AMARELINHA BANALIZADA
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Em uma resenha depois da pelada com os amigos, um deles me pergunta: “PC, você sabe de cabeça o meio-campo da Seleção?”. Se essa pergunta fosse feita nos áureos tempos do nosso futebol, qualquer brasileiro saberia sem pensar duas vezes, mas hoje a realidade é outra! Depois de alguns segundos pensando, lembrei que é formado por Casemiro, Fred e Lucas Paquetá. Nada contra esse trio, mas eu é que devo estar mal acostumado mesmo! Vestir a amarelinha era um privilégio para poucos e quem era convocado fazia de tudo para permanecer no grupo. Lembro como se fosse ontem da minha primeira convocação e o quanto a gente respeitava a amarelinha. Ninguém da minha época falava que chegaria lá e atualmente qualquer jogador da base já fala em ser convocado! A concorrência era grande e várias lendas do futebol brasileiro tiveram pouquíssimas ou nenhuma oportunidade. Ademir da Guia, Dirceu Lopes, Eduzinho, Antunes, Zé Carlos, Paulo Borges, Samarone, Alladin, Lula, Silva, Denílson, Spencer e Parada foram alguns deles e eu poderia passar horas aqui citando vários outros nomes. Na minha época, cada clube tinha de 5 a 6 craques e tenho certeza que esses clubes batiam de frente com qualquer seleção atual. Hoje em dia, a Seleção virou um balcão de negócios e volta e meia aparece um que eu nunca ouvi falar na vida! Faltam quatro meses para a Copa do Mundo e confesso que nunca estive tão desacreditado. Podem falar que eu sou ranzinza, chato, reclamão, mas está cada dia mais difícil ver uma luz no fim do túnel. O 10×1 (7 da Alemanha e 3 da Holanda) era pra ter sido uma lição, mas, sinceramente, acho que até pioramos de lá pra cá! Antes que falem besteira, sou brasileiro e vou torcer até o fim! Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos!
Pérolas da semana:
“Ligação direta ao jogador de lado de campo com o pé dominante chapando por dentro na cara ou na orelha da bola, elevando o jogo pegado e fazendo a transição entre os setores”.
“Chama a bola de coberta e o volante proativo que faz o encaixe com sustentação de lado com intensidade mental e atmosfera que oferece ao falso 9 uma marcação alta ou baixa para quebrar a linha de cinco e matar a bola viva ou queimando de um time espetado”.
VOZES DA BOLA: ENTREVISTA RICARDINHO

“Por mais que o Ricardinho tenha conquistado títulos importantes, feitos gols decisivos, honrado essa camisa pesada deste gigante do futebol, mas não dá para fazer tal comparação. O Rivellino está nesta seleção do Corinthians de todos os tempos, sem dúvidas, não só da qualidade como jogador, mas também por tudo que ele fez pelo clube”, disse ao telefone para o repórter Marcos Vinicius Cabral.
Humilde como pessoa e fã de uma geração que se expressava pelo futebol arte de Sócrates e Zico, Ricardo Luiz Pozzi Rodrigues, o Ricardinho, começou a pisar no chão de cimento do futebol de salão nas categorias de base no Paraná Clube e escrever a própria história.
Dono de um talento inquestionável, o craque da camisa 11 formou ao lado de Vampeta, Rincón e Marcelinho um dos melhores meio-campos da história do Corinthians e com a camisa do Timão conquistou os Brasileiros de 1998 e 1999, Paulistas de 1999 e 2001, o Mundial de Clubes em 2000, a Copa do Brasil e o Rio-São Paulo, ambos em 2002, além de ter sido um dos 23 filhos da Família Scolari do patriarca Luiz Felipe Scolari que conquistou o pentacampeonato para o futebol brasileiro.
Mesmo com tantos títulos importantes, o torcedor corintiano não esquece aquele 13 de maio de 2001, Dia das Mães, quando a equipe do Parque São Jorge enfrentou o Santos, em duelo decisivo pelas semifinais do Paulista daquele ano.
O Peixe precisava de apenas um empate para avançar à final. Igualdade que permaneceu até os 47 minutos do segundo tempo. Mas quando Gil levou a bola até a linha de fundo, cortando o zagueiro André Luiz, que ficou no chão, a torcida levantou da arquibancada e viu o jogador erguer a cabeça, rolar a bola para trás para Marcelinho que, de propósito, deixou passar, e o lance sobrou para Ricardinho bater de canhota e acertar um belo chute no canto direito do goleiro Fábio Costa.
A partida terminou 2 a 1, o Timão conquistou o título após bater o Botafogo-SP na final, mas aquele momento é lembrado até hoje pelos torcedores do Corinthians que estiveram no Morumbi. O Vozes da Bola teve a honra de entrevistar Ricardinho, pentacampeão Mundial pela Seleção Brasileira na Copa de 2002, disputada na Coreia do Sul e Japão e que é atualmente comentarista de futebol na TV Globo e dos canais por assinatura SporTV. O cérebro meio-campista vem a ser o 45º em uma seleta seleção de quem fez – e por méritos – merecer ser entrevistado por nós do Museu da Pelada.
Por Marcos Vinicius Cabral
Edição: Fabio Lacerda

