ONDE ESTÁ O FUTEBOL DA SELEÇÃO?
por Paulo-Roberto Andel
Perdoem-me se sou um velho. O que sei é que a Seleção do meu tempo de garoto era diferente. Bem diferente. Não era um tempo fácil; afinal, o Brasil vinha “só” de um quarto e um terceiro lugar nas duas últimas Copas de então, 1974 e 1978 respectivamente. E muito antes disso meu pai já me abastecia com figurinhas de Félix, Carlos Alberto Torres e Pelé.
Brigava-se nos debates de bar por Falcão e Paulo Cezar Lima. Ou um jeito de colocar juntos Uri Geller e Zé Sérgio; Cerezo, Sócrates e Zico; Oscar, Amaral e Edinho. Em 1979 o Brasil já abria mão de Rivellino e Marco Antônio dentre outros, isso sem dizer de craques que nem tiveram chance na Seleção ou por ela passaram rapidamente. De cara, três nomes: Aílton Lira, Enéas e Dicá.
Parei para ver o jogo da Seleção nesta sexta-feira à noite.
Muitas vezes tentei estabelecer uma conexão entre a Seleção atual e aquela que aprendi a admirar. Não consegui.
Ao contrário de muita gente, gosto pessoalmente de Tite e achava que seu trabalho vitorioso em clubes poderia fazer a Seleção avançar. Até aqui não deu. Mas é bom que se diga: os rumores que hoje cercam o treinador nada têm a ver com o campo, mas sim por sua oposição à Terra plana.
O Brasil venceu. Para consolidar sua vitória no fim do jogo, precisou de um pênalti batido duas vezes: o goleiro tirou os pés da linha na primeira cobrança, feita de forma ridícula por Neymar, chegando a ser constrangedora. Na repetição, a batida saiu correta e aí Neymar “calou os críticos”…
O Brasil venceu. É líder nas eliminatórias, com cinco vitórias em cinco jogos. No pragmatismo, números impecáveis. Nas apresentações, um futebol opaco e burocrático. Certamente manterá a condição de única seleção do mundo a figurar em todas as Copas do Mundo, mas talvez aí esteja o verbo que nos atordoa há quase vinte anos: figurar.
É impossível alguém achar que o quarto lugar no Mundial de 2014 tenha sido exitoso, dados os fatos evidentes.
Pode ser que os mais jovens ainda encontrem encantamento no futebol de jogadores como Gabigol (um sucesso nacional), Paquetá e outros, mas toda vez que os vejo tenho sempre a impressão de um toque a mais, uma firula a mais que não produz, uma espécie de futebol pernóstico que em nada honra o nosso passado. Neymar, a referência maior, o grande artilheiro, alterna boas jogadas com momentos escabrosos, vide ontem. Salve-se a luta incessante de Richarlison, premiada com um gol.
Será que velhos como eu nunca mais vão ver uma Seleção Brasileira capaz de orgulhar o povo por conta de seu futebol coletivo e individualidades? Não precisa ser Rivellino, Pelé e Gerson, nem Sócrates e Falcão: pode ser Rivaldo, Ronaldo e Ronaldinho mesmo. Já seria demais.
Por enquanto, orgulho mesmo só nas palavras de Casemiro depois do jogo diante do Equador. Tomara que, na tomada de posição, a Seleção Brasileira se reencontre com seu povo. Dentro de campo, tudo ainda parece muito distante.
Sobre Rogério Caboclo, vale a máxima do Barão de Itararé: “De onde menos se espera é que não vem nada mesmo”.
@pauloandel
O QUESITO PERSONALIDADE
por Zé Roberto Padilha
O tempo, e toda a sua carreira, seja nos 17 anos como atleta, mais 8 como treinador, nos mostrou que a diferença entre os homens que vão ser profissionais, e os meninos que não passarão dos amadores, num país que todos jogam bola, e bem, é a personalidade.
Você pode jogar mais que o menino que vai fazer o teste ao seu lado em Xerém, no Ninho do Urubu, mas se a alma sentir a pressão daquela “entrevista”, o corpo não vai acertar os passes.
Quem irá seguir é aquele que mais tarde vai encontrar um Maracanã cheio e vai jogar como se estivesse batendo pelada no quintal da sua casa.
Personalidade. Transformar a pressão em motivação. Quem não consegue, fica sentado no vaso enquanto o time o espera para entrar atrasado em campo.
