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CENTROAVANTE DE AÇO

por Fabio Lacerda


América de 1981: Vitórias marcantes sobre o Cruzeiro, e Wagner, artilheiro do Mineiro

Uma das histórias mais interessantes de jogador que cativou corações por onde passou. Seja desfilando suas qualidades dentro das quatro linhas ou como professor à beira da linha lateral dando instrução aos seus atletas – Alessandro, Evanílson, Alex Mineiro, Ramires, Rodrigo Tabata, Fred e Richarlison, são alguns exemplos de jogadores lapidados pelo mineiro nascido no dia do aniversário do Vasco da Gama, clube este que sofreu junto ao Bangu e Guarani, ambas agremiações que Wagner envergou as camisas.

Nascido no Vale do Aço, em 1959, natural do Inhapim, cujo padroeiro da pequena cidade de 25 mil habitantes entre Caratinga e Ipatinga, é o mesmo da cidade do Rio de Janeiro, Wagner é mais uma história de sucesso que acontece por ironia do destino ou pelos caprichos dos ‘Deuses do Futebol’. Aos 60 anos, Wagner chegou a rechaçar uma ida para Belo Horizonte porque estava em andamento a conclusão do Ensino Médio. Mas no final do ano de 1977, aos 16 anos, rumou para o América-MG. O primeiro treino de um dos centroavantes mais queridos do Brasil foi o último do primo de quem vos escreve – Maurinho, companheiro de ataque de Wagner no Clube Atlético Inhapim (CAI) e em alguns amistosos no Faixa Azul.

Entre 1977 e 1981, Wagner jogou pelo América-MG, clube pelo qual ele tem enorme identidade, assim como seu irmão Waner. Descoberto por Yustrich, único técnico a conquistar o Campeonato Mineiro por quatro equipes diferentes, Wagner, que era juvenil, tinha o hábito de completar o profissional. Sempre requisitado pelo ‘Homão’, Wagner estava às ordens. Em 1979, quando Yustrich precisou do centroavante do juniores, em virtude da suspensão do titular, por ter recebido três amarelos, mandou chamar o ‘Bodinho’ do Inhapim. Partida contra o Nacional de Muriaé, e o América venceu por 2 a 0, ambos os gols de Wagner.

Já nas graças do técnico linha dura, Wagner voltou a ser decisivo na vitória por 2 a 1 contra o Cruzeiro quando fez o gol da vitória dando uma ‘mãozinha’ para o Atlético-MG ser campeão. Mas o melhor estava por vir. No seu último ano pela único decacampeão mineiro em todos os tempos, Wagner deixou o clube da mesma forma que entrou: pela porta da frente, nesta ocasião, com tapete vermelho. Wagner sempre deixou sua marca contra o Cruzeiro. Foi assim no América-MG e também no Bangu. Ele não tinha dó da Raposa. Em 1981, o Coelho enfiou uma goleada de 5 a 0 sobre o time celeste com show de Wagner. O atropelo marcou a estreia do bicampeão mundial, Didi, no comando técnico do Cruzeiro.

No badalado Campeonato Mineiro de 1981, Wagner deixou Minas Gerais para vir jogar no Rio de Janeiro sendo artilheiro do certame e desbancando Reinaldo, do Atlético-MG, Edmar, do Cruzeiro e Casagrande, da Caldense. O filho ilustre do Inhapim balançou as redes adversárias 16 vezes e abriu os olhos de vários clubes do país como Corinthians, Atlético-MG, Cruzeiro, Botafogo, Grêmio e Bangu, para onde foi jogar sob a tutela e cuidados de Castor de Andrade.


Fraternidade: Irmãos Waner e Wagner no forte time do América que contava com o goleiro Hélio dos Anjos, um dos grandes treinadores do futebol brasileiro

“Após o Mineiro de 1981, o América precisava fazer caixa. Os clubes interessados queriam fazer negócio envolvendo jogadores, e a situação do América-MG não permitia este tipo de transação. Foi assim que o Bangu chegou na minha vida. O senhor Zizinho, pai do Castor de Andrade, chegou com o dinheiro que o América-MG precisava e fui jogar no timaço do Bangu”, lembra Wagner.

