferem negligenciar a participação da sorte. Compreensível. Uma analogia oriunda do ciclismo e do atletismo nos mostra que é fácil perceber as situações em que o vento sopra contra, o mesmo não ocorre quando é a favor, assim a acontece com a sorte.

O tema é bastante rico, mas para sumarizá-lo finalizamos com uma frase do tricolor Nelson Rodrigues: “Sem sorte não se come nem um Chicabon. Você pode engasgar-se com o palito ou ser atropelado pela carrocinha.”

TELÊ, LEÃO E A COPA DE 82

por Luis Filipe Chateaubriand 


Algo que, há mais de 35 anos, não se entende no futebol brasileiro é o motivo de Telê Santana, ao assumir a Seleção Brasileira em 1980, e até a Copa do Mundo de 1982, nunca ter convocado Émerson Leão, indiscutivelmente o melhor goleiro do Brasil na época. 

Uma especulação sobre o que teria acontecido leva ao seguinte raciocínio: Leão tinha personalidade forte, era um líder; e Telê Santana não queria esse tipo de liderança em seu grupo; afinal, ele queria ser a personalidade forte do grupo. 

É inegável que, posta sua carreira até 1982, Leão exerceu papel de liderança, seja no Palmeiras, seja no Vasco da Gama, seja no Grêmio de Porto Alegre, seja ainda na própria Seleção Brasileira. 


Também é muito claro que, em sua carreira de treinador, até chegar à Seleção Brasileira, Telê não estava acostumado a lidar com fortes lideranças, nem no Fluminense, nem no Atlético Mineiro, nem no São Paulo, nem no Botafogo, nem no Grêmio, nem no Palmeiras. 

Telê deve ter apostado que, sem um grande líder, a Seleção teria um espírito coletivo maior, se unindo em torno de sua liderança. 

Só pode ser isso… não era possível enxergar outro motivo para deixar Leão de fora.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

O CISNE DE UTRECHT

por Marcos Vinicius Cabral


Amigos de infância, Marco e Jopie eram inseparáveis.

Viviam na província de Utrecht e costumavam patinar nos rios congelados da circunvizinha Maarssen, pequena cidade com pouco mais de 40 mil habitantes, situada na parte baixa da Holanda.

Numa tarde, ao não percebe um buraco no gelo da espessa neve, Jopie caiu para desespero do amigo Marco, que tentou salvá-lo.

Foi em vão.

O amigo morreria congelado e afogado minutos depois, enquanto Marco se aprisionaria por um bom tempo nas lembranças daquele dia.

O tempo passou e o futebol ia sendo apresentado aos poucos ao menino de seis anos de idade pela família van Basten em doses homeopáticas, afim de cicatrizar a ferida aberta pelo infortúnio ocorrido meses antes.

Perdas e danos seriam tão normais em sua vida como (des) amarrar os cadarços das chuteiras.

Passou então a ser incentivado por sua mãe Leny a acompanhar Joop, que além de bom marido e excelente pai, era um zagueiro respeitável nos campos amadores de futebol da cidade holandesa.

Assim o menino não se fez de rogado e mesmo enlutado pela perda do amigo Jopie, seguiu os conselhos de sua genitora.

Não queria – apesar de boa estatura – ser como o velho pai e com seu talento natural, virou o paradoxo do que fora milimetricamente planejado: em vez de defender, ele queria atacar.

Na verdade, na verdade, vos digo: fazer gols mexia com o menino.

Aos sete anos, de mãos dadas com o pai, entrou nos portões do UVV, pequena equipe amadora de Utrecht, cidade onde nascera, e nos treinamentos, encantou a todos pela habilidade.

Por ser mais alto que a maioria dos meninos de sua idade, era impossível não notá-lo: Marco chamava a atenção.

