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COMO NÓS PRECISAMOS DE HERÓIS

por Zé Roberto Padilha


A culpa foi do Fantasma, do Mandrake, do Super-Homem e quem mais, durante nossa adolescência, fizesse justiça nas bancas de jornais com as próprias mãos.

Se tinha um cara no colégio que jogava mais do que a gente, outro que disputava a morena mais bonita da sala e o Alcendino, que insistia em tirar as notas mais altas, encontrávamos naquelas páginas os atos de heroísmo que não alcançávamos.

Crescemos assim, trocando de objetivos, ideais e jogando nas costas do Flávio, o Minuano, os gols que nos fariam, como torcedores do Fluminense, mais felizes e campeões cariocas.

Não parou aí. Emerson Fittipaldi, seguíamos pelas Quatro Rodas. O Rei Pelé, pelo Placar, e Michael Jordan num cantinho em que o O Globo reservava para acompanhar o esporte pelo mundo.

Pouco sabiam que um pódio, um gol e uma cesta de três pontos influenciariam o humor e a autoestima na vida de um distante morador de Três Rios.

Hoje, sou uma velha raposa que, num domingo à tarde, ainda liga a TV à procura de atos de heroísmo. Fred, o meu de carteirinha, estava entregue à garra dos baianos na Fonte Nova, mas foi no Gremio que fechei com aquele que tornaria minha tarde mais justa.

Ele se chama Diego Souza. Quase rebaixados, os tricolores do sul entraram contra o Corinthians com a garra que faltou aos nossos. Tão importante o confronto, o repórter informou que até os jurados que julgavam a tragédia da Boate Kiss, em Porto Alegre, suspenderam a sessão.

E esse rapaz, que parece interminável, fez um gol fantástico que deu ao Gremio esperanças de não cair para a segunda divisão.

Obrigado, Diego Souza, que começou em Xerém, e mesmo com as três cores trocadas nos reservou um ato de coragem, conquistado em meio a uma selva de “loucos” torcedores da Fiel.

Boa sorte, Grêmio, mesmo com o empate levado no fim, vocês, além de motivaram nossa tarde esportiva, mostraram a garra e a coragem próprias dos heróis que merecem permanecer na elite do nosso futebol.

10 ANOS SEM SÓCRATES

por Rubens Lemos


Sócrates faz parte de minha vida como Quixote da bola. Com Zico e Falcão, forma a trinca de ases dos meus sonhos insones de menino, colorindo o Brasil de imbatível. Só fui comemorar uma Copa do Mundo em 1994, um mês antes de fazer 24 anos.

Na foto, o capricho de ourives dos quatro cantos verdejantes de Sócrates é observado pelo argentino Ardiles na mistura de encantamento e perplexidade. Um baile de 3×1 para o Brasil na melhor exibição do Mundial de 1982.

Ardiles foi um dos melhores armadores da história do futebol, campeão mundial de 1978 quando era o único acima da média no time ajudado pela Fifa para ganhar sob o chicote de uma sanguinária Ditadura.

Sócrates parece empalmar uma pedra preciosa. Usa o pé direito para acariciar a bola em pleno sossego, naturalidade e perfeição , virtudes que ele exibia sem vaidade por onde jogou.

É, ao lado de Roberto Rivelino, o melhor jogador do Corinthians (SP) de todos os tempos, embora a mídia virgem tente impor Marcelinho Carioca e até Neto, o bom de escanteio e cobrança de falta.

Suave gazela em campo, Sócrates irritava os conservadores pois não era o boleiro-padrão. Era médico e vinha de uma família de classe média alta, com pai auditor fiscal federal. Jogava no diletantismo com que Vinicius de Moraes compunha seus poemas musicais.

Estavam em Sócrates a genialidade de Vinicius e a calma irritante de João Gilberto, fosse o Magrão integrante da Bossa Nova. Sócrates dançava conforme o ritmo, impondo sobre o gramado sua coletânea clássica desenvolvida por invisível violino. Passadas largas, estabelecia seu movimento de enganosa lerdeza, levando os outros 21 homens na disputa a caçá-lo em câmera lenta, infrutífera artimanha.

As pernas de palito em carne e osso distribuíam passes certeiros tirados do pensamento de águia de um jamais atleta a mover-se em permanente processo de criação. Lindos acordes acompanhados pelo deleite das arquibancadas.

Sócrates pagou caro por se envolver politicamente sem deixar clara, de verdade, sua ideologia, fruto de uma inquietude conhecida a partir do primeiro pêndulo corporal até a batida de calcanhar direto no companheiro próximo. Se entendeu melhor com Palhinha, técnico, malandro e habilidoso, ambos campeões paulistas de 1979.

Em 1982, com Zico, Falcão, Leandro(um mágico usando a camisa 2), Júnior e Éder, formou um sexteto violado de fintas e desfile de jogadas sinfônicas.

Hoje, faz 10 anos da morte de Sócrates, que nunca deixou seu copo de cerveja tampouco seu cigarro para obedecer a ninguém. O técnico Telê Santana, tido como rabugento, sabia que não poderia abrir mão do seu camisa 8 e deixava-o livre. Para dar o petardo do empate contra a União Soviética(Brasil 2×1) e bater entre o goleiro Zoff e a trave na derrota para a Itália(2×3) no gol do empate em 1×1, criação artesanal de Zico ao enxergar o espaço para servir ao Magrão.

