Escolha uma Página

O FUTEBOL, A PANDEMIA E O GENOCÍDIO

por Paulo Escobar


O mundo vive dias de morte nas mãos de um vírus que mata sem parar, sem piedade, de cemitérios cheios e pessoas não podendo chorar suas vítimas. Sem poder sepultar, de forma digna, os que amamos ou sem saber de que jeito o vírus atacará nossos corpos e que sequelas nos deixará, se sobrevivermos.

Que a sociedade não sairá melhor de tudo isto, não tenho dúvidas, não sou dos que acreditam que depois de tudo isto seremos pessoas melhores. Vide o egoísmo nosso de cada dia, vide os países ricos garantindo vacinas aos seus, sem se importarem com os mais pobres. Até mesmo a indiferença de muitos em meio a pandemia, que continuam suas rotinas egoístas desde que o vírus não chegue nos deles.

O Brasil é um dos países mais afetados e nesta semana atingimos a marca superior a quatro mil mortos em um dia, mas o futebol deve continuar, o espetáculo não pode parar. Porque, como insisto há tempos, o futebol vive um mundo à parte, outra realidade, longe das dores ou da pobreza que aumenta nestes tempos de pandemia.

Além das dores, os pobres estão ficando mais pobres (neste ponto escrevo a partir de 21 anos correndo junto com quem mora nas ruas), pois um auxilio esmola não é garantia de vida, a economia não pode voltar ao normal sem vacina, os contágios estão crescendo aceleradamente levando muitos à morte.

Enquanto os mortos aumentam e os doentes também, o futebol continua, o circo em meio aos cadáveres deve continuar. E nem clubes e nem jogadores se manifestam além de um minuto de silêncio aqui e outro lá, jogadores que não vivem com auxílios de R$ 150,00 e clubes, chamados grandes, continuam faturando muito, sim, muito mesmo.

Grande parte dos jogadores de futebol e clubes no Brasil contribuem com a alienação “passando pano” para as mortes. Quantos torcedores dos chamados clubes ricos não saíram do hospital? Quantos morreram nos corredores? Quantos passam fome nestes tempos com a camisa do clube dos seus amores?

É uma vergonha a bola continuar rolando, como um mundo à parte, diante das mortes e genocídio, claro que virão aqueles que dirão que genocídio? Não morrem pela pandemia? Sim, mas os números de mortos poderiam ser menores e os impactos também, se houvesse um governo preocupado com a vida da população, se tivesse corrido atrás de vacinas, se tivesse dado um auxilio descente para as pessoas poderem ficar em casa, se tivesse trabalhado em prol de medidas mais humanas. Digo isto, sem ter votado em ninguém por ser anarquista (sim, recomendo que leiam e pesquisem sobre o tema), que aquela coisa do Planalto contribuiu com a morte de milhares de brasileiros e torcedores do seu time. Para você que está lendo, ele é um genocida.

Clubes como Flamengo, Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Grêmio, Atlético Mineiro e tanto desses chamados ricos não fazem nada de concreto, não conseguem se organizar para se manifestarem ou então ajudarem os mais pobres, muitos deles torcedores de seus times. Jogadores estão mais preocupados com as vidas distantes deles, pois vivem nos céus, enquanto os pobres moram na terra e pisam no barro e miséria todos os dias.


Flamengo no começo da pandemia jogava, enquanto no hospital de campanha do Maracanã morriam pessoas de Covid, dirigentes pressionando para o jogo não parar, federações empurrando jogos para outros Estados. Se jogadores se contaminam, troca por outros, se não tem reservas, não importa, pois o show mesmo em meio ao genocídio não pode parar. É o futebol um serviço essencial em meio as mortes e a pandemia? É um serviço essencial um jogo que, aqui neste país, quase não estende a mão a ninguém ou suas entidades não doam nada, nada? Clubes de futebol e jogadores que ganham muito podiam ajudar nas compras de vacinas ou com pratos de comida.

