VIVA O NORDESTE
::::::: por Paulo Cezar Caju :::::::
Há um bom tempo venho escrevendo sobre a minha torcida pelos times do Nordeste e a belíssima vitória de 3×2 do Fortaleza sobre o Palmeiras alegrou o meu fim de semana. Alegrou porque há alguns anos esse resultado seria considerado zebra, mas o Fortaleza vem se organizando financeiramente, profissionalizando sua administração e montando times competitivos, agradáveis de assistir.
Nunca escondi que sou fã de Yago Pikachu, desde seus tempos de Paysandu. Para mim, melhor que todos os laterais convocados para a seleção brasileira na Era Tite. O técnico argentino Juan Pablo Vojvoda graças a Deus não integra a lista dos professores retranqueiros e vem nos brindando com excelentes apresentações. Apesar da goleada do Diego Aguirre, do Inter, gostava muito do trabalho do Miguel Ángel Ramírez, demitido precocemente!
Fernando Diniz, do Santos, e Maurício Barbieri, que deu continuidade ao bom trabalho que vem sendo feito no Bragantino, também merecem destaque. São treinadores que tentam fazer algo diferente nessa mesmice que virou nosso futebol. Mas estou em minha fase Nordeste e sabedor disso um amigo me enviou um balanço sobre as Olimpíadas: se fosse um país, a Bahia, contando apenas com atletas das modalidades individuais, estaria em 20º no quadro de medalhas, à frente de países de primeiro mundo, como Suécia, Dinamarca e Espanha.
Salve a Bahia, salve o Nordeste. Mas sou Botafogo e preciso dar uma olhadinha em sua performance. O time conseguiu vencer quatro jogos seguidos e espero que essa boa fase dure até o fim do campeonato! O adversário do fim de semana foi a Ponte Preta e o jogo muito fraco tecnicamente. A câmera focou em Gilson Kleina, técnico da Macaca e penso que deve ser a quinta ou sexta vez que ele volta para o clube. Nosso mercado vive nessa eterna dança das cadeiras, não evolui, dificilmente apresenta uma novidade interessante.
O locutor diz que Chay tem muita intimidade com a bola, a comentarista explica que o Botafogo baixa bem o bloco. Na minha época quem baixava bem o bloco era o Cacique de Ramos e o Bafo da Onça. Ela prossegue com “construção por baixo”. Na minha época isso era obra do Metrô. Segue com “cortador de bola”. Mudou, antes era cortador de grama. E para explicar o gol contra da Ponte Preta emendou com a pérola que fechou a minha noite: “o goleiro é moderno, não fica embaixo da baliza. É bom os zagueiros irem se acostumando com isso”. Nas minhas peladas, o goleirão já sairia berrando “É minha!” ou “Deixa!!!”. Preferi ir dormir a conviver com um jogo ruim analisado a base de caneladas.
O ÚLTIMO ROMÂNTICO
por Zé Roberto Padilha
Se tem um clube que representa a fase mais romântica do nosso futebol, onde o patrocínio não chegou ao peito porque o coração era maior que tudo, esse era o América FC.
Ele foi o mais amador dos nossos clubes profissionais.
Foi desaparecendo em pé, orgulhoso e ferido, na medida em que insistia, diante do dinheiro que o futebol atraía, em ser fiel às suas origens.
Em sua lenta e comovida extinção, despencando de séries e divisões, não teve sócio torcedor, não virou clube empresa, muito menos lhe concederam uma TV América para transmitir seus derradeiros suspiros.
Apenas deixou a aristocracia de Campos Sales, em Vila Isabel, e comprou uma casa de campo, em Edson Passos. Foi seu mais ousado passo.
Era, porém, nobre e curto diante da gula do capital que exigia, no mínimo, um CT.
Seus torcedores, entre eles meu pai, foram diminuindo na medida em que os seus filhos buscavam torcer pelos outros, os chamados grandes, que lhes dessem títulos. Não vivessem da memória.
