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VENDA DO CRUZEIRO A RONALDO REPRESENTA SINAL DE PREOCUPAÇÃO

por André Luiz Pereira Nunes


No final do ano o meio esportivo foi bombardeado pelas notícias de que Ronaldo Nazário adquiriu o Cruzeiro por R$ 400 milhões. O presidente do clube, Sérgio Santos Rodrigues, confirmou a venda por meio de live em seu perfil do Instagram. Já o ex-craque celebrou a aquisição: “Feliz demais de ter concluído essa operação. Tenho muito a retribuir”, afirmou exultante.

Esse filme envolvendo o Fenômeno não é novo e até o momento não teve qualquer final feliz. O ex-atacante já havia adquirido a maioria das ações do Real Valladolid, em 2018. As consequências, contudo, não foram nada positivas. O clube espanhol foi rebaixado na última temporada à segunda divisão. A equipe terminara em 19º lugar, com 31 pontos, e ora disputa a segundona após três temporadas na elite.

Ronaldo, inclusive, tem sido alvo de duras críticas por parte de uma organização que reúne as torcidas da agremiação. Um comunicado publicado relata a “falta de comunicação e de explicações por parte da diretoria e da comissão técnica”. Por não morar em Valladolid e passar boa parte de seu tempo em Ibiza, o mandatário também tem sido duramente questionado. Soma-se ainda o fato de não ter estado presente ao estádio José Zorrilla nas partidas decisivas contra o rebaixamento, em 2021. O Valladolid sofreu o descenso ao capitular, em casa, diante do Atlético de Madrid.

As três últimas temporadas, em especial a última, foram verdadeiramente frustrantes para quem esperava que Ronaldo se tornasse uma espécie de Roman Abramovich do pequeno time da região autônoma de Castilla y León. Sob sua direção, o Valladolid apenas manteve a sua frustrante tradição de ser um time mediano de acessos e descensos. Nem mais, nem menos.

Ronaldo não é mesmo Abramovich, como a maior parte dos investidores de clubes da Europa também não é. É preciso refletir que 16 dos 20 clubes da Premier League são controlados por ricos empresários estrangeiros. O Arsenal, do norte-americano Stan Kroenke, e o Southampton, com 80% de controle do chinês Gao Shisheng, são apenas alguns exemplos. Já o Burnley, da Inglaterra, tem 84% de seu capital pertencente ao grupo norte-americano ALK, enquanto o Norwich, que luta com unhas e dentes para não ser rebaixado no Campeonato Inglês, pertence em 53% ao galês Michael Jones.

O certo é que Ronaldo pegará um Cruzeiro completamente endividado e relegado à segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Segundo informação veiculada primeiramente pelo UOL Esporte, o treinador de goleiros Leonardo Lopes, que trabalhou no clube durante 10 anos antes de ser demitido no final de 2021, entrou com um pedido de indenização de R$ 800 mil mais pensão vitalícia de R$ 5 mil em uma ação movida em função de um alegado acidente de trabalho ocorrido em dezembro de 2016, sobre o qual o clube teria sido negligente. São esses e outros inúmeros problemas que o Fenômeno terá que se deparar.

Ter um investidor não representa qualquer garantia de sucesso esportivo. Uma boa gestão não é sinônimo de títulos para o futebol. Um clube pode necessariamente dar muito lucro a seu proprietário, ter sua contabilidade toda no azul e até revelar e vender jogadores. Não significa, no entanto, que lutará por algum troféu. Portanto, a torcida cruzeirense ainda deve muito que se preocupar se olhar o exemplo do Real Valladolid.

DIDI, O MR.FOOTBALL, QUEM DIRIA, JÁ SOLTOU A VOZ

por André Felipe de Lima


Pelé e Sócrates “cantores”. Até mesmo Garrincha e Maradona também “soltaram” suas vozes. No caso deles, o futebol levou a melhor. Mas quem cantava muito bem, e melhor que todos estes já citados, foi o ponteiro Tite, que defendeu Fluminense, Santos e Corinthians entre as décadas de 1940 e 50. Foi Tite quem ensinou Pelé a tocar violão. Por aí se vê que estamos falando de um camarada que manjava de música. Há também os menos famosos (pelo menos por aqui) como o Felipe Gabriel, que ganha a vida na distante Letônia mais cantando que propriamente jogando bola. Porém, em minhas mais recentes andanças por jornais e revistas velhos, resgatei informações que o tempo incumbiu-se de empoeirá-las. Didi, olhe bem, o sr.Valdir Pereira, o Mr.Football da Copa de 58, era também cantor, e de mão cheia. Era fã da Dalva de Oliveira. Queria gravar com ela, mas não rolou. Em dezembro de 1951, o craque arriscou-se, enfim, no microfone ao gravar a marchinha carnavalesca “Meu clube perdeu” composta por Luiz Mergulhão, com arranjo de Pernambuco e Sua Orquestra.