Chegada ao Rio nas graças de Castor de Andrade


Lendário time do Bangu de 1982: Goleadas sem tomar conhecimento dos adversários

No primeiro ano em Moça Bonita, Wagner foi um dos artilheiros do Brasileiro. Sua boa participação no campeonato nacional que o Bangu foi eliminado pelo Corinthians nas quartas de finais, e grande qualidade dos ‘Mulatinhos Rosados’ no Estadual quando enfiou 6 a 2 no Flamengo, valorizou o garoto do Inhapim que teve um contrato assinado com o Cagliari, em 1983, negócio intermediado pelo ex-zagueiro e técnico Moisés, mas Castor não deixou o atacante da pequena cidade do Leste de Minas partir para o Velho Continente.

Satisfeito com o rendimento de Wagner, Castor de Andrade colocou o atacante mineiro para morar em Copacabana na companhia do seu parceiro de tabelas, Rubens Feijão. Sorridente e brincalhão, Wagner lembra que a ‘seca’ de gols fez com que Castor de Andrade o tirasse da Princesinha do Mar e voltasse para o escaldante bairro de Bangu. Período que o jogador passou a aproveitar mais os encantos do Rio de Janeiro embalados pela Música Popular Brasileira. Jorge Ben Jor, Martinho da Vila, entre outros, passaram a ser parceiros do jogador. Ao jogar por empréstimo no América, em 1984, Wagner estreitou relacionamento com o músico e compositor que é enredo da Unidos de Vila Isabel para o Carnaval 2022.

“A escola de samba do bairro (Unidos de Vila Isabel) ensaiava no estádio do América. Então, era certo estar com Martinho da Vila que, mesmo eu jogando no Bangu, dizia que eu deveria atuar no Rio de Janeiro. Foi uma amizade muito boa. Um grande abraço para ele, referência da música brasileira”, recorda Wagner.

Ainda em 1984, Wagner foi para o Fortaleza. Chegou na reta final do estadual e sagrou-se campeão com o Leão da Pici. No Brasileiro, também figurou entre os principais artilheiros da competição. A passagem pelo Tricolor Cearense foi mais marcante que pelo rubro carioca, segundo time de todo o torcedor do Rio de Janeiro.

“Aquela campanha do Fortaleza foi tão boa que perdurou como o melhor desempenho até o ano passado (2021). Devemos parabenizar todo o plantel e comissão técnica do Fortaleza que superou nossa campanha, que era considerada a melhor da história, e chegou a fase de grupos da Libertadores da América”, diz.

Passagem marcante no JEC


Léo, Leandro, Valter, Alfinete, Ricardo e Jacenir; Geraldo, Nardela, Wagner, João Carlos Maringá e Paulo Egídio. Esquadrão tricolor ocatampeão catarinense.

Seu destino foi o Joinville, e no Sul do país, deixou sua marca no coração dos torcedores. Chegou, em 1983, para os jogos decisivos e foi campeão. Dois anos depois, diferentemente da sua primeira passagem, jogou todo o campeonato catarinense e sagrou-se campeão e artilheiro levando o time ao octacampeonato catarinense.

No Brasileiro, Wagner também continuou colocando seu faro de gol em evidência e, novamente, esteve entre os maiores marcadores. Seus concorrentes eram Roberto e Romário (Vasco da Gama), Zico e Nunes (Flamengo), Washington e Assis (Fluminense), Serginho Chulapa (Santos) e Edmar (Cruzeiro).

