DINAMITE, A ESPERANÇA
por Rubens Lemos

Desde criança, no sufoco que a vida me reservou e à vida dos meus pais, a minha crença chamava-se Roberto Dinamite, herói de sorriso triste e gladiador solitário na luta contra o espetacular Flamengo de Zico. Narrava gols de Roberto Dinamite sozinho no quarto, tarde da noite, com fé e orgulho. Ele foi o maior artilheiro que vi jogar com a camisa do meu Vasco.
Hoje nem chamo o Vasco de meu, porque o Vasco é uma catástrofe de falta de vergonho e futebol paupérrimo, sem qualquer jogador acima da média, apanhando de times que goleava nos meus tempos de viciado nos domingos de Gol do Fantástico.
O Vasco de hoje não desperta aquele sentimento confiante de euforia, nem pode, é um time ridículo, com jogadores desconhecidos que podem perfeitamente jogador na Série C e até mesmo na Série D.
O Vasco tirou dos seus apaixonados a confiança nas vitórias tranquilas contra adversários ruins. Sua raça acima da técnica como nas jornadas em que guardava sozinho Roberto Dinamite contra a orquestra flamenguista.
O carisma de Roberto Dinamite, buscando o gol sem qualquer temor, assumindo a escritura da grande área ou partido do meio-campo como o Quixote das conquistas impossíveis. Roberto Dinamite é o maior jogador da história do Vasco, embora meu ídolo seja, também, o genial meia Geovani.
Roberto Dinamite é um estoico, um resignado. Desde o golaço que valeu seu apelido de Dinamite em 1971(ele aos 17 anos), contra o Internacional no Maracanã.
Roberto Dinamite se entregou à massa e ela o assumiu como explosão das causas impossível. Roberto Dinamite assumiu o cetro de ídolo e fez a torcida cruzmaltina assumir uma razão de lotar o Maracanã.
Roberto Dinamite sofreu muito a vida inteira. Introspectivo, de timidez e conformismo indescritíveis, foi convocado para a seleção brasileira de 1978 porque o centroavante Nunes se machucou. Roberto Dinamite parecia um guerreiro sem lança na chuteira, esquecido e sem merecer o menor respeito do falecido técnico Cláudio Coutinho.
O Brasil, tudo bem, tinha um gênio chamado Reinaldo do Atlético(MG) que sucumbiu, não apresentou 5% do seu toque esplêndido. O Brasil seria eliminado se empatasse com a Áustria e o Almirante Heleno Nunes, presidente da Confederação de Futebol, no auge da Ditadura, agiu certo e mandou escalar Roberto de titular.
Um passe preciso do ponta-direita Gil encontrou Roberto Dinamite pronto para o tiro de sniper, bem colocado, ajeitando a bola e fulminando o goleiro Koncília. Roberto – ah, hipocrisia impossível -, passou a ser bajulado sem deixar de manter o semblante blasé e sábio. Os elogios eram oportunistas.
Roberto Dinamite jogou mal uma partida, apenas uma, contra a Tchecoslováquia no Morumbi em 1×1 nos preparativos para a Copa do Mundo e Telê Santana, brilhante e teimoso, simplesmente o ignorou.
Roberto Dinamite fez falta e teria classificado o Brasil contra a Itália em 1982 porque Serginho Chulapa não passava de um zagueiro disfarçado. Só pra lembrar, Zico e Roberto nunca perderam juntos pela seleção.
Então Roberto entregou-se ao Vasco como um libelo, silencioso, grito abafado pela multidão vascaína , liderando time espetacular com Romário, Geovani, Mazinho, Tita, Acácio, Mauricinho, uma máquina que botou no liquidificador o Flamengo de 1987.
Roberto voltou a sofrer. Em 1989, o Vasco o emprestou para a Portuguesa(SP) e ele seguiu, humilde e machucado, para o campeonato brasileiro.
Duvidaram dele e em 1990 até 1992, fez gols decisivos tabelando com o craque e sucessor Edmundo. Roberto, claro, sempre buscando a foça e a liberdade de quem respondia balançando a rede, aqueles que o menosprezavam.
Roberto Dinamite é tão bom que Zico vestiu camisa do Vasco em sua despedida. Roberto é tão bom que os vídeos dos seus gols são repetidos com emoção e o ineditismo das lágrimas que correm de saudade.
Roberto Dinamite está com câncer aos 68 anos e, a cada batalha que vence, rompendo a covardia da doença, ensina que o ser humano é resistência. Roberto Dinamite é perseverança e exemplo. Explodindo o gol da vida que vai prosseguir.