A relíquia em forma de áudio (talvez a única cópia existente) está devidamente preservada no Instituto Moreira Salles, no Rio. Embora Didi já se mostrasse como o nome mais popular do Fluminense naquele ano, a marchinha não fez muito sucesso no carnaval de 1952. Mas Didi, que igualmente ao Tite tocava violão, não desistiu. Desejava gravar para o carnaval de 1956 dois sambas de Monsueto, autor de “A fonte secou” e “Mora na filosofia”. Não se sabe se o MR.Football realizou o desejo. Permaneceu jogando bola, do Fluminense para o Botafogo e na seleção. Mas sem deixar de lado a vontade de cantar, sobretudo após encerrar a carreira nos gramados, como descreveu a esposa Guiomar: “Talvez seja cantor, quem sabe? Sim, cantor. Então vocês não sabem que em 1951 ou 52, Didi venceu um concurso e foi eleito ‘O craque cantor’? Chegou até a gravar um disco na Star, a marcha de Luís Mergulhão, ‘Meu clube perdeu’, com Pernambuco e sua orquestra. Mas isso é apenas, um sonho.”

Perdemos uma voz para o rádio e ganhamos a “folha seca” bicampeã do mundo. Ainda bem.

ABAIXO, OUÇA A MARCHINHA “MEU CLUBE PERDEU”, NA VOZ DO DIDI:

https://discografiabrasileira.com.br/fonograma/95342/meu-clube-perdeu?fbclid=IwAR3QTH9cZs9V5c2DLdnlRE7zfRIOCTnLXxFT8FWr_oV8pI5MLKIJJUZac0Q

O TERNO DO PAULO CÉZAR

por Zé Roberto Padilha


O azar dos nossos gênios da bola, entre eles essa dupla aí, é que tinha na ponta esquerda um não tão gênio assim, mas que prestava atenção em tudo. Talvez pensasse que poderia virar um escritor. E contar toda a magia que viu de perto. Na ponta da sua chuteira.

Estava aí ao lado nesse dia. Paulo Cézar Caju embarcava com a Máquina Tricolor. E chegou trajando esse terno. Toninho Baiano, que foi recebê-lo comigo, não perdeu a oportunidade. “Nossa, Paulo, que terno feio!”.

PC nem deixou quicar:

– É baratinho. Cara é a passagem. Veio dali…

Ai Toninho justificou minha vigília por ali. E pegou de voleio:

– Ainda bem. Isto prova que o mau gosto é internacional!

O certo é que o terno nunca mais apareceu.

Quanto ao futebol era até covardia.

Felizmente, os foras de série, ao contrário do terno, um Cristian Dior, eram nacionais.

O OTIMISTA

por Rubens Lemos


Tive um amigo alguns anos atrás que poderia chamar de otimista. Gostava muito dele. E ele, dos seus patrões. Era incrível, nos divertíamos, quase aos orgasmos, eu e um terceiro comparsa, que me ensinou a gostar das crônicas de Antônio Maria.

E eu me apaixonei por Antônio Maria uns 32 anos depois de sua morte, de infarto no Le Rond Point, em Copacabana, dia 15 de outubro de 1964, de profunda tristeza.

Nunca esqueceu Danuza Leão, seu amor maior, que ele arrebatou de Samuel Wainer, um dos mais completos jornalistas do país para depois sentir o fel da mudança de lugar na fila.

Pois bem, esse amigo, meu e do terceiro amigo, homem bom e homem probo, nos chegava periodicamente:

– Assumiu um novo chefe. E o cara é fantástico. Me adorou.

Havia dito, meses antes, frase igual sobre o titular ora substituído, para surpresa, minha e do terceiro amigo, que, de humor ferino, perdeu a paciência:

– Patrão bom para você é sempre o próximo!

O nosso amigo, de coração e timidez, não fazia o tipo bajulador. Ao contrário. Era talentoso. Mas inseguro. Temia – como eu, um angustiado de barco à deriva, a perda do emprego. E enxergava, nos comandantes, virtudes normais que maximizava, para torná-los afetivos e camaradas.

Pelo talento que tinha, não pela bondade gratuita dos sucessivos chefetes, nunca correu risco de ficar no olho da rua. Olho da rua é uma expressão de esfinge. Rua tem esquina, retas, curvas, mas se há olho, está nas suas fofoqueiras de certificado.

