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O CRAQUE DO BRASIL EM 1983

por Luis Filipe Chateaubriand


O jovem Renato Portalupi – depois, rebatizado futebolisticamente como Renato Gaúcho – era, em 1983, um fenômeno de força, técnica e vitalidade.

 Na Copa Libertadores da América daquele ano, conduziu, com Tita e De Leon, o time do Grêmio à grande final.

Final difícil, tensa, agastada, eis que Renato acha um espaço milimétrico para fazer um cruzamento que vai na cabeça do centroavante Cesar.

Era o gol do título.

E eis que, então, o Grêmio foi disputar o Mundial de clubes, onde venceu o Hamburgo por 2 x 1 – dois gols de Renato.

No que pese a atuação sensacional de Mário Sérgio, ninguém mais que Renato poderia ser o melhor do jogo.

Como ele disse em entrevista ao Zico recentemente “joguei pouco… só marquei, criei, ataquei e fiz dois gols!”.

E se o homem é o melhor da Libertadores e é o melhor do Mundial, só pode ser o melhor jogador do Brasil em 1983. 

E, como diria meu amigo Sergio Pugliese, estamos conversados!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

UNI-SOUZA: DOS CAMPOS DE PELADA ÀS COMPETIÇÕES PROFISSIONAIS

por André Luiz Pereira Nunes


Apesar das inúmeras dificuldades inerentes à pandemia, dois clubes estrearão na esfera profissional do Rio de Janeiro. O já anunciado Império Serrano Esporte Clube e uma outra surpresa oriunda dos campos de pelada na Penha, o Uni-Souza Futebol Clube.

A agremiação alvinegra, cuja mascote é a águia, foi fundada a 30 de setembro de 1987 pelos irmãos Cosmo e João Souza como Dá-lhe Souza Futebol Clube. Durante alguns anos disputou o tradicional Campeonato da Beira da Linha, na Penha Circular, juntamente com os rivais Verçosa, Falcão, Magé, Viracopo, Racing, Erreuno, Estrela, Rebu e Sumatex. Se sagrou vencedor do Torneio Início, em 1992, ao bater o Falcão na decisão.

Em 1990, por iniciativa de Almir Leite, saudoso colunista do Jornal dos Sports, se filiou ao Departamento de Futebol Amador da Capital (D.F.A.C), o antigo e prestigioso Departamento Autônomo (D.A). Na mesma ocasião, a agremiação foi obrigada por Eduardo Viana a mudar de nome, passando a se intitular Uni-Souza. Os inusitados e costumeiros desmandos do notório Caixa d`água eram bem conhecidos. Certa feita, também obrigou um time de Éden, intitulado Psicose, nome do estabelecimento comercial de seu proprietário, a se filiar com outra denominação, tendo que se chamar São João de Meriti Futebol Clube.

A estreia do Uni-Souza ocorreria de maneira discreta dois anos depois. Porém, em 1994, adveio o seu melhor retrospecto, ainda que o Departamento de Futebol Amador da Capital, na época comandado por Marco Antônio da Costa, um ex-quarto zagueiro e posterior representante do Esporte Clube Bandeirantes, além de diretor da Mangueira, estivesse em seus derradeiros anos. O Alvinegro da Penha mandava seus jogos no extinto estádio da Rua Silva Teles, em Vila Isabel, o qual pertencia ao então moribundo Confiança Atlético Clube. União Futebol Clube, de Vila Isabel, e União Central Futebol Clube, também faziam dessa praça de esportes seu mando de campo, um sinal claro de rarefação dos espaços destinados à prática do futebol.


Na categoria principal, a de adultos, o Uni-Souza acabaria eliminado nas semifinais pelo União Central, o campeão daquela tumultuada edição, a qual inclusive contou com as desistências de Flama Futebol Clube e Ordem e Progresso Atlético Clube, este último por imposição dos traficantes da Vila Cruzeiro.

Já nos juniores, o Uni-Souza chegaria à decisão da competição, sendo derrotado na final pelo Esporte Clube Dourados, de Cordovil, por 4 a 1, em cotejo disputado no estádio da Rua Bariri. Nesse ínterim, o presidente João Souza passou a se dedicar à profissionalização do rival União Central, mas não se desincompatibilizaria jamais de sua antiga paixão.