Contudo, dores infernais incomodavam seus tornozelos e numa consulta despretenciosa com o ortopedista do clube, Drº Rein Strikwerda (1930-2006), foi constatado que era necessário parar de jogar ou viver pelos próximos anos confinado numa cadeira de rodas.

Palavras duras demais para uma criança que tinha uma (talentosa) carreira pela frente.


Pai e filho não lhe deram ouvidos e Strikwerda – que ganhou projeção internacional ao descrever a lesão no menisco que muitos atletas sofriam para tratá-la – lavou as mãos.

Ali, na antessala do consultório do médico, Marco van Basten e o pai Joop, se abraçaram, e decidiam que aquele ciclo de três anos havia chegado ao fim.

Foram para o Elinkwijk, outro modesto clube amador e aos dez anos, continuava a ser o mesmo garoto de sempre: habilidoso, goleador, bom driblador e acima de tudo frio, muito frio nas finalizações das jogadas que resultavam na maioria delas, em gols.

Mas o futebol ainda não era o que fazia seus olhos brilharem, o que ocorreria cinco anos mais tarde, quando aos quinze, recém-saído da infância e recém-chegado à adolescência, se apaixonou verdadeiramente pelo esporte e passou a desenhar como passatempo.

Desenhando – não era craque como o cartunista argentino Guillermo Mordillo (1933-2019) – e poucas não foram às vezes que Joop e Leny, ficavam observando o pequeno Marco, sentado no chão e riscando em folhas Moulin du Roy, escudos, uniformes, jogadas, assistências, gols, e tudo que mencionassem dois de seus maiores ídolos: o francês Didier Six e o compatriota Johan Cruyff (1947-2016).

O tempo passava e cada vez mais retraído, os acontecimentos iam arrefecendo seus sentimentos até ser visto por Aad de Mos, então técnico do Ajax, que percebeu no garoto de dezessete anos, um craque na acepção da palavra.

Era 3 de abril de 1981.

Um ano depois, na primeira partida como profissional, em 1982, contra o NEC, foi inesquecível para os ‘Filhos dos Deuses’, que em frenesi, viram seu primeiro gol com a camisa do Ajax, após ter entrado em campo substituindo Johan Cruyff, que prestes a pendurar as chuteiras, dava seus últimos suspiros na carreira, voltando ao time que o consagrou.

Consagração que o atacante de 1,88m com incrível poder de conclusão, alcançaria muito em breve, para ser mais exato em 1983, na estreia na seleção holandesa (e no mesmo ano, na presença no Mundial sub-20).

Cirúrgico em definir jogadas como pouco se viu no futebol, dois anos depois, foi eleito o melhor jogador do ano na Holanda, e em seguida, a Chuteira de Ouro europeia, na temporada 1985/86 parariam em suas mãos, após usar os pés para marcar 37 gols em 26 jogos disputados.


Tudo ia bem, até sua mãe Leny van Basten, sofrer um AVC e em seguida, catorze dias depois, um infarto, no qual fez com que o marido Joop, então incentivador presente da carreira do filho, tivesse que assisti-lá até sua morte.

Sozinho e sem a figura paterna por perto, teve que deixar a casa dos pais, indo viver com Liesbeth van Capelleveen, então namorada, e há vinte e um ano esposa e mãe de seus três filhos.

No fim do mesmo ano, lesionaria pela primeira vez o tornozelo direito, tamanha a vontade que os adversários no Campeonato Holandês chegavam para marcá-lo.

“Se você não jogar e vencer, eu destruo você”, ouviu certa vez do treinador Cruijff – o ídolo que era desenhado por ele quando criança – enquanto fazia tratamento no Departamento Médico, semanas antes da decisão da Recopa contra o Lokomotive Leipzig, no Estádio Olímpico de Atenas, na Grécia.

Levando ou não a sério as palavras do técnico e maior jogador do futebol holandês, van Basten usou a cabeça para lembrar da ameaça quando fazia tratamento para recuperar da lesão no tornozelo direito e com ela marcou aos 21 minutos do primeiro tempo, o único gol da partida, garantindo o título.

