VOTOS DE FIM DE ANO AO TORCEDOR DE FÉ
por Cláudio Lovato Filho
Que em 2021
Você mande seus temores para longe
Com a potência de um chute do Éder Aleixo
Que você enxergue à distância e atinja seus objetivos
Com a precisão de um lançamento do Gerson
Que você não desperdice suas oportunidades
E as aproveite do jeito certo
Como Alcindo, Careca, Romário e Ronaldo
Nascidos artilheiros
Que você resolva seus problemas
Com a vivacidade e a habilidade do Mário Sérgio
Que olhava para um lado e mandava a bola para o outro
Vesgo genial
Que você, mesmo no meio do caos, se mantenha lúcido e seguro
Como Airton Pavilhão
Que neste novo ano que se aproxima
Esse 2021 tão aguardado
Alvo de tantas esperanças
Você jamais admita a hipótese de jogar a toalha
Como nos ensinou Didi em 58
Bola debaixo do braço, cabeça erguida, caminhando em direção ao grande círculo
Que você seja generoso e solidário como o Doutor Sócrates
Parceiro, amigo, camarada
Chapa que dava passe de chapa e de calcanhar
E deixava os companheiros na cara do gol
Com a mensagem de que juntos somos mais fortes
Que você nunca deixe de se divertir
Como se divertiu Garrincha
Que sorriu e fez sorrir
E, como ele, nunca abandone o menino que há em você
Que você, mesmo quando o vento estiver soprando contra,
Consiga ter a serenidade do Ademir da Guia
Mas que, quando preciso,
Seja sanguíneo
Mande tudo às favas
E faça aquilo que lhe der na telha
Como Renato Portaluppi em Tóquio (e em outros lugares)
Porque às vezes é preciso explodir, meu amigo
Fazer aquilo que ninguém espera
Talvez nem você mesmo
Que em 2021
Você não se contente com menos do que com aquilo que realmente deseja
Bola na gaveta ou no meio do gol
Com jeito ou com força
Como nas faltas de Zico, Roberto, Tadeu Ricci
E de Rivelino, Nelinho, Branco
E, claro, que você não aceite aquilo que não lhe é devido
E feche a porta como Lara, Gilmar, Manga, Leão, Mazaropi
Que você entenda que tem o direito às suas convicções
E também à sua teimosia
De preferência para realizar coisas belas e dignas de compor um legado inspirador
Como fizeram Telê e Ênio
Enfim,
Que em 2021
Torcedor apaixonado
Você se torne seu próprio Pelé – com tudo aquilo que faz de você, e só de você, o ser humano que você é, de um jeito que é só seu.
Feliz 2021.
DANIEL GONZALEZ: O TRÁGICO FIM DE UM GRANDE ZAGUEIRO URUGUAIO
por André Luiz Pereira Nunes
Em 1 de fevereiro de 1985, o Vasco perdeu um dos melhores defensores da sua rica e longa trajetória. Após ter participado de uma peixada na casa do centroavante Cláudio Adão, no Leblon, o zagueiro Daniel Angel Gonzalez Puga foi vitimado por um acidente fatal automobilístico na Autoestrada Lagoa-Barra. O Monza vermelho, o qual dirigia, derrapou vindo a bater na coluna de sustentação de uma passarela, logo após a saída do Túnel Dois Irmãos, em frente à Rocinha. O jogador estava em companhia da esposa, Mabel Puga, de 25 anos, que, com fraturas, foi internada no Hospital Samaritano, mas sobreviveu. Coincidentemente, quem atendeu Daniel no Miguel Couto foi o médico do Vasco, Válter Martins, que estava de plantão. Ele atestou que o zagueiro teve oito costelas fraturadas, afundamento do tórax e ruptura da veia aorta. Enquanto estava sendo atendido, sofreu três paradas cardíacas, não resistindo à quarta, consequentemente vindo a óbito.
Seu companheiro de clube, Cláudio Adão, havia preparado um jantar e convidado os amigos Daniel Gonzalez e esposa, além do zagueiro Ivan, o lateral-direito Edevaldo e o meia Carlos Alberto Pintinho. Gonzalez, sempre um dos mais alegres e brincalhões do elenco, gostou tanto da peixada que a repetiu quatro vezes. Pouco depois da meia-noite, Adão o convidou para que o casal fosse com o restante do grupo a uma boate. A preferida era a Studio C, em Copacabana, mas o zagueiro declinou, alegando que deveria estar cedo em São Januário. Não quis topar mais algumas horas de lazer, durante a madrugada, sob o argumento de que precisava se preservar, preocupado com o adversário seguinte, o Fluminense. Bem que a esposa, Mabel, queria estender o programa. Uma pena, ele não ter cedido, haja vista que as mulheres dispõem de um apurado sexto sentido.
