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CARIOCÃO?

por Paulo Roberto Melo


Li hoje no jornal, em uma matéria sobre o Campeonato Estadual do Rio de Janeiro de 2021, que a Federação de Futebol do Rio, estava satisfeita com a realização da competição. Confesso que não entendi e não entendo o motivo da satisfação. Nem mesmo o fato do futebol, em tempos de pandemia, ser encarado como uma válvula de escape serve de explicação. Afinal, o campeonato foi pouco televisionado e assim, não teve o alcance necessário para tal.

Cresci, escutando meu pai, um português da Ilha dos Açores e apaixonado pelo Vasco, contar a façanha do Super-supercampeonato carioca de 1958, conquistado pelo clube da Colina. Depois de dois triangulares, envolvendo o próprio Vasco, o Flamengo e o Botafogo, o título veio de forma heroica para São Januário. Como nasci em 1966, minha noção de futebol só aconteceu aos 10 anos, quando comecei a ser levado ao Maracanã e minhas lembranças começaram.


Lembro-me da Máquina Tricolor e seus craques: Rivelino, Paulo César, Félix, Edinho, Gil. Um time tão bom, que foi bicampeão carioca em 75 e 76. No ano seguinte, 1977, Roberto Dinamite converteu a última cobrança de pênalti e deu o título ao Vasco, cuja escalação está na memória de todo vascaíno: Mazaropi, Orlando, Abel, Geraldo e Marco Antônio. Zé Mário, Zanata e Dirceu. Wilsinho, Roberto e Ramon. Não me esqueço da cabeçada magistral do Rondinelli, em 1978, aos 44 minutos do segundo tempo, dando o título daquele ano ao Flamengo. Junto a esse título vieram mais dois, em um mesmo ano, 1979, dando ao clube da Gávea seu terceiro tricampeonato.

As lembranças da década de 80 povoam a minha mente. Em 1981, o Flamengo, campeão da Libertadores e Mundial, contou com um reforço para ser campeão carioca: além de Zico, Andrade, Adílio e Júnior, um ladrilheiro foi colocado em campo para esfriar um aguerrido Vasco, que insistia em ser mais eficiente do que um certo Liverpool. Mas em 1982, com um gol olímpico ou de cabeça, o campeão foi o Vasco. “Laranjeiras, satisfeita sorriu”, quando viu seu tricolor ser tricampeão em 83, 84 e 85, com uma geração que aliava técnica, marcação e um craque paraguaio, chamado Romerito. 


O ano de 1986 ficou marcado como o primeiro em que Romário, com 20 anos, foi artilheiro do Campeonato do Rio, embora o campeão tivesse sido o Flamengo. O Baixinho seria artilheiro da competição, outras seis vezes. Lembro-me da corrida desabalada do Tita, com a camisa do Vasco na cabeça, depois de estufar as redes do Flamengo, dando o título de 87 ao cruzmaltino. Inesquecível, foi o que protagonizou o jogador Cocada, na decisão de 1988, entre Vasco e Flamengo. Ele entrou aos 41 minutos do segundo tempo, fez o gol do bicampeonato do Vasco e foi expulso aos 45, depois de jogar sua camisa no banco rubro-negro. E todos se lembram de ver uma estrela solitária brilhar em 1989, quando o técnico Valdir Espinosa conduziu o Botafogo a um título, depois de 21 anos.

A década de 90 começa com o Maracanã caindo, literalmente, aos pedaços. Na final do Brasileirão de 92, ganho pelo Flamengo, parte do alambrado das arquibancadas caiu, matando três pessoas e determinando o fechamento do estádio por sete meses. Assim, o Campeonato Carioca daquele ano, teve seus jogos mais importantes disputados em São Januário. Esse campeonato, ganho pelo Vasco, é marcado por ser o primeiro título de um endiabrado Edmundo e o último do eterno Roberto Dinamite. Nos dois próximos anos, 93 e 94, só a torcida do Vasco comemorou, cantando no reformado Maracanã: “tri, tri, o Vasco é tri!” Memorável foi o ano de 95! Capitaneado por Romário e com um timecheio de craques, em busca de um título no ano do seu centenário, o Flamengo viu a taça ir para as Laranjeiras, graças à barriga de um certo Renato, o mais carioca dos gaúchos. Vibrei em 1998, com o Vasco sendo campeão carioca no ano do seu centenário. 

Os anos 2000 são de flashs para mim. O chocolate que o Vasco deu no Flamengo, na decisão da Taça Guanabara, ganhando de 5×1, em pleno domingo de Páscoa, apesar do campeão carioca daquele ano ter sido o Flamengo.  A sensacional e (in)defensável cobrança de falta de Petkovic, aos 43 minutos do segundo tempo, sacramentando o quarto tricampeonato do Flamengo em 2001. O passe de letra de Léo Lima, no gol que deu o campeonato de 2003 ao Vasco. O quinto tri do Flamengo, em 2007, 2008 e 2009. Um bicampeonato do Vasco em 2015 e 2016.

