TÍTULOS CARIOCAS ESQUECIDOS AGUARDAM RECONHECIMENTO POR PARTE DA FEDERAÇÃO
por André Luiz Pereira Nunes
.Engenho de Dentro mantém suas atividades no futsal carioca.
A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ), na figura máxima de seu presidente, Dr. Rubens Lopes da Costa Filho, precisa ajustar as contas com a história do futebol carioca. Trata-se de uma questão urgente e necessária. Essa medida, por exemplo, já foi feita de maneira assertiva pela Federação Paulista de Futebol (FPF).
Em 1937, o São Cristóvão se sagrou campeão carioca pela Federação Metropolitana de Desportos (FMD). Esse título até hoje não foi reconhecido oficialmente por parte da Federação e, à pedido do Clube Cadete, elaboramos um dossiê, contendo documentos comprobatórios e provas irrefutáveis acerca dessa legitimidade. Para ajustar as contas com o passado, a entidade que rege o futebol fluminense precisa reconhecer e legitimar essa conquista.
Outro caso emblemático e, não menos importante, é o do Engenho de Dentro, campeão carioca, em 1925, pela Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT). Apesar de não estar mais filiada, a agremiação suburbana do saudoso Mário Calderaro ainda mantém ativa a sua sede social, participando de torneios de futsal.
Prova da homologação do título carioca do São Cristóvão pela FMD
Graças a Marcelo e Ricardo Araújo, filhos do presidente Domingos, falecido em 2019, o Engenho de Dentro se encontra no rol dos clubes centenários. De acordo com eles, tudo seria mais fácil se o reconhecimento oficial da conquista do Campeonato Carioca, de 1925, e o da Subliga, de 1935, este último equivalente à segunda divisão, fossem, de fato, homologados.
— O Vasco é reconhecido por ter ganho o mesmo campeonato um ano antes. Há um campeão carioca em Engenho de Dentro que agoniza — lamentou Marcelo em entrevista recente ao jornal O Globo.
A FFERJ, até hoje, só reconheceu os certames realizados pela Liga Metropolitana entre 1917 e 1924 como legítimos Campeonatos Cariocas. De acordo com esse critério, quando o Vasco, o último grande, foi aceito na Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), as competições da LMDT passaram a ser estaduais não reconhecidos. Essa mera conveniência claramente não atende às demandas históricas.
Existem, portanto, sete campeões cariocas “esquecidos” e não reconhecidos: o mencionado Engenho de Dentro A.C, em 1925, o Modesto F.C., de Quintino, em 1926 e 1927, o S.C. América, de Lins de Vasconcelos, em 1928 e 1929, o Sportivo Santa Cruz, em 1930, o Oriente A.C., em 1931, e o S.C. Boa Vista, da Tijuca, em 1932, todos pela LMDT, além do São Cristóvão, em 1937, pela FMD.
Plantel do São Cristóvão, campeão carioca em 1937 pela FMD.
As nove edições do Campeonato Carioca, que são completamente ignoradas, foram disputadas entre 1925 e 1932, na época do amadorismo, e em 1937, no caso específico do São Cristóvão, já na era profissional.
Infelizmente, dada a impossibilidade desses clubes clamarem por algo, à exceção do Engenho de Dentro e do São Cristóvão, pois todos foram extintos ou estão inativos, resta aos pesquisadores, jornalistas, historiadores e amantes do futebol requererem que a Federação faça as pazes com o passado do futebol carioca. A homologação dos títulos esquecidos é uma necessidade de ajuste com a história e com os feitos desses times.
HAJA PACIÊNCIA
:::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::::
Talvez a letra “Paciência”, de Lenine, seja a que mais retrate esse longo período de pandemia enfrentado por todos nós. Um dos trechos diz: “enquanto todo mundo espera a cura do mal e a loucura finge que isso tudo é normal eu finjo ter paciência”. E é exatamente isso. Nessa última semana tive que buscar forças, o equilíbrio mental, para suportar as notícias sobre as internações de três amigos, praticamente irmãos, Marco Antônio e Jairzinho, parceiros de Copa 70, e meu compadre Búfalo Gil, da Máquina Tricolor. Todos vacinados, “protegidos” pela segunda dose, mas ainda não é o suficiente porque surgiu a variante Delta e sabe-se lá quantas outras surgirão.
“Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma, até quando o corpo pede um pouco mais de alma, a vida não para”. Sigo com a máscara e rezando por dias melhores. O futebol sempre distrai e é o meu companheiro de todas as horas. Assisti poucas partidas nos últimos dias, mas fui premiado pela belíssima vitória de 5×0 do Manchester City sobre o Arsenal. Sou fã do Manchester e do Guardiola, já falei mil vezes. Soube que o meu Botafogo venceu o Coritiba e o Vasco a Ponte Preta. Será que sobem?