Portanto, Daniel e a mulher despediram-se do grupo e seguiram em direção à residência, localizada na Barra da Tijuca. Ele trafegava em alta velocidade, quando ao sair do Túnel Dois Irmãos se deparou com a estrada inundada pela chuva. Quis frear, mas o veículo derrapou, indo colidir com a coluna de sustentação da passarela em frente à Rocinha. Ele tinha 30 anos e deixou um casal de filhos, Marcelo e Daniela, de 5 e 3 anos, respectivamente.
Há seis anos no Brasil, o uruguaio de Montevidéu, iniciou sua carreira no modesto Fénix, um pequeno clube de bairro da capital. Apesar disso, progrediu tão rapidamente que logo foi convocado para a Seleção Uruguaia, quando já então vestia a camisa do Peñarol. Em 1979, foi adquirido pela Portuguesa de Desportos. Após dois anos no Canindé, e ainda sem nenhum título, foi negociado junto ao Corinthians, o qual cedeu à Lusa o também uruguaio Taborda e uma alta soma em dinheiro. No Parque São Jorge, continuou sendo o marcador corajoso e líder nato da equipe campeã paulista em 1982.
Comprado pelo Vasco, no segundo semestre de 1983, chegou a São Januário prometendo muita luta e desmentindo informações de que era um dos líderes da renomada Democracia Corinthiana, movimento formado por atletas do Timão, que reivindicava maior representatividade nas decisões. O fato é que um mês antes de falecer, identificou-se claramente como um dos porta-vozes dos atletas vascaínos junto aos dirigentes, os quais cobravam atualizações de prêmios, geralmente em atraso, direitos de arena e pagamento pontual das luvas devidas ao elenco.
Logo que souberam do seu falecimento, através das emissoras de rádio, diversos jogadores do Vasco compareceram ao Hospital Miguel Couto, entre os quais, Roberto Dinamite, Aírton, Ivan, Cláudio Adão, Acácio, Geovani, Mauricinho e o goleiro Roberto Costa. O então treinador do time, Edu Coimbra, o presidente Antônio Soares Calçada, o vice de futebol José Luís Mano e o supervisor Paulo Angioni também estiveram presentes.
No Gigante da Colina se sagrou vice-campeão brasileiro, campeão da Taça Rio e terceiro colocado no Campeonato Estadual, todas as competições realizadas em 1984.
“Era uma ótima pessoa, um líder dentro e fora de campo, além de um sujeito sensacional. Me recordo bem que o fato aconteceu pouco depois que voltamos de Porto Alegre, quando lá perdemos para o Grêmio por 3 a 1. Todos ficamos extremamente consternados. Havia, inclusive, uma partida contra o Fluminense na mesma semana que foi adiada, pois não havia clima possível”, ressaltou o ex-volante Oliveira.
O ex-zagueiro Duílio, que foi seu companheiro na Portuguesa durante 19 meses, e atuava na época pelo Tricolor das Laranjeiras, ficou arrasado.
“Daniel era uma pessoa do bem. Bom caráter, um cara família, sem contar o excelente profissional em todos os aspectos. Fizemos uma grande dupla de zaga na Portuguesa de Desportos. Quando nos tornamos adversários, nos encontrávamos sempre após os jogos, pois permaneceram sempre a empatia e a amizade que ficaram daquele tempo. Deixou saudades”, declarou o eterno xerife da zaga do Fluminense.
O goleiro titular Roberto Costa, Bola de Ouro da Revista Placar, em 1983 e 1984, foi outro que exaltou as qualidades do amigo.
“Foi um grande amigo que tive no futebol. Inclusive nas concentrações ficávamos no mesmo quarto. Éramos parceiros de canastra. Já como profissional, era exemplar. Tinha muita garra e instinto de liderança dentro e fora de campo. Era um excelente jogador. Senti muito a sua perda, pois éramos muito próximos”, relembrou.
O técnico Zé Mário relembra uma passagem comovente de quando ambos jogaram na Portuguesa de Desportos.