A FARRA DA PATOTA
::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::::

Na última semana, li uma matéria que dizia que Tite havia definido uma “agenda de observações” para analisar o desempenho de alguns jogadores e definir o grupo que vai disputar a Copa do Mundo. Antes de mais nada, acho um absurdo que, às vésperas de um torneio tão importante, o treinador da Seleção ainda não tenha o elenco formado.
Disputei duas Copas do Mundo, três Eliminatórias e tenho propriedade no assunto. Não é por acaso que o Mundial é disputado de quatro em quatro anos e não vai ser a dois meses da competição que Tite vai descobrir o craque que vai nos salvar.
Se já não fosse o bastante, o que me causou indignação ainda maior foi o roteiro definido para acompanhar os jogos e treinamentos: Brasil, Espanha, Portugal, Itália, Inglaterra, França e México. Ao lado da sua patota, o treinador fará uma viagem dos sonhos com o que há de melhor em termos de gastronomia e hospedagem com tudo pago pela Confederação.
Pelo que li, são dez jogos distribuídos ao longo desse período e a panela contará com Matheus Bachi, filho do treinador, César Sampaio, Juninho Paulista, Fábio Mahseredjian e outros que eu nem sei quem são. No México, por exemplo, li que César Sampaio e Guilherme Passos foram acompanhar Puma x Santos Laguna e viram Daniel Alves perder de 5 a 1, com direito a drible desconcertante que o deixou no chão. Agora me respondam com sinceridade: precisa ir até lá para constatar que o lateral de 39 anos não tem mais condições de disputar o Mundial? Pelo menos a comissão deve ter aproveitado os pontos turísticos da cidade, degustado bons vinhos, tacos, tortillas e burritos! Não sou bobo!
Por falar em lateral, a carência é tanta que teve uma galera cogitando Rodinei na Seleção! Kkkkkk! Vamos aguardar as próximas partidas porque estou ansioso pelo relatório da comissão após esse tour gastronômico abaixo:
17/8 – Athletico-PR x Flamengo (Cleber Xavier e César Sampaio)
17/8 – Fluminense x Fortaleza (Tite e Matheus Bachi)
21/8 – Palmeiras x Flamengo (Tite e Cleber Xavier)
21/8 – Atlético de Madrid x Villareal (Matheus Bachi e Fábio Mahseredjian)
21/8 – Pumas x Santos Laguna (César Sampaio e Guilherme Passos)
23/8 – Benfica x Dínamo Kiev (Matheus Bachi e Fábio Mahseredjian)
24/8 – Pumas x Tigres (César Sampaio e Guilherme Passos)
27/8 – Juventus x Roma (Matheus Bachi e Fábio Mahseredjian)
27/8 – Arsenal x Fulham (Tite e Juninho Paulista)
28/8 – PSG x Mônaco (Tite e Juninho Paulista)
PÉROLAS DA SEMANA:
“Com uma ligação direta e transição no último terço do campo, o cenário se ofereceu desconfortável para o time inflar sem mudar a escalação com a corda esticada, aprimorando o modelo de jogo qualificado por dentro”.
“Para balançar o meio-campo, o time desconecta os setores amassando e empurrando o adversário para trás em direção ao gol e no controle da segunda bola (só existe uma!!). Para quebrar a marcação e algemar o adversário, também potencializa o homem de lado para ganhar amplitude de campo”.
Algemar
Contundente
Transição
Amplitude
Potencializar
Passar na linha Central (Seria Central do Brasil? kkkk)
Quebrar a marcação
Diz aí, geraldino! Entendeu alguma coisa?
JORNALISTA CRIA EQUIPAMENTO PARA PROTEGER A CABEÇA DE JOGADORES DE FUTEBOL
Texto publicado originalmente na Gazeta Esportiva

Ainda criança, Odir Cunha assistiu, pela televisão, o centroavante Coutinho, parceiro de Pelé no ataque mágico do Santos, cabecear uma bola chutada com força pelo ponta esquerda Pepe, marcar o gol e cair desmaiado. Aquela cena ficou marcada na memória do menino que se tornaria um jornalista premiado e escritor de mais de uma dezena de livros sobre futebol, muitos deles retratando aquela equipe memorável.
Adolescente, Odir viu um colega de ginásio, bom atacante da várzea de Parelheiros, acordar com metade do corpo paralisado dias depois de perder os sentidos ao cabecear uma bola mais pesada pela água da chuva. Fausto, era este o seu nome, jamais se recuperou e morreu em consequência do alcoolismo.
