O CRAQUE DO ANO DE 1993
por Luis Filipe Chateaubriand
Em 1992, Edmundo fazia a sua primeira temporada como jogador de futebol profissional, jogando pelo Vasco da Gama.
Jogou excepcionalmente bem, e logo se transferiu, por uma pequena fortuna, para o Palmeiras.
Então, em 1993, vestindo a camisa do alviverde imponente, Edmundo jogou ainda mais, jogou de forma assombrosa.
Os jogos do Campeonato Paulista eram transmitidos pela TV Manchete, e Osmar Santos, o narrador, sempre escolhia o “animal” do jogo.
Quando o jogo transmitido era do Palmeiras, quase sempre o “animal” escolhido era Edmundo.
O narrador incorporou isso ao personagem e passou a chamá-lo de “Edmundo, o animal”.
No que foi apoiado pela torcida palmeirense, que repetia em coro que “au, au, au, Edmundo é animal!”.
Naquele ano, o Palmeiras foi campeão paulista, interrompendo uma fila de 17 anos, e, de quebra, foi campeão brasileiro.
O destaque?
O jovem Edmundo, o animal, que fez a diferença e foi, assim, o craque do ano.
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
115 ANOS DE FUNDAÇÃO DO SPORTING CLUBE DE PORTUGAL
por Sergio Rodrigues de Frias e Adílio Jorge Marques, confrades do Grupo Carioca Leonino Amigos do Sporting
No dia em que todos nós comemoramos os 115 anos de fundação do nosso grande Clube, queremos expressar todo o orgulho que sentimos em sermos adeptos, sócios e fãs do Sporting Clube de Portugal, um Clube que tem na sua vocação o compromisso com o desenvolvimento e crescimento do esporte de forma ética, saudável e com muita dignidade desportiva.
Emblema de luz e glórias, leão dourado, rampante e corajoso desde a sua fundação em 1906! Leonino desbravador dos verdes campos da esperança e da alva paz, como alvas eram as intenções desde os seus fundadores em prol do bem para todos os povos.
Listras no escudo que nos remetem à camisola do Clube e às suas muitas conquistas esportivas. Eis, aí, o Sporting Clube de Portugal – palavras escritas por extenso no escudo a representar o povo de Camões e de Fernando Pessoa.
Nessa data especial queremos expressar a nossa gratidão por todos aqueles que de alguma forma impulsionaram a criação do Clube e os seus fundadores, dentre os quais destacamos: José Alfredo Holtreman Roquette (o jovem idealista José Alvalade), José Maria da Ponte e Horta Gavazzo, Alfredo Augusto das Neves Holtreman (o Visconde de Alvalade), Francisco Stromp, António Stromp, Francisco da Ponte e Horta Gavazzo. O nosso agradecimento também a todos os atletas, treinadores, presidentes, diretores, funcionários, sócios, núcleos e claques que ao longo da trajetória desses 115 anos dignificaram e honraram o altaneiro lema “Esforço, Dedicação, Devoção e Glória”, a relembrar o passado de glórias ao nível de quase todos os desportos, somente possíveis graças ao empenho de todos os que estiveram intimamente ligados com o Sporting durante os longos anos da sua existência. Exatamente como planejou José Alvalade: “Queremos que o Sporting seja um grande Clube, tão grande como os maiores da Europa”. E assim o fizeram ao longo dos anos.
Um Clube que possui verdadeiramente o espírito olímpico tendo na sua imensa galeria de troféus que estão no acervo do Museu Sporting, inúmeras conquistas nacionais e internacionais, dentre elas 39 Taças Europeias conquistadas em sete modalidades esportivas distintas, sendo: 1 no Futebol, 20 no Atletismo, 2 no Andebol, 9 no Hóquei em Patins, 2 no Futsal, 2 no Judô, 3 no Goalball.
Atualmente o Sporting mantém viva a chama de seu lema nos corações juvenis e podemos afirmar que “Enquanto houver um infante coração o Sporting será eterno”, pois eterna é a chama dos jovens que têm pela frente toda uma vida. E este é o caso, pois o Sporting Clube de Portugal traz consigo a bandeira dos novos tempos sem abrir mão da tradição lusitana. Clube sempre jovem em suas metas neste novo milênio!
Hoje, dia 1 de julho de 2021, o Grupo Carioca Leonino Amigos do Sporting parabeniza o Sporting Clube de Portugal pelos seus 115 anos de glórias, mais de um século, efeméride de gala para qualquer entidade mundial e desejamos novas grandes conquistas sociais, culturais e esportivas ao nosso amado Clube.
Viva o Sporting Clube de Portugal hoje, amanhã e eternamente! Saudações leoninas!
ATANÁSIO E CABO-FRIO, UMA DUPLA INFERNAL
por Mauricio Marzano
Princípios dos anos 60. O Santos, ou melhor, o Brasil tinha uma dupla de área da pesada, Pelé e Coutinho. O Meridional, ou melhor, a cidade de Lafaiete também tinha uma dupla igualmente pesada, Atanásio e Cabo-Frio. Só que para os lafaietenses e torcedores mais radicais, Atanásio e Cabo-Frio deixavam Pelé e Coutinho no chinelo. Eles eram muito, mas muito melhores, diziam em alto e bom som.