“Cheguei na Portuguesa quando ele ainda estava de férias no Uruguai. Eu estava em um hotel e procurava um apartamento para morar. Um dia saí do treino e fui à administração. Daniel me viu e perguntou onde eu estava hospedado. Informei-lhe o lugar e ele se ofereceu para me levar até lá. Respondi-lhe que não era necessário, pois o clube já tinha me disponibilizado um motorista. Mesmo assim, ele dispensou o motorista. Entrei no carro dele e fomos até a frente do hotel, eu agradeci pela carona, tencionando me despedir, mas ele me disse que queria subir até o quarto. Retruquei que minha esposa estava lá. Ele falou que iria subir mesmo assim. Pensei que ele era maluco. Avisei a minha esposa que ele vinha comigo. Bati na porta, a Bela abriu e entramos. Ele foi direto ao meu quarto e foi juntando todas as nossas roupas e jogando dentro de uma mala. Estupefato, lhe perguntei o porquê daquilo. Ele falou que iríamos ficar na casa dele. Ficamos apavorados. Eu não o conhecia e nem ele a mim. Ele foi saindo pela porta puxando as malas e não tivemos outro jeito, senão seguirmos. Eu ia falando que aquilo não estava certo e ele ia em frente. Chegamos ao seu apartamento e ele não tinha avisado nada, até porque não existia celular como hoje. Entramos de olhos arregalados. Depois me fez comprar um apartamento no mesmo condomínio dele. Só o bloco era diferente. Graças a Deus ganhei um irmão. Mantenho até hoje contato com a família. O neto tem 8 anos e almeja ser jogador de futebol”, reitera emocionado.
Daniel Gonzalez conseguiu, em sua curta trajetória pelo Vasco, impor-se e até mesmo inscrever o seu nome na galeria dos grandes profissionais que defenderam essa camisa. Jogador vibrante, de muito destemor, costumava definir-se como um homem que não admitia derrotas. Bom amigo, excelente chefe de família, deixaria um vazio imenso em todos aqueles que o conheceram e tiveram o prazer de desfrutar da sua convivência.
O ADEUS A PAOLO ROSSI
por Luis Filipe Chateaubriand
Recentemente, perdemos Paolo Rossi, um dos maiores goleadores, e jogadores, de todos os tempos.
Curiosamente, “Il Bambino D’Oro” não costuma ser valorizado como merece.
Muitos insinuam que, inclusive, contra o Brasil, em 1982, ele jogou o que não sabia.
Quanta bobagem!
O cara era sensacional, queiram reconhecê-lo, ou não.
Em primeiro lugar, na Copa do Mundo de 1982, desandou a fazer gols exatamente no momento em que estes eram mais necessários.
Eram gols de pura sabedoria, de quem sabe se colocar na área, de quem chuta com classe, de quem tem senso de oportunidade.
E, assim, se tornou o melhor jogador da Copa do Mundo de 1982, e melhor jogador do mundo daquele ano.
Foi só isso?
Não.
Na Copa do Mundo anterior, a de 1978, também foi brilhante, também fez gols decisivos, e foi o segundo melhor jogador daquela Copa.
Prezado leitor: já ouviu falar de algum outro jogador que foi o melhor jogador de uma Copa do Mundo e o segundo melhor jogador de outra Copa do Mundo?
Não, apenas ele, Paolo Rossi.
Não bastasse, há as artilharias de Campeonato Italiano, como a façanha de ser artilheiro do Campeonato Italiano da Segunda Divisão em uma temporada e artilheiro do Campeonato Italiano da Primeira Divisão da temporada seguinte.
Paolo Rossi foi grande.
Paolo Rossi foi gigante!
Paolo Rossi morreu.
Viva Paolo Rossi!
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
PERSONIFICAÇÃO DE UM ESPÍRITO GUERREIRO
Jogador do Grêmio nos anos 50 e 60, Milton Kuelle, o “Formiguinha”, foi campeão gaúcho nove vezes e fez parte de uma das linhas ofensivas mais idolatradas do clube em todos os tempos
por Cláudio Lovato Filho
Nos anos 50, sob o comando do lendário técnico Oswaldo Rolla, ele já jogava um futebol muito à frente de seu tempo. Meia-esquerda destro de muita movimentação, ajudava na defesa, às vezes se tonando quase um outrozagueiro, armava o jogo e, dono de aguçado faro de artilheiro, chegava à área adversária para fazer as redes balançarem, tanto que é o oitavo maior goleador da história do Grêmio, com 129 gols.
Nascido em Porto Alegre, Milton Martins Kuelle completa 87 anos neste 22 de dezembro. Disputou 502 partidas pelo Grêmio, número que faz dele o sexto jogador que mais vezes vestiu a camisa do clube – o único que defendeu.Começou como juvenil, em 1952, aos 19 anos. De 1953 a 1965 foi nove vezes campeão gaúcho. Formou com Marino, Gessy, Juarez e Viera uma das mais celebradas e idolatradas linhas ofensivas do Tricolor em todos os tempos. Os cinco jogadores estão entre os 11 maiores artilheiros da história do Grêmio.
Milton foi um dos jogadores da mais completa confiança de Oswaldo Rolla, o Foguinho, que costumava dizer: “Para jogar no meu time não basta ser bom. Tem que correr”. Detentor de excelente preparo físico, Milton corria. E jogava. E defendia. E marcava. E armava. E fazia gols. E corria mais. Não por acaso ganhou do jornalista Mendes Ribeiro o apelido de Formiguinha.