O futebol brasileiro vive outra realidade, pelo jeito se negam a perceber as mortes e os contágios, se negam a parar. A maioria de jogadores e técnicos agem como verdadeiros produtos, sem voz, sem opinião, somente objetos da prateleira chamada futebol prontos para serem usados.

O futebol brasileiro – e grande parte de seus integrantes – durante a pandemia se mostrou mais uma vez distante da realidade, alheio a dor das vítimas e seus familiares e virou o rosto para a miséria de milhares de seus torcedores. A bola rola em meio aos cadáveres, as lagrimas e a miséria, pois o mundo da bola é um mundo à parte, frio e distante.

DEUSES DE CARNE E OSSO

por Leymir Moraes

Deus deu a alguns um talento divino, e a outros uma devoção sobrenatural. A união das duas medidas transfigura a imortalidade desportiva aonde tais como Garrincha, Ademir Menezes, Rivelino e Zico habitam.

Ocorre que o Criador em sua grande generosidade não limitou o céu aos gênios e deixou a porta aberta para que humanos o alcançassem se assim merecessem. Viajaremos nesse primeiro momento pela epopeia de quatro lendas dos gigantes do Rio, e sua seguinte beatificação.

As histórias serão contadas por ordem cronológica e relacionadas aos surgimentos das Instituições:

 

1.            Botafogo 1894

2.            Flamengo 1895

3.            Vasco 1898

4.            Fluminense 1902

 

A escolha da personagem foi sugerida por Ruy Moura, editor do mundobotafogo.blogspot.com um estimado amigo e brilhante professor a quem sempre serei grato pelo tempo e ensinamentos a mim destinados.

 

Dinorah de Assis – O Alvi e o Negro do Botafogo.

 


Se existe um clube aonde glória e tragédia se orlam, esse clube é o Botafogo, e se engana quem supõe ser esta a exposição de uma fraqueza. A dualidade entre os dribles mais alegres da história do futebol, e dores dilacerantes, como a perda de seu lar, desenham a complexa alma do torcedor alvinegro. 

O âmago de um clube não é a quantidade de títulos que carrega, é sim a relação de sua gente com o emblema que ostenta.  O Botafogo da apolínea Diva navega em águas tranquilas, o Botafogo do dionisíaco Heleno de Freitas conduz ao caos, ambos produzem paixão e encanto em medidas semelhantes e é nesse paradigma que se constituem as massas alvinegras.

Sem dúvida é divino o Botafogo, e sua divindade está atrelada ao fato de ser demasiadamente humano. 

Dinorah de Assis defendeu outros emblemas como o Internacional de SP e o América do RJ, um antes sem depois do Clube da Estrela Solitária. Após vestir a camisa do Botafogo, nenhuma camisa mais lhe coube, pois é daqueles casos raríssimos que tem com o clube relação simbiótica.

De 1909 a 1911, foi campeão, zagueiro, atacante, goleiro e juiz. Atrevo-me a dizer que ao lado de Luiz Caldas, 17 anos antes, e Heleno de Freitas, 30 anos depois, é definidor de um dos traços marcantes da alma do clube, a abnegação alvinegra. 

Essa é uma história de amor, não o sentimento doentio que levou Euclides da Cunha ao Bairro da Piedade para em seus próprios termos “matar e morrer” em nome de uma suposta defesa da honra.


Essa é uma história de amor, e não a história de Euclides, Anna ou Dilermando, essa é uma história Botafoguense, é a história do nosso herói Dinorah que teve atravessado as costas um balaço a se alojar em sua espinha, numa tarde vadia de agosto de 1909. O que seria para qualquer um apenas um terrível ocaso, é para Dinorah um misto de desgraça e eternidade. Uma eternidade cara, oriunda de paixão e pólvora, sim, só poderia ser no Botafogo.

