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NEM SEMPRE ZICO ACERTA

por Luis Filipe Chateaubriand

Este signatário é um grande admirador de Arthur Antunes Coimbra, o Zico. Mas não concorda com tudo que ele diz.

Em um evento em Campinas, há poucos dias, o “Galinho” afirmou que o principal problema do futebol brasileiro era o excesso de jogadores estrangeiros atuando no país.

Curioso que, quando foi jogar na Itália para ganhar muito dinheiro, não reclamou.
Curioso que, quando foi jogar no Japão para ganhar muito dinheiro, não reclamou.

Na América do Sul, a economia brasileira é muito forte. Apenas as economias uruguaia e chilena são comparáveis. Assim, é natural que os clubes brasileiros busquem jogadores sul-americanos, pagando preços acessíveis e oferecendo salários competitivos. Trata-se de uma boa relação custo-benefício, indubitavelmente.

Além disso, Zico tem razão ao dizer que os bons jogadores formados na base não são mais aproveitados, mas por outro motivo. Os clubes continuam formando talentos, porém, os melhores são transferidos para o futebol europeu cada vez mais jovens, desfalcando os times brasileiros.

Os “gringos” que jogam aqui não são culpados…

Por fim, o futebol inglês é um exemplo claro de que a grande quantidade de jogadores estrangeiros melhora o nível do jogo local. As seleções inglesas, em diversas categorias, têm elevado seu desempenho.

Zico precisa se convencer de que, entre os inúmeros problemas do nosso futebol, a presença de jogadores estrangeiros não é, nem de longe, o maior.

Problemas sérios são o calendário e a disfuncionalidade da liga, nessa ordem.

O resto é “conversa para boi dormir”.

FLA X FLU: ONDE A CORUJA DORME

por Paulo-Roberto Andel

Num campeonato vapt-vupt que poderia ter sido muito melhor se houvesse vontade política, chega a hora do capítulo final em dois episódios, nesta quarta e no próximo domingo: a grande decisão. E como de praxe nos últimos anos, vai ter Fla x Flu.

É curiosa essa repetição de finais com o clássico imortal, até porque ela sucede uma seca: desde o apoteótico título do Centenário em 1995, que o mundo inteiro conhece por “gol de barriga”, uma nova decisão entre Flamengo e Fluminense só voltou a acontecer 22 anos depois, em 2017.

Então é isso: lá vem o Fla x Flu cheio de histórias, lembranças e referências. O jogo que nunca termina, a paixão que se renova há mais de um século, o clássico que é o maior do Brasil por se distinguir de todos os outros num detalhe de nascença: nenhum outro clube do país tem a relação umbilical que o Flamengo tem com o Fluminense. O adversário que é mais do que um rival, mas um membro da mesma família, que compartilha a mesma mesa. Uma história tão fascinante que só um gênio como o tricolor Nelson Rodrigues poderia defini-los: os irmãos Karamazov do futebol brasileiro, baseado no romance de Dostoiévski que, para ninguém menos do que Sigmund Freud, é o maior romance de toda a história.

Como quase sempre acontece, boa parte da imprensa esportiva crava o Flamengo como favorito, o que muitas vezes já foi bom para o Fluminense, que predomina nas decisões de títulos. Mas a verdade é que, independentemente de elencos e craques, os dois times entram em campo com quase 113 anos de história nas costas. É claro que a qualidade técnica conta, mas ela não é a única variável na decisão de um campeonato. E no Fla x Flu tudo pode acontecer, de jogadas espetaculares a gols no último minuto e até de barriga, desde os tempos das ruas Guanabara e Paissandu, passando pelo 1941 na Gávea e desaguando no terreiro imortal do Maracanã.

E tome Barthô, Valido, Domingos da Guia, Batatais, Dida, Didi, Castilho, Evaristo, Gerson, Waldo e mais dezenas e de nomes que escreveram a história do Fla x Flu. Tome Edinho, Pintinho e Rivellino contra Júnior, Zico e Tita. Nunes fez gols pros dois lados, Cláudio Adão também, Renato Gaúcho também, mas… deixa pra lá.