Neste fundamental quesito para a formação de um atleta profissional, encontramos a mais nova revelação tricolor: Gabriel Teixeira. O Biel.
Desde o estadual, estamos observando que da gloriosa camisa que vestiu, ele retirou, com toda a categoria, pedalando como fazia nos juvenis, chutando a gol como batia nos juniores, todo o peso e responsabilidade.
E acrescentou talento, juventude e disposição tática.
Contra o Bragantino, quando recebeu do Fred para chutar a gol, fez todos os movimentos para concluir, a ponto dos dois zagueiros fecharem sobre ele, o que o marcava e o que vinha na cobertura. E como se estivesse no Aterro do Flamengo, virou o olho para um lado e devolveu para o Fred, livre, abrir a contagem.
Nesse momento bacana que o Fluminense está passando, de reconstrução profissional, montando boas equipes e trazendo seu torcedor de volta, é importante ressaltar o sério trabalho das suas divisões de base.
Foi lá que essa nova promessa foi lapidada. Na minha opinião, Gabriel Teixeira é, hoje, ao lado do Fred, o melhor jogador do Fluminense.
GUIA EUROCOPA 2020
por Mateus Ribeiro
O que é?
A Eurocopa (também chamada de Euro) é a competição de futebol disputada pelas seleções europeias, disputada de quatro em quatro anos, desde 1960. Esta é a décima sexta edição do torneio.
Quando vai acontecer?
A nova edição da Eurocopa começará a ser disputada no dia 11 de junho e vai até 11 de julho. Vale citar que, inicialmente, a Euro seria disputada em 2020, mas foi remarcada em virtude da pandemia.
Onde vai rolar?
O jogos da Euro serão disputados em 11 sedes diferentes, espalhadas pela Europa: Amsterdam (Holanda), Baku (Azerbaijão), Bucareste (Romênia), Budapeste (Hungria), Copenhague (Dinamarca), Glasgow (Escócia), Londres (Inglaterra), Munique (Alemanha), Roma (Itália), São Petersburgo (Rússia) e Sevilha (Espanha).
Fórmula de disputa
A fórmula de disputa da Eurocopa é quase a mesma da Copa do Mundo, exceto pelo número de participantes, já que a Copa conta com 32 seleções e a Euro, com 24.
Na fase de grupos, as 24 equipes são divididas em seis grupos, com quatro participantes cada. As duas primeiras de cada grupo passam de fase, junto com as quatro melhores equipes classificadas em terceiro lugar, totalizando 16 seleções. A partir daí, os jogos são eliminatórios. Em caso de empate, a partida vai para a prorrogação e persistindo a igualdade, a classificação para a fase seguinte é decidida na disputa de penalidades máximas.
Agora que todas as apresentações foram feitas, é hora de conferir os grupos da Euro2020. O pequeno guia a seguir traz o número de participações de cada seleção, o destaque e a sua cotação, de acordo com o “Datachute”, departamento de análises dirigido por este que vos escreve.
Grupo A (Itália, Suíça, Turquia e País de Gales)
Sedes: Roma (Itália) e Baku (Azerbaijão)
ITÁLIA
Participações: 9 (1968, 1980, 1988, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016)
Títulos: 1 (1968)
Destaque: Lorenzo Insigne (atacante, Napoli-ITA)
CORRE POR FORA
SUÍÇA
Participações: 4 (1996, 2004, 2008 e 2016)
Destaque: Xerdan Shaqiri (meia, Liverpool-ING)
FIGURANTE
TURQUIA
Participações: 4 (1996, 2000, 2008 e 2016)
Destaque: Hakan Çalhanoglu (meia, Milan-ITA)
FIGURANTE
PAÍS DE GALES
Participações: 1 (2016)
Destaque: Gareth Bale (atacante, Tottenham Hotspur-ING)
FIGURANTE
Grupo B (Bélgica, Rússia, Dinamarca e Finlândia)
Sedes: São Petersburgo (Rússia) e Copenhague (Dinamarca)
BÉLGICA
Participações: 5 (1972, 1980, 1984, 2000 e 2016)
Destaque: Kevin De Bruyne (meia, Manchester City-ING)
FAVORITA
RÚSSIA
Participações: 11 (1960, 1964, 1968, 1972, 1988, 1992, 1996, 2004, 2008, 2012 e 2016)
Títulos: 1 (1960, como União Soviética)
Destaque: Aleksandr Golovin (meia, Monaco-FRA)
FIGURANTE
DINAMARCA