“Esta turma aqui era com quem você disputava artilharia. Está bom para você (risos)? Não era fácil não, rapaz!”, relembra Wagner sentado no banco de reservas do Estádio Municipal Doutor Guilhermino da Silveira – https://www.youtube.com/watch?v=9eAbdkJItHE

Estádio Dr. Guilhermino de Oliveira em Inhapim-MG

Imagens do Estádio Dr. Guilhermino de Oliveira capturado pelo DRONE MINI 2 Um espaço muito bem equipado para a pratica do futebol. Inscreva no canal https://www.youtube.com/channel/UCfqTeZ894frsyTN-X_ayzQQ

www.youtube.com


Wagner no Guarani: artilheiro cedeu lugar a Evair após grave contusão na tíbia ocorrida em um choque com o goleiro da Portuguesa no Campeonato Paulista de 1987.

Guarani e o adeus aos gramados

Assim como no início da carreira, Wagner pendurou as chuteiras jogando por um clube de camisa verde. No Brinco de Ouro, Wagner não conseguiu soltar o grito de ‘campeão’ da garganta. Muito pelo contrário, o grito de dor foi muito mais alto. Contratado pelo lendário dirigente campineiro Beto Zini, Wagner chegou a Campinas em 1986. Por duas ocasiões foi vice campeão brasileiro, em 1986, na derrota para o São Paulo, nos pênaltis, e em 1987, para o Sport, na polêmica Copa União. O título também escapou no Paulista de 1988 que ficou marcado pelo gol do predestinado Viola, que aproveitando um chute despretensioso de Wilson Mano, desviou a bola de Sérgio Neri para dar o título ao Corinthians depois de cinco anos.

Após quebrar a tíbia numa partida pelo Campeonato Paulista de 1987 contra a Portuguesa, Wagner passou 18 meses no Departamento Médico na companhia do técnico da seleção brasileira, Tite, que também buscava uma reabilitação. Ambos passaram mais tempo com os médicos do que com os técnicos. No final de 1988, Wagner percebeu que seus esforços para retornar aos gramados seriam em vão.

A contusão do ‘centroavante de aço’ abriu espaço para um jovem atacante, também mineiro, de fazer sua história no Bugre, e posteriormente, nos demais clubes onde atuou. Surgia Evair que aproveitou as oportunidades dadas, assim como Wagner fez no América-MG, em 1977, e desembestou de fazer gols. Sua volta aos gramados coincidiu com as primeiras convocações de Evair para a seleção brasileira pré-olímpica. Wagner assumiu a camisa 9 do Guarani, mas percebeu que a contusão no tornozelo não foi recuperada plenamente.

Finalizador e centroavante que dava nos zagueiros sem levar desaforo para casa, Wagner elegeu alguns meio campistas como preferidos. O atacante faz a diferenciação entre aqueles que chegavam de frente para finalizar, e os construtores natos de jogadas para os atacantes. Segundo ele, na sua época, inúmeros meio campistas, também chamado de pontas de lança, eram artilheiros nos seus clubes.

“Tive a honra e a satisfação de jogar com grandes meio campistas. Alguns chegavam muito na área para concluir a gol, caso de Arthurzinho, Rubens Feijão e Muricy. Outros, deixavam o talento na construção das jogadas para colocar os atacantes na cara do gol como Nardela, no Joinville, e Marco Antônio Boiadeiro, no Guarani. Estes eram mais passadores de bola”, diferencia Wagner, que por muitas vezes fazia papel de anfitrião para Éder Aleixo no Rio de Janeiro.

Embora tenha tido uma carreira considerada curta – 1977 até 1988 – Wagner deixou amigos e saudades por onde passou. Sua carreira começou no Clube Atlético Inhapinhense (CAI). Filho da tradicional família Alves, Wagner abriu os olhos dos dirigentes do América-MG após uma partida festiva entre seus familiares e funcionários da TV Itacolomi. Na ocasião, o América-MG levou para Belo Horizonte seu irmão, Waner, lateral-esquerdo, para um período de testes. Wagner seguiu para a capital das Alterosas no final do ano de 1977 para não interromper o ano letivo – oitava série. E assim começou sua história nos gramados do Brasil. Atualmente, o ex-jogador mantém relacionamento estreito com os responsáveis pelas categorias de base do América-MG, e vislumbra muitos anos de sucesso e título do Coelho.

