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A HORA DE PARAR

::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Ainda bem que aceitei o convite para assistir Fluminense x Corinthians. Primeiro porque pude conferir ao vivo o trabalho de Fernando Diniz, de quem sou admirador confesso. O mais engraçado dessa partida foi o Corinthians ter deixado algumas de suas “estrelas’’ no banco.

O treinador português, bambambam, deve ter pensado “se der algo errado coloco minhas armas secretas em campo”. Deu errado, ele colocou “as feras” e continuou apanhando. Mas foi muito legal ver o show da torcida homenageando o artilheiro Fred, que está prestes a encerrar a carreira.

Lembrei que não tive jogo de despedida. Parei aos 35 anos, no Aix de Provance, da terceira divisão francesa. Fui bem em todos os clubes, mas nenhum se propôs a organizar uma festa, talvez por meu perfil contestador. Mas em compensação participei de algumas inesquecíveis, como a de Michel Platini, em Nancy, com Pelé dando o pontapé inicial. A de George Theo foi mágica e joguei com Kubala, Di Stèfano e Puskas. Também teve a do peruano Teófilo Cubillas, em que joguei com Figueroa e Ancheta, e do chileno Caszely.

Foram momentos maravilhosos, mas ainda estou na flor da idade, 72, e já avisei aos amigos que meu jogo de despedida vem aí. Sempre gostei de surpreender! Esperem e verão!

Por falar em idade, Vidal, Cebolinha e Fernandinho foram contratados recentemente e agora posso afirmar que o Brasil virou um cemitério de veteranos desgastados e promessas que não vingaram.

Pérolas da Semana:

“Jogador de beirada, dando carrinho orientado para lá e pra cá, fatiando a bola por dentro e encontrando o jogador dominante para chapar a orelha ou cara da bola”.

“Jogo pegado encontrando as conexões do 4-1-4-1, encaixado com ideia de informação, usando a diagonal do último terço do campo, dando tapa na bola bandida. Dessa forma, é possível criar um modelo e padrão ao estilo da outra linha de 5 defensiva”.

TRICOLORES CHORARAM COM O ÍDOLO

por Elso Venâncio

A torcida tricolor chorou junto com Fred. Impressionante a reação da galera, não só no Maracanã, mas em todo o país, após o Ídolo entrar em campo, marcar e se emocionar durante a comemoração de seu gol contra o Corinthians.

É fundamental ter um Ídolo! Fred fez a torcida crescer. Apenas na semana passada, 8 mil associados a mais em apenas três dias. Incrível!

João Saldanha falava que clube grande podia até não conquistar títulos, mas a presença de um ídolo era obrigatória. Citava o Corinthians, ao longo do jejum de 23 anos. A torcida, com grandes contratações, se tornava cada vez mais apaixonada e gigantesca.

No mês em que o Fluminense completa 120 anos de fundação, Fred, aos 38 anos, aproveita o embalo para novas emoções. Ele se despede no próximo sábado, contra o Ceará. Amigos que moram fora do Rio me ligam querendo ir ao jogo, mas os ingressos estão esgotados.

Vamos aproveitar a empolgação da galera e relembrar momentos marcantes do tricolor. Qual o melhor time do Fluminense que você viu jogar? Qual é aquele que te traz as melhores recordações?

A Máquina que mais admirei foi a de 1976, já que houve duas, ambas formadas por Francisco Horta, o ‘Presidente Eterno’. Uma, em 1975; outra, no ano seguinte. Falo dessa: Renato, Carlos Alberto Torres, Miguel, Edinho e Rodrigues Neto; Carlos Alberto Pintinho, Paulo Cezar Caju e Rivellino; Gil, Doval e Dirceu.

Mas, que tal essa formação: Paulo Victor, Aldo, Duílio, Ricardo Gomes e Branco; Jandir, Delei e Assis; Romerito, Washington e Tato.

Em relação à Máquina Tricolor dos anos 70, Rivellino e Paulo Cezar Caju eram os principais craques do Brasil. O primeiro saiu quase expulso pela Fiel, após derrota para o Palmeiras na final do Paulista, em 1974. Já o ‘francês’ PC Caju foi repatriado ao Olimpique de Marselha. O artilheiro argentino Doval e o Capitão do Tri, Carlos Alberto Torres, eram duas outras estrelas de ponta naquela constelação.

O paraguaio Julio Cesar Romero foi um dos grandes ídolos do nosso futebol nos anos 80. Raçudo, rápido e habilidoso, Romerito levou o Fluminense ao tricampeonato carioca em 1985, após ter feito o gol do título do bicampeonato brasileiro, contra o Vasco de Roberto Dinamite, um ano antes. Delei, Ricardo Gomes, Branco… quanta gente boa! Além, claro, do infalível ‘Casal 20’: Washington e Assis faziam um ataque e tanto.

E os campeões cariocas de 1969, com Flávio Minuano e o catimbeiro Samarone? Vitória na final sobre o Flamengo, diante de um público superior a 170 mil pagantes. 3 a 2, o resultado. O time era composto por Félix, Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antônio; Denilson e Lulinha; Wilson, Flávio Minuano, Samarone e Lula. Todos treinados pelo mestre Telê Santana.

Em 1970 veio a conquista da Taça de Prata, o Brasileirão da época, com Mickey sendo decisivo: marcou gol nos quatro últimos jogos. Nessa competição, os tricampeões no México estavam em campo. Nomes como Pelé, Rivellino, Tostão, Carlos Alberto Torres, Gerson e Cia…

O time campeão de 1964 também não deve ser esquecido. Ainda contava com o gigante Castilho no gol. Na decisão, 3 a 1 sobre o Bangu. A equipe? Castilho, Carlos Alberto Torres, Valdez, Procópio e Altair; Denilson e Oldair; Jorginho, Amoroso, Joaquinzinho e Gilson Nunes. Elba de Pádua Lima, o Tim, também conhecido como ‘El Peon’, era o comandante.

O Flu conquistou com brilhantismo os Cariocas de 1971, 73, 75, 76 e 80. Depois foi tri, de forma magistral, na década de 80. Até chegarmos ao histórico ano de 1995. Naquela temporada aconteceu o épico Fla-Flu do gol de barriga do Renato Gaúcho. Romário, o maior jogador do mundo, estava do outro lado e saiu cabisbaixo.

No novo milênio o tricolor levantou outros quatro canecos cariocas: em 2002, 2005, 2012 e este ano. Após a conquista da Copa do Brasil, em 2007, veio o vice da Sul-Americana e Libertadores. Em 2009, Fred liderou uma impressionante sequência de vitórias, evitando a queda para a segunda divisão. Surge, então, o time de Guerreiros. Na sequência, dois novos Brasileiros. Em 2010, após 26 anos, e em 2012.

No primeiro, Muricy Ramalho era o técnico e Emerson Sheik fez o gol do título: 1 x 0 sobre o Guarani, no Estádio Nilton Santos. O time entrou com Ricardo Berna, Mariano, Gum, Leandro Euzébio e Carlinhos; Diguinho, Valencia, Júlio César e Conca; Émerson e Fred. O argentino Conca foi, disparado, o melhor jogador do Campeonato. Participou de todos os jogos da campanha, sendo decisivo na maioria. Um espetáculo!

No tetrabrasileiro, em 2012, Fred se consagrou de vez no coração da torcida. Marcou duas vezes na decisão contra o Palmeiras, uma vitória por 3 a 2, em Presidente Prudente. Acabou sendo o artilheiro do Campeonato, com 20 gols. Hoje, é ídolo eterno das Laranjeiras.

Não podemos esquecer aquela equipe: Diego Cavallieri, Bruno, Gum, Leandro Euzébio e Carlinhos; Edinho, Jean, Deco e Thiago Neves; Wellington Nem e Fred. Abel Braga, o técnico campeão, era o mesmo que esteve também à beira do campo no título estadual deste ano. Aliás, nos três últimos Estaduais conquistados.

Mas, e pra você? Qual o melhor time tricolor, o título inesquecível e seu ídolo preferido?

RECORTES DE UMA VIDA – PARTE 3

por Zé Roberto Padilha

Trabalhava na Prefeitura de Três Rios, em 1987, um ano após encerrar minha carreira, quando o Rubens Galaxe me indicou para ser técnico dos Infantis do Flu. Ele dirigia o Juvenis.

Primeira pergunta que fiz em Xerém, porque não poderia arriscar ficar sem emprego :

– O treinador infantil cai também?

Me falaram que sim. “Tanto que você está aqui assumindo o lugar do que caiu!”, responderam.

– Mas foi por resultado?

Não, erro de avaliação. O treinador também tem que observar jogadores indicados ao clube. E ele foi convidado a ir até Vitória-ES, observar dois garotos da Desportiva. Eram irmãos.

– E aí, o que aconteceu?

Bem, tinha o meia, o Rodrigo, que está com a gente, e ele não observou qualidades no ponta esquerda. Não indicou a sua contratação. Acontece que o Flamengo ficou com ele. E, que azar do treinador, no último Fla x Flu ele fez o gol da vitória. E aí…

– Que azar! Qual o nome do ponta?

– Sávio.

Ainda bem que ganhamos o título infantil e não perdi o emprego. Acontece.

De repente o Sávio não estava inspirado naquele fatídico dia em que o futebol tricolor perdeu um dos mais completos ponta esquerda que vi jogar.

Ou meu antecessor era maluco. 

ANDREAS: UMA BOLA NA TRAVE DO FLAMENGO

por Marcos Eduardo Neves

Andreas foi uma bola na trave no Flamengo. Chegou no momento certo, do Manchester United, num time que tinha tudo pra ganhar tudo. Só que não ganhou nada.

E foi Andreas quem quis destino assim. Largou a reserva de um gigante da Europa pra mostrar no maior do Brasil quem era. Mostrou. Com personalidade. E alguns chutes que – Nossa Senhora! –,… bola na trave do Andreas!

Porque foi isso. Andreas foi uma bola na trave no Flamengo.
Bom jogador, dedicado, talentoso, organiza, limpa, arrisca forte, sem medo, de qualquer distância. No Brasileirão, hoje mesmo, pode checar, tem apenas um gol a menos que Gabigol.

Mas na hora errada e na partida mais do que errada, na prorrogação, simplesmente, da decisão da Libertadores que selaria o tri do Flamengo, Andreas nem trave foi. Foi gol. Só que contra. Gol do Palmeiras.

Ah, ocasos do futebol! Márcio Theodoro entregou pra Romário a Taça Guanabara de 1995 e acabou para o futebol. Gonçalves deu mole num Flamengo x Botafogo, foi contratado pelo rival e virou ídolo, vai entender, brilhou intensamente, entrou para a História do Glorioso. Andreas, no Flamengo, deu – não tem como negar: simplesmente, DEU – a Libertadores pro Palmeiras, no ano passado.
DEU. Mas ao escorregar. Infelicidade total. Nada por vontade, lógico, longe disso. Só que foi como ter explodido as torres trigêmeas, mesmo sem querer. Nisso, implodiu junto com o avião.

Se já não era, Andreas quis muito ser Flamengo. Aceitou menos que ganhava. Queria ficar. Errou, ok, mas errar é humano. O cara é baita jogador. 25 anos! Um pecado ter se despedido ontem. Vai para o Fulham, da Inglaterra. Que siga seu caminho e, na fé, arrebente. Mas, por favor, só não me volte, de empréstimo, para um Palmeiras, um Fluminense, um Corinthians, um Botafogo da vida ou sei lá quem.

Em qualquer fim de relacionamento a gente sente alívio ou saudade. Ontem foi 1 a 0, gol de Andreas. Cadê o alívio? Já sinto saudades. Ontem Andreas mostrou, provou para todos nós, nos deixando, graças a seu gol, praticamente nas quartas da Libertadores, que ele não – que ele não era uma bola na trave. É um gol. Que entregamos.

Tipo Tita, em 87. Cocada, 88.

Ainda vamos lamentar muito essa saída. O menino tinha tudo pra dar a volta por cima e luzir por anos.

De toda forma, obrigado, Andreas. ‘Cést la vie.’ Mas saiba, portas abertas.

SESSENTA E OITO VEZES JUNIOR

Ilustrações e texto: Marcos Vinicius Cabral

Junior e Heloísa se olharam e o silêncio respondeu à pergunta do filho do casal: “Pai, quando vou te ver jogar no Maracanã com a camisa do Flamengo?”, quis saber Rodrigo Gama, filho mais velho de Junior, homem que mais vezes vestiu a camisa do Flamengo e com ela ganhou tudo, ao assistir gols e mais gols de Zico em fitas VHS (formato anterior ao DVD).

Mas tal alegria de Digo, como é chamado até hoje pelos amigos mais chegados o pai do pequeno João Henrique, que vai fazer quatro aninhos no próximo dia 12, parecia sonho distante no fim dos anos 80. Fã dos lances do inseparável parceiro do Capacete, ardia no coração de Digo, o desejo em ver o pai com o Manto Rubro-Negro. Ganhar título seria bom demais, agora títulos como a Copa do Brasil, em 1990, o Carioca, em 1991 e o Brasileiro, em 1992, melhor ainda.

– Não lembro a maneira que fiz o pedido, mas via a fita do Zico direto, e a maioria dos gols era no Maracanã! – recorda-se.

Não teve jeito. Junior deixou o Pescara, o outro clube, além do Torino, que defendeu na Itália, no segundo semestre de 1989.

Mas Junior voltou para realizar o sonho do filho, pois nos cinco anos de futebol italiano, Leo Junior – como passou a ser chamado em Turim – conduziu, em 1984, o Torino ao vice-campeonato e acabou sendo eleito o melhor jogador daquele campeonato, que contava com craques como Maradona, Platini, Rummenigge, Falcão e Zico. Pouco tempo depois, já com a camisa do modesto Pescara, se tornou o segundo melhor estrangeiro no Campeonato Italiano de 1987, ficando à frente de nomes como Maradona, Careca, Van Basten, Gullit e Rijkaard e ajudou a manter a equipe alvi-azuis na elite da competição.

Mas Junior estava realizado financeiramente e a volta foi também para vencer desafios traçados por ele mesmo, já que era o único remanescente daquela geração vitoriosa que foi o Flamengo de 81.

Logo de cara, conquistou a Copa do Brasil – competição criada para aplacar o descontentamento das federações de vários estados com menos tradição no futebol nacional – em dois confrontos contra o Goiás, em 1990, em um time comandado por Jair Pereira e que contava com Uidemar, Zinho, Bobô, Renato Gaúcho e Gaúcho.

No ano seguinte, a frase “Ganhar Fla-Flu é normal” da torcida tricolor foi silenciada por Junior e com um sonoro 4 a 2, diante de quase 50 mil pagantes em uma noite de quinta-feira iluminada no Maracanã.

Mas a cereja do bolo na carreira, como ele próprio define, veio no Campeonato Brasileiro do ano seguinte, nos dois jogos contra o bom time do Botafogo: “Eu posso dizer que 92 representou muito mais do que os torcedores pensam, principalmente porque eu era o último remanescente daquela geração de ouro do Flamengo. Naturalmente, comandar aquela molecada toda foi motivo de prazer, satisfação e ter podido, mesmo aos 38 anos, dar minha contribuição para a história do clube”.

Naquele ano, Junior não só foi campeão Brasileiro de 92, mas foi eleito melhor jogador, Bola de Prata pela revista Placar e se tornou, com o bigode espesso e cabelos grisalhos, o vovô para os outros dez netinhos daquele Flamengo.

Perto de completar 30 anos da conquista do pentacampeonato brasileiro, dois anos antes, em 2020, em um ranking elaborado por jornalistas, Junior figurou na 2ª posição entre os maiores ídolos de futebol da história do Clube de Regatas do Flamengo, atrás apenas de Zico.

No entanto, uma das maiores alegrias deste paraibano que completa 68 anos nesta quarta-feira (29), ocorreu há quase quatro anos com a chegada do pequeno João Henrique, filho de Digo, este mesmo que naquele Fla-Flu de 1991, com apenas sete anos, correu em direção do pai suado pela dificuldade do clássico e com os braços abertos, agarrou-o pelas pernas e os dois, comemoraram juntos, em particular, aquele título, realização de dois sonhos: o de Digo, que viu o pai com a camisa do clube de coração e o de Junior, que realizou o sonho do filho.