A cidade vai parar. O Rio vai ficar de olhos arregalados. Nos camarotes do céu, Adílio vai abraçar Assis e Washington, Cláudio Coutinho vai rir com Seu Pinheiro e muita gente boa vai lembrar os melhores anos de suas vidas na Terra. Aqui embaixo nós, pobres mortais, ficaremos de olhos e ouvidos atentos ao jogo que, de tão rico em história, nasceu 40 minutos antes do nada.

Na arquibancada a gente já sabe: nós de um lado, eles do outro. A gente sabe do que eles são capazes e a recíproca é verdadeira. Tem muito grito, canto e celebração, mas em alguns momentos vai ter até silêncio, típico de adversários que pavimentaram o futebol brasileiro e sabem do respeito que merecem.

Dois times, um roteiro de cinema e a briga pelo título: somente um vencerá. O que tiver de ser, será. Mas aí é a hora de me intrometer como parte minúscula dessa história: o Flamengo é um gigante, mas na hora da decisão o Fluminense vira Mike Tyson e Muhammad Ali numa só pessoa. Por isso, com todo respeito ao adversário, eu confio no que meu coração tem visto há mais de meio século. Portanto, dá Flu. E se não der, azar dos fatos.

Que venha a grande decisão! Viva o Fla x Flu!

@p.r.andel

A MAGIA DO FLA-FLU

por Marcos Vinicius Cabral

Pode ser que o Gre-Nal seja o clássico de maior rivalidade no futebol brasileiro. Talvez o Ba-Vi, o mais apimentado. Grandes são as chances do clássico mineiro entre Atlético e Cruzeiro arrastar multidões aos estádios e o Derby Paulista mexer com as emoções afloradas de torcedores apaixonados. Pode ser.

A única confirmação que tenho, desculpem-me os paulistas, os mineiros, os gaúchos e os baianos, é que nada se compara ao Fla-Flu. Incomparável a ponto de Nelson Rodrigues (1912-1980) dizer que o confronto “surgiu quarenta minutos antes do nada.”

Fla-Flu de sonhos e pesadelos. De paixão e ódio. De heróis improváveis e de gols inesquecíveis. Fla-Flu foi, é, e sempre será o maior clássico do futebol brasileiro.

Fla-Flu que, naquele domingo, 7 de julho de 1912, na Rua Guanabara, nas Laranjeiras, deu início ao que chamamos de “rivalidade” e que vai completar 113 anos neste 2025.

Fla-Flu de jogos históricos. De craques como Carlos Alberto Torres, Edinho, Rivellino e Paulo Cézar Caju, lá. De Leandro, Junior, Andrade e Tita, cá.

E cá entre nós: Fla-Flu dos ídolos, dos mais conhecidos aos menos falados.

Fla-Flu de Zico, maior artilheiro da história do clássico em competições oficiais, com 14 gols marcados entre 1974 e 1989. De Hércules pelo Tricolor, que fez 14, ou do inglês Henry Welfare (1888-1966), o estrangeiro com mais gols no duelo: sete!

Fla-Flu, ah, Fla-Flu… mil vezes Fla-Flus! Jogo que me fez chorar em dezembro de 1989, quando Zico – sempre ele! – no Estádio Municipal de Juiz de Fora, pelo Campeonato Brasileiro, mandou na gaveta de Ricardo Pinto naquele 5 a 0.

E me fez sorrir, três anos antes. Era estreia de Sócrates pelo Flamengo, e Zico ouvia a torcida tricolor gritar “Bichado!, Bichado!, Bichado!”, na arquibancada do Maracanã. O resultado foi um hat-trick do Galinho. Bebeto fechou a goleada. O Magrão sorriu também.

