O ARTILHEIRO PALMEIRENSE QUE SE TORNOU O MAIOR ÍDOLO DO TORCEDOR DO FLAMENGO
por Victor Kingma
Quando eu morava na fazenda, em Mantiqueira, no início dos anos 60, futebol a gente só ouvia pelo rádio. Até porque, televisão não havia por aquelas bandas.
Na minha casa era muito comum eu, meus irmãos e os amigos nos reunirmos para escutar as partidas, como eu já disse em outro texto, na frequência que o nosso velho e chiador rádio Zenith conseguisse sintonizar primeiro.
Quando não tinha jogo do Flamengo, paixão de toda a família, ficávamos procurando outras partidas para ouvir, principalmente dos Campeonatos Carioca ou Paulista.
Zé da Joaquina, um sujeito boa praça e grande amigo da família, era presença constante nesses dias.
Rubro-negro fanático, de repente assumiu como seu grande ídolo um jogador palmeirense, o atacante Tupãzinho, recém chegado a São Paulo, vindo do Guarany de Bagé.
Isso se deu pelo fato de que toda partida do Palmeiras que o bravo Zé da Joaquina escutava o avante gaúcho sempre marcava seus gols, com seu chute mortal de perna esquerda. Feito exaltado pelos famosos narradores da época.
Foi o bastante para ele, atacante assíduo das peladas locais, assumisse para si o apelido.
A cada gol que fazia saía correndo e gritando alucinado: Tupãzinho!!! Tupãzinho!!!
A molecada do lugar às vezes até deixava de fazer os gols e passava a bola para ele, só pra se divertir com as suas malucas comemorações gritando o nome do atacante palmeirense.
Um dia ele, que dependendo da lua não batia bem das bolas, chegou ao cúmulo de se atirar na lagoa que ficava ao lado do campo para comemorar um gol e quase morreu afogado!
O certo é que fora o Flamengo, time pelo qual era tão fanático que vivia comprando briga com os adversários em dias de derrota rubro-negra, Tupãzinho passou a ser tudo para ele no futebol.
Bem, mais um dia esse amor acabou.
Flamengo e Palmeiras se enfrentavam no Maracanã, pelo torneio Rio-São Paulo, de 1965.
Ouvidos colados no rádio, os flamenguistas, em grande número naquele dia, eram só preocupação com a presença de Zé da Joaquina na torcida.
Afinal, todo jogo do Palmeiras que ele ouvia Tupãzinho jamais deixou de marcar seus gols. Será que isso vai se repetir? – Indagavam apreensivos.
E não deu outra: mal a partida começa e o avante palmeirense recebe um passe de Ademir da Guia, dribla o goleiro Marcial e estufa as redes rubro-negras.
No inicio do segundo tempo, o Flamengo, que perdia por 2 x 1, vai todo para o ataque e tenta o empate, mas, num contra-ataque, o artilheiro palmeirense recebe novo passe de Ademir da Guia e arremata: 3 x 1!
Foi demais para os torcedores rubro-negros!
E mais uma vez o bravo Zé da Joaquina sairia correndo, alucinado.
Desta vez não para comemorar os gols do seu ídolo, mas para fugir da fúria dos torcedores do seu próprio time.
Final do jogo: Palmeiras 4 x 1 Flamengo. Numa das melhores partidas do atacante com a camisa alviverde do Parque Antarctica.
Foi o traumático fim da idolatria do torcedor rubro-negro pelo astro palmeirense e também da carreira do artilheiro Tupãzinho nas peladas do lugar!
Victor Kingma
A PRIMEIRA FINAL BAIANA DO INTERIOR
por André Luiz Pereira Nunes
A decisão do Campeonato Baiano de 2021 já entrou para a história. Com as classificações de Atlético de Alagoinhas, eliminando a Juazeirense, nos pênaltis, e de Bahia de Feira, goleando o Bahia, o interior já sacramentou o 5º título estadual em 117 edições. E a decisão será mesmo longe de Salvador, como manda uma boa final interiorana.
Após a capitulação do Vitória, ainda na primeira fase, chegou a vez do Bahia, que parecia, com a eliminação do rival, ter colocado as duas mãos na taça. Embora tivesse vencido na ida, por 1 x 0, acabou sendo goleado pelo homônimo de Feira de Santana, com um 3 x 0 retumbante na Arena Cajueiro. Desse modo, o sonho do tetra, obtido pela última vez em 1984, foi adiado.