1970 – O ANO DA CONQUISTA DO TRI E DO RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA

por Victor Kingma


Todos os amantes do esporte costumam se lembrar, e até contar com detalhes, daquela conquista ou vitória importante do seu time ou da seleção, mesmo passados tantos anos. 

Afinal, o Brasil é o país do futebol, movido pela paixão dos torcedores pelo seu clube do coração e pelo escrete nacional, principalmente nos anos de Copa do Mundo.

Entretanto, dificilmente nós, boleiros, nos lembraremos do que de importante acontecia no país ou no mundo, naqueles anos das grandes conquistas.

Nesse texto, estarei abordando exatamente esse tema. 

Como era a vida e os costumes em 1970, ano da memorável conquista do tricampeonato?

Naquele ano pela primeira vez os torcedores puderam assistir pela televisão aos jogos da Copa do Mundo através de um pool de emissoras formado por Globo, Tupi, Bandeirantes e Record. 

Definido por sorteio, os locutores de cada emissora narravam um tempo do jogo. Geraldo José de Almeida (Globo), Walter Abraão e Oduvaldo Cozzi (Tupi) e Fernando Solera (Bandeirantes e Record) se revezavam nas transmissões.

Os respectivos comentaristas eram João Saldanha, Rui Porto/Geraldo Bretas, e Leônidas da Silva.  

A seleção, com craques consagrados como Carlos Alberto, Rivelino, Gerson, Jairzinho, Tostão e Pelé encantava o mundo com uma equipe mágica e se tornava tricampeã mundial de futebol, no México. 

Nos dias dos jogos do Brasil os torcedores, em suas casas ou aglomerados em frente às TVs espalhadas pelas praças, vibravam com cada gol da seleção. 

Um bordão ficou famoso naquela Copa, na narração vibrante de Geraldo José de Almeida, da TV Globo: 

– Olha lá, olha lá, olha lá, no placar!

Tudo isso embalado pela música ufanista de Miguel Gustavo que tocava nas rádios o dia todo:

“Noventa milhões em ação,

Pra frente Brasil

Salve a seleção!”

Contrastando com a alegria do futebol, na política o Brasil vivia tempos sombrios. A ditadura militar implantada no Brasil em 1964, onde ocorreu a ruptura democrática e a tomada do poder civil com a deposição do presidente João Goulart, vivia o auge da repressão política/cultural, no governo Médice. Direitos fundamentais dos cidadãos foram retirados e os brasileiros proibidos de se manifestarem livremente.  

Na música o movimento da Jovem Guarda, após o auge na segunda metade dos anos 60, estava quase no fim e Roberto Carlos, sua maior expressão, iniciava uma nova etapa em sua carreira, fazendo grande sucesso com a canção “Jesus Cristo”, a primeira música religiosa gravada por ele – e que passaria a ser uma constante em seus discos. 


Ainda na música a canção mais tocada em 1970 foi o clássico de Paulinho da Viola, “Foi um Rio que Passou em Minha Vida”, uma exaltação à sua escola de samba, a Portela. Considerado um dos melhores sambas de todos os tempos.

O ano ficou marcado ainda por ter ocorrido o fim dos Beatles, o mágico quarteto de Liverpool formado por John, Paul, George e Ringo.  

Nas publicações esportivas a Revista Placar, lançada em março, próximo à Copa, era um sucesso entre os leitores. 

Na televisão a grande atração era a novela Irmãos Coragem. O Brasil parava às oito horas da noite para assistir na TV Globo, e ainda em preto e branco, o folhetim de Janete Clair que contava a saga dos irmãos João, Duda e Jerônimo, interpretados respectivamente por Tarcísio Meira, Cláudio Marzo e Cláudio Cavalcante.