Nascido na cidade de São Paulo, em 1976, você iniciou a carreira nas categorias de base do Paraná Clube, no início da década de 90. Como foi isso?
Meu começo foi no futsal no Paraná Clube, em 1993, e em seguida fui para o futebol de campo jogar no juvenil. Em 94, joguei nos juniores e no ano seguinte, fui profissionalizado e aí começa a minha trajetória futebolística.
Cobiçado por diversos times nacionais e internacionais, o Bordeaux-FRA acabou te contratando ainda em 97. Por que você ficou pouco tempo por lá?
Fui contratando pelo Bordeaux da França e joguei lá apenas uma temporada, a de 1997/98. Eu tinha mais três anos de contrato, mas a pedido do Vanderlei Luxemburgo, fui contratado pelo Corinthians, que ao lado do Santos, quis me contratar desde à época em que eu ainda jogava no Paraná. Por esse motivo, joguei esse pouco tempo no clube francês e voltei ao futebol brasileiro.
Como surgiu o Corinthians na sua vida?
O interesse do Corinthians na minha contratação veio por meio do Vanderlei Luxemburgo, que me conhecia e foi meu treinador no meu primeiro ano como profissional da equipe do Paraná, em 95, no Campeonato Brasileiro daquele ano. Pouco antes do início da Copa da França de 1998, cheguei no Parque São Jorge.

Ricardinho, você teve uma passagem vitoriosa pelo Timão. Foram dois títulos do Brasileirão, em 1998 e 1999, um Mundial de Clubes, em 2000, uma Copa do Brasil, em 2002, dois Campeonatos Paulistas, em 1999 e 2001, e um Torneio Rio-São Paulo, em 2002. O que significou ter vestido a camisa do Corinthians?
Significou muito vestir a camisa do Corinthians, pois tive uma grande identificação com o clube, pelas conquistas, pelo time que foi montado, em que a geração foi vitoriosa e formada por grandes jogadores. Mas é lógico que em um clube do tamanho do Corinthians, com uma torcida apaixonada como a Fiel e você conquistar títulos importantes, isso marca.
Mesmo com tantos títulos importantes, podemos citar o Corinthians x Santos naquele 13 de maio de 2001, no Dia das Mães, quando o duelo decisivo pelas semifinais do Paulista foi marcado por um belo gol marcado por você?
Sem dúvida. Esse gol contra o Santos ficou marcado pelas circunstâncias do jogo, da importância e por ter sido em uma semifinal do Campeonato Paulista de 2001. Era um clássico decisivo, a equipe santista jogava pelo empate e no último minuto do confronto, consegui finalizar de fora da área e marcar o gol da vitória. Por todos esses motivos, acredito que esse gol tenha ficado definitivamente marcado na história do Campeonato Paulista entre esses dois grandes times do futebol brasileiro. Mas na minha história de atleta profissional, até hoje ele é lembrado e me deixa feliz em saber que ele foi marcante, não só para mim, mas também para muitos torcedores do Corinthians.
O Sport Club Corinthians Paulista vai fazer 112 anos no próximo dia 1° de setembro. Como você escalaria o Corinthians de todos os tempos? Na meia esquerda, o comentarista Ricardinho lançaria no time titular você ou Rivellino, levando em consideração o número de títulos de ambos os jogadores pelo Corinthians?
Sinceramente, eu não saberia escalar o Corinthians de todos os tempos. Porque eu seria injusto com muitos grandes jogadores que são ídolos nessa rica história do clube em 111 anos e que teriam que ficar de fora. Mas posso te garantir que como comentarista, o titular do meio-campo é o Rivellino. Por mais que o Ricardinho tenha conquistado títulos importantes, feitos gols decisivos, honrado essa camisa pesada deste gigante do futebol, mas não dá para fazer tal comparação. O Rivellino está nesta seleção do Corinthians de todos os tempos, sem dúvidas, não só pela qualidade como jogador, mas também por tudo que ele fez pelo clube.