Glória ao Botafogo gentil, pura glória ao gentil Dinorah, vítima inocente de Euclides da Cunha e herói inconteste do Panteão da Estela Solitária. O homem que entrou em campo para disputar um clássico contra o Fluminense 4 dias após ser baleado. O homem que jogou o campeonato de 1910 com uma bala alojada a sua espinha que de forma sorrateira roubaria seus movimentos. Dos 10 jogos do cantado a verso e prosa “campeão desde 1910”, Dinorah de Assis foi e é o herói de cada jogo.

A fantástica campanha de 1910 entrega ao clube a justa alcunha de Glorioso, em seu elenco jogaram juntos entre outros, Dinorah de Assis e Mimi Sodré, duas facetas opostas e complementares do que é ser Botafogo.

Se Mimi Sodré junto a Carvalho Leite compreendem o cavalheirismo e a fidelidade Alvinegra, Dinorah de Assis expõe a dualidade que Heleno de Freitas e Garrincha viriam sintetizar décadas depois.

Me furtarei a comentar o final de sua vida, mas todo torcedor alvinegro de fé deve ao menos uma prece a Dinorah de Assis, eu não sou e pago a minha. Todo torcedor alvinegro ateu, necessita entender agora que é Dinorah um Deus pareado a Didi e Nilton Santos que teve a honra de herdar e imortalizar a sua camisa.

Dinorah o jogador mais shakespeariano de todos, do clube mais shakespeariano entre todos. Ganha a eternidade sendo demasiadamente Botafogo!

 

Leia mais em:

http://mundobotafogo.blogspot.com/2008/01/dinorah-de-assis-entre-o-drama-e-glria.html?q=trag%C3%A9dia+da+piedade

http://globoesporte.globo.com/bau-do-esporte/noticia/2012/11/historias-incriveis-tiro-de-euclides-da-cunha-desgracou-jogador-do-bota.html

ROMEIRO, O SPUTNIK BRASILEIRO

por Antonio Carlos Meninéa


Vestindo o manto sagrado do América/RJ

Céu de brigadeiro em Sampa com o astro rei expelindo um calor ardente por onde tocava. Resolvi visitar uma dessas escolinhas de futebol. Um terrão com mato aqui e ali. Longe, avistei no meio de campo um senhor de cabelos bem grisalhos capinando debaixo daquele sol escaldante. 

Após o treino da garotada, fui apresentado aquele senhor que capinava o terrão, seu nome era de bom agouro, José, ou melhor, José Romeiro Cardoso. Muito humilde e simpático, Romeiro, como gostava de ser chamado, conversou comigo por quase duas horas. Passei a visitar a escolinha e a ouvir as histórias sobre futebol que aquele capinador de terrão contava.

Tempos depois, descobri que meu novo amigo foi profissional vice-campeão carioca pelo América em 1955, e campeão pelo clube do Parque Antártica em 1959, fazendo o gol do título sobre o todo poderoso Santos de Pelé.

O homem que assinalou o gol do Supercampeonato Paulista de 1959 ainda foi campeão da Taça Brasil de 1960, e foi bicampeão pelo Millonários da Colômbia. 

Seus causos eram incríveis e recordo muito bem de um deles, disse ele: “Rezei muito na decisão contra o Santos em 10 de janeiro de 1960, para que o jogo terminasse 2×1 com o meu gol do título”. E bolas na trave para cá e para lá não alteraram o placar, desejo atendido e realizado.

No América carioca jogou com craques como Pompéia, Rubens e Édson, Ivan, Osvaldinho e Hélio, Canário, Leônidas, Alarcon e Ferreira.

No Palmeiras, com: Valdir de Moraes, Djalma Santos e Waldemar Carabina, Geraldo, Zequinha e Aldemar, Julinho Botelho, Nardo, Américo e Chinesinho.


Romeiro no Palmeiras com a faixa de campeão

Jogou ainda no Santa Cruz, no América/MG, na Ponte Preta, Deportivo Cáli e Atlético Jr Barranquilla. Atuou na era de ouro do futebol brasileiro ao lado e contra os maiores craques dos anos 50/60.