Alguns idiotas protestaram pelo cumprimento de Sócrates ao primeiro italiano que encontrou ao apito final da derrota para a Azzurra. Sócrates compreendia o futebol como jogo limpo, sem a neurose do vida ou morte banalizado. Também reclamaram do pênalti perdido por displicência contra a França, em 1986, repetindo o canto que acertara contra a Polônia nas quartas.

O futebol anda chato e uma das razões é a ausência de Sócrates, polemista irritante para adversários burros e frasista demolidor de conservadores. Liberdade. Há uma década, o Magrão, após o sofrimento do álcool, incompreendido e secundarizado em sua importância, passeia pelos clássicos eternos, onde não há cronômetros nem medíocres a incomodá-lo.

A BOLA AFASTA, A BOLA APROXIMA

por Luis Filipe Chateaubriand


Na época em que eram jogadores de futebol, Júnior e Roberto Dinamite não se davam – um não ia com a cara com o outro.

Roberto Dinamite sempre tinha um “olhar torto” para Júnior, um azedume, uma cara feia para o “Maestro”.

Júnior não era diferente: um olhar ameaçador, uma cara de amargor, uma postura corporal de quem quer ir para a luta.

Um dia, depois que já tinham parado de jogar, no Sambódromo, se encontram, conversam, se entendem.

De lá para cá, se tornam grandes amigos.

É o futebol unindo ídolos, unindo gente!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

GIGANTE PELA PRÓPRIA NATUREZA

por Marcos Vinicius Cabral


O Vasco da Gama vai disputar pela quinta vez a série B do Campeonato Brasileiro de 2022. A primeira queda foi em 2008, a segunda em 2013, terceira em 2015, em 2020 a quarta e neste ano de 2021 não conseguiu acesso. Mas o clube tem provado ao longo de sua história, que mesmo assim é diferente.

De pequeno ou médio, não tem nada, pois é GIGANTE na acepção da palavra. Definitivamente é.

Dos muros imponentes à fachada neocolonial portuguesa da sede, o Estádio de São Januário foi erguido em 1927 com a força braçal e o suor de muitos operários vascaínos.

Não é de se estranhar que, passados 94 anos, o GIGANTE da Colina, de muitas histórias, inúmeros títulos e grandes ídolos, se mobilize e conte mais uma vez com o apoio de sua imensa torcida.

Só ela pode ajudar. E ela responde.

Com um elenco limitadíssimo, uma folha salarial modesta e um planejamento de sair da série B, o Vasco hoje é uma dor que não desatina na alma e faz um estrago enorme do coração não só vascaíno, mas no do carioca.

Ser vascaíno dói, mas não ter um adversário à altura para disputar pau a pau as decisões de Campeonatos Cariocas como no passado, clássicos equilibrados nos Campeonatos Brasileiros da vida, dói mais ainda.

O torcedor do Club de Regatas Vasco da Gama foi o que ajudou na construção do novo CT e na estátua de Roberto Dinamite, maior jogador da história do Cruzmaltino e fez despertar um GIGANTE adormecido e preso pelas algemas do passado.

E esse despertar fez o clube de 123 anos, dar um salto que representou a maior adesão em massa a um programa de sócio-torcedor na história desse país, quando surgiu o programa na gestão de Fernando Carvalho, então presidente do Internacional, clube pioneiro nesta forma de contribuição em 2003.

Isso mostra o resgate do orgulho do vascaíno e, principalmente, demonstra para o mercado o potencial de mobilização, engajamento e impacto que só uma grande torcida como a do Vasco da Gama tem, que com seus 57.368 torcedores ocupa a 5ª colocação, ficando atrás dos 66.336 rubro-negros, 64 mil gremistas, 73.241 atleticanos e 75 mil torcedores do Internacional, líder.

Clube produtor de talentos como Barbosa, Acácio, Carlos Germano, Bellini, Ademir Menezes, Roberto Dinamite, Romário, Edmundo, Bismarck, Mazinho, Sorato, Felipe, Pedrinho, Philippe Coutinho e tantos outros, é preciso respirar ares menos poluídos que gestões passadas respiraram e olhar com seriedade para o futuro.

Nesta quarta-feira (1º), Ricardo Gomes disse não para o cargo de diretor-técnico, e é quase certo que o treinador seja o já conhecido Zé Ricardo, segundo palavras do mandatário do clube Jorge Salgado.

Mas desejo que o Vascão volte a ser o time temido pelos adversários e respeitado dentro de campo. A história não nos permite aceitar o encolhimento deste GIGANTE.

Afinal de contas, o Vasco merece estar na parte de cima da prateleira dos maiores clubes de futebol do mundo.

O CRAQUE DO BRASIL EM 2007

por Luis Filipe Chateaubriand


Em 2007, o São Paulo tinha feito “barba, cabelo e bigode” no futebol brasileiro: campeão mundial em 2005 e bicampeão brasileiro em 2006 e 2007!

Dentro desta avassaladora trajetória, havia um profeta: o meia Hernandes.

Hernanes tinha um fôlego de dar inveja, estava presente em quase todos os pontos do campo.

Hernanes chutava a gol tanto de perto como de longe, com bom aproveitamento, fazendo gols importantes para o time.

Hernanes exercia liderança em relação ao time, apontava caminhos, conduzia os tricolores a boas soluções.

Enfim, Hernanes era um craque.

O craque de 2007!

Luis Filipe Chateaubriand é “Museu da Pelada”