Em 2002, com a lesão do volante Emerson, você em grande fase foi convocado por Felipão para integrar o grupo que conquistou o pentacampeonato mundial, na Coreia do Sul e Japão. Como foi participar da Família Scolari?
Infelizmente fui convocado por uma infelicidade do Emerson. Lembro que vínhamos de duas importantes conquistas pelo Corinthians, que foram a Copa do Brasil e o torneio Rio-São Paulo, e aquele time de 2002, me proporcionou, com boas atuações, ser lembrado pelo Felipão. Mas sei que fui premiado pela oportunidade em fazer parte daquele grupo que era chamado de Família Scolari e conquistar o Mundial. Mas fomos competentes e merecemos sim, em vencer aquela Copa do Mundo, pelo que mostramos em campo com jogadores de qualidade que estavam em boa fase nos clubes. Foi ótimo ter participado daquele grupo e até hoje mantemos contatos uns com os outros e aquela conquista, não só marcou o futebol brasileiro, mas também a nossa amizade dali por diante.
Você sempre foi um jogador que se envolveu em poucas polêmicas, no entanto, houve uma confusão na Turquia, no estacionamento no estádio do Fenerbahçe com o brasileiro naturalizado turco, Mehmet Aurélio, após a decisão da Copa da Turquia de 2007? O que aconteceu, de fato, é grave, para um problema que culminou com violência no estacionamento do estádio?
A confusão no campo e fora dele na partida contra o Fenerbahçe na Copa da Turquia em 2007, se deu porque nós, do Besiktas, acabamos eliminando o nosso adversário na casa deles. Ali existe uma rivalidade muito grande, como existe em qualquer lugar do mundo em um clássico envolvendo dois grandes clubes, e alguns jogadores do Fenerbahçe se exaltaram, entre eles esse brasileiro naturalizado turco, que acabou perdendo a cabeça no estacionamento. Mas a gente sempre fala que o que acontece dentro de campo fica dentro de campo e não foi esse o caso neste episódio. Mas foi superado e não tem mais problema nenhum entre nós. O importante é que o Besiktas passou adiante, eliminou um grande adversário que foi o Fenerbahçe e conquistou a Copa da Turquia.
Quem foi seu melhor treinador?
Meu melhor treinador foi Vanderlei Luxemburgo.
Quem foi o jogador que mais te inspirou desde o começo da carreira no Paraná, em 1997, até você pendurar das chuteiras em 2012?
Eu sou da geração que viu Sócrates e Zico em campo, né? Então, o Zico acabou se tornando uma das referências, seja pela condição técnica, pelo poder de decisão e pelo poder do improviso. Agora, a inspiração vem de vários jogadores, mas não tem como você ser igual a ninguém, pois cada um tem a sua característica, mas é importante você ter uma postura profissional e ser dedicado. E o Zico resumiu muito bem isso.

Após concluir o curso de treinadores da CBF na PUC de Minas Gerais em 2013, você dirigiu algumas equipes como a do Paraná por duas vezes, Ceará, Avaí, Santa Cruz, Portuguesa, Tupi-MG e Londrina sem alcançar resultados expressivos. Por que desistiu de ser técnico de futebol?
Realmente eu fiz todos os cursos, ou melhor, todas as licenças exigidas pela CBF, sendo aluno da primeira turma da licença A e do Pró, ambas concluídas. Quando terminei o Pró, curiosamente, não era mais treinador, enquanto cursava, tive a oportunidade de dirigir várias equipes e conquistei a série B do Campeonato Paranaense com o Paraná, o Pernambucano pela Santa Cruz e passei por outras equipes. Mas quando saí do clube Londrina, recebi o convite do Grupo Globo para ser comentarista e ouve uma reflexão minha, junto com minha família, e optei em seguir esse caminho. Posso te assegurar que estou feliz por estar onde estou, faço aquilo que gosto, ou seja, me envolvo com o futebol, não no dia a dia de um clube, mas comentando os jogos do futebol brasileiro. Tomei essa decisão por dois aspectos: o primeiro, ficar perto dos meus familiares e o segundo, como técnico, não ficar dependente de resultados para se manter treinador de uma equipe, correndo o risco iminente de uma demissão por alguns maus resultados, isso pesou muito. Mas tenho a certeza que a escolha foi acertada e estou feliz aqui no Grupo Globo.
Como enfrentou essa questão de isolamento social do coronavírus?
Continua sendo uma questão muito difícil para todos nós. Na verdade, mudou a vida de todo mundo, independente da profissão, da classe social e todos tivemos que nos adequar a esse vírus. Mas é preciso respeitar as orientações médicas e sanitárias que estão atuando em prol do bem-estar da população e mesmo assim, isso tem afetado a todos. Eu com a minha família, a gente procurou seguir orientações para voltar à vida e conviver com as pessoas. Mas vale dizer que se vacinar foi importantíssimo assim como seguir as orientações, o isolamento social, álcool em gel e máscara contra a Covid-19, medidas fundamentais.
Como definiria Ricardinho em uma única palavra?
Amigo. Essa é a palavra que me define.
O CRAQUE DO BRASIL EM 2018
por Luis Filipe Chateaubriand