Romeiro contemplativo

Ao retornar ao Brasil, como técnico, foi campeão da Taça São Paulo de Juvenis pelo Nacional Atlético Clube e campeão paulista juvenil pelo Palmeiras. Se afastou do futebol de forma direta ou indireta em 1986, após ser auxiliar no Palmeiras do técnico Carbone.

Depois de muita relutância por parte de Romeiro, que não acreditava ter história para isso, tive a honra de escrever e lançar em 2004 o livro “Romeiro o Sputnik brasileiro”.

Pela potência de seus chutes, que muitas vezes vinha acompanhado de muito efeito bailando pelo ar, foi carinhosamente apelidado pelos palmeirenses de Sputnik, satélite lançado pela União Soviética em 1957.

Em 2008, Romeiro foi chamado para atuar nos campos celestiais com outros craques que já haviam sido requisitados, mas seu legado ficou para sempre registrado na história do futebol brasileiro.


O goleiro Laércio, do Santos,  só observou o chute que registrou Romeiro na história do Palmeiras.

SAUDADES DO BATE BOLA

por Luis Filipe Chateuabriand


Na apresentação, João Carlos Albuquerque, o Canalha – um exemplo de simpatia, gentileza e bom humor para introduzir os assuntos.

Nos comentários, de São Paulo, Paulo Vinícius Coelho, o PVC, um colosso de informação, de dados, de estatísticas, de estudos táticos, de seriedade profissional e de inteligência aplicada ao jogo.

Ainda nos comentários, de São Paulo, Mauro Cezar Pereira, com sua capacidade de análise crítica impressionante, clarividência sobre as questões estruturais de futebol, caminhos a serem apontados.

E, dos estúdios do Rio de Janeiro, Lúcio de Castro, com toda a sua irreverência, a visão do futebol como instrumento de integração social, a vontade de ver o jogo como espelho da vida, algo lúdico, simples, prazeroso.

E estava pronto o quarteto, para ser assistido, e aplaudido, na hora do almoço, de segunda a sexta.

Como brinde, um programa especial: quando o Canalha pediu a reapresentação da reportagem sobre a contratação, pelo Flamengo, do técnico Waldemar de Lemos – irmão do outro técnico, mais famoso, Oswaldo Oliveira.

A torcida do Flamengo, irada, começou a reclamar, aos palavrões, perante um atônito assessor de imprensa do clube, que comunicou quem era o novo técnico.

E daí, veio o coro de torcedores, absolutamente genial: “Ah, ah, ah! Fora Waldemar!”.

Waldemar nem tinha assumido, e já pediam sua saída.

Um clássico de nosso futebol!

Por essas e outras, o Bate Bola é inesquecível!

E sempre será!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

O CRAQUE DO BRASIL EM 1984

por Luis Filipe Chateaubriand


Julio Cesar Romero, o Romerito, chegava ao Fluminense em 1984, vindo diretamente de Nova York, onde jogara anteriormente no Cosmos.

O jovem craque paraguaio viria ao tricolor para fazer a diferença.

Técnico, tratava a bola muito bem, de seus pés saíam passes preciosos, chutes arrebatadores, jogadas absolutamente inventivas.

Dotado de garra, estava constantemente disputando bolas divididas, liderava, apontava caminhos para os companheiros dentro do campo.

Com um preparo físico invejável, era onipresente em campo, se deslocava com extrema facilidade, movimentos ágeis, rápidos, inteligentes.

Tal conjunto de virtudes fez o gringo ser premiado ao fazer o gol do título, no primeiro jogo da final contra o Vasco da Gama, em que chutou, o goleiro Roberto Costa espalmou e a, bola, de volta, caiu novamente nos pés de “Don Romero”, dali saindo para o gol.

O cara veio, viu e venceu!

E ficou para sempre na memória do torcedor tricolor carioca!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!