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PÊNALTIS

por Rubens Lemos


Sergio Javier Goycochea fez parte daquela seleção argentina de 1990, que, num lance espetacular de Maradona, pôs para correr a horrorosa equipe brasileira treinada pelo obtuso Sebastião Lazaroni. Dieguito driblou meio-time de amarelo e enfiou para Caniggia passar por Taffarel, tocando em seguida para o gol do 1×0 e da classificação.

Goycochea foi um goleiro mediano. Sua saída de meta podia ser classificada de temerária. Dentro da trave, vacilava em lances fáceis de defesa. Mas nos pênaltis, tornou-se o terror dos atacantes internacionais.

Somente na tal Copa de 1990, defendeu três cobranças, uma contra a Iugoslávia e duas na histórica semifinal contra a Itália, a dona da casa que se preparou para erguer a taça e acabou em terceiro lugar.

Galã na aparência, Goycochea participou de um programa da Rede Globo, despeitadíssima pela queda do bisonho time de Lazaroni, que tinha três zagueiros, dois volantes e nenhum criativo no meio-campo.

A Globo, comandada por Galvão Bueno, esplendor da chatice, queria saber os truques do Tapa Penales, epíteto característico da passionalidade portenha. A bancada platinada cercando um homem de riso irônico e absolutamente tranquilo.

Veio a pergunta:

– Como você treina e qual a sua estratégia para ser tão competente para pegar pênaltis?

Goycochea riu alto, para surpresa dos jornalistas e apresentadores e desconcertou todos eles:

– Eu não treino cobrança de pênaltis e minha tática é uma só. Fico parado no meio do gol, não me mexo de jeito nenhum e só pego os que são mal cobrados, não escolho canto nem vou por intuição em bola nenhuma.

Os teóricos da Globo ficaram impressionados. O modus operandi do argentino, simples e eficiente, derrubara batedores consagrados em todas as competições que disputou.

Até o meia Boiadeiro, ex-Vasco e Cruzeiro, cairia na cilada na Copa América de 1993, batendo no centro da baliza. Não era Goycochea que buscava a bola, mas o contrário, ela a procurava depois de maltratada pelo cobrador. Artista de televisão, protagonista da novela Por Amarte Así e ator de teatro, Goycochea foi um caso raro.

Taffarel, o melhor goleiro do Brasil em todos os tempos, ganhou jogos importantes em disputa de pênaltis, o maior deles, a final da Copa de 1994 que nos garantiu o tetracampeonato contra a Itália, caindo para barrar o chute do atacante Daniele Massaro e impondo sua figura glacial diante de Franco Baresi e Roberto Baggio, ambos chutando para fora. Em 1998, Taffarel brilhou pegando os tiros de Cocu e Ronald de Boer.

Goleiro perfeito, Taffarel superava Goycochea em qualquer fundamento e a arte de frustrar batedores vinha de sua frieza e irretocável colocação. Olhava no olho do batedor e o transformava em presa.

O pênalti, dizia uma máxima boleira, é tão importante que deve ser cobrado pelo presidente do clube. Hoje, no Brasil, o cartola, seja ele gorducho, passado na idade e até perneta, bem poderia assumir a responsabilidade diante da incompetência ridícula dos seus jogadores.

Bater pênalti é competência, nada de psicologia. Quem sabe, bate e bate convicto e bonito. Um pênalti saído dos pés de Roberto Dinamite e Geovani do Vasco, Bebeto (Flamengo e Vasco), Marcelinho Carioca, Ronaldinho Gaúcho e Djalminha do Palmeiras assumia ares de obra de arte pela classe, malícia e humilhação do goleiro.

A recente decisão da Supercopa entre Atlético Mineiro e Flamengo, num domingo à tarde monótono e cinzento, virou programa de humor. Nada menos que 24 cobranças e nove erros. Grotescos, todos os chutes para fora ou defesas dos goleiros que, aliás, também bateram mal.

Pênalti decisivo é para quem tem colhão. Romário em 1994 não treinou um disparo sequer e fez o dele. Márcio Santos acertou tudo nos treinos para falhar quando não podia.

Gabigol, o dito galáctico do Flamengo, correu da raia, escapuliu pelas veredas do gramado e não cobrou na série decisiva contra o Galo. Gabigol tem pose de craque e qualidade nota 6,5. Goycochea, imóvel, pegaria cada cobrança dele. Taffarel, espalmaria de costas.

FIFA EXPULSA RÚSSIA DA COPA DO MUNDO POR INVASÃO NA UCRÂNIA

por André Luiz Pereira Nunes


A guerra na Ucrânia pode ter custado muito caro a Vladmir Putin. Além das sanções econômicas aplicadas por Estados Unidos e União Europeia, a Rússia ainda sofrerá severas punições na esfera esportiva.