Em 2018, o Palmeiras era o clube dominante do futebol brasileiro, tendo sido o vencedor do Campeonato Brasileiro da Série A.
À frente da trupe, o atacante Dudu.
Homem de muitos gols, também fazia assiduamente assistências para outro alviverdes marcarem.
Raçudo, buscava espaços contra as defesas adversárias com rara competência, o que garantia, ao Imponente, boas oportunidades.
Líder, instruía os companheiros a estarem ligados nos jogos, a se doarem em campo, a terem comprometimento.
Tinha, também, a identificação com a torcida, que sempre o prestigiava e se fazia presente para enaltecer o grande jogador.
Por essas e outras, Dudu foi o craque do Brasil em 2018.
ZEBRA: NOVO MICO-LEÃO-DOURADO DO FUTEBOL?
por Raphael Soledade e Rafael Maia

As zebras não são mais unanimidade no universo do futebol. Há até quem proclame a sua extinção. O ex-jogador Paulo Cézar Caju, tricampeão mundial naquela mágica seleção de 70, defende que “o futebol, hoje em dia, está totalmente parelho e as zebras perderam força. Na verdade, elas viraram o mico-leão-dourado do futebol, ou seja, estão em extinção.”.
Caju acredita em uma nova configuração das zebras. Para ele, devem ser consideradas não só se um time de menor expressão ou investimento leva a melhor sobre um time de maior estatura. Também ocorrem, na opinião do ex-meia ofensivo, quando um time grande numa fase superior perde para um congênere num momento ruim.
Muitos analistas e torcedores concordam – especialmente com a percepção de que as zebras caminham para raridade. Para o tricolor Carlos Eduardo Guimarães, “elas já não podem ser consideradas tão zebras”. Isso porque os clubes menores, argumenta, “estão cada vez mais fortes e empenhados. Através do marketing, conseguem patrocinadores e, consequentemente, capital para contratar bons jogadores, muitas vezes já experientes, tornando o time mais competitivo”.
Até para a frieza dos números, elas se tornam arredias. O matemático Henrique Serra aponta uma dificuldade “em criar amostras estatísticas para esse tema devido às variáveis envolvidas”. Ele pondera:
“Como caracterizar a zebra? A análise é feita sobre um recorte histórico de cada time ou simplesmente baseada na atualidade?”.
Nos debates em torno da caracterização da zebra, tradição, peso histórico – “camisa pesada”, dizem os boleiros – somam-se à performance recente do time e ao seu poder financeiro. Cada vez mais, estreita-se a relação entre a saúde financeira do clube e o rendimento esportivo. Mesmo assim, fracassos de equipes mais poderosas – esportivamente, economicamente, historicamente – não constituem necessariamente uma zebra.
Poderio financeiro afasta o improvável