Em 172 jogos pelo Gigante de Amsterdã, estufou 152 vezes as redes adversárias e chamou a atenção de Silvio Berlusconi, do Milan, do calcio, o ‘Eldorado’ da bola.

Contratado, em sua primeira temporada, foi comandado pelo então ‘novato’ Arrigo Sacchi e contava com Baresi, Maldini, além dos holandeses Gullit e Rijkaard.

Apesar de conquistar o scudetto com o Milan, o camisa 9 sofreu um bocado com as lesões e participou de apenas 19 jogos, marcando ínfimos oito gols.

A desconfiança, porém, foi deixada de lado logo ao final daquela temporada, quando o matador foi o grande craque da Eurocopa de 1988, disputada na Alemanha Ocidental.

Artilheiro com cinco gols e melhor jogador da competição, van Basten foi essencial para o título holandês, único conquistado pelos holandeses até hoje, marcando inclusive um dos gols mais bonitos da história do futebol na final diante da União Soviética, do lendário Rinat Dasayev.

Ajudou o Milan a conquistar o bicampeonato da Copa dos Campeões em 1988/89 e 1989/90, sobre o Steaua Bucareste e Benfica, e com 32 gols marcados na temporada (19 na Série A e 9 na Copa dos Campeões), se tornou artilheiro no Campeonato Italiano, desbancando o Napoli de Alemão, Careca e Maradona.

Enquanto a equipe do Milan recebia o apelido de L’Invincibile, pela conquista dos dois troféus, ‘San Marco’ chegava ao nível de reconhecimento fora da Holanda inimaginável: era vencedor da Bola de Ouro, da revista France Football, por duas vezes consecutivas.

Obsessivo, continuava mortal e cada vez mais artiheiro – como nos 4 gols marcados contra o Napoli, em pleno San Paolo, e outros 4 contra o IFK Gotemburgo, na já renomeada Liga dos Campeões – o ‘Cisne Holandês’ atravessava excelente fase, a ponto de ser eleito novamente melhor jogador do mundo em 1992 – desta vez pela Fifa e também pela France Football, fato alcançado apenas pelo holandês Cruyff em 1971, 1973 e 1974 e pelo francês Michel Platini em 1983,1984 e 1985 àquela altura.

Mas se o segundo maior jogador do futebol holandês vivia grande fase, na semana em que recebia o prêmio em Kongresshaus em Zurique, na Suiça, o destino lhe sorriria de forma sarcástica, ao sofrer entrada em seu tornozelo direito, quando o Milan enfrentava o Ancona, em 13 de dezembro de 1992, pelo Italiano.

Nunca mais seria o mesmo.

Operado em 21 de dezembro de 1992, pelo Dr. René Marti (1939-2018), teve retirado pedaços da cartilagem e de ossos do tornozelo, e a partir dali, recebeu um prognóstico pessimista: não poderia mais jogar futebol.

No primeiro semestre de 1993, o ‘Gazela’ esteve em apenas três jogos, incluindo atuação apagada na final da Liga dos Campeões e meses depois, passaria pelas mãos do médico belga Marc Martens, em mais uma operação.

Não havia mais o que fazer e a carreira de um dos jogadores mais brilhantes do século XX, chegava ao fim.

Fãs inconformados não aceitavam aquilo naturalmente e o desespero era tanto, que um deles, torcedor do Milan, numa atitude intempestiva, se ofereceu para doar a própria cartilagem de seu tornozelo ao craque, numa cirurgia impossível. 

“Eu não melhorei. Só de ficar em pé o tornozelo já dói, só com uma partidinha de tênis. E não sei se os doutores sempre me ajudaram, já que de 1992 para frente a situação só piorou”, disse recentemente, lamentando não ter jogado a Copa do Mundo de 1994, após o fiasco na de 1990.