Após 1997, o Departamento Amador passou por um longo período de inatividade que o levou a sua extinção sumária e descabida. Desde 1949 houvera revelado milhares de craques para o futebol brasileiro. Porém, em meados dos anos 2000, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro resolveu agrupar alguns dos remanescentes, além de alguns estreantes, em seu departamento técnico, de modo que a antiga sede do D.F.A.C, sediada na Rua do Acre, 47, passou a servir a outros fins. O Campeonato Amador do Rio de Janeiro, tornado Copa Amador da Capital, hoje completamente descaracterizado e desfigurado, atualmente apenas contempla algumas categorias como sub 15 e sub 17. Em 2012, o Uni-Souza conquistou o sub-15 ao bater na decisão o Conselho Comunitário e Esportivo de Jacarepaguá. Em 2019, perdeu a final do sub 17 para a Associação Real Maré Futebol Clube, nos pênaltis.


Finalmente, em 2021, o notório integrante das peladas da Beira da Linha, na Penha, estreará como clube profissional, contando na presidência com Gilberto Figueiredo, cujo currículo se notabiliza pela descoberta e revelação do atacante Pedro, do Flamengo, o qual, na época, defendia o escrete juvenil do Duquecaxiense Futebol Clube. João Souza permanece como presidente de honra e, obviamente, está extremamente orgulhoso de presenciar seu time galgar mais um espaço em sua rica trajetória.

BARBOSA VIVE

por isso Paulo-Roberto Andel

Neste sábado Barbosa faria 100 anos. Ou faz.


Um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro, viveu 79 anos mas não teve paz depois dos 30.

Parece incrível que seu calvário tenha começado por ter sido vice-campeão do mundo. Logo ele, a elegância no gol a defender o Expresso da Vitória, o Vasco que foi símbolo de talento e conquista por uma década, base da Seleção.

Pouca gente sabe que, depois da decisão de 1950, Barbosa ainda jogou por muitos anos em alto nível como goleiro do Vasco e, a seguir, de outras equipes. E que chegou inclusive a voltar à Seleção em 1953. E que por pouco não jogou a Copa de 1954: acabou se contundindo, fraturando a perna, e não teve condições de voltar.

Todos os garotos dos anos 1980, feito eu, cresceram ouvindo histórias de Barbosa. O gol de Ghiggia, a desgraça. A perda do título mundial no Maracanã.

Com o tempo, passei a pesquisar a respeito, e aí entendi que tudo era muito diferente do que se falava, cochichava e se especulava.

Barbosa é um dos maiores jogadores da história do Vasco. Foi multicampeão pelo clube, inclusive continental.

Imagine o que era ser um dos maiores goleiros da história enfrentando os jogadores daquele tempo? Alguns dos grandes craques jogavam no Vasco, mas Barbosa enfrentou Zizinho, enfrentou Dida, Waldo, Didi, Garrincha, muitos outros e sempre foi um gigante.

A injusta perseguição desde 1950 foi uma cruz que Barbosa carregou, mas a desgraça maior veio em 1993, quando foi impedido de entrar na concentração da seleção brasileira na Granja Comary. O absurdo foi tamanho que outros jogadores, e que também não foram campeões do mundo, puderam fazê-lo em outras ocasiões. Barbosa foi impedido.

O ufanismo de 1950 levou muitas pessoas à ruína, inclusive ao suicídio, um tema proibido. Muita gente se jogou para a morte, tanto do Maracanã quanto em todo o então Distrito Federal.

E o mais impressionante daquela tarde gigantesca, quando infelizmente não ganhamos nossa primeira Copa do Mundo, é que os uruguaios venceram os brasileiros, mas na grande partida da vida que se seguiu dali por diante, muitos participantes em campo daquela decisão foram derrotados em ambos os países. Não são poucos os casos de jogadores daquele dia que terminaram suas vidas de forma muito sofrida e miserável.

Quem considerava a derrota de 1950 como o maior fracasso da história do futebol brasileiro, nem podia imaginar o que estaria por vir em 2014.

Quantas vezes celebramos tantos jogadores de qualidade incontestável que também não ganharam uma Copa do Mundo? Por que não deveríamos ter respeitado Barbosa desde sempre?


Poucos também entenderam que a perseguição ao grande goleiro também significaria a sua redenção. Morto há mais de 20 anos, hoje completando um século de seu nascimento, Barbosa é um nome falado, lembrado e discutido. Basta conhecer sua carreira para reconhecê-lo como um vitorioso, dos maiores.

É preciso que não apenas os vascaínos, mas os brasileiros em geral saibam de quem tratou esse grande jogador, esse grande goleiro.

Não devemos isso somente a Barbosa, mas também à nossa própria história, à nossa grandeza.

Esteja onde estiver, que ele saiba da gratidão de muitos e muitos torcedores que sequer o viram em campo, que só o conheceram pelo semblante sofrido decorrente das perseguições. Sofrido, porém sempre elegante e educado.