Enfim, o que se lembrar do “Cariocão” de 2021? A estranha fórmula, em que o campeão da Taça Rio é o quinto colocado? Uma final de campeonato em uma noite de sábado? Um artilheiro da competição com apenas nove gols marcados? Com certeza, o sexto tricampeonato do Flamengo é a única coisa que ficará para a história e mesmo assim, por apenas uma parte do Rio de Janeiro.

Sabe, não sou e não gosto de ser chamado de saudosista. Mas aqui entre nós, tem sido difícil não ser.

FUTEBOL É ESPETÁCULO

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Não é segredo para ninguém que tenho minhas convicções e por isso fiquei muito feliz quando vi o lateral Daniel Alves, durante uma transmissão ao vivo, dedicar o título paulista a Fernando Diniz. A verdade é que a escolha do técnico argentino Hernán Crespo foi acertadíssima porque ele é adepto da escola de Marcelo Gallardo, que, assim como Diniz, investe em times vistosos, ousados e com bom toque de bola. Ou seja, Crespo pegou um grupo pronto, disposto a vencer e teve o trabalho facilitado. Torço muito por ele, assim como continuo torcendo para que Diniz siga montando times agradáveis de se ver. Os títulos serão consequência.

Quando critiquei as atuações do Palmeiras mesmo após a conquista da Libertadores é porque vencer sem convencer não me agrada. Ou será que os vascaínos comemoraram a vitória sobre o Botafogo? Nem Rogério Ceni está em condições de comemorar porque o rubro-negro não tem sido convincente como na época de Jorge Jesus. Totalmente o oposto de Guardiola que vem mantendo uma maravilhosa performance há anos, sempre apostando na filosofia de jogo, que também é a minha, a de que é possível conciliar força física, alta produtividade com arte e suingue. Futebol é um espetáculo, como uma orquestra, um balé, um desfile carnavalesco.

Mas outro dia vi um tetracampeão do mundo, que hoje é comentarista, afirmar que o importante é vencer mesmo jogando feio. Discordo com todas as minhas forças e justamente por conta desse pensamento pequeno é que nosso futebol perdeu a essência, sua forma de jogar, e está entupido de retranqueiros. Daniel Alves, ao vivo, disse que Fernando Diniz “é foda”. E é mesmo! É um incompreendido, mas deixa sua marca por onde passa. Por isso, o torcedor deve reconhecer isso.

Na Copa de 70, João Saldanha deveria ter sido reconhecido com mais veemência por sua participação naquele título. Reconhecer é um ato de nobreza. Daniel Alves atuou por vários anos na Europa, ganhou uma série de títulos e sua opinião tem peso. Mas assim como o tetra-comentarista, que diz que para vencer vale praticar um futebol covarde, muitos não reconhecem o valor da seleção e ouro, de 82, desdenham de quem nunca venceu uma Copa do Mundo e vão espinafrar Guardiola caso não vença a Liga.

Listo uma serie de pernas de pau que não mereciam ter uma Copa e dou mil vivas a Zico e os comandados de Telê Santana! Salve, Falcão! Salve, Leandro! Salve, Leandro! Salve, Oscar! Salve, Sócrates! Salve, Júnior! Salve, Éder! Salve, Cerezo! Salve, Luizinho! Salve, Paulo Isidoro! Salvem o nosso verdadeiro futebol!

Para contrariar os comentaristas atuais, trago uma tradução simples dos termos utilizados: primeira linha é, na verdade, a defesa, composta pelos laterais, beque central e quarto zagueiro; a segunda linha é o famoso meio-campo, formado pelo centro-média, meia-direita e meia-esquerda; por fim, o ataque virou a terceira linha, que reúne os pontas e o centroavante! Precisa complicar tanto?

O INCOMPRÁVEL

por Zé Roberto Padilha


Além da qualidade técnica que pesa muito em qualquer decisão, tem algo tão importante no futebol, que, infelizmente para nós, tricolores, não estava à venda para equilibrar a disputa..

O entrosamento. Nem Xerém tem um pra vender.

Com exceção do goleiro, de um ala, o Flamengo levou a campo a mesma espinha dorsal que o levou a levantar a Taça Libertadores da América e a ser o vice campeão mundial de clubes.

Jogando juntos já tanto tempo, Éverton Ribeiro troca de funções com o Gerson naturalmente. Sem qualquer ordem do banco. Se para eles é normal, e o fazem com extrema aplicação tática, para quem os marca, e mal jogaram um estadual juntos, é o próprio inferno.