A entidade que rege o futebol no mundo anunciou a exclusão do país eslavo dos play offs da Copa do Mundo após pressões da Polônia e República Tcheca, adversários na repescagem. Ambos salientaram que boicotariam sistematicamente as partidas contra os russos em sinal de protesto pela invasão ao país vizinho.

– A FIFA e a UEFA decidiram em conjunto que todas as representações russas, sejam nacionais ou clubísticas, serão suspensas das competições da FIFA e da UEFA até nova ordem, lê-se no comunicado conjunto emitido pelas duas supracitadas associações.

A UEFA também comunicou o encerramento de uma parceria com a gigante russa de energia Gazprom. Trata-se de uma das principais patrocinadoras das competições europeias desde 2012. Acredita-se que esteja pagando cerca de 40 milhões de euros por ano em um contrato que deveria durar até 2024. A rescisão, porém, foi imediata.

Enquanto o escrete masculino disputaria o qualificatório, em março, para a Copa do Mundo do Catar, a equipe feminina havia se classificado para o Europeu, na Inglaterra, que será realizado em julho. Sua chave era composta por Holanda, Suécia e Suíça.

O anúncio, obviamente, também afeta os clubes russos envolvidos em competições europeias. O Spartak Moscou estava programado para enfrentar o RB Leipzig, da Alemanha, pelas oitavas de final da Liga Europa.

Inicialmente a FIFA havia se posicionado contra qualquer medida radical ao sugerir que atuassem sob a intitulação de União de Futebol da Rússia. Além disso, teriam que jogar em território neutro, com portões fechados e sem o direito de exibir a bandeira e hino nacionais.

Todavia, essas medidas foram tidas como “totalmente inaceitáveis” pelo presidente da Associação Polonesa de Futebol, Cezary Kulesza, o qual ainda acrescentou que a Polônia jamais entraria em campo, “não importando qual fosse a denominação utilizada pela seleção russa”.

A FIFA, então, resolveu mudar a sua decisão, finalmente optando pela exclusão.

– O futebol está totalmente solidário com todas as pessoas afetadas na Ucrânia. Ambos os presidentes, Gianni Infantino e Aleksander Ceferin, esperam que a situação na Ucrânia melhore significativa e rapidamente para que o futebol possa novamente ser um vetor de unidade e paz entre as pessoas, acrescentou o comunicado.

O time alemão Schalke 04 também anunciou o encerramento do contrato de patrocínio de camisas com a Gazprom. Vale ressaltar que o presidente da Federação Russa de Futebol, Alexander Dyukov, é chefe da Gazprom Neft, o ramo petrolífero da empresa, e membro do comitê executivo da UEFA.

Por parte da Rússia, ainda antes do comunicado da FIFA, a federação do país informou não ver qualquer fundamento para cancelar o jogo com a Polônia pelas Eliminatórias.

Pelo visto, a sanha imperialista e belicista de Putin pode ter sido um verdadeiro tiro pela culatra. Além da invasão não estar sendo um passeio, pois encontra forte resistência, as sanções econômicas e esportivas serão inúmeras, resultando em enorme prejuízo.

DESESPERANÇA

:::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::


De acordo com a filosofia da USL, Liga Americana de Futebol, não existe mais interesse de seus dirigentes na contratação de jogadores em fim de carreira, estratégia usada por muitos anos para conquistar audiência. Podem anotar aí, se a USL não desviar essa rota em alguns anos nos ultrapassará. O Brasil virou abrigo de jogadores que nenhum mercado quer mais.

Reparem o time do Corinthians, vejam Felipe Melo chegando com pompa e circunstância no Fluminense, Nenê aos 40 anos dando as cartas no Vasco, Rafinha capitão do São Paulo e o próprio Flamengo repatriando algumas figuras velhas de guerra. E com os novos talentos indo para o exterior cada vez mais cedo o que sobra por aqui? O que temos visto a cada rodada, velocistas mesclados com veteranos.

O Corinthians trouxe mais um técnico português, isso é patético. Nem eles mesmo devem estar acreditando nessas contratações milionárias. O Flamengo suou para empatar com o Resende e a torcida já quer trocar um português pelo outro. Mas não se iludam porque nem Jorge Jesus fará o Flamengo repetir as atuações de sua época. Ele tinha uma relação muito boa com os atletas, colocou um time extremamente ofensivo e por isso deu tudo certo! E não é com o estalar dos dedos que se consegue isso.