Como se não bastasse esse vírus maldito ainda ter que aturar esses analistas de computador comentando é osso duro de roer. Nesse fim de semana, ouvi que o jogador driblou por dentro e saiu na contramão! Inter e Atlético-GO protagonizaram um show de horror, com mais de oitenta passes errados. Que vergonha! Assisti também Bragantino x Galo e ouvi que o time de Bragança tem a virtude de alargar o campo! É cada uma! O Bragantino é um de meus candidatos azarões ao título, o outro é o Fortaleza.
Decidi que vou torcer para tudo que surpreenda e nos tire desse marasmo futebolístico. O locutor diz que Hulk está de volta à seleção. Verde não deu certo, será que amadureceu? Diego Costa foi resgatado pelo Atlético e já já vira Rei em nossas terras, afinal todos que não deram certo na Europa, ou já deram o que tinham que dar por lá, dão as cartas por aqui. A verdade é que o nosso futebol segue descendo ladeira abaixo e até mesmo a turma da praia parou no tempo. Quem diria, perdemos para Suíça e Senegal. No vôlei, nas Olimpíadas, já havia sido assim e vimos a banda passar.
Ah, PC, mas os outros países evoluíram! Tá bom, e nós vamos continuar chupando dedo. No sofá, sozinho e pensando em meus amigos internados, vejo Savarino driblar um monte de gente. Ele é abusado! Me lembrei de Osni, Katinha, Manoel Maria, Edu, Eduardo, Joãozinho, Rogério, Cafuringa e Nilton Batata, nossos pontinhas do passado. Só falta o estádio cheio para exaltá-los. Na verdade, falta muita coisa. “Será que é tempo que lhe falta pra perceber? Será que temos esse tempo pra perder? E quem quer saber? A vida é tão rara. Tão rara”. Salve, Lenine! Salve a arte!
O DIA EM QUE DEIXEI DE SER TRICOLOR
por Zé Roberto Padilha
O telefone tocou das Laranjeiras. Quando isso acontece lá em casa, e não foram poucas às vezes, quem atende é o coração. De minha parte. E ele engole a razão, que vem da patroa, dos filhos e de quem mais tenha juízo.
Daqueles que sabem que não pagamos nossas contas com sonhos e idealismo. Mas com dinheiro.
Do outro lado da linha, Edinho, que assumia os profissionais do Fluminense, convidou-me para reassumir o juniores e ser seu auxiliar técnico nas finais contra o Vasco, pelo título do estadual carioca de 1993.
Após trabalhar em Xerém, nas divisões de base entre 1987 e 1991, voltara a Três Rios para ajudar na formação profissional das nossas equipes amadoras: o América FC e o Entrerriense FC.
Com a ajuda do supervisor tricolor, Paulo Alvarenga, estrutruramos os dois clubes, o Fluminense nos emprestou oito jogadores e ambos disputaram a primeira divisão em 1992. Algo inimaginável nos dias de hoje.
Mesmo assim, após uma derrota, fui demitido quando treinava o América. Depois disso, trabalhei na Distribuidora Brahma, com carteira assinada e sem depender de resultados para ter direito à estabilidade. E quando as contas se equilibraram, minha paixão falou mais alto e fui para uma nova aventura no futebol.
Parti debaixo de ressalvas coletivas. Nossos parentes sabem mais desse mundo sórdido do que nós, jogadores, treinadores, que somos reféns dessa cachaça. E das ressacas que nos provocam.
Ao mesmo tempo que disputava os dois jogos decisivos contra o Vasco, Edinho anunciava a imprensa que recebera uma proposta irrecusável do Marítimo, de Portugal, e que indicara meu nome para substituí-lo.
Todos os jornais estamparam minha foto como seu sucessor e o presidente do clube, Arnaldo Santiago, nem se manisfetara a respeito.
Tinha um Fiat Uno, mas na semana decisiva, conhecendo de onde buscam “valores” para ocupar o cargo, pedi emprestado o Santana zerado da minha irmã, que era o top de linha. Chegando com ele, não fiz feio diante do carro importado do Super Ézio.
O Vasco foi campeão e Edinho se despediu do clube e bateu nas minhas costas no vestiário:
– Agora é com você, amigo!
Sem ser anunciado oficialmente, perguntei ao supervisor dos profissionais, Roberto Alvarenga:
– O que faço?
Roberto disse: vem cedo dar o treino normalmente. Alguém precisa estar aqui. Fui pro hotel e nem dormi pensando na minha possível estreia no domingo, contra o Palmeiras, pelo Torneio Rio São Paulo.
Todos que nos antecederam no cargo, como Gilson Gênio, Rubens Galaxe, Sebastião Rocha, Gama, tiveram essa interinidade. Ocuparam a cadeira enquanto um Dorival Junior, Cuca, Celso Roth… vocês sabem!.