O filme Love Story levava multidões aos cinemas para assistir a história do amor proibido de dois jovens de classes sociais diferentes e…

Nas ruas e nos bailes de fim de semana, os jovens, um tanto alienados em relação à política e influenciados pelos hábitos de seus ídolos, trajavam calças boca de sino, sapatos plataforma e cabelos tipo Black Power. 

                  Naquele tempo era assim.

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EM BUSCA DAS TABELAS PERDIDAS

por Pedro Tomaz de Oliveira Neto


Foi por pouco tempo. Mas a torcida do Bangu pode se orgulhar: Coutinho, o gênio da pequena área, o amigo mais íntimo de Pelé dentro de campo, vestiu o manto alvirrubro, se juntando a Domingos e Ademir da Guia, Zizinho, Zózimo, Aladim, Pedro Rocha, Arturzinho, entre outros craques que jogaram no tradicional clube suburbano.

Nascido em Piracicaba, Antônio Wilson Vieira Honório, ou Cotinho, apelido de infância que evoluiu para Coutinho, despontou cedo para o futebol, chamando a atenção de vários clubes. Mas foi o Santos que convenceu sua família a deixá-lo treinar na Vila Belmiro. Lá, conheceu um garoto de Três Corações que veio de Bauru, com quem começou a fazer tabelinhas para encurtar e abrir os caminhos do gol. Juntos, Coutinho e Pelé formaram a dupla mais espetacular e letal da história do futebol, assombrando defesas pelos quatro cantos do mundo, marcando a cada partida um rosário de gols e conquistando todos os títulos possíveis em sua época.

Esse sonho foi realidade entre 1958 e 1964. Mas depois de uma contusão que o obrigou a operar o joelho, Coutinho passou a ter pesadelos. A inatividade lhe reavivou um problema de nascença, a tendência para engordar. Desde então, ele sempre se deparava com uma nova contusão ou lutando contra a balança. Quando precisou, uma vez recuperado, de uma sequência de jogos para readquirir o ritmo, o titular já era Toninho Guerreiro, que vinha jogando em ótima sintonia com Pelé. Foi aí que Coutinho percebeu que sua história no Santos chegava ao fim.

Buscando novos ares, topou ser emprestado ao Vitória da Bahia, onde ficou quase um ano e, envolto com os mesmos problemas físicos, só jogou 12 partidas, marcando apenas um gol. Depois de uma breve passagem pela Portuguesa, viajou ao Rio de Janeiro para fechar com o Vasco, porém, foi reprovado nos exames médicos. Devolvido ao Santos, ganhou passe livre e o alugou ao Atlas do México. Meses depois, retornava ao Brasil, frustrado e disposto a pendurar as chuteiras, aos 27 anos.


Cansado dos esforços inúteis para recuperar a forma física, Coutinho largou treinamentos, remédios e regime, passando a comer e beber desregradamente. Em fins de 1971, quando planejava a abertura de um negócio próprio, um amigo o convenceu a retomar a carreira, fazendo-o crer que ainda poderia atuar em alto nível. Com mulher e dois filhos para sustentar, ele aceitou a proposta de jogar no Bangu.

No Rio, Coutinho se submeteu a dura rotina de treinos e cuidados com o corpo e a alimentação. Em busca do peso ideal, sua estreia foi sendo adiada. Mas devido ao início ruim do Bangu na Taça Guanabara, que valia o primeiro turno e classificava para os turnos finais do campeonato estadual, a sua escalação, mesmo sem está no ponto, tornou-se a esperança de recuperação do time. Além do que, jogando, Coutinho ganharia ritmo e entrosamento com seus companheiros, em especial os atacantes Jorginho Carvoeiro e Jorge Mendonça, revelações das divisões de base do clube, quem sabe reeditando com eles as tabelinhas perdidas após o fim da parceria com Pelé.