Oito anos depois da derrota para o Uruguai, o Brasil conquistou seu primeiro título mundial. Provavelmente aquilo não teria acontecido se, antes de 1958, não tivéssemos uma geração de grandes jogadores dentre os quais se encontrava Barbosa, e ela mesmo sucedendo a outras gerações, como a que tivemos nos anos 1930.

O futebol brasileiro foi uma evolução, um progresso, um longo processo até chegar a se tornar a grande referência mundial durante muito tempo. O penta nunca foi sorte, mas talento.

A verdade é implacável: Barbosa vive. E viverá.

MEU CLÁSSICO INESQUECÍVEL

A maior parte dos gloriosos 123 anos Vascaínos, foi e é vivida de perto pelo querido amigo Ulisses Lopes. Debutou no estádio em 1936 e nunca mais se afastou do clube amado.

A primeira vez que Flamengo e Vasco se enfrentaram em terra foi em 1922, e dos 411 jogos realizados até então, Seu Ulisses perdera apenas 30. Quando alguém com esse currículo diz que o maior Vasco X Flamengo em sua opinião foi o de 1949, quem sou é para discordar?

Uma noite felicíssima ao Vasco e muito triste para o Flamengo, menos pela derrota e mais pela injustiça ao super craque Jair da Rosa Pinto.

O texto que segue é carregado de amor ao Vasco e pimenta ao Mengo.  Aos torcedores do Flamengo como eu, se preparem são cenas fortes. Aos torcedores do Gigante da Colina, desfrutem! (novamente…)

por Ulisses Lopes


Time do Vasco naquele dia. Em pé: Eli, Jorge, Augusto, Danilo, Barbosa e Sampaio. Agachados: Nestor, Maneca, Ademir, Ipojucan e Mário.

1949

Vasco 5 x 2 Flamengo

“É a única desgraça que levo 

porque fui campeão de tudo.

Só faltou uma Copa do Mundo.”

Jair da Rosa Pinto 

(Falando da Copa de 50)

O Vasco é que aniversariava naquele 21 de agosto de 1949 e eu é que fui presenteado. Nos meus oitenta e tantos anos de torcedor a Cruz de Malta me proporcionou muitas alegrias, mas nunca como naquela tarde.

Não havíamos conquistado nenhum título, apenas tínhamos aplicado mais uma goleada no Flamengo. O que então acontecera de especial, se eles não nos venciam há cinco anos e o chocolate já se tornara rotina? É que, cansados de perder, a Gávea inteira se mobilizara para quebrar a escrita.

Durante toda a semana, a imprensa esportiva vestira vermelho e preto conferindo ao Flamengo a condição de favorito. A euforia era tanta que o técnico Kanela, numa entrevista, chegou a garantir que venceriam ainda no primeiro tempo. Delirava!

Time para vencer ele tinha, mas para garantir a vitória, e ainda de véspera, não. Além de Jair da Rosa Pinto, que havia levado do Vasco, Kanela contava com um grande goleiro o paraguaio Garcia, tinha o fantástico Zizinho, Jaime, Modesto Bria e o bom ponteiro Esquerdinha (meu antigo colega de colégio).


O goleiro Garcia não alcança o chute de Maneca, aos 27 do primeiro tempo. Gol do Vasco

 Assim que a bola rolou parecia que o sonho de Kanela iria se realizar. Com menos de um minuto Augusto marcou contra e nove minutos depois levamos o segundo. Logo em seguida, num lance inacreditável, Jair perdeu o que seria o terceiro gol, com o qual acreditavam matar o jogo.

 Porém, ao término do primeiro tempo o placar já apontava dois a dois e com três gols na segunda etapa, o Vasco fechou mais uma goleada. Para empulhar a torcida, diante de toda a papagaiada que haviam feito durante a semana, escolheram Jair pra Judas. Queimaram sua camisa e mandaram-no embora da Gávea.

Jair não merecia tamanha injustiça. Vencer o Vasco de 1949 era coisa admissível só na teoria. Campeão invicto naquele ano, cedeu apenas dois empates em vinte jogos. Ganhou dezoito. Marcou oitenta e quatro gols, uma média superior a quatro por partida e teve em Ademir o artilheiro do campeonato com trinta e um gols marcados.

Contra um time desses, como acreditar que aquele gol perdido na metade do primeiro tempo, se convertido, pudesse selar a sorte da partida? Quando o inglês Mc Pherson deu o apito final, o gramado foi tomado pelos torcedores e permaneceria assim por muito tempo.