Em 18 de agosto de 1995, sem poder sequer fazer um jogo de despedida, Marco van Basten se despediu do futebol aos 32 anos.

O Estádio San Siro, com mais 70 mil pessoas, viu o fim de uma carreira curta, mas simplesmente extraordinária.

As dores físicas com que conviveu durante os treze anos como jogador profissional, só passariam em 1996, quando fixou os ossos do tornozelo com parafusos numa operação.

Mas as emocionais, como a perda do amigo Jopie, as palavras duras do Drº Strikwerda, a perda da mãe Leny em 1985 e, recentemente, do pai Joop em 2014, até hoje ressoam na memória perpassando pelos pés, até os 1,88m de altura da cabeça, onde até hoje carrega com si toda sua brilhante, mas trágica trajetória esportiva, de quem foi um dos maiores atacantes de todos os tempos.

Em 2004, quando defendia o Juventus, Ibrahimovic, aos 23 anos, recebeu um conselho do treinador Fabio Capello: buscar inspiração nos gols de Marco van Basten.

“Estávamos no Juventus e ele um dia me mostrou um vídeo dos melhores gols de van Basten e disse: “Você precisa fazer que nem ele”. Eu era jovem e aprendi muito com esse antológico jogador. Daquele dia em diante, eu comecei a marcar como os grandes”, afirmou o sueco à época.

BRAHMA NA JOGADA!

por Zé Roberto Padilha


Foi muito gratificante ter jogado futebol durante os anos 70, onde predominava o futebol-arte. Os maiores gênios do nosso futebol desfilaram seu talento na década tricampeã mundial. O único senão para os coadjuvantes da arte, como eu e os que se propunham a dar suas primeiras pinceladas nas telas verdes do Maracanã, era que toda  partida era transmitida pelo rádio. Apenas os grandes clássicos eram reproduzidos à noite, em vídeo-tape.

E no rádio não tem como a gente se defender, estamos na boca do narrador, à mercê dos comentaristas e eles é que decidem, não os torcedores, se te mantém no time titular ou volta para o banco de reservas. Se gostarem de você, vai fazer carreira. Caso contrário, desaparecem com seu nome.

Eles que decidiam se seu chute passou raspando à trave ou se perdeu pelas nuvens. O torcedor era levado pelo seu imaginário.

Como a bola era bem tratada, não tinha chutões para as laterais para dar tempo do Waldir Amaral falar dos patrocinadores da Rádio Globo, e ninguém fazia cera, porque quem gosta e sabe quer jogar, não atrasar a vida dos outros, a bola não deixava de rolar um só instante para Jorge Curi justificar e exaltar quem ajudava a pagar o seu salário.

Desse jeito, sem poder parar a transmissão quando a bola caia nos pés do Rivelino, “a patada atômica”, muito menos nos pés do Gérson, “o canhotinha de ouro!”, quando ela  caia nos nossos pés eles imediatamente chamavam : “Brahma na jogada!”.

Lá em casa era um desespero! “Mas cadê o Robertinho, não está jogando!”. “Deve estar, só não pega na bola!”.

Daí o Marco Antônio tocava a bola para mim e passava em velocidade. Segundo meu irmão Mauro, o que tomava conta das transmissões, o Garotinho, ainda começando, era obrigado a narrar assim: Toca Marco Antônio para…”

Brahma na jogada! Em Bangu, Marinho marca o primeiro gol do Bangu contra o..

Olha a bola cruzada da linha de fundo para Manfrine e goooolllll do Fluminense.

Passe de quem? Brahma na jogada.

À noite a TV mostrava que eu tinha feito a assistência, mas a massa acompanhava mesmo o futebol era pelo radinho de pilha. Pelo menos lá em casa meu apelido passou a ser “Brahma na jogada!”.

Melhor, então, era abrir uma bem gelada com qualquer resultado.