A vida de jogador começou em 1952, como juvenil, quando a casa do Grêmio ainda era o Fortim da Baixada, no bairro Moinhos de Vento. Pouco mais de dois anos depois, em 19 de setembro de 1954, Milton participou do jogo inaugural do Estádio Olímpico: vitória do Grêmio sobre o Nacional, do Uruguai, por dois a zero. E, alguns dias antes de completar 79 anos, deu uma demonstração de seu talento para o público que assistiu a inauguração da Arena, em 8 de dezembro de 2012. Milton, naquele dia, conquistava assim a honra de ter pisado no gramado das três casas do Grêmio.
Formado em Odontologia na PUC-RS com o dinheiro que ganhou no futebol, Milton nunca se desligou do clube. Aliás, muito ao contrário disso. Foi técnico do Grêmio entre novembro de 1972 e agosto de 73 e, mais adiante, em 80, respondeu como técnico interino. Na campanha do primeiro título do Campeonato Brasileiro do clube, em 81, era o diretor de futebol, cargo que voltaria a ocupar em 99, quando o Grêmio levantou a taça da Copa Sul. Um dos maiores heróis gremistas, legenda tricolor, personificação do espírito de luta e do brio que estão contidos em cada segundo da existência do Grêmio, Milton prossegue hoje em plena atividade no dia a dia do clube, como conselheiro.
Em outubro de 2012, pouco tempo antes da última partida realizada no Olímpico, ele declarou em reportagem da Band TV realizada no gramado do estádio: “Aqui é a minha catedral. Qual é a minha religião? Sou gremista”.
E nessa mesma ocasião, ao relembrar seus tempos de jogador, disse: “Ouvir a torcida gritar o nome da gente… Tem alguma coisa melhor que isso?”
CADÊ A ARTE E A OUSADIA?
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::
Mais uma vez me pego torcendo contra vários times para que não se distanciem tanto do meu Botafogo. Tem sido assim há vários anos e não vejo qualquer movimentação para sairmos desse buraco. Quinhentos e poucos sócios votaram recentemente para a escolha do novo presidente do clube. Um número pífio, o que comprova o total desinteresse por mudanças.
Por isso, precisei assistir Fortaleza x Ceará e graças a Deus o Fortaleza perdeu. O Botafogo venceu em um jogo feíssimo, tenebroso, e ainda teve a sorte de o Coritiba perder um pênalti. Essa partida só não foi mais feia do que Vasco 1 x 0 Santos, mais um show de horrores. Para piorar, ainda teve o Soteldo de cabelo azul. Marinho chutou duas bolas na lua, mas muita gente ainda pede sua convocação para a seleção. Não gosto, jogador de altos e baixos. Tem muita força e vive ótima fase no Santos, mas não me convence. Mas é preciso reconhecer o bom trabalho de Cuca, que vem apostando na garotada e colhendo resultados.
O ponto negativo da rodada foi a acusação de racismo de Gerson contra Ramirez, do Bahia. A melhor resposta para isso foi a vitória, de virada. É importante virarmos esse jogo, colocarmos o racismo na rodinha de bobo, não deixar que se crie. Gerson também pediu mais educação ao técnico Mano, que outro dia ameaçou um árbitro: “você não apita mais…”. É impressionante como retranqueiros não conseguem segurar um resultado.
Mano Menezes, além de ser acusado de mal educado ainda amargou uma derrota. Mas, Gerson, seria importante você também ter mandado um recado para Gabigol, o jogador mais mimado do futebol brasileiro, que além de xingar o árbitro ainda mandou o delegado da partida para a ponte que partiu. Demorou uns cinco minutos para sair de campo e Rogério Ceni não moveu uma palha, não o repreendeu e o dirigente Marcos Braz, mais uma vez correu para o vestiário para mimar o Babygol. E outra coisa, não acredito que o Flamengo tenha pago milhões pelo Pedro para deixá-lo no banco. E o Pedro, além de mais forte, tecnicamente é melhor do que Gabigol. E tem sido convocado para a seleção.
Para finalizar, aí vai um recado para o Tite: reveja esse meio campo!!! Casemiro, Fernandinho, Alan, Douglas, ninguém suporta mais. Por que não levar o Gerson? Que faça uma dupla com Everton Ribeiro. Aposente os três cabeças de área e jogue com dois meias. O torcedor merece ver bons jogos, alegres, plásticos. Tudo bem, precisamos de mais educação no futebol, mas clamamos por mais arte e ousadia.
PS: A expressão da vez é “tomada de decisão”. Foi repetida diversas vezes pelos “comentaristas”. Certamente deve ser um dos capítulos daquele cursinho que todos vem fazendo.