Assim, Coutinho estreou contra o Botafogo no Maracanã. Fora de forma, teve uma atuação discreta e nada pode fazer para evitar mais uma derrota do time. No segundo jogo, seguiu com dificuldade de movimentação, mas o Bangu venceu o Madureira, renovando a fé na classificação. Na rodada seguinte, apesar do revés imposto pelo Fluminense, Coutinho se soltou um pouco mais, buscando tabelas com Jorge Mendonça e marcando, com categoria, o primeiro gol nessa sua volta ao futebol. No duelo contra o América, o centroavante balançou as redes outra vez, só que, a exemplo do jogo anterior, o time sofreu nova virada.

Faltando apenas três jogos, o Bangu precisava de duas vitórias para se classificar. Portanto, vencer o Olaria no próximo embate seria crucial para não depender de uma improvável vitória sobre o Flamengo e fazer, na última rodada, em casa, o jogo da vida contra o São Cristóvão. Se já não bastasse a má fase do time, dias antes desta primeira “final”, Coutinho sofreu um acidente de carro e, apesar de não ter tido ferimentos graves, por precaução, ficou fora do jogo da Rua Bariri. O desfalque fragilizou mais ainda a equipe e, sem poder de reação, não pode impedir outra derrota.

Agora, restava ao Bangu vencer ou vencer o líder Flamengo. A eliminação deixaria o time quase cinco meses inativo. Só com eventuais amistosos seria impossível manter no plantel os principais jogadores, inclusive Coutinho que, desde que chegou, não viu a cor do dinheiro lhe devido. Contudo, o craque e demais companheiros foram ao Maracanã dispostos a se superarem atrás da última chance de sobrevivência do time. A missão ficou mais árdua com o gol sofrido logo aos 11 minutos. Mas os briosos banguenses reagiram e, numa bela jogada de linha de fundo, Jorge Mendonça cruzou para Coutinho empatar de cabeça. Na etapa final, resistiram bravamente à blitz rubro-negra até aos 35 minutos, quando Doval marcou para o Flamengo, decretando o fim da linha para o time de Moça Bonita.

Coutinho voltaria a campo para mais um jogo pelo Bangu. De forma melancólica, despediu-se da Cidade Maravilhosa tal como estreou há dois meses: com derrota e com a mesma pança acentuada que carregava desde que operou o joelho, nos idos de 1964. A gordura em excesso não lhe tirou a inteligência, a técnica, a categoria e outros dons naturais que tinha no trato com a bola, mas lhe roubou os movimentos, a agilidade para as tabelinhas que tanto fizeram sua fama ao lado de Pelé e, principalmente, a alegria de jogar futebol. Bem que ele tentou recuperá-la no Rio de Janeiro. Mas não deu. Foram apenas seis jogos, com uma vitória, cinco derrotas, três gols e nenhum tostão no bolso. Sem se levar mais a sério, Coutinho ainda faria alguns jogos pelo Saad de São Caetano do Sul, em São Paulo. Depois, aos 29 anos, parou definitivamente.

CADÊ OS CAMISAS 10?

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


O meu grande amigo Samarone, que há anos mora em Cascavel, no Paraná, passou alguns dias no Rio e me fez lembrar dos áureos tempos de futebol e me perguntar porque os camisas 10 entraram em extinção. Os “especialistas” argumentam que os campos reduziram, a velocidade aumentou e por conta disso o jogo passou a ser mais tático, mais estratégico. Com o espaço mais reduzido o jogador precisar pensar mais rápido.

Absolutamente nada a ver porque essa escassez de talentos também ocorre no futebol de salão. Qual o mistério de nunca mais ter aparecido nas quadras um Tamba, um Manoel Tobias, um Vevé, um Vander Carioca, um Jackson, um Sergio Sapo, um Aécio, um Serginho, um Adilson, um Alvaro Canhoto, um Elmo, um Zezinho, um Moacir Vinhas, um Djalma Navarro, um Jhonson, um Maurício um Fred? Poderia ficar até amanhã listando aqui!