Participações: 8 (1964, 1984, 1988, 1992, 1996, 2000, 2004 e 2012)
Títulos: 1 (1992)
Destaque: Christian Eriksen (meia, Internazionale-ITA)
FIGURANTE
FINLÂNDIA
Participações: Estreante
Destaque: Teemu Pukki (atacante, Norwich City-ING)
FIGURANTE
Grupo C (Ucrânia, Holanda, Áustria e Macedônia do Norte)
Sedes: Bucareste (Romênia) e Amsterdam (Holanda)
UCRÂNIA
Participações: 2 (2012 e 2016)
Destaque: Oleksandr Zinchenko (lateral-esquerdo/meia, Manchester City-ING)
FIGURANTE
HOLANDA
Participações: 9 (1976, 1980, 1988, 1992, 1996, 2000, 2004, 2008 e 2012)
Títulos: 1 (1988)
Destaque: Frenkie de Jong (meia, Barcelona-ESP)
CORRE POR FORA
AÚSTRIA
Participações: 2 (2008 e 2016)
Destaque: David Alaba (zagueiro/lateral-esquerdo/meia, Real Madrid-ESP)
FIGURANTE
MACEDÔNIA DO NORTE
Participações: Estreante
Destaque: Goran Pandev (atacante, Genoa-ITA)
FIGURANTE
Grupo D (Inglaterra, Croácia, Escócia e República Tcheca)
Sedes: Londres (Inglaterra) e Glasgow (Escócia)
INGLATERRA
Participações: 9 (1968, 1980, 1988, 1992, 1996, 2000, 2004, 2012 e 2016)
Destaque: Harry Kane (atacante, Tottenham Hotspur-ING)
CORRE POR FORA
CROÁCIA
Participações: 5 (1996, 2004, 2008, 2012 e 2016)
Destaque: Luka Modric (meia, Real Madrid-ESP)
CORRE POR FORA
ESCÓCIA
Participações: 2 (1992 e 1996)
Destaque: Andy Robertson (lateral-esquerdo, Liverpool-ING)
FIGURANTE
REPÚBLICA TCHECA
Participações: 9 (1960, 1976, 1980, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016)
Títulos: 1 (1976, como Tchecoslováquia)
Destaque: Tomas Soucek (volante, West Ham-ING)
FIGURANTE
Grupo E (Espanha, Suécia, Polônia e Eslováquia)
Sedes: São Petersburgo (Rússia) e Sevilha (Espanha)
ESPANHA
Participações: 10 (1964, 1980, 1984, 1988, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016)
Títulos: 3 (1964, 2008 e 2012)
Destaque: Gerard Moreno (atacante, Villareal-ESP)
FAVORITA
SUÉCIA
Participações: 6 (1992, 2000, 2004, 2008, 2012, 2016)
Destaque: Emil Forsberg (meia, RB Leipzig-ALE)
FIGURANTE
POLÔNIA
Participações: 3 (2008, 2012 e 2016)
Destaque: Robert Lewandowski (atacante, Bayern de Munique-ALE)
FIGURANTE
ESLOVÁQUIA
Participações: 1 (2016)
Destaque: Marek Hamsik (meia, IFK Göteborg-SUE)
FIGURANTE
GRUPO F (Alemanha, França, Hungria e Portugal)
Sedes: Munique (Alemanha) e Budapeste (Hungria)
ALEMANHA
Participações: 12 (1972, 1976, 1980, 1984, 1988, 1992, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016)
Títulos: 3 (1972, 1980 e 1996, os dois primeiros como Alemanha Ocidental)
Destaque: Manuel Neuer (goleiro, Bayern de Munique-ALE)
FAVORITA
FRANÇA
Participações: 9 (1960, 1984, 1992, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016)
Títulos: 2 (1984 e 2000)
Destaque: N’Golo Kante (volante, Chelsea-ING)
FAVORITA
HUNGRIA
Participações: 3 (1964, 1972 e 2016)
Destaque: Dominik Szoboszlai (meia, Red Bull Salzburg-AUT)
FIGURANTE
PORTUGAL
Participações: 7 (1984, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016)
Títulos: 1 (2016)
Destaque: Cristiano Ronaldo (atacante, Juventus-ITA)
CORRE POR FORA
Lista de campeões da Eurocopa
1960 – União Soviética
1964 – Espanha
1968 – Itália
1972 – Alemanha Ocidental
1976 – Tchecoslováquia
1980 – Alemanha Ocidental
1984 – França
1988 – Holanda
1992 – Dinamarca
1996 – Alemanha
2000 – França
2004 – Grécia
2008 – Espanha
2012 – Espanha
2016 – Portugal
Lista de maiores artilheiros
Michel Platini – França (9 gols)
Cristiano Ronaldo* – Portugal (9 gols)
Ole Madsen – Dinamarca (7 gols)
Alan Shearer – Inglaterra (7 gols)
Ruud van Nistelrooy (7 gols)
Patrick Kluivert – Holanda (6 gols)
Antoine Griezmann*– França (6 gols)
Thierry Henry – França (6 gols)
Wayne Rooney – Inglaterra (6 gols)
Nuno Gomes – Portugal (6 gols)
*jogadores que disputarão a Euro 2020
E aí, qual o seu palpite? Um abraço e até a próxima!