Um time com maior poder de investimento e com uma melhor administração de recursos terá um caminho mais fácil para o sucesso esportivo, com inclinação mais recorrente ao favoritismo e maiores chances de disputar títulos – em competições mata-mata e, sobretudo, de pontos corridos. Assim, a zebra contemporânea se caracterizaria mais no caso do insucesso de Golias rico contra um Davi pobre ou menos abastado. O jornalista Leandro Dias, do canal no Youtube Netflu, observa:
– Hoje consideramos zebra quando um time com poder de investimento muito menor vence uma equipe de menor investimento. Em geral, esta equipe também tem menos tradição e torcida.
Dias acrescenta que outros aspectos na avaliação de um grande favoritismo – e, consequentemente, de uma zebra – dizem respeito ao nível técnico dos adversários e a um certo estio de craques no mundo:
– Não há mais grandes craques no futebol mundial: Cristiano Ronaldo e Messi já passaram dos 35 anos. Estão no final da carreira. O Neymar, que seria o terceiro, já tem mais de 30 e não se vê uma substituição no mesmo nível. Então, observa-se uma crise técnica que produz um certo nivelamento, em geral, entre as equipes em relação a anos anteriores, quando ficavam mais evidentes os grandes clubes, os clubes médios e os clubes pequenos.
O tipo de competição também conta para a incidência de zebras. Campeonatos mais longos, de pontos corridos, tendem a favorecer times melhores, com estruturas esportivas, administrativas e financeiras superiores.
– Por conta da distância financeira, é muito difícil um clube de menor investimento ganhar um campeonato de pontos corridos. Neste modelo de disputa, é preciso um elenco forte, homogêneo, para um clube brigar pelo título. Já no mata-mata, é um pouco menos difícil! – compara Dias.
Surpresas rondam a Copa do Brasil

Tradicional competição mata-mata, a Copa do Brasil comprova, de certa forma, essa tese. Acumula algumas das grandes zebras do futebol brasileiro. Como os títulos do Juventude sobre o Botafogo, em 1999; do Santo André sobre o Flamengo, em 2004; e do Paulista sobre o Fluminense, em 2005.
Já nas últimas 20 edições do Campeonato Brasileiro da Série A, as zebras não levantaram caneco. Prevalece a regularidade que normalmente acompanha as equipes tecnicamente e economicamente superiores.
Nem a Alemanha está imune

A Copa do Mundo, torneio curto de caráter eliminatório, é historicamente mais convidativa à zebra. Ela passeou, por exemplo, no Mundial da Rússia, em 2018, com a desclassificação precoce da toda-poderosa Alemanha, campeã em 2014. Para o historiador Iugh Mattar, fundador do canal Futebol Coruja, surpresas deste tipo também se mostram mais comuns em Copas porque as táticas costumam se sobrepor às habilidades individuais. Sem contar que a maioria das seleções apresenta-se menos prodigiosa do que as principais equipes da elite europeia, formadas por craques de vários países.
As Ligas espanhola e, sobretudo, inglesa passaram a concentrar os protagonistas do futebol mundial, desfalcando até campeonatos tradicionais como o italiano. Mattar acredita que tal movimento tenha influenciado, de alguma maneira, aquilo que pode ser considerado uma zebra histórica: a tetracampeã Itália ficar de fora de dois Mundial seguidos (Rússia 2018 e Catar 2022). Ele ressalta:
“A Itália era um país com muitos craques jogando em seu país. Entretanto, eles foram se movendo para outras ligas. Atualmente, os principais estrangeiros são os argentinos Dybala e Lautaro, e eles não pertencem à prateleira dos melhores do mundo. Por isso, são sondados para se transferir para o Tottenham ou o Atlético de Madri, não para o Barcelona ou o Real Madrid”.
Mais uma do Gentil

O icônico Gentil Cardoso, treinador de diversos clubes do Brasil, criou e popularizou expressões marcantes no futebol: “caixinha de surpresas”, “o craque trata a bola de você, não de excelência”, “treino é treino, jogo é jogo”, “quem se desloca recebe, quem pede tem preferência”, “quem não faz, leva”. Também foi o pai da zebra.
Gentil treinava a Portuguesa, do Rio, quando usou pela primeira vez o termo, em 1964, antes de enfrentar o Fluminense pelo Campeonato Carioca. “Vai dar zebra”, profetizou. Imaginava que o destino pudesse trair o favoritismo tricolor.
O técnico fez referência ao jogo do bicho, do qual a zebra não faz parte, para destacar a possibilidade de um resultado improvável. E deu zebra na cabeça: Flu e Portuguesa empataram em 1 a 1. O animal passou a rondar os gramados como sinônimo do inesperado que – ontem, hoje, amanhã – acompanha o futebol.
Algumas zebras históricas:
1- Leicester City – Premier League 2016
O modesto Leicester fez o inimaginável em 2016: conquistou a Premier League com duas rodadas de antecedência.
2-Grécia – Eurocopa 2004
A Grécia chegou à final da Eurocopa 2004, passando pela França, Chéquia e venceu Portugal no último jogo.
3- Once Caldas – Libertadores 2004
Once Caldas foi uma das maiores zebras na Libertadores 2004. Desbancou times como Santos, São Paulo e Boca Juniors.
4- Santo André – Copa do Brasil 2004
Na conquista da Copa do Brasil 2004, o Santo André bateu o Guarani, o Palmeiras e, na final, o Flamengo.
5- Porto- Champions League 2004
O Porto arrematou a Champions League de 2004 passando por Manchester United, La Coruña, Lyon e Mônaco, na final.
DISCUTINDO PESQUISAS
por Idel Halfen