Uma pena. Quando entrava em campo, a força do vermelho realçava como nenhuma outra o verde do gramado. Era bonito ver essa transfusão de sangue ocorrer na abertura do espetáculo lá das arquibancadas.
Em campo, antes de deixar o quarto e ser levado ao CTI, o País era sua grande muralha. Alex, o guardião da zaga que Badeco protegia como ninguém. Bráulio dava brilho às jogadas e Eduzinho produzia a genialidade que cabia a todo camisa 10 da fase mais bonita do nosso futebol. E Luizinho balançava as redes adversárias.
Em 1974, ganhou do Fluminense a Taça Guanabara. Foi pouco, diante de uma federação que foi perdendo a vergonha, uma CBF sem escrúpulos e uma Fifa fria, corrupta e calculista.
O América, mesmo perdendo seu brilho no cenário esportivo nacional, jamais deixou de vestir seu terno de linho, colocar uma flor na lapela e sair a convidar sua amada, a bola, para jantar à luz de velas.
Sucumbiu de cabeça em pé, sem dar um só carrinho na sua impecavel história, deixando em todos nós, apaixonados pelo futebol, uma saudade danada dos tempos em que Dondon jogava no Andaraí.
A vida, e o futebol, era mais bonito de se ver.
O TEMPO NÃO PARA
por Eliezer Cunha
Mais uma vez chegamos às vésperas de uma Copa do Mundo sem apresentar os elementos básicos para almejarmos chances de conquistarmos o sonhado caneco, como diziam nossos saudosos jogadores do passado. Fato este explicitamente evidenciado durante a nossa participação na recente e limitada Copa América. Finalizamos esta competição com uma participação extremamente fútil e lamentável frente aos fracos “Los Hermanos”?
Distantes praticamente a 1 ano da maior competição futebolística do esporte, acordamos e nos deparamos com um time desorganizado em todos os sentidos, técnica e taticamente. Sabemos que para vencer uma competição deste nível, tínhamos que já estar preparados e se concordam comigo a tática pode substituir a técnica, ou vice-versa. Mas notoriamente não temos nenhuma, nem outra, quem dirá as duas juntas.
Mas o que temos então: um treinador perdido e inoperante taticamente, jogadores absurdamente voláteis e inconsistentes tecnicamente e, uma instituição desorganizada e confusa, ou seja, um país totalmente sem esperanças.
Quando voltaremos a colorir as ruas de verde e amarelo? Pintar nossos muros com as caricaturas de nossos jogadores? Ou ter uma nova canção de esperança cantada entre as vielas e ruas deste país, voando como o canarinho ou deixando a vida nos levar.
Será que nossa ressurreição ainda surgirá das cinzas de alguns jogadores? Ou será que alguma semente ainda não plantada nos dará os frutos necessários dentro das quatro linhas? Ou quem sabe teremos algum novo comandante que saberá juntar os cacos restantes formando uma bela aquarela.
Acho que a nossa única certeza e a que nos resta no momento é se preparar para o pior, pois como disse o nosso poeta imprevisível “O tempo não para”.
TORCIDA: PAIXÃO QUE NÃO SE EXPLICA
por Rodrigo Melo Silva
Qual o momento mais sublime do futebol? Gol aos 45 minutos do segundo tempo, drible desconcertante no adversário, defender um pênalti ou levantar uma taça de campeão. Realmente, os fatos são marcantes para os amantes do futebol e acaba ficando difícil de escolher somente uma alternativa, mas com certeza esses momentos ficam mais doces ao lado de quem mais te ama: o torcedor!