SIM E NÃO
por Rubens Lemos
Alguns amigos da minha geração, do fim dos anos 1970 e plenitude nos anos 1980, sempre perguntam se ganharíamos da Itália em 1982 fosse a Copa do Mundo um campeonato, com turno e returno e não um torneio de tiro curto, simples, errou, morreu. Sempre digo sim e não e vou explicar.
Digo sim se (conjunção da ilusão), Telê Santana, teimoso siderúrgico, trocasse na partida da volta contra a Azzurra, o goleiro Valdir Perez por Carlos (o melhor mesmo era Leão, que não foi por birra de Telê), o quarto-zagueiro Luisinho por Edinho, o amarelão Cerezo pelo corajoso Batista e o horroroso centroavante Serginho Chulapa por Roberto Dinamite.
Ou mesmo Telê Santana, que odiava o Vasco – veterano, foi dispensado em 1965 e não poria Dinamite, adiantasse Sócrates com Paulo Isidoro na ponta-direita. Ponta-direita que o traumatizou no baile tomado de Garrincha nos 6×2 do Botafogo no Fluminense em 1957.
O time ficaria competitivo, não somente belo e encantador. Estava em jogo uma vaga, a classificação e com Cerezo dando passes perfeitos para Paolo Rossi e atrasando cabeçadas com a bola dominada para escanteio, Luisinho sem pular uma Gilete e Serginho Chulapa inútil e dominado pelo magistral Gaetano Scirea, líbero perfeito, possivelmente perderíamos a segunda por 4×2.
Todos dizem que em 20 partidas Brasil x Itália em 1982, o Brasil ganharia 19. Depois insistem que somos humildes, simpáticos e despretensiosos. A seleção italiana era excelente e melhor para disputas do modelo da Copa de então. E de sempre, pois, passada a primeira fase, começam os mata-matas.
A Itália tinha Zoff, um monstro no gol, Scirea já mencionado, Cabrini, um lateral-esquerdo do nível de Júnior, dois meias que jogariam no time do Brasil: Tardelli e, sobretudo, Antognioni, um falso ponta brilhante, Bruno Conti, um artilheiro que funcionava, Paolo Rossi e um outro armandinho de talento, Graziani.
Então, melhor ficar do jeito que a história decidiu. Quando o Brasil perde, vem a soberba verborrágica, “foram os deuses do futebol”, quando o Brasil ganha, não há deuses, mas a onipotência insuperável do jogador brasileiro.
Em 2014, ninguém falou em Deus na justíssima surra de 7×1 da Alemanha, sobre o time de mascarados cabeças de bagre. A Holanda não repetiu, por ressaca e piedade, a diferença de gols na decisão do terceiro lugar, puxando o freio nos 3×0.
O encanto que resta na Copa do Mundo é o seu caráter eliminatório. Senão seria uma Copa América acrescida de europeus, africanos e asiáticos. E bote chata nisso.
A Copa América, exceto a de 1989, aquela em que Bebeto e Romário deram show, é competição sem charme, sem consequências, não classifica para nada. Seria ótima, garantisse uma das vagas das Eliminatórias continentais para a Copa do Mundo, aí sim.