Seria preciso um texto inteiro para citar todos os Fla-Flus inesquecíveis na minha vida. Nele, lágrimas de alegria como no gol de Leandro marcado aos 45 minutos, em 85. E no Fla-Flu do final do Carioca, em 91, aula de Junior. Mas teve lágrimas de tristeza, pelos gols de Assis em 83 e 84.

Mas seria necessário escrever tanto para tanta gente boa de bola. Escrever sobre os Adrianos, Assis, Castilhos, Didas, Ézios, Gersons, Pinheiros, Renatos Gaúchos, Romários, Zagallos e demais craques que ajudaram a escrever essa história.

Fla-Flu da Máquina Tricolor de um lado, que dominou o futebol carioca na década de 1970. Do outro, o Fla-Flu de Zico e companhia que levaram o Mais Querido ao topo do mundo, em 1981.

Fla-Flu que não faltaram confrontos memoráveis. Um deles é o mítico Fla-Flu da Lagoa de 41. Outro é o inesquecível gol de barriga de Renato Gaúcho no centenário do Flamengo. Um mais recente que me veio à mente é o da intervenção do “Sobrenatural de Almeida” no pênalti cobrado por Cássio na final da Taça Guanabara de 2001.

A história do clássico continua a ser escrita, ano a ano, em uma rivalidade mais que centenária, que começou 40 minutos antes do nada.

COM QUEM MESMO ELE PASSARIA O CARNAVAL?

por Zé Roberto Padilha

A diretoria do Santos sabia do tamanho da repercussão que a contratação do Neymar ocasionaria. A mídia, em peso, virou seus refletores para lá. Foi um tremendo sucesso.

Aí ele volta, joga duas ou três partidas, e sente um desconforto contra o Bragantino. Uma semana antes das semifinais contra o Corinthians.

Todos nós sabíamos que quem tem tudo o que o mundo tem para oferecer, e vender, não suportaria ficar em repouso. Sua fortuna o levaria para Mônaco, Paris ou até a Marquês de Sapucaí.

Permanecer em sua mansão para ficar em tratamento para estar à disposição do treinador? Apenas nos seus sonhos de menino. Não na realidade de um superstar.

O Neymar que saiu do Santos, ficaria concentrado, ao lado do Gil, se preparando para mostrar todo o seu valor. Já o Neymar que volta ao Santos, bilionário, este jamais colocaria a profissão à frente da diversão.

E ele foi até o Desfile das Escolas de Samba para fortalecer a lesão. Não descansá-la.

Neymar, óbvio, não conseguiu jogar. Ficou no banco. O Departamento Médico recomendou cautela, sob pena de perder o jogador pela temporada.

E o Corinthians venceu por 2×1. Alguma novidade?

NEYMAR E A FALTA DE PROFISSIONALISMO

por Luis Filipe Chateaubriand

Eis que Neymar estava com uma contusão relativamente preocupante. Era aconselhável que descansasse no Carnaval para se recuperar e enfrentar o Corinthians.

Qual o quê!

Nosso craque optou por ir à Marquês de Sapucaí, interagir com os desfiles das escolas de samba. Agravou a contusão, não jogou contra o Corinthians, e o Santos foi eliminado do Campeonato Paulista.

Como diria minha falecida sogra: novidade…

Desde 2016, quando fez seu “canto do cisne” em exibição espetacular na final do futebol nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, Neymar nunca mais foi o mesmo.

Farras, bebida, mulher, cruzeiros e muito, mas muito poker, foram a tônica. Nosso craque passou a dormir muito tarde e a ter poucas horas de sono. Assim, foi enfraquecendo seu sistema imunológico.

As contusões se tornaram cada vez mais frequentes e cada vez mais graves. E suas atuações em campo, cada vez mais raras e cada vez mais pífias.

Em forma, Neymar seria tecnicamente melhor que Cristiano Ronaldo. Sem forma, não é comparável, em nenhuma hipótese, ao português.

Há quase dez anos, Neymar desperdiça seu incrível talento com falta de profissionalismo.

E, como diria meu amigo Sergio Pugliese: estamos conversados!