Bruno Henrique e Gabigol, indicados por Abel Braga e treinados por Jorge Jesus, estão tão entrosados que podem retirar de cena quantos Rogérios estiverem à beira que basta um piscar de olhos para saber onde seu companheiro estará colocado.

E tem o Arrascaeta…

Agora, nos resta seguir o exemplo. Tentar fazer no Campeonato Brasileiro que nossa espinha dorsal se equilibre, se solidifique, se conheça. Mas para isso é preciso afastar de vez o maior inimigo do entrosamento: o time misto. Aquele que poupa desentrosando.

E quando a bola for alçada para a grande área da linha de fundo, o Fred terá a certeza qur ela chegará na altura e na velocidade que gostaria.

Mas para isso não tem que deixar o campo tão cedo. Outra vez derrotados, nem precisava subir a placa mostrando quem seriam os Bobadillas dessa história.

POLÍTICA DE PATROCÍNIO

por Idel Halfen


Uma das poucas certezas que o marketing nos brinda é a de que as marcas não devem ter um rosto, principalmente se for o de um ser humano, naturalmente suscetível a falhas, o que pode de alguma forma contaminar a marca. Daí a recomendação para que as empresas não restrinjam apenas a uma única pessoa a posição de “embaixador” ou de “endossador”.

Tal afirmação não significa que marcas e empresas não devam ter identidade, o que é completamente diferente, pois esta está relacionada ao posicionamento e à proposta de valor, variáveis imprescindíveis em qualquer mercado.

Esclarecimentos feitos, passemos para o tema que suscitou interessantes debates na última semana: o patrocínio da Havan ao rubro-negro carioca.

Enquanto alguns criticaram a iniciativa pelo fato de o dono da empresa ser um apoiador ferrenho do presidente da república e de suas falas, outros a defendiam sob o argumento de que o que importa é o valor que o clube receberá, algo mais ou menos na linha de que os fins justificam os meios.

Pois bem, inicialmente deve ser registrado que é inconcebível que as pessoas sejam julgadas por possuírem algum posicionamento político – seja de esquerda ou de direita -, aliás, qualquer tipo de generalização a respeito de preferências estritamente ideológicas denota o quão imbecil é o sujeito que a faz.

Contudo, não é salutar que marcas/empresas tenham posicionamento político, cabendo a elas no que tange ao relacionamento com a sociedade focar suas ações nas causas sociais, o que, inclusive, contribui para fortalecer a imagem de uma empresa preocupada com a humanidade.

Embasa tal afirmação o fato de que o patrocínio deve buscar, além da exposição e ativação da marca, a associação dos valores do patrocinado com o do patrocinador, para assim criar uma espécie de simbiose. Neste contexto, o clube passa a usufruir dos atributos do patrocinador, sendo a recíproca verdadeira.

Por isso é tão importante o trabalho de análise das possíveis parcerias sob o prisma do branding, mesmo porque, uma eventual contaminação pode implicar na fuga de outros patrocinadores (efeito co-branding) no caso do clube, ou de clientes no caso da empresa.

Voltando ao caso específico, a Havan pode vir a se tornar um problema para o clube em função do que foi citado no início do nosso artigo: a empresa tem a cara do dono, o qual, pouco se importa em se posicionar politicamente. Aliás, a pouca preocupação com a imagem da empresa já levou seu dono a se manifestar publicamente contra medidas voltadas à inclusão de deficientes em suas lojas.

Por mais que tais atitudes possam ser minimizadas com argumentos de que elas agradam e atraem clientes que comungam das mesmas convicções, não se pode esquecer que a concorrência, ao não tomar partido, agrada e atrai a todos, isto é, não tem rejeição.

Vale ainda relatar que esse problema, embora pareça inédito já ocorreu outras vezes, vide, por exemplo, o caso do Werder Bremen da Alemanha que foi alvo de protestos quando anunciou que a Wiesenhof – empresa de alimentos acusada de maus tratos a animais – seria sua patrocinadora.

Tais situações provavelmente estarão cada vez mais presentes no cotidiano dos clubes, o que faz com que fique evidente a necessidade de modernização do estatuto com cláusulas de compliance que estabeleçam restrições a empresas que possuam envolvimento político e que adotem práticas não-sustentáveis.

BRASILEIRÃO DE 1971, A DESCOBERTA DE UM GÊNIO CHAMADO ROBERTO DINAMITE

por Erismar Silva


No ano de 1971, iniciava a era Campeonato Brasileiro em nosso futebol. No ano em que o Clube Atlético Mineiro conquistou seu único título do Brasileirão até o momento, o que não faltam são histórias e curiosidades. Após 1 ano da conquista da Copa do Mundo de 1970, os olhos se voltava para o nosso futebol, a qual, tínhamos um “Brasileirão” se iniciando.