Desde criança, você cultiva sentimentos dos mais diversos por uma determinada agremiação: alegria, tristeza, amor, raiva, felicidade, frustração, ansiedade, exaltação e entre outras sensações/reações. Com isso, acaba se tornado algo inexplicável esse mistura de efeitos durante os 90 minutos e podendo encontrar dificuldade em explicar para alguém que não gosta de futebol como centenas de pessoas se mobilizam em torno de 22 pessoas correndo atrás bola que tem como objetivo marcar um gol na baliza adversária.
Por vezes, me deparo com a reflexão: Qual o motivo para torcer para um determinado clube de futebol? Ou como eu explicaria para alguém que não gosta de futebol passar a torcer? Segundo o dicionário, a palavra “torcedor” tem como definição: diz ou aparelho para torcer algo. No entanto, não está nos verbetes traduzir ou reproduzir a emoção colocada naquele grito de gol e fica engraçado que não consegui achar as palavras para definir ao certo o sentimento e a expressão de ser amante do esporte mais praticado do Brasil.
Podemos acompanhar a transformação dos frequentadores das arquibancadas devido alguns fatores como, por exemplo, a modernização e construção de estádios com padrão elevado. A consequência disso foi o encarecimento dos valores do ingresso, excluindo os torcedores com menor poder aquisitivo. No entanto, vejo que o tão falado “Combate ao futebol moderno” ou “Não ao futebol moderno” não se restringe somente a questão de dar acesso a todos os torcedores, mas aplicar o debate sobre assuntos inerentes a sociedade e não ficando à margem porque o futebol possui grande representação na cultura popular brasileira.
Em tempos adversos como passamos devido a pandemia do Coronavírus no mundo, naturalmente a alternativa mais correta são os estádios sem torcida para evitar a contaminação das pessoas. Mas com o avançar da vacinação contra a Covid-19 logo poderemos voltar a frequentar as arquibancadas.
OBRIGADO, DIEGO
por Zé Roberto Padilha
Em nome de todos os jogadores de futebol, gostaria de lhe agradecer por ser responsável, ao lado do Nenê, pelo recente aumento da expectativa de vida de um atleta profissional.
Quando completei 34 anos, então jogador do Bonsucesso FC, disputando o estadual da primeira divisão carioca e literalmente “voando”, não havia um só comentarista que não depreciasse nossa apresentação.
– Mas ainda é aquele Zé Roberto, do Fluminense e do Flamengo? Veterano, hein! Ou seria seu filho? – ironizava.
Aí vinha o redator do caderno de esporte e, mesmo com o Motoradio nas mãos após empatarmos com o Fluminense, e abria os comentários assim:
– Apesar da idade, esteve bem…
34 anos. Em qualquer profissão, um estagiário. Na nossa, veterano.
Tudo porque os craques que nos precederam não tiveram uma nutricionista em seu clube. Um psicólogo para amenizar conflitos internos pós derrotas, e consciência profissional para evitar ir para o “bagaço”.
O campo era ruim, bola pesada, chuteira com travas que furava a sola dos pés, uniformes que pesavam 100 kg quando chovia. Pouca coisa contribuía para ir um pouco além.
Fisioterapeuta não existia, fisiatra só nos sonhos e artroscopia nenhum médico de clube dominava sua execução. E os joelhos eram operados a céu aberto.
Chegar jogando em alto nível após os trinta anos era tarefa para poucos. E como você precisa dos 35 anos para se aposentar, como toda profissão, mais cedo era jogado no mercado de trabalho em busca de algum ofício que ninguém se preocupou em lhe preparar.
Aí surge você, no Flamengo, contrariando todos os prognósticos e aos 36 anos realiza, contra o Corinthians, uma exibição de almanaque.
Como segundo homem do meio campo, deu o equilíbrio que toda equipe precisa quando não se erram passes e a bola gruda na chuteira.
Uma atuação impecável que mostra o quanto você se cuida e dá exemplos para as novas gerações.
Como toda profissão, quanto mais você pratica, mais aprende. No futebol não é diferente.
O que sobrava era preconceito. O que faltava eram Diegos.
Parabéns!