Um craque não precisa jogar em um campo de dimensões estratosféricas para poder ter mais tempo de pensar, mas os pontas não existem mais e eram esses que davam opção para receberem os passes. Os campos reduziram consideravelmente, sim. O Maracanã tinha 20 metros a mais, mas não podemos usar isso como uma desculpa pra tudo. Do salão, surgiram Zico, Ronaldinho Gaúcho e uma extensa lista de craques. Em um espaço mínimo esbanjavam arte.

A verdade é que o problema está na formação do jogador, na base, nos primeiros chutes. Antes, tinha a categoria dente de leite e nem sei se ainda existe. Outro dia, em uma escolinha de meninos de cinco anos, quase invadi a quadra quando vi um professor obrigando aqueles pingos de gente a correr entre cones e depois a prestar atenção em um quadro-negro que mostrava movimentações táticas.

Os camisas 10 sumiram por causa dessa formação equivocada. Vejam as partidas dos campeonatos que estão iniciando, reparem o técnico de cada time e me digam qual a história de cada um com o futebol. Jogaram aonde???? E os que jogaram, como Silvinho, do Corinthians, passaram por uma lavagem cerebral e são danosos ao futebol, como Tite é danoso, como Parreira foi. Tomara que Samarone não tenha assistido Corinthians 1 x 0 Santo André, gol de Fábio Santos, de pênalti, e com Fágner sendo eleito o melhor em campo.

Tomara que Samarone não tenha visto o São Paulo sofrer para empatar com o Ituano no Morumbi, o Palmeiras empatar com o São Bernardo. Tomara que não tenha visto Botafogo x Bangu, Vasco x Boavista, Flamengo x Volta Redonda e Brasil x Equador. E digo mais, se Samarone jogasse em alguma dessas partidas, ele calaria esses “especialistas” e provaria que esse monte de brucutus corredores não impediria um artista de exercer o seu talento, a sua arte.

A pérola da semana foi: “o volante precisou mastigar a bola e servir o atacante que finalizou na bochecha da rede”.

CAMPEONATO CARIOCA: O INÍCIO DO FIM

por Zé Roberto Padilha


Não duvidem dos incapazes: se não são competentes, são ousados e atrevidos. E se introduzem no que não sabem porque quem sabe não quer saber.

Exemplo maior é o futebol carioca. Ferido na sua origem, quando acabaram com o futebol do interior, uma fonte inesgotável de craques, e que acaba de receber sua extrema unção quando decidem acabar com a Taça Guanabara.

Vai ser disputado em turno único para se livrarem logo dele no calendário. E priorizar Copa do Brasil, Brasileirão e Libertadores.

De que adianta os clubes cariocas se reforçarem em campo se enviam para o arbitral da FERJ, que decide as regras da competição, representantes insensíveis e incompetentes?

Eles não tem ideia do que é uma Taça Guanabara, o primeiro turno que apontava o primeiro finalista. Disputei três, e nenhuma delas recebeu, na final, um público abaixo dos 100 mil torcedores.

Em 1974, ao lado do Gerson, fomos vice do América. Em 1975, Campeões ao lado de Roberto Rivelino e PC Cajú. E em 1976, vice-campeões, ao lado de Zico e Junior.

Essa bandeira carrego há alguns anos, em textos e livros: se nossos clubes de futebol inevitavelmente são presididos por seus associados, que o Diretor de Futebol seja um ex-atleta, para não permitir tais barbaridades.

Esse é o papel da História: deixar rastros, nas paredes das cavernas, em livros, no coração de quem a viveu de perto, testemunhas reais, para que não sejam apagados pelo descaso.

Se Tita estivesse no arbitral representando o Flamengo, Deley, o Fluminense, Jairzinho, o Botafogo e Waldir, o Vasco, eles jamais permitiriam o fim da Taça GB.

Muito menos, ser desprestigiado desse jeito aquele que era o mais charmoso campeonato estadual do país.

E que, infelizmente, vai sucumbindo diante dos nossos olhos e de uma omissão coletiva.