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GERALDO, O CRAQUE QUE JOGAVA E ASSOBIAVA

por Irineu Tamanini


Se fosse vivo, Geraldo Cleofas Dias Alves, mais conhecido como Geraldo Assobiador, completaria hoje, dia 16 de abril de 2021, 67 anos. Geraldo, nascido em Barão de Cocais, Minas Gerais, faleceu aos 22 anos em 26 de agosto de 1976. Uma das maiores revelações do futebol brasileiro nos anos 70, vestia a camisa 8 do Clube de Regatas do Flamengo e jogava ao lado de grandes craques como Zico, Junior, Andrade, Adilio, etc… 

Conheci Geraldo porque ele é amigo do meu amigo Carlos Alberto Pintinho, a quem conheço desde 1973. Assim como eu, Geraldo morava no Leblon (na rua Juquiá, paralela à rua Conde Bernardote). No dia da sua morte eu já havia mudado para a capital da República (cheguei em julho de 1975), trabalhava na editoria de esportes do Correio Braziliense e estava neste dia na redação da Tv Brasília – canal 6 negociando a minha contratação pela emissora. Levei um susto com a notícia. Pintinho estava inconsolável e até hoje sente a partida prematura do amigo. Mesmo morando em Sevilha, na Espanha, Pintinho quando vem ao Brasil vai a Barão de Cocais colocar flores no túmulo do amigo que era conhecido pelo seu excepcional controle de bola, visão de jogo e o futebol alegre.

Com acompanhamento médico regular, como é comum aos atletas profissionais, descobriu-se que Geraldo tinha inflamações crônicas na garganta e o departamento médico do clube recomendou a retirada das amígdalas. Sua operação foi agendada para o dia 25 de agosto de 1976. Porém, por questões burocráticas, Geraldo só foi internado no dia seguinte, desfalcando a equipe que jogara no dia anterior em Fortaleza contra o Ceará. Geraldo deu entrada no Hospital Rio-Cor, em Ipanema, para retirar as amigdalas quando o relógio marcava 7h da manhã do dia 26. Pouco tempo depois, o médico otorrinolaringologista Wilson Junqueira iniciou os procedimentos e aplicou o anestésico local.

Vinte minutos após o início da cirurgia, Geraldo se sentiu mal e seu coração parou. A equipe médica tentou reanimá-lo com injeções e choques elétricos. Às 10h30, Geraldo sofreu uma segunda parada cardíaca e faleceu vitimado por um choque anafilático causado pela anestesia.

Geraldo disputou 168 jogos com a camisa rubro-negra (94 vitórias, 40 empates, 34 derrotas) e marcou 13 gols. Foi campeão da Taça Guanabara de 1973 e campeão carioca de 1974. Na Seleção Brasileira, Geraldo estreou na Copa América de 1975. Ao todo, fez sete jogos pela Seleção Brasileira.

Obs: mensagem que recebi do meu amigo Carlos Alberto Pintinho, direto de Sevilha, na Espanha, onde reside hà 40 anos:

“Gracias por el reportaje del hermano Gera. Eles un craque”

Acesse o Blog do Tamanini: https://blogdotamanini.com.br

O QUE NELSON RODRIGUES DIRIA DESSE BOTAFOGO?

por Rodrigo Ancillotti


“Não, senhores!! Não foi Gilvan que marcou o gol de empate e deu sobrevida de alguns instantes ao Botafogo na Copa do Brasil. Se dependesse dele e de sua falta de categoria, ou da ruindade dos seus companheiros com a bola nos pés, aquela bola passaria incólume pela área e morreria tristemente pela lateral do campo. Quem empatou o jogo foi a Estrela Solitária!! Sim, foi Ela que subiu, praticamente carregando o zagueiro alvinegro contra sua vontade e obrigando-o a cabecear a pelota para as redes!! Ela, e somente Ela, honra a camisa alvinegra e não perde nunca sua magia!! Infelizmente, a Gloriosa Estrela Solitária não é capaz de milagres, pois só um milagre daqueles dignos de almanaque seria capaz de salvar o Botafogo da desclassificação na Copa do Brasil. A ruindade do time, do presidente ao porteiro do clube, impede que o Clube mais tradicional do nosso país almeje algo além da permanência na Série B para o ano que vem. Isso, por si só, já será motivo de alívio para a sua torcida.”