A última final, sem as presenças de Bahia ou Vitória, ocorrera em 1968, quando o Galícia foi o campeão, ficando o Fluminense de Feira de Santana em segundo. Um dos contendores irá disputar a fase principal do Nordestão de 2022, na condição de campeão estadual. As outras duas vagas serão via ranking. O Bahia estará na fase principal e o Vitória disputará uma inédita preliminar. Além disso, tanto Atlético quanto Bahia de Feira já estão assegurados na próxima Copa do Brasil.
Vice-campeão baiano em duas oportunidades, em 1973 e 2020, o Atlético almeja sua primeira conquista. Já o Bahia de Feira, em sua terceira final desde que o atual modelo com semifinal e final foi implantado no estado, tenta o seu segundo título estadual. Lembrando que em 1963 o Fluminense de Feira de Santana foi o campeão estadual e, vice, o Bahia. Em 1969, o Fluminense repetiu o feito, deixando novamente o Bahia em segundo. Somente, em 2006, o Colo Colo, de Ilhéus, protagonizou nova surpresa, batendo o Vitória na finalissima. Em 2011, o Bahia de Feira conquistou o seu único título estadual, vencendo o Vitória.
MARCOLINO, O POSSÍVEL INTRODUTOR DO GOL DE BICICLETA NO BRASIL
por Antonio Carlos Meninéa
A história por trás da “história oficial”.
O primeiro gol de bicicleta que se tem notícia foi do espanhol naturalizado chileno, Ramón Uzaga, em 1914. Quando pensamos em Brasil a primeira imagem que vem na cachola é Leônidas da Silva, o Diamante Negro. Por mais que não seja oficial, ele carrega o título de introdutor do gol de bicicleta no Brasil.
Não tenho certeza se Leônidas já marcava gols de bicicleta nos anos 30, e antes dele, nos anos 20, Petronilho de Brito. Mas é certeza que ambos praticavam a jogada de bicicleta.
Teria sido o Diamante Negro o verdadeiro pai da criança?
Figura 1 Diamante Negro em foto clássica
Após conversar com o amazonense Gaspar Vieira Neto, professor de história, pesquisador e autor de um espetacular livro com mais de 600 páginas intitulado “Memória do Esporte Bretão Caboclo – Os primórdios do futebol no Amazonas de 1903 a 1914”, confesso, fiquei com a pulga atrás da orelha.
O renomado professor afirma que a história reputada como “oficial” pode não ser a real, já que existem profundas pesquisas feitas por três importantíssimos nomes do segmento intelectual/esportivo amazonense, que contestam a paternidade do gol de bicicleta. São eles: O jornalista Carlos Zamith, o antigo cronista esportivo Aessene, e o intelectual amazonense, Almir Diniz.
Os três, que se lançaram de corpo e alma nas pesquisas e resgate histórico, entrevistando dezenas de ex-jogadores, ex-técnicos, jornalistas esportivos, e torcedores que estiveram em vários jogos nos anos 10 e 20, afirmam categoricamente que o primeiro executor das jogadas de bicicleta, bem como autor do primeiro gol desse novo estilo em solo brasileiro, pode sim ter sido, aliás, pode não, foi, o amazonense Marcolino Lopes da Silva, o “Marcolino”.
Figura 2 Marcolino (acervo Gaspar Vieira Neto)
O primeiro gol de “espanholita”, assim era chamado o gol de bicicleta naquela época em Manaus, teria ocorrido entre os anos de 1921/1923. Ainda na década de 20, Marcolino marcaria mais um de bicicleta. Ou seja, antes do Diamante Negro e Petronilho de Brito.
O cronista Aessene foi testemunha ocular do futebol manauara nas décadas de 1910 e 1920, presenciando Marcolino executar algumas vezes a”espanholita”, bicicleta em Manaus, em clara referência ao craque espanhol naturalizado chileno. Em certa ocasião, assinou matéria no Jornal do Comércio para que tal feito nunca mais fosse esquecido.
O monstro sagrado do jornalismo esportivo, Carlos Zamith, colheu inúmeros depoimentos de cronistas, torcedores e colegas jornalistas, que vivenciaram esse espetacular período inicial do gol de bicicleta, sempre publicando a façanha amazonense em sua coluna “baú Velho”, em jornais e livros.
Já o intelectual Almir Diniz publicou, em um jornal de 1953, afirmação relatando que Marcolino, quando jogava no infantil do Nacional, de 1915 a 1919, já executava com frequência a espanholita ou bicicleta.
Para colocar mais lenha na fogueira, existem várias entrevistas a jornais, do próprio autor do feito, Marcolino, falando sobre seus gols de espanholita, inclusive, em uma de suas entrevistas descreve como foi a execução de um deles.