O golaço de Nestor, aos 16 minutos do segundo tempo!

Foi a única vez que pisei a grama de São Januário. Mal contendo a emoção de estar ali, pus-me a esquadrinhar o campo, palmo a palmo. Revivendo um lance em cada pedacinho do gramado, insinuei-me num replay de fantasia.

 Sob uma das traves me vejo Barbosa saltando para tirar a bola do cantinho da coruja. Na entrada da área gozo com a cara do atacante Gringo, boquiaberto com o chapéu aplicado por Ipojucan. Paro no grande círculo e revivo os passes açucarados com que o Príncipe Danilo punha Maneca, Nestor e Ademir na cara do gol a todo instante.

Nem dou conta do tempo que passa. A noite desce. Apagam-se os refletores. Vôo na canção de Orestes ao ver a lua iluminando o gramado, chão das estrelas da colina histórica. Retiro-me feliz.

Banido da Gávea, Jair foi para São Paulo onde iria brilhar, conquistando nada menos que oito títulos (no Santos, Palmeiras e Seleção Brasileira). A camisa queimada na inesquecível tarde de 1949 não fez falta alguma ao bom Jajá. Nem a camisa, nem o Flamengo…


Ficha Técnica – Vasco 5 x 2 Flamengo.

Campeonato Carioca de 1949 – Primeiro Turno.

Data: 21/08/1949.

Local: São Januário.

Vasco: Barbosa; Augusto e Sampaio; Eli, Danilo e Jorge; Nestor, Maneca, Ademir, Ipojucan e Mário. Técnico: Flávio Costa.

Flamengo: Garcia; Juvenal e Job; Valdir, Bria e Jaime; Luisinho, Gringo, Zizinho, Jair e Esquerdinha. Técnico: Togo Renan Soares (o Kanela).

Árbitro: MacPherson Dundas.

Gols: Augusto (contra) 3′, Gringo 6′, Danilo 17′ e Maneca 27′ do 1º tempo; Maneca 8′, Nestor 16′ e Ipojucan 32′ do 2º tempo.

Expulsão: Esquerdinha.

O PENTATEUCO DO BAIXOLA

por Luis Filipe Chateaubriand


Eis os cinco gols centrais da carreira de Romário:

5) Romário joga no Flamengo. Em uma decisão de Supercopa da Libertadores, no Maracanã, o Flamengo vence por 1 x 0, mas não conquista o título, pois precisava de dois gols de diferença. Uma bola é lançada na área dos argentinos, mas é rechaçada para a entrada da área. O Baixo ali está e emenda em um sem pulo de direita sensacional, à meia altura, a bola entra à esquerda do goleiro portenho.

4) O gênio da grande área joga no Barcelona. Em um clássico contra o Real Madrid, vencido por 5 x 0 pelos grenás, aplica um drible sensacional de 270 graus no defensor madrileno e toca de pé direito no canto esquerdo do goleiro merengue, para alegria de um estádio enlouquecido.

3) O cara joga no Flamengo. Em cotejo contra o Corínthians, no Pacaembu, cem pela área, na esquerda. Amaral aparece em sua frente e, toma um elástico sensacional, inacreditável, fora de série, seguindo-se uma conclusão em gol digna de futevôlei – a vola entra no alto e à esquerda do goleiro.

2) O mancebo joga no Vasco da Gama, no início da carreira. Em um Flamengo e Vasco da Gama vencido pelo então Gigante da Colina por 2 x 1, Leandro atrasa uma bola para o goleiro Zé Carlos, no entanto o faz com lentidão, Romário da um pique inacreditável, chega na bola antes de Zé Carlos, lhe dá um lençol maravilhoso, e toca a bola de cabeça para o gol vazio.

1) O cidadão é o craque da Copa do Mundo de 1994. Em jogo com a Holanda, vencido pelo Brasil por 3 x 2, Bebeto entra livre pela esquerda e rola para Romário, que fica livre e com o gol vazio, escancarado, de frente para si. Poderia der feito o gol de várias maneiras possíveis, até entrar com bola e tudo. Não! Preferiu fazer o gol da forma mais bonita! De chapa, ou seja, com a chapa do pé, o movimento do pé articulado de baixo para cima, transformando um gol fácil em um gol cheio de classe.

Romário cometeu erros ao longo da carreira: Não bateu faltas e pênaltis na maior parte dela; abriu mão de jogar no exterior na melhor fase de sua carreira. Não fizesse isso, teria muito mais gols e seria muito mais reconhecido internacionalmente.

Mas algo é irrefutável: o Baixo é um dos maiores de todos os tempos!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!