Peço licença aos amigos do Museu da Pelada para essa pequena homenagem ao maior cronista/escritor de nosso jornalismo esportivo: o grande Nelson Rodrigues!! Claro que ele escreveria com muitíssimo mais brilho e competência, mas imaginaria um texto semelhante para falar de mais uma eliminação vergonhosa do outrora Glorioso Botafogo na Copa do Brasil. Mais uma humilhação que expõe fortemente que, ao Botafogo, só resta lembrar de seu passado, pois o presente é vergonhoso e o futuro… Que futuro??

Até quando, Botafogo?? :’(

O PASTOR PITBULL E O FAIR PLAY

por Victor Kingma


Neco Pitbull era um truculento técnico do interior mineiro. Ex-zagueiro dos times de várzea locais, era daqueles que mordiam até na própria sombra, o que, aliás, lhe rendeu o apelido.

Depois que virou treinador, seguiu a mesma linha e exigia dos seus jogadores jogo pegado, com marcação forte e entradas duras.

Seu slogan era: “a bola e o adversário juntos não podem passar! Um dos dois tem que ficar!”. 

Só que, após entrar para a igreja e se tornar o Pastor Manoel, mudou completamente de postura. 

Agora, em suas preleções, misturava instruções táticas com orações e preces e  exaltava a necessidade do fair play e o respeito aos “irmãos” de profissão. 

Foi assim que seu time chegou à decisão. E o título parecia barbada. Além de jogar em casa, a equipe do pastor tinha uma grande vantagem: podia perder até por dois gols de diferença que ainda assim seria a campeã. 

Tranqüilo à beira do gramado, suas instruções pareciam refletir o novo comportamento: num contra ataque adversário, ao ver que seu zagueirão de 1,90m partia com cara de poucos amigos contra o atacante, grita:

– Na bola, só na bola, sem falta! 

Pronto! O avante se livra do limitado beque e estufa as redes: 1×0. Reduzida a diferença.

Já no segundo tempo, em nova investida do ataque rival, o ponta direita fica no mano a mano com o seu lateral. O técnico pastor, pregando literalmente o fair play, mais uma vez orienta em tom paternal:

– Sem falta, rouba a bola meu filho, jogo limpo e na paz! 

O ponta, então, passa com facilidade pelo marcador e faz 2×0. 

A torcida entra em desespero. Mais um gol dos visitantes seria o desastre. 

O final fica dramático para o time do Pastor. 

E o pior estava por vir: no último lance do jogo, quando o juiz já se preparava para encerrar a partida, o arisco pontinha adversário mais uma vez avança velozmente pela direita, finta o lateral e parte em direção ao gol. Tragédia à vista. 

O atabalhoado beque central sai na cobertura.  Aí o técnico “Pastor”, destemperado e prevendo a catástrofe, incorpora o Pitbull dos velhos tempos, esquece o fair play e, endemoniado, esbraveja:

– Chega junto! Pega! Mata a jogada! 

Desce o sarrafo, pelo AMOR DE DEUS! Senão a gente perde a desgraça desse título!!!  

INAUGURAÇÃO DO ESTÁDIO MUNICIPAL DE BRASÍLIA

por Valdir Appel


Minha baixa na Polícia do Exército coincidiu com o término do período de testes que eu realizei no Vasco da Gama. Além de aprovar a minha contratação, o técnico Zezé Moreira também me integrou ao elenco que viajou para Brasília e Belo Horizonte, onde o Vasco realizou dois amistosos. Respectivamente contra Flamengo e Atlético Mineiro.

Desta forma, saí da caserna num dia e embarquei no outro rumo a capital federal como reserva do goleiro Amauri. Cabeça praticamente raspada, apenas um tufo louro no cocuruto, uma mala, paletó e uma gravata emprestada, eu destoava do restante dos jogadores impecáveis nos seus ternos pretos. Os MIBs de então. Vascaínos e rubro-negros viajaram juntos no mesmo avião para inaugurar o Estádio Municipal de Brasília.

O clássico carioca jogado em outras cidades despertava enorme interesse dos torcedores. A exemplo do que acontecia costumeiramente no Maracanã, o espaço nas arquibancadas era literalmente dividido ao meio. Foi um jogo emocionante onde o nosso centroavante Célio fez a diferença, marcando dois gols, garantindo a vitória por 2 a 1 sobre o arquirrival.

Almir descontou para o Flamengo. Zezé Moreira, entusiamado com a apresentação do time, mandou o tesoureiro pagar o meu bicho integral. Mesmo porque eu fui o único dos reservas a não ser utilizado. O prêmio representava muito mais do que o salário que eu ganhava até então.