O mal que os cabeceios fazem
Em novembro de 2011, no encontro anual da Sociedade Radiológica Norte-americana, a Universidade Yeshiva, de Nova York, apresentou um estudo que deixava claro a relação direta entre lesões no cérebro e os cabeceios no futebol.
“O estudo analisou imagens de ressonância de 38 atletas amadores que praticavam o futebol desde a infância. Os que cabeceavam a bola 1.500 vezes ou mais por ano apresentaram resultados semelhantes às pessoas que sofrem concussões, um tipo de traumatismo craniano, e tiveram os piores resultados nos testes de memória e reação motora”, informou Odir.
Outra pesquisa, mais recente, da Universidade de Glasgow, Escócia, concluiu que jogadores de futebol têm cinco vezes mais possibilidades de contrair Alzheimer do que a população em geral. Esses estudos serviram de base para que as Federações Inglesa e Escocesa proibissem crianças de menos de 12 anos de pôr a cabeça na bola nos treinos, uma tendência que está se espalhando por outras federações nacionais.
“Em outros esportes, como rugby, futebol americano e boxe, os danos ao cérebro são mais visíveis e imediatos. No caso do futebol a degeneração é lenta, e por isso poucos se dão conta. Foi aí que resolvi fazer algo a respeito e criei o Cabeceador”, prosseguiu o jornalista.
Para proteger a cabeça e potencializar o golpe
Um equipamento que protegesse a cabeça sem atrapalhar o cabeceio – este era o desafio de Odir quando iniciou os estudos que o levaram a inventar o Cabeceador, uma touca especial de silicone medicinal que preserva a cabeça do atleta e não traz nenhum prejuízo técnico ao cabeceio. Nos testes já feitos ficou comprovado que sua superfície mais espessa e irregular na testa e têmporas dão mais conforto e controle ao golpe.
– Tinha de se ajustar bem à cabeça, ser leve, mas reforçada e irregular nos pontos de contato com a bola. Além disso, ter orifícios para a respiração do couro cabeludo e também nas orelhas, para permitir ao jogador ouvir seus companheiros e as marcações do árbitro. Por fim, a touca tem um design moderno e pode ser produzida em todas as cores, para satisfazer aos praticantes, aos clubes e aos futuros patrocinadores! – detalha o inventor.
A patente, válida em 153 países, foi obtida junto ao IPI (Instituto de Propriedade Industrial) por meio da Associação Nacional dos Inventores.
Ideal para ser utilizado nos treinos, ou para substituir a improvisada touca de natação quando os jogadores têm um ferimento na cabeça, o Cabeceador deverá se popularizar entre os atletas amadores e nas escolinhas de futebol, minimizando os efeitos dos cabeceios e assim passando mais segurança aos jovens e a seus pais. Seu uso também está previsto no futevôlei, futebol de cinco e futsal.
FÉLIX, FLUMINENSE, A GÊNESE
por Paulo-Roberto Andel

A primeira lembrança que tenho sobre futebol está em vias de completar meio século. No entanto, lembro dela como se tivesse dez ou quinze anos de distância. De uma vez só, me encontrei com o esporte, o ídolo e o meu time.
Em algum lugar do primeiro semestre de 1973 – e depois vocês vão entender a precisão -, era noite em Copacabana, no alto da rua Santa Clara. Nós morávamos num prédio de quatro andares, sem elevador, que já não existe mais – foi derrubado para a construção de um apart-hotel.
Nosso apartamento era grande e confortável. Para mim, era gigante. Eu sempre me lembro de ficar no quarto. No do meus pais, também tinha uma cama pequena para mim, onde dormia às vezes, geralmente de tarde. E tinha a saleta, onde eu brincava de Polly e outras coisas.
Naquela noite, eu estava no quarto dos meus pais, na minha segunda cama, enquanto eles estavam na sala, acho que com visitas. Num súbito, meu pai abriu a porta e vem falar comigo. Todo orgulhoso, ele trazia consigo outra descoberta para mim: um álbum de figurinhas. Ele os adorava, e é uma lástima para mim que todos tenham se perdido com nossas mudanças. Os álbuns eram uma declaração de amor do meu pai pelo futebol.
– Paulo, olha aqui. Esse é o Félix, ele é do Fluminense. É o goleiro do Fluminense e do Brasil”.