Nas desocupadas e feiosas que estabelecem a geografia da falsidade, criando guerrilhas nas casas alheias, usando – elas, as canalhas de calçolas, na mentira dita ao pé do ouvido e, naqueles tempos mais remotos, nos telefonemas com lenço na boca para disfarçar a infâmia.

Então, o meu amigo, meu e do terceiro amigo, esmerava-se em novas ideias, que, de tão criativas, sensibilizavam os burocratas que o chefiavam. Daí, passava, da relação meramente protocolar, à camaradagem com o superior, seguro de sua postura séria e aflita, sempre projetando o próximo regra-três de paletó lascado atrás, como diziam os veteranos do interior.

Eu e o terceiro amigo observávamos, maliciosos, o esforço do primeiro para transformar medo em mérito, temor em êxito, ansiedade em satisfação pelos justos elogios. Era um profissional competente, não precisava da avaliação sempre positiva dos líderes ou nem tanto assim, sujeitos sisudos que vinham transferidos, por exemplo, de Macapá, no Amapá, para ditar regras em Natal.

Até que veio o Campeonato Paulista de 1993 e o responsável pelo setor do primeiro amigo era Corinthians. Corinthians, não. “Curíntia”. Paulistano nato, de um fanatismo puxado ao humorista Mazzarópi. O Corinthians decidiria com o Palmeiras, há 17 anos na espera de um estadual.

Time por time, o Palmeiras era bem superior. Do meio-para a frente, uma máquina: César Sampaio, Mazinho e Edílson; Edmundo, Evair e Zinho. Na lateral-esquerda, Roberto Carlos e seus iêiêiês potentes de canhota. O Palmeiras, controlando os nervos, venceria fácil.

O Corinthians tinha Neto, o camisa 10 gorducho e bom batedor de faltas e escanteios – apenas -, de estrela. Viola de centroavante, Tupãzinho, o goleiro Ronaldo e o inexpressivo atacante Paulo Sérgio, que terminaria tetracampeão mundial no ano seguinte, na reserva de Mazinho.

Paulo Sérgio é um exemplo daquelas imposições sádicas de técnicos que escolhem pernas de pau apenas para chatear a torcida. Rivaldo jogava muito mais e ficou por aqui.

Na primeira partida, o Palmeiras, rebolou e Viola fez o gol da vitória de 1×0, saindo para espezinhar os rivais imitando um porco. Meu primeiro amigo – soubemos eu e o terceiro -, recebeu safanões eufóricos do corintiano, que cantou o título antecipado uma semana inteira.

Até a decisão do domingo seguinte, o clima de caneco na mão tomou conta da repartição. O chefe cantando os subalternos a apostas. Na finalíssima, o Palmeiras massacrou: 4×0 e campeão líquido, certo e justo.

O primeiro amigo consolou o rabugento chefe: “Foi injusto”. Olhos esbugalhados, o derrotado o chamou a um canto: “Porra nenhuma. Tomamos um olé. Não precisa querer me agradar”. O primeiro amigo, em providência imediata, jogou fora a camisa do Corinthians.

RIVA

texto e ilustração: Marcos Vinicius Cabral


Tenho poucos arrependimentos na vida dos quais não ter tido a oportunidade de ver Rivellino jogar é, sem sombra de dúvidas, uma delas.

Campeão naquele Brasil de 70, onde ele, Jairzinho, Gérson, Tostão e Pelé, maiores camisas 10 de seus clubes à época, estiveram praticando juntos o futebol que é considerado o mais perfeito de todas as vinte uma edições de Copas do Mundo até hoje.

Ninguém ousa discutir isso.

Hoje, no primeiro dia do ano, o craque do Corinthians e do Fluminense completa 74 anos e apenas peço a Deus que conserve por muito tempo os seus dias aqui na Terra.

Ao criador do elástico e um dos maiores 10 do futebol brasileiro de todos os tempos, apenas desejo.

Sim, desejo.

Desejo a Roberto Rivellino o sonho realizado.

O amor humano ao seu próximo e à bola, sua paixão, que nunca morram.

A esperança por dias melhores renovada em dias difíceis.

Para Roberto Rivellino, desejo todas as cores desta vida e a tricolores em especial.

Todas as alegrias que puder sorrir por trás desse bigode.

Todas as músicas que puder emocionar seu coração e transformá-las em lágrimas confirmando que tudo valeu a pena.

Desejo que os seus amigos sejam mais cúmplices e que sua família esteja mais unida ao seu entorno.

Gostaria de lhe desejar tantas coisas em retribuição aos chutes que você deu ou elásticos que aplicou.

Mas nada seria suficiente… então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.

Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto,

ao rumo de seus objetivos no Timão de um navio que vai digressionando por mares revoltos.

Ao Riva, que não puder ver jogar, um feliz aniversário!