(13 de maio de 1966) 

VIDA E OBRA DE ZÉ ROBERTO PADILHA

por Flavio Brasa


Nascido em Três Rios em 1952, desde pequeno seu brinquedo favorito era a bola, disputada a tapa na Árvore de Natal com seus outros dois irmãos menores, Flavio e Mauro.

Após se consagrar no futebol local – o América -, se sagra campeão em 1968 na categoria juvenil. No jogo de entrega de faixas contra os aspirantes do Fluminense, também campeão de 1968 no Rio, foi prontamente chamado para integrar o elenco do infanto juvenil da equipe tricolor (técnico Pinheiro) ao lado de Nielsen, Zé Maria, Abel Braga, Marinho, Silvinho, Té e grandes jogadores que seguiram suas carreiras.

Zé Roberto começa sua carreira no Flu, ganhando campeonato infanto em 69, Juvenil em 70, sendo chamado para compor a primeira seleção Olímpica que iria tentar a classificação para os jogos de 1972 em Munique.

Mais um título: campeão pré-olímpico em Cannes. Infelizmente, às vésperas da ida aos jogos, sofre sua primeira de muitas contusões ao longo de sua longa e gloriosa carreira, no tornozelo, que iria persegui-lo eternamente…

Já integrado ao elenco dos profissionais em 1971, se torna reserva de Lula e daí para uma série de títulos: Carioca de 71 (reserva de Lula), 73 (revezando com Lula) e 1975 (titular absoluto da primeira Máquina Tricolor). Em 1976, Francisco Horta promove um troca-troca que mudaria a história do futebol carioca, indo Toninho Baiano, Roberto goleiro e Zé Roberto para o Fla e o Flu recebendo Dirceu, Doval e Rodrigues Neto, o que fez o Vasco ser campeão em disputa de pênaltis contra o Flamengo (Zico perdeu e Luiz Gustavo marcou). Uma vergonha.

Com a ascensão meteórica de Júlio César, que vinha voando dos juniores ao lado de Leandro, Tita, Andrade e Adílio, Zé Roberto é vendido ao Santa Cruz em 1977 e lá se sagra campeão em 1978, após longa batalha pela posição com Pio do Palmeiras.

Política no Santa Cruz FC: leitor assíduo do Pasquim e MDB ferrenho por conta de seu ídolo Ulisses Guimarães, se vê ameaçado pela diretoria do Santa Cruz, onde todos eram coronéis a favor da ditadura (só existiam a Democracia Corinthiana e o Afonsinho na militancia) e teve prisão decretada por pichação de vestiários e discursos ao elenco sobre democracia, obrigando seu pai e um advogado irem até Recife para resolver a situação.

Fica afastado e viaja para o Leste europeu como intérprete do Santa Cruz, uma provocação da diretoria para que ele conhecesse o que era o comunismo e socialismo… Se filia ao PT. Volta da excursão e é vendido ao Itabuna, onde se sagra campeão. O Marília compra seu passe e lá foi Zé Roberto tentar mais um título, mas se machucou, sendo vendido ao Americano e, por fim, encerrou a carreira no Bonsucesso.

Sua carreira como técnico: monta em Xerém, a pedido de Roberto Alvarenga, o CT do Flu e ganha o primeiro título de juniores depois de 17 anos. Treina o América Três Rios e consegue chegar a 1ª divisão do Cariocão, fato inédito para a sua cidade e depois treina o Entrerriense com igual êxito…

Lança um trabalho técnico-tático no auditório do MIS e é aplaudido de pé por técnicos e jornalistas: o 5×1 invertido.

Jornalista e escritor, Zé Roberto já está em seu 8º livro.

Foram quase 20 anos de estrada, de dedicação e a sua luta contra o corpo, visto que corria, acima do limite para a época, a distância de 4 km por jogo, só perdendo para o Dirceuzinho. 

Atualmente, Zé Roberto, 68 anos, mora em sua cidade natal, onde é Presidente do diretório do PT, comanda há 40 anos o Blocos “Unidos da Barão”, tendo passado por 15 anos em cargos de secretarias de todos os partidos da prefeitura local, mesmo sendo PT, pois sua imagem vale mais do que os partidos que lá aportam…

Epílogo (por Flavio Brasa)

Sua história de vida é um exemplo de que nada está perdido, para um jovem que pretende ser alguém na vida.

Basta ter ideais e lutar!!!