Desistam, não serão os portugueses a salvar o futebol brasileiro, eles só estão ficando mais ricos e já já estarão de volta a terrinha. Tite falou que só ficará mais essa Copa do Mundo. Depois, deve pegar um Grêmio, um Inter, e ganhar um estadual com o time jogando recuado. No lugar dele, assumirá algum português gênio da lâmpada e certamente seremos desclassificados por um Estados Unidos que comemorará a vitória de uma filosofia.

Preparados para a pérola da semana? “O zagueiro deu uma estilingada na bola e encontrou o encorpado centroavante que correu por dentro, furou a última linha e aproveitou a segunda bola para chapar na bochecha da rede”.

UMA HISTÓRIA DE FUTEBOL E HEROÍSMO

por Claudio Lovato Filho


Um dos livros de futebol que mais emocionaram se chama “Futebol & Guerra – Resistência, triunfo e tragédia do Dínamo na Kiev ocupada pelos nazistas” (Jorge Zahar Editor, 2004), do jornalista escocês Andy Dougan. No momento em que o mundo assiste à invasão da Ucrânia pela Rússia, a leitura desse livro pode ser especialmente interessante ao apresentar um episódio histórico que revela muito do espírito do povo ucraniano.

Essa obra extraordinária (e extraordinária não apenas para os amantes do futebol como nós, aqui reunidos na famiília Museu da Pelada) tem como contexto a invasão nazista à União Soviética, em 1941 – mais especificamente, à Ucrâniae à capital Kiev. 

Entre os prisioneiros feitos pelos alemães estavam muitos jogadores do Dímano, considerado o melhor time da Europa pré-guerra. Eles haviam se alistado no Exército para combater os invasores nazistas e acabaram sendo capturados. Com a capitulação de Kiev foram deixados à própria sorte, enfrentando a fome, a doença e o frio nas ruas devastadas da cidade. 

Um a um foram sendo acolhidos pelo dono de uma padaria,e, liderados pelo goleiro Trusevich,  reformularam o Dínamocomo F.C. Start. O time venceu todos os jogos que disputou– contra times húngaros, romenos e de unidades militares alemãs –, o que foi fudamental  para levantar o ânimo da população de Kiev.


Sim, o Dínamo/Start venceu todas as partidas que disputou, inclusive a partida final, contra um adversário que, todos sabiam antecipadamente, não aceitaria a derrota: o time da Luftwaffe, a força aérea alemã, num jogo que teve um oficial da SS como árbitro. As consequências desse ato heróico dos ucranianos teve consequências brutais, descritas em detalhes por Andy Dougan. 

“Futebol & Guerra” é um relato fascinante e comovente; uma homenagem a 11 heróis e a uma nação por eles representada com bravura em um momento em que tudo parecia perdido e o fim parecia sempre muito próximo. 

 

A INAUGURAÇÃO DO FUTEBOL MODERNO

por Zé Roberto Padilha


O ano era de 75 e os professores da Escola de Educação Física do Exército, espalhados pelo maiores clubes do nosso futebol, começaram a nos preparar para a transição de jogadores de futebol para atletas profissionais.

Depois da arte se impor em 70, no México, quatro anos depois a Alemanha ganhou em casa o mundial, e junto a Laranja Mecânica holandesa, inaugurou o futebol moderno.

No Fluminense, o responsável para realizar tal transição foi Carlos Alberto Parreira.

Interval-training, Circuit-training, Teste de Cooper foram incorporados à preparação física. E as máquinas Apolo e Nautilus foram instaladas para aumentar a nossa força muscular.

Nos jogos, os duelos, que eram individuais, lateral versus pontas, atacantes versus zagueiros, foram se tornando coletivos. Isto é, todo mundo contra todo mundo.

Para nós, foi em um América X Fluminense, Brasileirão de 75, que tudo começou.

Flecha, ponta-direita do América, cansou de duelar com o Marco Antonio. Como cobaia do Parreira, que chegou a me escalar na lateral para aprender a marcar, e estava voando, quando o Flecha preparou seu drible eu vim por trás e lhe roubei a bola.


Irritado, inconformado, partiu atrás de mim. Não para retomar a bola, mas para tirar satisfações: “Vá se ferrar, baixinho. Sou eu contra o Marco Antonio, não tem nada que se meter!”

No vestiário, relatei para o Parreira o ocorrido. E ele achou interessante, porque o futebol moderno tinha começado, só não havia uma data de sua inauguração.

Agora, disse, ele tem. Você, Flecha e Marco Antonio inauguraram, hoje, nesse lance aqui no Maracanã, as bases do futebol moderno.

Lembrei disso, hoje, porque o Flecha, que era Guilherme, nascido em Canoas, RS, nos deixou.

Descanse em paz meu amigo.

Obs. Na foto, Marco Antonio, Edinho e eu contra Flecha e Tadeu.