Nas temporadas anteriores a competição tinha nomes diferentes, e claro, o formato também eram outros. Vale lembrar também, que mesmo com esse novo nome, os formatos da competição dificilmente se repetiram. Nos gramados brazucas daquele ano, desfilava a maestria futebolística de um gênio da bola, chamado Dadá Maravilha, craque do Atlético Mineiro.

A famosa “subida no ar” de Dadá contra o Botafogo no jogo decisivo, calou mais de 84 mil torcedores no Maracanã. Dadá era um verdadeiro gênio. Naquele ano, ele foi o artilheiro da competição balançando as redes 15 vezes e, consequentemente, eleito o craque daquele ano. Com 20 clubes representando oito estados, o Brasileirão se consolidava com grandes disputas e rivalidades.

Nos embalos da canção mais tocada daquele ano, “Detalhes” do Rei Roberto Carlos, o nosso futebol também embalava a galera. Nas arquibancadas, 80 mil era o mínimo em vários estádios. O charme do Campeonato era a disputa, a rivalidade e a busca incessante da vitória. No Clube Atlético Mineiro, além de Dadá, a base do time mineiro era essa: Renato, Humberto, Grapete, Vantuir, Odair, Vanderlei, Humberto Ramos, Ronaldo, Beto, Dadá Maravilha e Romeu. Técnico: Telê Santana

O ano ficou marcado pela última partida do Rei Pelé com a camisa Seleção Brasileira. No Estádio do Maracanã, o Brasil encarava a antiga Iugoslávia, o jogo terminou empatado em 2×2. No momento em que o país ainda estava no regime militar, sob o comando do General Medici, amargava o mais terrível momento da nossa história, conhecido como os “Anos de Chumbo”, em que a repressão era pesada. Para muitos, o futebol e a música, eram o refúgio para fugir das tensões do Regime Militar.

Naquele ano, foram marcados 419 gols por 20 clubes, com uma média de público de aproximadamente 20.300 torcedores por jogo. No jogo entre a Portuguesa e o Palmeiras, válido pela primeira rodada do Brasileirão, ocorreu a primeira expulsão do campeonato, aos 47 do segundo tempo, Eurico do Palmeiras e Tatá da Portuguesa foram expulsos.

E as curiosidades não param por aí. Naquele ano, o futebol conhecia um dos maiores jogadores da história do nosso futebol, artilheiro vascaíno, Roberto Dinamite. Em um jogo entre Vasco da Gama e Internacional de Porto Alegre, o então garoto da base foi chamado para integrar o time principal do Cruzmaltino, assim, fazendo a sua estreia como profissional. Em uma entrevista ao Portal Uol, Dinamite relata como surgiu o apelido que o consagrou no futebol.

Na partida contra o Colorado, o garoto entra no segundo tempo, recebe a bola na entrada da área, dá um corte no zagueiro Ferretti, e solta um “foguete” para balançar a rede. No Jornal dos Sports no Rio de Janeiro, o jornalista Aparício Pires, destacava seguinte Manchete: “Garoto-Dinamite, explodiu no Maracanã”. De lá para cá, Dinamite veio fazendo história no futebol, artilheiro em praticamente todos os campeonatos que disputou, no Brasileirão, por exemplo, ninguém fez mais gols que ele até o momento, 190 gols. Depois dessa manchete, o apelido de “Dinamite” ficou eternizado na história do Vasco e do futebol brasileiro.

Voltando a falar do Club Atlético Mineiro, foram 27 jogos disputados com 39 gols marcados e 22 sofridos. 12 vitórias, 10 empates e 5 derrotas. Fatos curiosos desse emblemático campeonato de futebol, não deixaram de acontecer. No clássico entre Botafogo e Vasco da Gama, o zagueiro Brito cometeu um pênalti. Ofendeu o árbitro José Aldo Pereira e foi expulso, não contente, agrediu o juiz com um soco no estômago e foi parar na delegacia. Pegou um ano de suspensão, depois, teve sua pena reduzida, levando em conta seus serviços prestados à Seleção Brasileira. A confusão voltou a acontecer na rodada final da competição, no jogo entre Botafogo e Atlético-MG, Nilton Santos perdeu a cabeça e agrediu o árbitro Armando Marques.

O Brasileirão começava a ganhar forma, e a competição ficava cada vez mais acirrada. As rivalidades se intensificaram entre os clubes locais e também entre os estados. O mundo passava a conhecer ainda mais o nosso futebol, que naquele ano, já tínhamos três títulos de Copas do Mundo. O nosso Campeonato, até hoje é reconhecido como um dos mais disputados de todo o mundo.