Sobre Brasil x Itália, para tentar encerrar o que nunca vai terminar, é comer uma macarronada com cerveja e dormir. Para sonhar com o 3×3 e acordar puto da vida.
O CRAQUE DOS BORDÕES
por Serginho 5Bocas
O torcedor que quisesse acompanhar futebol no Brasil, no final dos anos 70 e início dos 80, era praticamente só no rádio com os famosos trepidantes.
Curtia muito ouvir Waldir Amaral, Doalcey Camargo, Jorge Cury e José Carlos Araújo, o Garotinho. Sem contar os comentaristas Washington Rodrigues, o “Apolinho”, Gerson, “O canhotinha de ouro” e o grande Mario Vianna, que reza a lenda, foi o primeiro comentarista de arbitragem que se tem notícia por estas bandas.
Futebol na TV era coisa raríssima, um verdadeiro cometa Harley. Às vezes transmitiam os momentos finais de uma final de campeonato, como na do Carioca de 1977, que passaram somente a disputa de pênaltis entre Vasco e Flamengo. Outras vezes, eram jogos amistosos ou jogos da seleção brasileira, quando em excursão no exterior ou jogando em outro estado do País, resumindo, era dificílimo para a gente ver imagens dos nossos craques.
No meio desta pedreira toda, havia para nós do Rio de janeiro, a emissora TVE ou TV Educativa, que nas noites de domingo, lá pelas 22h, passava os vídeo tapes dos jogos principais da rodada, principalmente do Campeonato Carioca, pois mesmo sendo tarde da noite, valia muito a pena.
Então o esquema era escutar no rádio à tarde e depois confirmar no vídeo tape as grandes defesas e os gols que havíamos escutado e vibrado intensamente. Confesso que muitas vezes, acho até que na maioria delas, tinha uma decepção, porque as defesas não eram tão espetaculares quanto a voz do trepidante do rádio me fez acreditar ou que a velocidade do jogo não era tanto quanto parecia no “dial”, mas fazia parte do roteiro, não perdia um, até mesmo os jogos dos adversários.
Na hora do tape, a gente sentava no sofá e se deliciava com a principal fera daquelas transmissões: Januário de Oliveira, que apesar de ser tricolor, a vibração de sua voz, era igual para todos os times.
– “Domingo de sol, taí o que você queria, bola rolando…”, era assim que começava a narração na maioria das vezes, abrindo os trabalhos junto a todos os ouvintes e homenageando o finzinho do solcarioca, emoldurado num clássico arrebol, sumindo no horizonte.
Ézio, o centroavante do Fluminense que jogava quase sozinho, naquela época de vacas magras tricolores, virava “Super Ézio”, no imaginário criativo e vibrante do mestre da comunicação, porque segundo ele:
– Super-herói é pra isso…
O driblador super veloz Valdeir, que vestindo a lendária e gloriosa camisa do Botafogo, ia desmontando as defesas com a sua velocidade espantosa, foi logo apelidado de “The Flash”, por motivos óbvios.
Sávio, o ponta do Flamengo veloz, driblador e “ensaboado”, era chamado por Januário de “diabo” ou “anjo” louro da Gávea, de qualquer forma que fosse, era uma baita homenagem.
William, o craque baixinho e canhoto do Vasco, segundo Januário, era o pequeno príncipe, herdando a alcunha do seu antecessor e grande craque Geovani, que responsa!
“Tá lá o corpo estendido no chão”, ouvíamos sua voz potente, informando quando um dos jogadores caíam no gramado, sinalizando o prenúncio de mais um carreto que seria executado pelo querido “Mike Tyson” ou Enéas para os mais íntimos, era outro de seus divertidos e famosos bordões.
“Cruel, muito cruel”, o Romário, falava ele a cada gol espetacular do baixinho marrento e bom de bola. Mas cruel mesmo foi ele ter partido, aquela voz maravilhosa e aquela mente prodigiosa, que bolava e nos apresentava amiúde, versões muito mais interessantes de nossos craques do que somente os nomes simples de cada um deles, deixou muita saudade.
Entre tantos bordões o que eu mais gostava, era: “eeeee o gol, tá lá”, afinal de contas, gol é o grande momento do futebol e Januário sabia muito bem disso, que é disso que o povo gosta…
Partiu, mas deixou uma saudade danada em todos nós.
Um forte abraço
Serginho5bocas