Cheguei cedinho ao clube e uma leva de jornalistas passou por mim. “Oi, Zé!” Tinha algo errado. Não era eu, caso contrário me cercariam. Ximbica, o roupeiro amigo, oito anos de clube como a gente, me chamou no canto do vestiário para nos consolar.
– O Nelsinho Rosa é muito amigo do Presidente! – disse.
– Mas por que não o anunciou? Deixou no ar meu nome, meus sonhos…
Enfim, fiz a viagem de volta mais triste da minha vid, mas ela era só aperitivo. Quando cheguei, Paulo Alvarenga ligou do Flu.
– Já soube, não é?
Eu respondi:
– Sim, mas ainda temos chances, afinal sou o treinador do juniores!
Ele retrucou:
– Não é mais. Nelsinho indicou o filho para treinar o junior. Você foi demitido!
Sabe aquele dia que você olha do alto da ponte e agradece o privilégio de ter tido os pais, tios, professores e avós que tive, nos ensinando o valor da vida?
Do Paulo Matheus, nosso psicólogo, que diz que precisamos ser os protagonistas da nossa própria história?
Pois é. A vida continuou. Foi apenas um dia em que deixei de ser tricolor por causa de uma gestão covarde, incapaz de assumir suas preferências à luz do dia. E que não estava à altura de dirigir nosso clube como eu estava preparado, naquela ocasião, para dirigir o Fluminense.
Era apenas uma gestão. O clube, e eu, somos maiores do que ela. E sobrevivemos.
O CRAQUE DO BRASIL EM 1997
por Luis Filipe Chateaubriand
Em 1997, o melhor jogador do Brasil foi Edmundo.
Edmundo que fazia gol atrás de gol.
Edmundo que driblava como gente grande.
Edmundo que passava a bola com perfeição.
Edmundo que fazia tabelas e triangulações geniais.
Edmundo que executava lançamentos com maestria.
Edmundo que liderava o time do Vasco da Gama com soberba capacidade.
Pensando bem, Edmundo não foi o melhor jogador do Brasil de 1997.
Edmundo foi o melhor jogador do mundo de 1997.
E estamos conversados!
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
UM MENINO E UMA VIDA DE 107 ANOS
por Marcelo Mendez
Na minha vida de menino, teve uma vez que saí do Morumbi triste depois de uma partida insólita em que o Palmeiras não venceu a Inter de Limeira. Chorei, mas não tive dúvida:
Eu sou Palmeirense. Sempre com P maiúsculo.
Sou porque foi na miséria ludopédica plena que esse amor se consolidou. Amor de Trapo e Farrapo, minha bandeira de guerra, meu pé de briga na terra, meu direito de ser gente, como cantou Paulo Vanzolini. O Palmeiras é isso na minha vida:
“Meu direito de ser gente”.
Pelo Palmeiras eu vivi tudo; eu ri, chorei, xinguei, amei, odiei… Vivi a plenitude da existência e entendi que isso faz parte não só do esporte, mas da vida. Por isso, mais do que qualquer outro vivente do mundo, eu sei o gosto bom de ser Palmeirense.
Sei pelo paradoxo disso tudo, do contrário que pode acontecer, ou seja; sei por que não preciso de nada… de mais nada além da paixão, para me sentir feliz pelo meu verde.
Sei, porque o Palmeiras é muito mais do que um clube de futebol para mim.
Sei por entender há muito tempo que o Palmeiras é um pouco de tudo que há no futebol e na vida. O Palmeiras é um drama, como na Cavaleria Rusticana, o Palmeiras é um sonho como num filme de Akira Kurosawa, o Palmeiras é uma tragédia como Carmen de Bizet, o Palmeiras é lindo como a Nona Sinfonia de Beethoven, como a peça Jesus Alegria Dos Homens de Bach, é triste como o fim do primeiro namoro. É pleno como a fúria de uma paixão.
Hoje, no dia do aniversário do Palmeiras, com tudo que vem acontecendo nesse ano, fiquei a pensar nisso tudo que vivemos, nessa nossa relação, na coisa de não ser mais menino, mas aí cheguei à conclusão de que não, nunca vai rolar de eu deixar de ver o Palmeiras com os olhos de menino. É impossível.
Nada na vida do homem de seus 49 anos, escritor, jornalista, fã do Lou Reed, do Truffaut e do João do Vale, estará dissociado do menino Palmeirense dos anos 70. Tudo que faço, tudo que sinto, tudo que eu sou, vem do menino. O jeito latino, a malandragem do bem, o gosto pela poesia, a incessante disposição na busca por encanto, o Palmeiras…
Tudo é o menino.
Tudo é festa. Afinal são 107 anos. No teu aniversário Palmeiras, mais do que parabéns eu te agradeço por tudo que vivemos juntos, por tudo que vamos seguir vivendo.
Muito obrigado por cada um dos seus 107 anos, Palmeiras!
Palmeiras…