Parei e olhei com atenção. Eram duas palavras completamente novas para mim, Félix e Fluminense. Eu as decorei de imediato, então posso dizer que naquele momento, cercado pela felicidade de meu pai ao me mostrar o álbum, num só instante eu me tornei Fluminense – se é que já não era -, fã do Félix e, inevitavelmente, do futebol. Foi tudo um furacão de sentimentos, vejam vocês: eu era Fluminense, já era torcedor mas nem sabia as cores do time ou como era seu escudo. Numa cena de quinze segundos, eu tinha um time, um ídolo, mais um esporte para seguir pelo resto da vida. Não me apaixonei primeiro pelas cores, pela torcida, pelas bandeiras ou pelos jogadores: meu amor pelo Tricolor nasceu da palavra escrita, falada, num supetão. Ploft: Fluminense!
Félix veio junto. Eu começava a decorar as letras e palavras, e aquele nome foi tão marcante para mim que Félix e Fluminense significavam a mesma coisa, uma coisa só. Faz sentido: Félix é um dos maiores ídolos da história do clube. Cheguei a vê-lo, ainda muito criança e ele como a muralha da Máquina 1975, quando já era um personagem mítico e multicampeão das Laranjeiras.
De onde veio minha certeza sobre o primeiro semestre de 1973? Porque meu aniversário de cinco anos era em julho e, nele, eu já tinha uma bolinha com o escudo do Fluminense, já sabia que era tricolor e que meu time também tinha um lindo uniforme branco. No ano seguinte, 1974, tenho a minha primeira lembrança do Maracanã, olhando o antigo placar em 0 a 0. Enquanto o grande Gerson dava seus últimos passos na carreira e o Fluminense recebia Francisco Horta como presidente – o mais emblemático da história tricolor – e maquinista de um dos maiores times do mundo, eu já era Fluminense de alma, palavra, escudo e sentimento.
Desde então, se passaram muitos anos e aquelas palavras ficaram comigo para sempre. Há quase cinquenta anos, é muito difícil eu passar dias sem lembrar do nome de Félix – e imediatamente do meu pai. O do Flu passou de paixão: virou ofício, trabalho e parte da minha carreira como escritor. Chega a ser incrível pensar que tudo parecia escrito lá atrás, quando passei a amar o clube pelo som e grafia de seu nome.
Félix é um dos grandes heróis tricolores da história, um vencedor supremo, uma fera, um paradigma, um campeão do mundo. Para mim, ele ainda consegue ser mais do que isso: olhando esse longo tempo para trás, ele é a primeira lembrança de uma longa estrada que veio até aqui, sem previsão de término. Félix é Fluminense, as duas palavras são a felicidade de Helio Andel abrindo a porta e, todo orgulhoso, mostrando seu ídolo num álbum de figurinhas para o pequeno filho. É a eles que tenho perseguido por todos os anos. O Fluminense é, a cada três dias, meu sonho de reencontro com aquela noite da infância.
Aquele apartamento não existe mais, nem meu pai, nem Félix, mas a força das palavras atravessou os tempos de tal forma que eles parecem eternos. Agora está escuro aqui no quarto e a TV mostra um noticiário na madrugada, mas me basta uma breve espiada no teto escuro e ele me sugere aquele outro quarto, onde em segundos pai, filho, goleiro e time fizeram involuntariamente – mas nem tanto – um pacto para a eternidade.
GIBA NELES!
por Mauro Ferreira
O moleque travesso do interior do Paraná ganhou o mundo. E também ganhou bordão do locutor mais famoso da televisão brasileira. Não à toa, o primeiro cumprimento ao três vezes medalhista olímpico é sempre o sonoro “GIBA NELES!”
As façanhas de Giba vão além do que ele poderia imaginar, muito além de qualquer sonho de criança. E os voos da imaginação se transformaram em voo literais. Se não eram para afundar a bola de vôlei no território inimigo, eram para construir defesas impossíveis, espetaculares. Um jogador tão completo, tão fora da curva que acabou eleito duas vezes o melhor jogador de vôlei do mundo. Não é pra qualquer um.
Giba não é qualquer um.
Por trás do jogador famoso, temido por seus adversários por bem mais de uma década, está um sujeito afável, simpático, atencioso, sensível ao extremo. A própria percepção de sua importância é um indicativo. Quantas não foram as vezes que voltou ao hotel da seleção de táxi só para atender os fãs atrás de uma selfie, um autógrafo, um sorriso.
Humilde, explica seu combustível emocional na troca com seus “adoradores”. Sim, Giba não possui fãs. Eles são adoradores. E não esconde as lágrimas ao falar de alguns desses episódios de troca. É a sua força nada oculta que o fez sempre ressurgir do improvável.
Giba saiu do interior do Paraná para escrever um capítulo longo e importante do vôlei brasileiro
Giba saiu do interior do Paraná para virar bordão.

Giba saiu do interior do Paraná para virar mito.