O passar dos tempos faz com que sejamos mais seletivos, o que inclui até as escolhas dos debates. Por mais que tenhamos argumentos irrefutáveis sobre certos assuntos, muitas vezes, dependendo do interlocutor, é melhor se calar.
Nessas horas, devemos ter como mantra a frase: “mais burro é o sujeito que tenta ensinar um cavalo a falar inglês do que o cavalo que não aprende”.
Dentre os assuntos que não vale a discussão estão as pesquisas no Brasil, aqui destacam-se as eleitorais e, mais recentemente, as sobre os tamanhos das torcidas dos times de futebol.
As eleitorais costumam ser taxadas de “fraudadas” se o resultado apontar o candidato adversário à frente e “corretas” quando o inverso ocorre. Ainda que as metodologias possam ser questionadas, condenar peremptoriamente resultados cristalizados em forma de tendências deixam evidente o quanto a paixão e/ou o fanatismo afetam a capacidade cognitiva das pessoas.

Já as contendas acerca do tamanho das torcidas são ainda piores, pois, ao contrário das eleições, onde quem tiver mais votos vencerá o pleito, o fato de se ter mais torcedores não implica em conquista de títulos, tampouco em garantia de vitórias frequentes.
Aqueles que torcem para os times ditos com maiores torcidas poderão argumentar que a quantidade de torcedores está correlacionada ao aumento de receitas advindas de bilheteria, de direitos de transmissão e de “marketing”.
De fato, uma maior quantidade de torcedores engajados – engajamento não costuma ser mensurado nas pesquisas – proporciona um potencial maior de receitas, todavia, isso dependerá do preço dos ingresso, do poder aquisitivo dos torcedores, da capacidade dos estádios onde ocorrerem suas partidas e da experiência que o espetáculo proporciona.
Quanto aos direitos de transmissão, temos que considerar que está havendo uma mudança nos critérios de divisão, de forma que o tamanho da torcida passa a ter menos peso na distribuição – o que talvez seja reflexo da maior consciência acerca da difícil mensuração.
Já no que tange ao “marketing”, a argumentação parte da premissa de que os clubes de futebol não comercializam patrocínio e sim espaço publicitário, pois acenam como retorno o número de aparições espontâneas do uniforme para “venderem” aquela propriedade. Agindo assim, ignoram que estão entrando em um mercado disputado por grandes players especializados na comercialização de mídia e que um clube de futebol tem em sua marca valores riquíssimos que, certamente, são atrativos e valiosos para as marcas que poderiam o patrocinar.
As receitas obtidas através das vendas de produtos licenciados têm peso pequeno nas contas dos clubes, visto que, além de dependerem da oferta – qualidade, quantidade, sortimento, preço e distribuição –, proporcionam margem pequena.

Então quer dizer que o tamanho de torcida não importa? Resistindo à tentação de fazer analogia à anatomia, acho mais prudente responder que favorece, mas não é garantia de performance, pois, é fato de que não existe a tal correlação perfeita entre torcida e receitas.
Convém esclarecer que, embora essas últimas reflexões tenham como base as pesquisas publicadas sobre tamanho de torcida, isso não significa admitir que as mesmas traduzam perfeitamente o universo de fãs, visto que, como já foi escrito anteriormente, seria necessário segmentar a amostra em critérios qualitativos de engajamento, afinal há uma diferença muito grande entre ser torcedor e ser simpatizante.
Todavia, ainda que ocorram falhas de metodologia e, talvez, até de definição amostral, são números a serem considerados e analisados, desde que, é claro, sejam repetidos numa frequência na qual se consiga identificar tendências ou mesmo concluir que não oferecem nenhuma credibilidade. Sim, a frequência é fundamental para evitar situações em que se constata, pasmem, que certos times, grosso modo falando, perderam cerca de 600 mil torcedores em quatro anos, um verdadeiro genocídio.