Infelizmente, por ser uma novidade a tal espanholita ou bicicleta, os jornais da época certamente não sabiam como descrever tal gol, limitando-se a dizer gol bonito, belo gol e outros. Uma pena, pois se houvesse uma menção jornalística dizendo gol de espanholita ou até mesmo de bicicleta, termo que acabou pegando nacionalmente, aí sim teríamos a arma do crime.
Figura 3 Ilustração Marcolino dando bicicleta no Parque Amazonense (acervo Gaspar Vieira Neto)
O boleiro amazonense que jogou por muitos anos teve grande destaque pelo Nacional Futebol Clube e seleção amazonense, sendo um dos maiores craques nesse período futebolístico amazônico.
Se tivesse atuado nos grandes centros, Rio de Janeiro ou São Paulo, e não em Manaus, que devido a sua distância e isolamento, tinha dificuldades em levar informação ao restante do país, talvez, o nome de Marcolino reverberasse em todo o território nacional como o pai da bicicleta.
Marcolino Lopes da Silva nasceu em Manaus, em 1904, no bairro dos Tocos (atual bairro de Aparecida), falecendo em Manaus, aos 93 anos, em 1998.
Essa é a história por trás da história oficial.
Afinal, quem é mesmo o pai do Gol de Bicicleta no Brasil?
O GOL DE PLACA DO JOELMIR
por Serginho 5Bocas
Na madrugada de 29 de novembro de 2012, morreu Joelmir Betting, o grande jornalista que facilitava a vida da galera, traduzindo o economês para um português bem mais fácil de digerir, mais e daí, o que esse cara tem a ver com futebol?
No dia 5 de março de 1961, Pelé faz um golaço, driblando cinco zagueiros desde o meio de campo e mais o goleiro do Fluminense Castilho, num jogo entre o Santos e o Fluminense, no Maracanã. O gol foi tão bonito que o homenagearam com uma placa no saguão do estádio. Além disso, no filme “Pelé Eterno”, tentaram reconstruir, sem sucesso, a jogada com o futuro jogador do Fluminense “Toró”. Valeu mais pela tentativa do que pelo resultado, mas tá valendo.
O mais curioso é que, naquele dia, Joelmir Betting ainda repórter do extinto jornal “O Esporte”, testemunhou e materializou o gol, dizendo em “Sampa” que o gol do Pelé era digno de uma placa.
Pronto, a ideia foi comprada e Joelmir encomendou a tal placa e pagou do próprio bolso a mesma, que virou sinônimo de gol espetacular.
Hoje, a placa está exposta no saguão de entrada das tribunas, ao lado do Museu do Maracanã para visitação.
Pelé, muitos anos depois, retribuiu a homenagem dando a Joelmir uma placa com os seguintes dizeres: “Do autor do gol de placa ao autor da placa do gol”.
O PENTATEUCO DE ZICO
por Luis Filipe Chateaubriand
Eis os cinco gols mais bonitos da carreira de Zico:
5) Flamengo jogava contra o Santa Cruz, pela Copa União, em 1987, vencia por 2 x 1, quando há falta na entrada da área, do lado direito. Adivinha quem vai bater? Zico contraria as leis da física, jogando a bola no ângulo esquerdo e decretando 3 x 1 no placar.
4) Brasil e Iugoslávia, amistoso em 1986, às vésperas da Copa do Mundo, Zico pega a bola na intermediária, sai driblando todo mundo e só para dentro do gol, entrou com bola e tudo, um golaço.
3) Jogando no Japão, em 1992, Zico recebe o cruzamento, a bola vem por trás dele, ele vê o goleiro adiantado e, solução genial, usa o calcanhar para encobrir o goleiro – o fantástico gol escorpião.
2) Brasil x Paraguai, em Assumpção, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo em 1985, Zico recebe passe de Leandro na intermediária, puxa a bola de calcanhar para a frente e, na decaída desta, emenda para o gol sem ela quicar no chão. A bola sai rasante, quica na pequena área e “morre” no canto direito da rede.
1) Flamengo e Criciúma, em 1988, Bebeto está na esquerda, próximo à grande área, rola a bola para o meio com extrema categoria… Zico vem na corrida e emenda um balaço, uma cacetada, que entra no ângulo esquerdo do gol catarinense – segundo o próprio Zico, esperou a carreira inteira uma rolada de bola como aquela.
E aí? Lembra outros golaços de Zico? Vamos debater!
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada