DOALCEI CAMARGO – O LOCUTOR MAIS VIBRANTE DO BRASIL
por Elso Venâncio

No final dos anos 40 o jovem Doalcei Camargo chegou ao Rio de Janeiro para trabalhar na Rádio Globo, levado pelo irmão Wolner Camargo, também locutor esportivo. Recém-inaugurada, a emissora, que se tornaria a maior potência radiofônica do país, tinha Luiz Mendes na chefia de esportes.
Paulista de Itápolis, Doalcei rapidamente se destacou e acabou sendo contratado por Waldir Amaral, que comandava a Continental – a rádio “100% esportiva e informativa”. Passou ainda pela Tamoio, Guanabara, Tupi e Nacional até voltar à Rádio Globo para narrar a Copa de 1990, na Itália. Seu grande momento, no entanto, deu-se na Super Rádio Tupi, para onde chegou em 1965 e, por mais de 20 anos, tornou-se o grande líder e destaque do esporte.
Doalcei merecia um reconhecimento maior. Foi um monstro! Um dos maiores, talvez o maior do seu tempo. Narrava com uma velocidade impressionante para a época, num tempo em que o futebol carioca era bastante cadenciado. Vários amigos me diziam:
– Melhor locutor? Doalcei. Ouço a Tupi por causa dele…
– Não escuta Waldir e Curi?
– Não!
– E o ‘Garotinho’, na Nacional?
– Também não…
Era a época de ouro do Rádio! Os jogos não passavam pela televisão. O principal veículo era o Rádio!
Doalcei se destacava, ainda, por ser uma figura humana especial. Espiritualizado, kardecista convicto, querido por todos, era chamado de “Dodô” por seus amigos mais íntimos.
Na Rádio Globo, em 1993 fomos à Colômbia – ele, como narrador; eu, como repórter – cobrir o Flamengo em dois jogos válidos pela Libertadores. A delegação e os jornalistas eram orientados a não deixarem o motel. Sim, a hospedagem acontecia em um motel! Mas por medida de segurança, em Medellín. Afinal, Pablo Escobar, que seria assassinado ao fim daquele ano, era o todo-poderoso do país e mandava cocaína para o mundo todo.
Maurício Fonseca, hoje assessor de imprensa do Flamengo, enviou uma matéria que rendeu a seguinte matéria no jornal “O Globo”, no dia seguinte:
“Flamengo em motel na Colômbia”
Doalcei, preocupado, perdeu o sono:
– O que minha esposa e família vão pensar?
Nessa viagem, tive o prazer de apresentá-lo a Mauro Cezar Pereira, que representava o “Jornal do Brasil”. Emocionado, Mauro o abraçou:
– Estou diante do meu ídolo de infância e adolescência. Meu e do meu pai.
O Rádio, ao longo dos anos, nos aproximou desses gigantes da comunicação esportiva. Eles fizeram e ainda fazem parte das nossas emoções, das nossas vidas. Nomes como Jorge Curi, Waldir Amaral, Orlando Batista, Luiz Penido, Jota Santiago, Édson Mauro e o grande e eterno “Garotinho”, José Carlos Araújo, são imortais.
Doalcei Benedito Bueno de Camargo faleceu de infarto, aos 79 anos de idade, em seu apartamento no bairro das Laranjeiras, na fatídica madrugada de 29 de agosto de 2009. Deixou uma legião de fãs e amigos, mas entrou para a História como um dos maiores nomes de todos os tempos do Rádio, que completa um século de fundação este ano.
FUTEBOL É MOMENTO
::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Durante a minha caminhada pelo calçadão, um vendedor do quiosque me parou e perguntou: “PC, o Ganso não merecia estar no grupo que vai à Copa?”. Tenho visto muito esse debate e, na minha opinião, com certeza o camisa dez do Fluminense merecia a convocação!
Futebol é momento e o meia está em excelente fase, sendo essencial para o estilo de toque de bola do Fernando Diniz funcionar! É claro que ele não tem a velocidade e o preparo físico para aguentar os 90 minutos, mas poderia muito bem entrar no segundo tempo para dar um passe para um Neymar ou Raphinha, fazer uma tabela e sair na cara do gol.
Vale lembrar que, em 2010, Ganso e Neymar estavam em excelente fase no Santos, foram cotados para ir à Copa, mas Dunga não levou e deu no que deu! Resumindo, é um organizador que não temos no grupo atual da Seleção!
Outro jogador que está em grande fase, fazendo gol de todos os jeitos possíveis, é o Pedro! Convocação mais do que merecida e tenho certeza que também pode contribuir muito na Copa do Mundo, sobretudo em jogos mais truncados.
Sobre o Brasileirão, estou feliz com o sucesso do Cruzeiro, Grêmio e Bahia, que caminham a passos largos para retornar para o lugar que nunca deveriam ter saído! Apesar de estar na zona de classificação para a Série A, o Vasco não é um time regular e precisa abrir o olho porque o Londrina já está na cola!
Estive ontem no Engenhão e pude constatar que o Botafogo é um time totalmente desarrumado e sem solução! A única exceção é o Jefinho, um garoto rápido, driblador, que tem futuro, mas precisa aprimorar a finalização!
O lado bom de ir no estádio é que não preciso ouvir o novo vocabulário do futebol brasileiro, criado pelos analistas de computadores! Kkkkk
Pérolas da semana:
“A ligação direta faz o clube ter mais volume de jogo e ajuda a explorar mais o ala pela beirinha, que penetra por dentro da linha de cinco, faz o X1 com o falso nove e espeta o adversário na vertical”.
“Com um time encaixotado que briga pela segunda bola, o cão de guarda chapa na cara da bola para espaçar o campo e encontrar a profundidade pelos lados”.
Alô, geraldinos! Entenderam, lhufas?
O ÚLTIMO VOO DO CRAQUE
por Flávio M. Peres

“Ganso barbarizava com passes desconcertantes”, disse o Juca em “Tricolores fazem jogaço à brasileira” Fluminense x Fortaleza). É a última chance de Ganso estar em um grupo de seleção em Copa do Mundo.
Se em 2010, novinho e inexperiente, era uma unanimidade, por que, agora, experimentado, e tendo voltado a jogar grande futebol, não deveria estar lá?
Ainda que não seja titular, ainda que jogue somente segundos tempos contra times absolutamente retrancados, ele deveria ser uma alternativa (única e diferente) no grupo.
Imaginem esse sujeito municiando Raphinha e Neymar em um jogo com 10 jogadores; imaginem municiando Pedro, Raphinha e Neymar! O futebol arte é o DNA da maneira brasileira de jogar. Que coloque Danilo e Alex Sandro (mais seguros) nas laterais; que coloque Casemiro e Fred para protegerem o meio campo.
Casão já disse que amou o ataque da nova convocação. Há quem marque, há quem ataque, mas há quem dê passes magníficos para que a bola chegue até eles.
Uma coisa aprendemos em 1966: o nosso mais fantástico meia armador, Didi, melhor jogador Fifa da Copa de 58, bicampeão em 1962, fez uma falta danada, e, por melhor que fosse o ataque, a magia no meio campo fez falta e o time naufragou com Pelé e demais craques. Zagallo percebeu isso e encheu a Seleção de 70 de “Camisas 10”, para garantir que a genialidade de Pelé voltasse a brilhar plenamente.
Tite, chama o Ganso!!!
A TAÇA RIO DO AMERICA, 40 ANOS DEPOIS
por Paulo-Roberto Andel

Entre setembro e novembro de 1982, aconteceu a primeira edição do segundo turno do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro com nova nomenclatura, batizado como Taça Rio. Começava uma nova era de charme que duraria vários anos, em contrapartida à consagrada Taça Guanabara, criada em 1965.
O futebol do Rio fervilhava. Os times possuíam muitos jogadores de qualidade, os clássicos eram sinônimo de Maracanã lotado. Apesar da natural disparidade de forças entre as grandes equipes e as de menor investimento, é correto dizer que todos os times da Primeira Divisão do Rio em 1982 tinham valor. Além dos chamados quatro grandes, brigavam America e Bangu, além do Campo Grande (campeão da Série B do Brasileirão naquele ano), o atrevido Bonsucesso e os sempre incômodos Americano e Volta Redonda. Até mesmo a Portuguesa, que fez uma campanha ruim, aprontou contra Fluminense e Flamengo, vencendo os dois clubes respectivamente por 2 a 1 e 3 a 2 – este, num jogo épico na Ilha do Governador.
Já consagrado na temporada pelo título do Torneio dos Campeões, que tem o peso de uma competição nacional, o America conseguiu apenas o sexto lugar na Taça Guanabara. Entretanto, reagiu no returno e marcou seu nome na história da Taça Rio como seu primeiro campeão, apesar de começar a jornada com uma derrota.
A campanha rubra na Taça Rio 1982:
America 1 x 3 Botafogo (Maracanã)
America 4 x 1 Volta Redonda (Wolney Braune)
Americano 0 x 1 America (Godofredo Cruz)
Bonsucesso 0 x 0 America (Moça Bonita)
America 2 x 0 Campo Grande (Wolney Braune)
Vasco 0 x 2 America (Maracanã)
Bangu 2 x 2 America (Maracanã)
Flamengo 0 x 2 America (Maracanã)
Portuguesa 1 x 3 America (Caio Martins)
America 5 x 0 Madureira (Wolney Braune)
Fluminense 2 x 4 America (Maracanã)
A Taça Rio deu ao America a oportunidade de disputar o título estadual de 1982 contra Flamengo (campeão da Taça Guanabara) e Vasco (time com a maior soma de pontos nos dois turnos do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro), num triangular final. Duas derrotas por 1 a 0 alijaram o time do título esperado desde 1960, mas a bela campanha da Taça Rio é uma doce lembrança dos tempos em que o America era protagonista e admirado.
A vitoriosa campanha americana na Taça Rio contou com nomes como os de Gasperin, Chiquinho, Everaldo, Zedílson, Aírton, Pires, João Luís, Moreno, Gilberto, Luisinho Tombo, César, Serginho, Gilson, Donato, Jorginho, Adilson, Duílio e Elói, mais os treinadores Dudu e Edu.
UMA VOADORA QUE PODE ROUBAR UM SONHO
por Zé Roberto Padilha

O que leva um atleta rodado, como Carlos Eduardo, do Bragantino, dar uma voadora sobre Guilherme Arana, aos 44 minutos do segundo tempo, em uma jogada na intermediária que não levava perigo a gol algum?
Ao atingir no joelho o lateral esquerdo, único titular da seleção brasileira que joga no país, ameaça levar para o Departamento Médico o sonho maior de todo jogador: disputar uma Copa do Mundo.
Tão imbecil a jogada, que ela conseguiu imbecializar a comentarista de arbitragem do Canal Premiére, que por nunca ter disputado uma jogada, declarou que o cartão amarelo “estava de bom tamanho”.
Guilherme Arana se arrastou nos minutos finais de Atlético-MG 1×1 Bragantino. Vai realizar exames e tomara que seu joelho, que é quem dita a expectativa de vida de um atleta profissional, não tenha sofrido uma grave lesão nos meniscos ou nos ligamentos cruzados.
Se Zico realizou obras-primas durante sua ascensão, imagine o que faria se o Márcio, do Bangu, não lhe desferisse uma voadora parecida que lhe roubou parte dos movimentos?
Na hora, doeu aqui em casa. Operei o meu diante de uma imbecialidade parecida, talvez pior, pois fui atingido num treino recreativo. E o meu futebol perdeu a graça. Deixou de ser um prazer para se tornar um sofrer em outras três cirurgias corretivas.
Boa sorte, Arana.