Soube da existência deles pelo entusiasmo do Tio Décio em visita a Belo Horizonte. São dois craques totais, dizia-nos ele, e vou levá-los para vê-los jogar amanhã contra o Sete de Setembro lá no Estádio da Colina de Lourdes. E naquele dia, lá fomos nós – tio Décio, o primo Chico Penna e eu – para vermos Atanásio e Cabo-Frio e acabamos vendo o Meridional ser derrotado pelo Sete de Setembro por 2 a 1, com fraquíssimas atuações da dupla infernal, assim apelidada pela Rádio Carijós de Lafaiete em suas transmissões esportivas. O desastre foi tão grande que culminou com Atanásio perdendo o pênalti que daria o empate para o Meridional e cair ajoelhado na grande área a gritar, desesperado, um chorado e sonoro “puta-que-o-pariu” que atravessou toda a Colina de Lourdes e ecoou por metade de Belo Horizonte. Neste jogo, definitivamente, Atanásio e Cabo-Frio não me pareceram os craques de ouro tão elogiados e descantados pelo Tio Décio. Isto tudo para alegria do primo Chico Penna, torcedor fanático do Guarany e inimigo jurado do Meridional.
Nunca mais soube dos dois craques. Mas os nomes eu não podia esquecer. Porque um nome tão estranho como Cabo-Frio? Diziam que ele tinha vindo daquela cidade a beira-mar para Lafaiete. Será? Quem o teria trazido? Se for verdade, deve ter levado umas duas semanas viajando não sei por que rotas para sair das dunas de Cabo Frio e chegar às montanhas de Lafaiete. Coisa de um quase-bandeirante. O nome, ou melhor, o apelido soava um pouco exótico. Mas não mais exótico do que Kafunga, Garrincha, Tostão, entre outros.
Mas minha dificuldade maior era com o Atanásio. Jogador de futebol quando não tem um apelido imponente, tem que ter um nome adequado. Dario podia ser o Peito-de-Aço ou o rei persa. Leônidas podia ser o Diamante-Negro ou o general grego que preferia lutar à sombra. Mas Atanásio não. Atanásio não é e nem nunca foi nome de jogador de futebol, de rei ou de general. É nome de muitos dos primeiros padres da Igreja, de teólogos renomados, de bispos, patriarcas, santos, etc. Hoje com o Google é só digitar Atanásio e ver a quantidade de homens de Deus que vão aparecer, começando por Santo Atanásio de Alexandria, o homem que apresentou à cristandade o Credo de Nicéia. Embora Nelson Rodrigues, sempre o grande Nelson, tenha comparado Garrincha a São Francisco de Assis, quando de sua expulsão no jogo Brasil e Chile de 62, jogador de futebol, no calor da disputa, é tudo, menos um santo. Um Atanásio, qualquer um que fosse ele, no comando do ataque do Meridional ou de qualquer outro time, sempre me pareceu algo meio herético, meio sacrílego, quase blasfemo. Como um Atanásio, qualquer um, pode por a mão na cabeça, após errar uma jogada, como no caso do pênalti perdido que presenciei, e gritar um “puta-que-o-pariu” do fundo de sua alma? Ou após uma botinada de um beque adversário xingar o adversário com toda a ênfase futebolística chamando-o de um alto e clamoroso “filho-da-puta”. Atanásios são, segundo o Google, pessoas preocupadas em entender as nuances bíblicas, discutir a estrutura do Credo, especular sobre as naturezas de Jesus Cristo e as pessoas da Trindade Santa, conceituar heresias, definir ortodoxias, mas jamais ficar gritando palavrões em público, pois são antes de tudo homens santos e preocupados com a transcendência divina. Mas o Atanásio do Meridional, na sua luta dentro das quatro linhas do tapete verde, parecia querer desfazer esta fama dos bem-aventurados Atanásios que o precederam.
Esta dúvida e o incômodo dela derivado, felizmente, acabaram. Leio no Facebook que alguém viu outro dia o Atanásio, já velhinho, muito compenetrado, assistindo a uma missa na Matriz de Nossa Senhora da Conceição. A mesma fonte atestou que ele estava rezando com o fervor superlativo e a fé inquebrantável normalmente associada aos Atanásios, a qualquer Atanásio, e suas orações vinham carregadas de fé, esperança e amor. A mesma fé e a mesma esperança que o então jovem Atanásio tinha sempre na vitória do Meridional. E o mesmo amor que tinha pela bola e pelo esporte ao qual deu muito de seu suor.
Ou seja, depois de passar pelos gramados, de forma meio heterodoxa para um Atanásio, o nosso Atanásio voltou para a sua vocação natural: compreender a presença de Deus entre as gentes. E rogar por nós, pecadores, na presença divina tão familiar aos Atanásios, pedindo a compreensão dos Céus pelos nossos desvios nos gramados, nas arquibancadas e, principalmente, fora delas, nas ruas e na vida. Este sim, é o grande Atanásio da dupla com Cabo-Frio. E não é mais uma dupla infernal. É uma dupla celestial. Amém.
O VERDADEIRO EPISÓDIO DA LUTA DO VASCO CONTRA O RACISMO
por André Luiz Pereira Nunes
Não é totalmente falsa, tampouco totalmente verdadeira a premissa de que o Vasco, em 1923, encampou uma cruzada contra o racismo no futebol carioca. Em realidade, a luta dos cruzmaltinos foi a favor dos pequenos clubes contra as regras vigentes da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) que impediam que os jogadores exercessem outra atividade que não fosse o futebol. É necessário frisar que o esporte nesse tempo era exercido pela aristocracia. Portanto, a profissionalização ainda não era aceita pelos dirigentes. Consequentemente, essa restrição atingia os mais pobres, notadamente os negros, que precisavam trabalhar em outras atividades para garantir a sobrevivência diária.
Na famosa Assembléia Geral, que culminou com a cisão do futebol carioca, o discurso de Barbosa Júnior, representante do Sport Club Mackenzie, provando o racismo dos clubes grandes, desmoralizou os dissidentes. Como então salvar a situação perante os revoltados desportistas? Durante o encontro, Mário Pólo, do Fluminense, confabulou com Ari Franco, esse mesmo que hoje dá nome ao presídio, e que era representante do Bangu. Ambos se retiraram para uma sala ao lado. Quando retornaram, Mário Pólo pediu a palavra e disse:
“São falsas as insinuações do representante do SC Mackenzie, Barbosa Júnior, declarando que os grandes clubes têm o propósito de afastar os homens de cor da Liga. Agora mesmo o representante do Bangu acaba de aderir ao nosso movimento e se trata de um clube proletário que contém homens de cor.”
Ninguém acreditou nas palavras do representante tricolor, pois antes dos entendimentos com Ari Franco os chamados jogadores de cor do Bangu também estavam na lista negra da Liga. Portanto, em 7 de abril de 1924, o presidente do Vasco, José Augusto Prestes, dirigiu um ofício a Arnaldo Guinle, do Fluminense, declarando com grande elevação e respeito que seu clube não tinha interesse em pertencer à Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), pois acima de tudo colocava a dignidade de seus jogadores, jovens brasileiros, no começo de sua carreira esportiva, campeões da cidade, que com sacrifício e brilho, honraram o pavilhão vascaíno.
Em 1924, a cidade então contou com duas ligas. Pela entidade oficial, a Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT), o Vasco sagrou-se campeão, cabendo a última posição ao Palmeiras. Na entidade dissidente o campeão foi o Fluminense e o último colocado foi o SC Brasil. Essa cisão durou apenas um ano. Em 1925, através da intervenção de Oscar da Costa, diretor do Jornal do Comércio, formou-se a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), constituída por dez clubes: Flamengo (campeão), Fluminense (vice-campeão), Vasco, Botafogo, America, São Cristóvão, Bangu, Sírio e Libanês, Helênico e Brasil.
A atitude do Vasco, assumida pelo presidente José Augusto Prestes, acabou com esse tipo de racismo e outros preconceitos. Em 1924, o Gigante da Colina detinha uma modesta praça de esportes localizada na Rua Morais e Silva, próxima ao Colégio Militar, na Tijuca. No mesmo ano os cruzmaltinos iniciaram a campanha financeira para a construção do estádio de São Januário e, em 1926, foi iniciada a grande praça de esportes, inaugurada no ano seguinte.
DOIS MENINOS
por Claudio Lovato Filho
(Foto: Americo Vermelho)
Um está no gol
O outro chuta
O que está no gol fala alguma coisa
O outro ri alto
As traves e o travessão formam sombras alongadas na areia
Demarcando o território do qual os dois são donos absolutos
É domingo, e os carros deslizam no asfalto da avenida, se amontoam, se provocam
No calçadão, as pessoas vêm e vão, desviam umas da outras
Um casal pede dois cocos no quiosque
Os meninos invertem as posições
O que estava no gol vai chutar
O que estava chutando vai pro gol (de má vontade)
Em volta deles
A cidade é claridade, palavrório e buzina
E o mundo segue em sua cacofonia de beleza e loucura
Esperança e tragédia
Vida e morte
Um chute
E outro
E outro
O menino que está no gol diz alguma coisa
O outro cai na gargalhada, e responde
Então os dois riem
E riem
E riem
E parece que não vão mais parar de rir
Nunca mais
Parece que vão rir para sempre
Até que decidem que é hora de ir embora
Um deles pega a bicicleta
O outro põe a bola debaixo do braço
Vão para casa
Para seus pratos feitos com arroz, feijão, bife e ovo
Cobertos com um pano sobre o fogão
Os dois se vão de bicicleta pela ciclovia
Gritando
Rindo
Rindo alto
Rindo sem parar
Dois meninos
Dois irmãos.